sexta-feira, 26 de junho de 2009
O que fazer? Responda-me se for capaz!
quarta-feira, 24 de junho de 2009
Não se iluda: o Senado é um caso perdido
Sarney e Lula: eles se merecem
O que é um antro de escroques em comparação com o Senado desta pútrida República dominada por gigolôs das massas despolitizadas e sacripantas arrivistas? Disse José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, codinome Sarney, que a exposição das vísceras desse valhacouto que custa ao contribuinte os olhos da cara não o atinge unicamente, mas à toda súcia do tapete azul. “A crise do Senado não é minha, a crise é do Senado”. – disse e repetiu outras vezes como um bordão de uma mal encenada tragicomédia. E disse mais, na maior cara de pau, no seu patético pronunciamento de 16 de junho: “Eu só conheço um ato secreto, durante o tempo do Presidente Médici, em que ele declarou que iria haver decretos secretos. Eu não sei o que é ato secreto. Aqui, ninguém sabe o que é ato secreto”.... Lula, amigo de fé, camarada Solícito, cúmplice e solidário, como se igualmente alvejado, perfilou-se ao seu lado Luiz Inácio da Silva, codinome Lula, essa figura deletéria que o castigo de Deus transformou no político mais popular do Brasil: "O senador tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum”.
E continuou: "Não sei a quem interessa enfraquecer o Poder Legislativo no Brasil. Quando o Congresso foi desmoralizado e fechado, foi muito pior para a democracia". Não satisfeito, acrescentou: "Eu sempre fico preocupado quando começa no Brasil esse processo de denúncias, porque ele não tem fim e depois não acontece nada". “Congresso desmoralizado e fechado”, quando cara pálida? Comparar aqueles dias do Congresso como adorno aos de hoje é superar-se no cinismo ou na ignorância. Ora, Lula pega pesado na defesa do parceirão porque conta com a nossa “interpretação dialética”, inspirada nos ensinamentos de Maquiavel, o mestre de todos os mestres, segundo os quais os fins justificam os meios. As armas da invencibilidade E joga com os mecanismos da invencibilidade, que falam mais alto do que as três armas temidas, outrora: 350 mil ONGs (contra 25 mil quando assumiu) de olho nas verbas distribuídas por uma penca de ministérios, dirigentes de 16 mil sindicatos na fila do bem bom, centenas de líderes estudantis de cara lavada e olhares concentrados na emissão de rendosas carteirinhas, 40 milhões de famélicos viciados pela esmola do bolsa-família e 22 mil cargos de chefia só na máquina federal, todos devidamente mapeados em 2007 pelo ministro Tarso Genro. Com tais fortificações e algumas encenações de fazer inveja ao nosso teatro ele vai tirar Sarney da enrascada, como tirou Renan, ganhando, como contrapartida, o sepultamento da CPI da Petrobras, tida pelos ingênuos como meramente privatizante, como se FHC e ele já não tivessem rasgado o monopólio estatal do petróleo com a entrega da exploração de nossas jazidas aos trustes, mediante a remuneração de 27% do produzido, a mais baixa do mundo. Aliás, não precisava desse conchavo: esse Senado aí já se descredenciou para investigar até o caça-níquel da esquina, muito menos uma estatal cujo orçamento de R$ 290 bilhões é o dobro do Estado de São Paulo, o mais rico do país. A natureza atávica da Casa Com chancela tão rochosa, o ancião José Ribamar, que dá as cartas no Brasil por décadas a fio, deixou dito que tudo que fez ou apadrinhou é da natureza dessa “câmara alta”, contra-peso desnecessário, criado na primeira Constituição de 1824 para ser a nossa “Câmara dos Lordes”, com acesso restrito a maiores de 40 anos e rendimento anual mínimo de 800 mil réis. Ao longo desses 185 anos, essa casa, hoje despida dos pés à cabeça, sempre foi o paraíso magistralmente definido por Darcy Ribeiro, especializando-se, na República, em ser um prêmio para ex-governadores e caudilhos influentes sem vocação para o Executivo. Ao Senado, nada se deve. Quem olhar sua trajetória vai achá-lo no ofício viciado de sacramentar as vontades dos donos do poder, como aconteceu em 1964, quando o pecuarista paulista Auro Moura Andrade, na sua presidência, apressou-se em declarar vago o cargo de Presidente da República quando João Goulart ainda se encontrava em território brasileiro. E como ocorreu depois da derrota da ditadura, nas eleições de senadores, 1974, quando, só para garantir total obediência aos governos dos generais, acolheu calado o balaio de colegas biônicos, para lá conduzidos sem votos, à semelhança do que acontece hoje, mas sem sofismas, com esses “suplentes secretos” que cantam de galo como se legítimos representantes fossem. Sarney não exagerou na dose. Buscou dividir os dolos expostos com a corporação de rabo preso, tendo a seu favor, como trunfo irresistível, a mais ampla e irrestrita conivência daquele que, num passado não muito remoto, o chamou de ladrão e de grileiro.
