domingo, 22 de julho de 2007

HÁ MAIS COISA NO AR DO QUE AVIÕES DE REVERSOS TRAVADOS

“Nunca ouvi tanto Pai Nosso junto. Eu pedi a Deus que nos ajudasse e que ouvisse todas aquelas orações, mesmo o Pai Nosso”. Paulo César Rocha, pastor evangélico que desembarcou sábado em Congonhas de um Airbus 320 da TAM. Primeiro, alguns fatos que falam por si: 1. Em vez da caixa preta com a gravação de vozes entre pilotos do Airbus da TAM e controladores de vôo, o que chegou aos Estados Unidos para a perícia técnica não passava de um amontoado de fuselagem da aeronave que se chocou contra o terminal de cargas da empresa no aeroporto de Congonhas. Por engano, a sucata foi enviada junto com o Gravador de Dados de Vôo onde consta o registro das 53 horas de uso da aeronave. 2. A TAM admitiu que, embora o vôo 3054 já estivesse lotado, seu funcionário Marcos Stepanski embarcou “pela porta dos fundos”, sem fazer o check in e viajou “clandestinamente”. 3. No sábado, um aparelho da TAM e outro da Gol fizeram pousos tão bruscos que as portas dos bagageiros internos se abriram. “Quando o avião entrou na pista, foi o inferno. Os bagageiros se abriram, caíram coisas, as pessoas começaram a gritar. Quando finalmente o avião parou, quem estava gritando começou a aplaudir” – narrou Otávio Zani, passageiro do vôo 3229 da TAM, procedente de Navegantes, Santa Catarina. 4. A empresa “autorizou” dois dos seus pilotos a concederem entrevistas para dizer que pousar com o “reverso” travado não faz diferença. No entanto, um outro comandante disse em off ao colunista Josias de Souza, da FOLHA, que os manuais da empresa consideram importante o apoio desse equipamento, principalmente em pistas com problemas. 5. Uma pane elétrica no Centro de Controle de Manaus afetou o país inteiro, repetindo as mesmas cenas de revolta em face de atrasos e cancelamentos de vôo. 6. O governo federal ainda não desembolsou um centavo do Orçamento da União para obras de melhoria nos aeroportos brasileiros este ano. E ainda congelou R$ 2,1 bilhões de dois fundos setoriais que poderiam servir para investimentos no setor: o Fundo Aeronáutico e o Aeroviário. Mas os recursos estão parados na conta do Tesouro Nacional, engordando o SUPERÁVIT PRIMÁRIO. Neste ano, até o início de junho, a Infraero investiu, com recursos próprios, R$ 320 milhões, incluindo as obras da pista principal do Aeroporto de Congonhas. Dos cofres da União, nenhum centavo. ANAC servil Agora, vire a página: As providências anunciadas com um dramático pronunciamento do presidente da República poderão não sair do papel. Veja o que escreveu Tereza Cruvinel em O GLOBO de ontem: “As companhias aéreas vão chiar. Com as medidas baixadas pelo governo na sexta-feira, elas vão ganhar menos dinheiro. Vão gastar mais para redistribuir os vôos que concentraram em Congonhas. TAM e Gol tiveram lucros gordos na crise, enquanto eles minguavam lá fora. Desafogar Congonhas é uma medida corajosa, mas, COM ESTA ANAC SERVIL ÀS COMPANHIAS, SERÁ DIFÍCIL”. Como não é nenhuma “especialista do ramo”, ela foi fundo, pois não tem vínculos, nem aspirações profissionais como acontece com a maioria desses “sabichões” : “Com o remanejamento dos vôos de Congonhas, os primeiros cálculos indicam que a TAM perderá mais de cem conexões e cerca de 200 escalas. A Gol, quase o mesmo número, e a Pantanal, menos de cem. ELAS NÃO ESTÃO ACOSTUMADAS A OBEDECER, E SIM A CONVENCER A ANAC. Obtiveram o aumento de cerca de 40% dos pousos e decolagens em Congonhas, nos últimos três anos, e a liberação da pista reformada antes das ranhuras prontas. Como irá esta ANAC amiga impor mudanças que vão reduzir os ganhos? Pode ser preciso trocar alguns diretores, admite um ministro de Lula. O governo agora excomunga a ANAC, mas foi ele mesmo que nomeou seus diretores por critérios políticos”. E mais ainda: “A demanda aumentou 12% em 2006 e 13% só no primeiro semestre deste ano. Mas as companhias levaram também para o setor uma mentalidade de empresas de transporte coletivo: ônibus cheio, faturamento alto. Se nos últimos cinco anos os passageiros saltaram de 40 milhões para 57 milhões ao ano, a frota nacional encolheu, de 366 para 230 aeronaves”. No mesmo jornal, Merval Pereira abre espaço para um dos profissionais mais sérios que já lidaram com a crise aérea, o economista Paulo Rabelo de Castro. Este lembrou que “a oferta minguou no mesmo período, primeiro pela devolução de aeronaves perdidas pela Varig, praticamente toda sua frota doméstica, não reposta com facilidade pelas concorrentes, agora transformadas num duopólio da aviação doméstica”. Com isso, parece inviável querer aviões e tripulações reservas de verdade. Paulo Rabello de Castro lembra que houve a “exportação de centenas de comandantes, dentre os mais experientes e bem treinados”. Segundo ele, hoje existem cerca de 400 pilotos e co-pilotos brasileiros trabalhando em companhias aéreas européias e do Oriente”. Sacrifício da Varig Bem, nós poderíamos ter alguma esperança com as medidas anunciadas por Lula? Acho que não. Enquanto ele não refizer sua postura em relação a Varig, o país precisará de muitos anos para resgatar a normalidade. Esse pessoal da ANAC, a quem cabe a gestão dos transportes aéreos, já mostrou a que veio. Graças à sua desastrada gestão, chegamos onde chegamos e assistimos ao sacrifício da comapnhia aérea âncora, que manteve os melhores índices técnicos de operação, incluindo segurança de vôo, pontualidade e qualidade dos serviços e tinha os profissionais mais bem preparados e exigidos, recusando-se a transformar-se em ônibus que voam. Como conseqüência desse golpe, nossos pilotos sumiram e estamos hoje à mercê de duas empresas comadres, que só pensam no lucro fácil. Programar a construção de um novo aeroporto em São Paulo é mais uma fantasia. Havia no plano aeronáutico uma previsão para ampliar as pistas de Congonhas em 2007 e racionalizar seu uso. Isto porque a idéia do novo aeroporto já foi objeto de estudo em 2000, por encomenda do antigo DAC. A consultoria norte-americana Mitre CO concluiu que não há espaço na cidade. Nas redondezas, só compatibilizando com as operações de Cumbica e Viracopos, o que não seria fácil. Enfim, há mais coisas no ar do que aviões de carreira com reversos travados. coluna@pedroporfirio.com