terça-feira, 16 de junho de 2009

Lupi foi apenas uma isca na guerra pelo controle da Previdência

De como Lula e sua máquina “biafraram” o PDT e similares (IV)
Luiz Gushiken, um arquivo vivo dos acordos secretos de Lula na área, ainda é quem dá as cartas na Previdência
"O Brasil está na mira dos fundos de pensão norte-americanos, que têm uma capacidade de investimento de US$ 5 trilhões em mercados emergentes.O diretor da AFL-CIO (Federação Americana do Trabalho), Stanley Gacek, se reuniu hoje com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para discutir os critérios utilizados pelos fundos norte-americanos para investir em outros países. A AFL-CIO é a principal central sindical norte-americana, e Gacek é amigo pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva”. FOLHA DE SÃO PAULO, extraída da minha coluna na TRIBUNA DA IMPRENSA de 5 de setembro de 2003 (republicada agora no blog). A impressão que tive nesse episódio narrado ontem é que Carlos Lupi bateu no banheiro masculino e alguém gritou, lá de dentro: - Tem gente! Apertado, entrou na porta ao lado. Era o banheiro destinado a deficientes. Trocando em miúdos: Informado desde o início de março que seria o ministro da Previdência, o presidente do PDT se preparou para enfrentar um dos maiores desafios – provar que a previdência pública é viável, ao contrário do que propagam os abutres comandados por Luiz Gushiken, o ex-libelu e ex-sindicalista que virou consultor previdenciário de mão cheia. Teria a seu lado, além de Manoel Dias, advogado brilhante e profundo conhecedor da matéria, uma plêiade de auditores fiscais altamente preparados e dispostos a demonstrar que o modelo previdenciário brasileiro, baseado na solidariedade entre gerações, ainda é o mais indicado para o nosso país. De sobra, teria também a seu dispor os verdadeiros números da Previdência, que só é deficitária nas contas marotas dos prepostos do sistema financeiro. Seria uma Previdência capaz de intervir para evitar tragédias, como a que massacrou os aposentados do Aerus (Varig e Transbrasil) e maquinações, como as que forçaram os beneficiários dos grandes fundos , como o Petros, a mudarem suas regras no meio do jogo. Medo de um novo Brito e.... Mas a turma do PT não dorme em serviço. Lembrou que foi numa gestão corajosa à frente desse Ministério que o então deputado gaúcho Antônio Britto “bombou” politicamente e se tornou o melhor nome do PMDB para suceder Itamar Franco, de quem era ministro, nas eleições de 1994, possibilidade que recusou para disputar e ganhar o governo do Rio Grande do Sul. O mesmo grupo também não admitia que o ministério lhe escapasse às mãos grandes como aconteceu na primeira “reforma ministerial do governo Lula”, em 2004, quando Ricardo Berzoini foi deslocado para o Ministério do Trabalho para dar lugar ao senador peemedebista Amir Lando que, por sua vez, passou a cadeira ao colega Romero Jucá. Estes dois prejudicaram em parte o esquema petista, mas criaram os seus, levando Lula a pôr no lugar o “técnico” Nelson Machado numa longa interinidade, de 21 de junho de 2005 até 29 de março de 2007. Apesar do decantado déficit, a Previdência é disputada por dentro e por fora. De 1985 a 2007, teve nada menos de 17 ministros, cada um com seu cada um. Balão de ensaio A cogitação do nome de Lupi para aquela pasta pareceu, aos mais vividos, um tremendo balão de ensaio, uma jogada com segundas intenções em que ele foi exposto como calouro de calças curtas no mundo enigmático dos podres poderes. Nesse jogo sujo, é muito provável que Lula e sua entourage viessem tentando recompor os elos originais, estabelecidos em 2003, com o esquema internacional comandado por seu influente amigo ( e monitor) Stanley Gacek. O ambiente de 2007 era semelhante ao de 2003, com a vantagem do replay eleitoral e a desvantagem da contagem regressiva de 4 anos. A relação com os interesses representados