Um antro de saliências que você consente O Senado da República, uma redundância legislativa que sobrevive hoje no fausto dos podres poderes, como casa de saliências regiamente remuneradas dos velhos políticos, operou a dialética do apodrecimento (Leia "a farra é deles" radiografia feita pelos repórteres Otávio Cabral e Alexandre Oltramari) em meio ao consentimento geral, isto é, ao seu consentimento, caro leitor. Ou você já questionou por que um senador tem mandato de oito anos, quando todos os demais ganham quatro? Quando você se insurgiu diante da peculiaridade de poder votar ao mesmo tempo em dois candidatos ao Senado, o que não acontece em nenhum outro cargo parlamentar? Quando você levantou sua voz contra os suplentes biônicos, que podem ganhar mandatos inteiros, como o suplente do ex-governador Roriz, sem sequer ter seu nome levado ao conhecimento dos eleitores? E os suplentes hereditários, como os filhos de Antônio Carlos Magalhães, do ministro Lobão e outros que permanecem na moita? Você chiou, pelo menos? Quando você peitou essa fraude do domicílio eleitoral que, por deboche, fez do cacique do Maranhão senador pelo Amapá? Quando você pediu um balanço legislativo das duas casas do Congresso? Calculam o custo delas dividindo o orçamento pelo número de parlamentares. Mas nunca pararam para calcular esses valores pela produção legislativa, que é pífia e tão lenta como os 70 milhões de processos que se arrastam no Poder Judiciário. Uma duplicidade anacrônica Para que serve afinal essa casa que se lastra na anacrônica “representação dos Estados”, um estratagema velhaco que foi buscar razão de ser nas priscas eras, como se o Brasil não fosse de fato um regime unitário, com a União arrecadando e repassando a parte gorda dos tributos? Dispensam esse pleonasmo países como Portugal, Grécia, Suécia, Dinamarca, Islândia, Venezuela, Finlândia, Turquia, Israel, Síria e Noruega, de um total de 112 que têm parlamentos unicamerais, contra 75 que ainda conservam a duplicidade, alguns destes com poderes restritos, como na Inglaterra, França, Alemanha, Áustria, Bélgica, e Índia. Para você, que não é obrigado a manjar de todos os sofismas políticos, parece que a existência de duas casas do Legislativo – que, ao contrário dos Estados Unidos, só ocorre no plano federal – é condição pétrea do sistema democrático representativo. Nos Estados Unidos, ressalve-se, o Senado veio primeiro, após a guerra da independência, por iniciativa dos líderes das 13 ex-colônias, que mantinham (e mantêm) autonomias reais, configurando uma federação de fato e de direito. Estudos da própria (e competente) Consultoria Legislativa do Senado apontam: na Europa, berço da civilização democrática, há 30 países unicamerais para 17 bicamerais; na Ásia milenar, 23 unicamerais para 16 bicamerais; na África, 33 unicamerais para 19 bicamerais; na Oceania, 11 unicamerais para 3 bicamerais. Só nas Américas, ainda pela influência norte-americana, o número de bicamerais é maior: 20 contra 15 unicamerais. Perdendo a fé na democracia Esse mesmo meticuloso levantamento, realizado por Elton E. Poveiro Junior, exibe a transcrição de uma pesquisa do jornal The Ecnomist, de Londres, na qual já em 2001, antes mesmo das super-safras de escândalos, apenas 30% dos brasileiros consideravam que a democracia é preferível do que qualquer outra forma de governo. Em 1996, antes