Polícia não considera sobrecarga de trabalho e duplicidade de função e livra a empresa, como sempre
– O motorista assumiu o risco. A cena de crime mostra isso, o estrago foi tão grande que indica, no mínimo, que a velocidade do ônibus era mais alta do que a permitida. Confirmando o óbito com o atestado, o motorista passará a responder por homicídio doloso – afirmou Omena.
Enquanto o óbito de Tatiana não for declarado, parentes e amigos da vítima continuam na porta do Hospital Salgado Filho, no Méier. Muitos ainda alimentam a esperança de que ela consiga sobreviver ao acidente, apesar da morte cerebral já ter sido informada.
– Enquanto o coração dela estiver batendo, há esperança – disse Eliete Ferreira, de 59 anos, mãe de Tatiana. – Um pedaço de mim foi retirado. É o segundo filho que perco. Há oito anos, o meu mais velho, Hélder, pulou de uma cachoeira em Mauá e morreu. Eles é que deveriam me enterrar, e não o contrário.
A família também está muito preocupada com o destino dos quatro filhos de Tatiana, que precisarão superar o trauma da morte da mãe, agravado pela violência do acidente. Sobretudo com o menino de dois anos, cujo aniversário será no dia 26 de maio, e que ainda está no Salgado Filho. Seu estado de saúde é estável, e não há risco de vida.
– Meu sobrinho certamente precisará de um acompanhamento psicológico. Ele não para de ficar repetindo “mamãe, carro, pá. Mamãe, carro, pá” – disse Fabiana, 34 anos, irmã de Tatiana, repetindo a descrição que menino fez do acidente. – Ela sempre foi muito sorridente, alegre, sem estresse. A vida dela era para os filhos. Andava mais de uma hora para levá-los ao posto de saúde. Todos a conheciam. Na hora do acidente, estava conversando com outra mulher que queria doar roupas para meus sobrinhos. Quando ela viu o ônibus chegando, não teve tempo de fazer nada, mas conseguiu salvar a vida dos filhos.
Quatro pessoas foram atingidas pelo ônibus da linha 685 (Méier-Irajá), que invadiu um posto de gasolina em Quintino. Tatiana chegou a ter as duas pernas amputadas, e seu estado era considerado gravíssimo. Ela permanecia internada no CTI em coma induzido.
No momento do acidente, Tatiana estava com dois filhos. O caçula, de apenas de três meses, teve ferimentos leves e logo foi liberado. Porém, o de 2 anos, que estava em um carrinho de bebê, permanece internado no Hospital Salgado Filho. Além da família de Tatiana, Ana Paula Pinto Pregue também foi atingida, sofreu politraumatismo e passou por uma cirurgia.
A família de Tatiana reclama da empresa de ônibus e a considera tão culpada quanto o motorista. Eles receberam da Viação Rubanil (do consórcio Internorte, o mesmo do coletivo que despencou de um viaduto da Avenida Brasil matando sete pessoas) cartões de passagem (RioCard), mas disseram ter recusado R$ 2 mil, assim como alegaram ter se negado assinar qualquer recibo que a empresa teria apresentado.
A polícia não deverá indiciar criminalmente a viação, de acordo com o delegado Omena. O policial também explicou que não há crime no fato da empresa ter supostamente oferecido dinheiro ou RioCard para a família da vítima.
— A empresa não tentou silenciar uma testemunha, e ofereceu ajuda ao marido da vítima. Entendo que a intenção foi antecipar a reparação do dano — salientou Omena.