por Stan, como Lula tratava o diretor de relações internacionais da Central Sindical AFL-CIO, havia sido confiada a Gushiken, com a ajuda de do advogado e ex-deputado federal Luis Eduardo Greenhalgh. A saída de Ricardo Berzoini em 23 de janeiro de 2004 gerou uma zona cinza nesses laços, que se tornou mais escura com a derrota de Greenhalgh na disputa para a Presidência da Câmara, em fevereiro de 2005. A força de Gushiken e Stan Em junho desse ano, para restaurar em sua plenitude os vínculos com os grupos financeiros intermediados por Stan, visando a uma maior participação de fundos estrangeiros no Brasil, Lula devolveu a hegemonia total da política previdenciária ao grupo de Gushiken, que, por sua vez, alvejado no escândalo do “Mensalão”, perdeu o status de ministro e foi para a sombra do chamado Núcleo de Assuntos Estratégicos, de onde continuou mexendo seus pauzinhos em que se especializara através da sua empresa Gushiken & Associados, criada em 1998 e rebatizada em 2002 como Global Prev. Essa empresa foi apontada em 2003 como a verdadeira autora da reforma da Previdência de Lula pelo consultor legislativo Magno Mello, em seu livro “A Face Oculta da Reforma Judiciária”. No período em que o “chino” dava as cartas, aumentou seu faturamento em 600%, tendo com principais clientes os fundos de pensão. Embora Gushiken tenha maior interesse na área dos fundos de pensão, que ainda controla, conforme denúncia dos conselheiros do Petros eleitos em maio, derrotando a CUT, ele é bastante temido como um arquivo vivo dos acordos secretos envolvendo a campanha de Lula em 2002. Rainha da Inglaterra e porta-voz do CAGED Lupi entrou como bucha de canhão na guerra fria que se processa nos bastidores do petismo e associados. Ele não viu porque era um neófito na corte. Se viu, consentiu. E, a bem da verdade, até hoje se presta a essa condição, com suas características pessoais, seu modesto nível de exigência política no trato da fatia que lhe foi destinada e seu singelo deslumbramento, como demonstrarei mais adiante. Contudo, ao engolir a mudança de pasta nos acréscimos da “reforma ministerial”, Lupi abriu sua guarda por antecipação. Mostrou uma personalidade fraca e demonstrou de forma explícita que aceitava qualquer coisa, embora o Ministério do Trabalho, hoje convertido numa agência de programas sociais e informações estatísticas, tenha sido historicamente um espaço dos trabalhistas. A rapidez com que aceitou seu deslocamento demonstrou que estaria disponível para exercer qualquer papel no jogo do poder, desde que pudesse desfrutar do prazer pessoal e das mordomias que um cargo de Ministro de Estado oferece. Não foi difícil para Lula aplicar no seu dócil aliado as regras análogas às da Rainha da Inglaterra, que “reina, mas não governa”. Traduzindo na fria realidade dos fatos, nesses 26 meses no Ministério, o mesmo em que Jango foi peça chave no tempo de Getúlio, o atual titular virou uma espécie de porta-voz do CAGED, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, criado pela Lei 4.923/65, sob inspiração do ministro Arnaldo Sussekind, que, apesar de nomeado pelo general Castelo Branco, foi um grande obstáculo aos projetos para o esvaziamento da CLT, de cuja comissão elaboradora participou,em 1942, quando tinha 24 anos de idade. Todo mês, Lupi antecipa os números colhidos por esse sistema, que reflete situações geradas muito mais pela política econômica do governo do que pela atuação direta do Ministério do Trabalho. Fora disso, tem sido escanteado rotineiramente por Lula, do qual já se habitou ouvir de cabeça baixa constrangedoras reprimendas públicas. Essa situação é tão vexatória que até a “Reforma Trabalhista” foi confiada no sapatinho a Mangabeira Unger, o tal ministro de Assuntos Estratégicos, que concluiu sua clamorosa proposta sem nunca ter ouvido um só palpite do ministro do Trabalho e Emprego. coluna@pedroporfirio.com