do governo FHC sair do armário para patrocinar a privataria, esse percentual chegou a 50%. Para melhor entendimento, em 2001, apostavam na democracia 79% dos uruguaios, 71% dos costarriquenhos, 62% dos peruanos; 58% dos argentinos, 57% dos venezuelanos, 57% dos hondurenhos e 54% dos bolivianos. Esses escândalos recentes não são os primeiros e nem serão os últimos. O que você espera de uma turma que livrou a cara de Renan Calheiros, pilhado numa fieira de maracutaias, e que, num piscar d’olhos, voltou a ser o seu capo, mercê sabe Deus de quantos ameaçadores segredos coleciona sobre seus pares? O Senado não é a única casa onde os delinqüentes deitam e rolam. A Câmara já nos brindou, entre outros, com o sórdido espetáculo do “mensalão”, obra da santa arquitetura petista, e a farra da generosa distribuição de passagens aéreas para este mundo afora. Por todo o Brasil, assembléias legislativas e câmaras municipais não são diferentes e se aproveitam da penumbra em que vivem. Chantagem que garante a impunidade Como não é diferente a prática indecente nos demais poderes, emblematicamente encabeçados por Gilmar Mendes e Luiz Inácio. Tudo sob a chantagem de que tais instituições são as colunas da democracia, e esta pode ser a pior forma de governo, excetuando todas as outras que foram tentadas ao longo dos tempos, como definiu Winston Churchill, com a posterior chancela de Ulisses Guimarães. Mas as revelações dos delitos que, como disse, custam quase R$ 3 bilhões por ano ao contribuinte (dinheiro que não acaba mais) fatalmente submergirão no mar de lama que já extravasou ao som da aquarela do Brasil e nada acontecerá aos delinqüentes blindados pela panacéia da impunidade, composta de ignorância, alienação, conformismo, manipulação, vira-casacas e adesismos tresloucados. Ficar apenas na crítica do último escândalo equivale a querer enxugar gelo. Isso que o acaso está levando à tona é jornal de ontem e, com certeza, frequentará as manchetes dos jornais de amanhã. coluna@pedroporfirio.com Sobre a natureza dos legislativos vale uma leitura do trabalho de Elton E. Poveiro Junior, publicado pela Coordenação de Estudos da Consultoria Legislativa do Senado Federal, onde, ressalve-se, existem profissionais altamente qualificados e dedicados, que não têm nada a ver com a ratatuia de fantasmas e apaniguados enxertados elos barões da casa. Recomendo também o estudo de Peterson de Paula Pereira, procurador da República no Amazonas, sobre o processo legislativo.
domingo, 21 de junho de 2009
A amputação dos direitos trabalhistas está a caminho. Só Lupi não viu
No final da tarde da quarta-feira, 8 de abril de 2009, o tempo úmido e as nuvens carregadas deixavam os líderes da meia dúzia de centrais sindicais acabrunhados, mas dispostos a espernear perante o presidente da República, que os recebeu com a irreverência de sempre na hora da Ave Maria.
Contritos, os quase sempre arrogantes senhores do sistema sindical estavam em Palácio para deixar o dito pelo não dito. Metidos a ladinos, não contavam a astúcia do enigmático professor Roberto Mangabeira Unger, hoje o bamba da corte, que obteve deles, à revelia do Ministério do Trabalho, os subsídios e os sentimentos auscultados para seu projeto de reforma trabalhista, que desonera a folha de pagamento, livrando os empresários até da contribuição patronal ao INSS vinculada aos salários.
A pequena romaria, dessa vez, tinha no séquito o ministro Carlos Roberto Lupi, o último a saber daquilo que o gênio americanizado chamou de “desoneração radical” e de “reconstrução das relações trabalho/capital”.
“Reforma trabalhista” de costas para o Ministério do Trabalho
Na verdade, desde que virou a casaca sem trocar a gravata clara, o professor vitalício da Universidade de Harvard, que teve Obama como aluno, passou a ter mais poderes do que qualquer outro ministro, quanto mais o do PDT, tratado a trancos e pescoções verbais pelo príncipe operário.
Dourar a pílula na amputação dos direitos trabalhistas não foi difícil para ele, tão competente que prestou serviços muito bem remunerados ao banqueiro Daniel Dantas, na condição de “trustee” (procurador, numa tradução aproximada)da Brasil Telecon entre 2006 e 2007, ano em que foi feito ministro de Assuntos Estratégicos e já chegou derrubando a senadora Marina Silva da pasta do Meio Ambiente, que chefiava desde o primeiro governo Lula.
Quando ainda no segundo semestre de em 2007 Mangabeira Unger recebeu a incumbência de elaborar um projeto palatável de revisão drástica da CLT o ministro Carlos Roberto Lupi foi informado, com a indicação de que ficasse fora das tratativas e manifestasse total apoio ao que se concluísse, como aconteceu no primeiro de maio de 2008, dois dia depois de conhecer o seu texto, publicado na íntegra pelo jornal VALOR ECONÔMICO, sob o título “Diretrizes a respeito da reconstrução das relações entre o trabalho e o capital no Brasil”.
"A questão da desoneração é muito positiva porque, em tese, ela traz automaticamente a geração de emprego” – declarou Carlos Lupi na festa da Força Sindical, mas cuidou de acrescentar uma ressalva que não agradou à corte: “mas tem de estar muito amarrada, senão você faz a desoneração fiscal e ninguém quer gerar emprego”.
Sabendo que uma das idéias cristalizadas na proposta era substituir a contribuição patronal ao INSS calculada pelo salário por um imposto estimado sobre o faturamento, Lupi, que em nenhum momento questionou seu alijamento das discussões, ainda quis deixar uma ponderação, que se perdeu nas ondas da mídia: "há uma preocupação porque a Previdência já tem muitos problemas. Nós não podemos agravar a situação da Previdência”.
O último suspiro do PDT
Sua declaração se deu quando a imprensa insistia que ele teria favorecido o PDT e a Força Sindical no repasse de verbas do FAT, fato que ele desmentiu com números, ao demonstrar que as prefeituras mais beneficiadas eram ironicamente do PSDB.
Qualquer um sabe que há relação entre os acontecimentos. Naquele momento da declaração, Lupi estava acuado, mas uma vez.
Para o PDT será o último suspiro oferecer sua chancela a qualquer mudança que desfigure a CLT, cujo teor abrangente já tem respostas para as variáveis alegadas pelos que querem reduzi-la à peça de museu.
Mas as centrais sindicais deram corda ao projeto do ministro Mangabeira Unger e só refizeram o discurso pela mudança radical também na estrutura sindical, com a qual a negociação principiaria na empresa, através da figura “agente sindical”, que representaria todos os segmentos no mesmo local de trabalho.
No dia 3 de julho de 2008, o presidente da República recebeu em Palácio os ministros Mangabeira Unger, Luiz Dulci (Secretário Geral da Presidência) e Luiz Marinho (Previdência) juntamente com os cabeças da meia dúzia de centrais sindicais.
Lula empolgado com a “reforma trabalhista”.
No dia seguinte, a imprensa noticiou: depois de uma reunião que durou quase três horas, na noite de quinta-feira, com a participação dos dirigentes de seis centrais sindicais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, bateram o martelo numa agenda mínima para promover "mudanças radicais" nas relações entre capital e trabalho no Brasil.
O jornal Valor Econômico observou: a partir do diagnóstico de que o regime trabalhista criado nos anos 40 do século passado por Getúlio Vargas, embora tenha trazido avanços à sua época, tornou-se obsoleto ao deixar a maioria dos trabalhadores fora de sua proteção, Mangabeira e sua equipe vêm debatendo o tema há oito meses com as centrais, sindicatos patronais e grandes empresários. O objetivo é encontrar pontos de convergência e, a partir daí, formular propostas e enviá-las ao Congresso até o fim deste ano.
O ministro, que é professor licenciado da Universidade de Harvard, diz que a economia brasileira corre o risco de ficar presa entre economias de trabalho barato e aqueles de tecnologia e produtividade elevadas. O risco é agravado pelo fato de economias de trabalho barato, como a China, estarem se transformando, em alguns setores, em economias de alta produtividade. O interesse do país, sustenta Mangabeira, é valorizar o trabalho e o aumento da produtividade.
“O regime trabalhista, criado por Vargas e instituído pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), é um obstáculo a esses dois objetivos”.
No final da matéria, o jornal destacou que “na reunião de quinta-feira passada, o mais empolgado com os avanços contidos nas propostas era o presidente Lula”.
Culpando a CLT pelo trabalho informal
Dia 16 de setembro de 2008, Mangabeira apresentou suas propostas aos ministros do Tribunal Superior do Trabalho. E, para justificar a redução drástica das obrigações trabalhistas, disse que a maioria dos trabalhadores vive na informalidade devido às exigências de garantias impostas às empresas pela CLT.
Entre outras conquistas sociais que, em nome do governo, Mangabeira Unger considera anacrônicas está o salário mínimo: “não bastam políticas que procuram influenciar o salário nominal, como sobretudo a política do salário mínimo. Tais políticas têm eficácia restrita. São facilmente anuladas por inflação quando não barradas por política monetária comprometida em manter a estabilidade da moeda”.
Por desoneração da folha de pagamento, ele entende o fim do salário-educação, a reformulação nas fontes de recursos para o “Sistema S”, e, principalmente, a mudança nos cálculos da contribuição para a Previdência Pública.
Embora admitindo que a proposta de um imposto declaratório é suscetível de evasão fraudulenta, o documento do ministro assinala que tende a prevalecer em sua reforma a idéia de substituir a folha se salários pelo faturamento como base para cobrar a parte patronal da contribuição previdenciária.
(Isso acontece já na área rural, registrando uma arrecadação mínima, apesar da pujança do agro-negócio).
Mais uma vez, como vimos, o ministro do PDT caiu na roda e até o momento tem demonstrado que seguiu aquele conselho da ex-ministra Marta Suplicy: relaxou e gozou, porque vale mais um cargo na mão, do que o confronto com os podres poderes.
coluna@pedroporfirio.com
sexta-feira, 19 de junho de 2009
Ouvindo de cabeça baixa as reprimendas públicas do presidente
Lula nos EUA: le não escolhe lugar quando tem de esculhachar seu ministro do Trabalho quinta-feira, 18 de junho de 2009
No Ministério do Trabalho, mas alijado dos conflitos trabalhistas
Quando, aos 34 anos, o então deputado federal João Goulart assumiu o Ministério do Trabalho, em 17 de junho de 1953 (há exatos 56 anos) o país estava envolvido numa grande convulsão social. Às greves dos 300 mil e dos marítimos, o seu antecessor, Segadas Viana, que responder com a Lei de Segurança Nacional, sob a alegação de que esses movimentos tinham implicações subversivas e eram encabeçados pelos comunistas. O presidente Vargas não concordou com essas posturas e o correligionário pediu demissão. Ao assumir, Jango inverteu o discurso. Partiu para a negociação e obteve acordos que levaram ao fim das greves dez dias depois de sua posse. No mesmo instante em que fizera do conterrâneo de São Borja o responsável pelo política governamental na área do Trabalho, Getúlio chamou também Osvaldo Aranha para ser o ministro da Fazenda. Este assumiu com força total, por toda a sua história: já em 1931, no apogeu do governo saído da Revolução de 30, ocupara o mesmo Ministério. Quando reassumiu, em 1953, voltava com as simpatias do FMI e a disposição de adotar uma política de estabilização econômica, com receitas conservadores de combate à inflação. Jango, no entanto, bancou o aumento de 100% no salário mínimo, desencadeando a mais tensa crise no segundo governo Vargas, agravada com um manifesto de 42 coronéis contra ele. Jango e o ministro da Guerra, Ciro do Espírito Santo Cardoso, da ala nacionalista do Exército acabaram deixando o governo em fevereiro de 1954. Em 1 de maio, no entanto, Getúlio decretou o aumento de 100% no mínimo, tal como havia proposto João Goulart. Mas isso foi passado Esses são fatos que pertencem a um passado em que o Ministério do Trabalho Indústria e Comércio respondia com todo o respeito devido pelas questões trabalhistas. Fatos que tornam caricata essa pasta desde o governo Colllor, até os dias de hoje. Hoje, principalmente. Não se sabe se Carlos Roberto Lupi tinha noção do mico que recebia. Afinal, 48 horas antes de ser empossado, era tido e havido como novo titular da Previdência. Mas, além do contingenciamento institucional, o sucessor de Leonel Brizola na presidência do PDT teria que vestir uma apertada saia justa. Era o primeiro ministro na “Era Lula” que não saía das entranhas do petismo. Antes, pelo contrário: às vésperas de assinar o termo de posse, uma arrogante comissão de dirigentes da CUT foi ao palácio para tentar barrar sua nomeação. Presa fácil de uma mídia hostil Logo no primeiro momento, o primeiro tropeço. Questionado pelo repórter Gerson Camarotti, de o GLOBO, sobre as restrições ao seu nome, saiu-se com uma resposta que foi amplamente explorada: “Antes de eu ser convidado, investigaram a minha vida. Chegaram a ir no colégio em que estudei. Ninguém encontrou nada que agredisse a minha honra. Também não sou corno. Além disso, não tenho paixão por pessoa do mesmo sexo”. Não era, evidentemente, uma resposta adequada para quem iria integrar o primeiro escalão da República. No entanto, a mídia, que tem uma má vontade muito grande com o brizolismo, percebeu que não seria difícil pegá-lo no contrapé, convicta de que neste caso o peixe realmente morre pela boca. A transmissão do cargo só ocorreria na terça-feira, 3 de abril de 2007. Na mesma semana, o grupo responsável pelo combate ao trabalho escravo pediu demissão do Ministério, insinuando que Lupi vacilaria nessa área. De imediato, pôde nomear apenas o seu chefe de Gabinete, Marcelo Panela, e o secretário geral do Ministério, Ronaldo Lessa, ex-governador de Alagoas, que ficaria pouco tempo no cargo. Comissão de ética pede a cabeça Mal sentou na cadeira que foi de João Goulart, começou a ser alvo de pressões. A Comissão de Ética Pública, presidida pelo banqueiro Marcílio Marques Moreira, exigiu sua demissão, alegando que não podia acumular o cargo de ministro juntamente com a Presidência do PDT. Isso lhe valeu um esforço pessoal para obter apoio do presidente Lula. Afinal, quando o senador Francisco Dorneles ocupou esse mesmo ministério, também era presidente do PP. E ninguém deu um pio. Lula, ao contrário, tentou convencer Lupi a decidir entre o Ministério e o partido, contando, inclusive, com a ajuda dos senadores Cristóvão Buarque e Jefferson Perez. No entanto, só em março de 2008, depois que a imprensa publicou denúncias sobre convênios do Ministério do Trabalho que “favoreciam” políticos do PDT e a Força Sindical, presidida pelo deputado pedetista Paulo Pereira da Silva, Lupi cedeu e se licenciou da presidência do partido, embora tivesse declarado que, colocado contra a parede, abriria mão do Ministério, fato que foi cobrado pela deputada Cidinha Campos. Durante os 11 meses da novela sobre a permanência ou não na presidência do PDT, praticamente não se falou de outra coisa. Lupi parecia portador do “pecado original”. E até para proceder algumas mudanças em superintendências regionais, tinha que superar todo tipo de obstáculo. Alijada dos conflitos trabalhistas Já então, o núcleo central do Poder começou a tirar dele responsabilidades inerentes ao seu ministério. Foi assim quando, questionado pela ONU sobre trabalho nos canaviais de São Paulo, Lula criou um grupo de trabalho para apurar as denúncias, colocando à frente o ministro Luiz Dulci, Secretário Geral da Presidência, dispensando qualquer colaboração de Lupi e seus auxiliares. Situação semelhante iria acontecer na greve dos Correios, de longa duração, em que o Ministério do Trabalho foi totalmente alijado. Na hora de designar um negociador pelo governo, Lula confiou a tarefa ao ministro Hélio Costa, das Comunicações. Mas o que mais sobressai na relação degradante entre Lula e seu ministro do Trabalho é a frequência de reprimendas através da imprensa, obrigando-o a assimilar de cabeça baixa. Dessas, a mais humilhante levou o veterano jornalista Vilas Boas Corrêa a escrever em 24 de setembro de 2008: “Em outros tempos e costumes, a esta altura o ministro do Trabalho, Carlos Lupi estaria com o pedido de demissão pronto e assinado para entregar ao presidente Lula assim que puder ser recebido no gabinete do Palácio do Planalto”. Serão esses constrangimentos desgastantes que reportarei na próxima matéria da série, juntamente com as experiências que testemunhei pessoalmente, quando Lupi recebeu trabalhadores da Varig, Bloch e do Sindicato dos Metalúrgicos. Gerou expectativas nesses grupos, mas acabou passando a impressão que o governo não dava a menor atenção para as suas gestões como Ministro do Trabalho e Emprego. coluna@pedroporfirio.com
terça-feira, 16 de junho de 2009
Lupi foi apenas uma isca na guerra pelo controle da Previdência
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Stanley Gacek, o todo poderoso
Artigo que escrevi na Tribuna da Imprensa, de 15 de setembro de 2003
Anote este nome, Stanley Gacek: é ele quem dá as cartas
Desde que foi eleito, Lula teve pelo menos quatro encontros com Stanley Gacek - dois no Brasil e dois nos Estados Unidos. O advogado norte-americano, de 50 anos, conversou também com os ministros Antonio Palloci, Ricardo Berzoini e Luiz Gushiken: com todos falou de fundos de pensão e da "reforma da previdência".
Íntimo do presidente, a quem introduziu oficialmente há mais de vinte anos no poderoso círculo dos pelegos sindicais dos Estados Unidos, é ele o principal intermediário dos fundos de seu país. Dominando o português melhor do que muitos brasileiros e casado com a brasileira Liliane Fiúza (petista de carteirinha), Gacek é a peça-chave das articulações que redundarão, até o final do mês, nas expectativas do senador Sarney, na concretização da abertura escancarada do "mercado de servidores públicos" para os insaciáveis fundos privados de pensão.
Quem quiser entender o cavalo-de-pau do "príncipe" operário deve correr atrás de Gacek, que, pelo "profissionalismo", bem pode ser um agente da CIA. Se não chegar a tanto (não tenho provas), com certeza está no mesmo esquema.
Foi ele quem, em 1992, promoveu o primeiro encontro do BID, FMI e dos cabeças do "Diálogo Interamericano" com 80 líderes sindicais emergentes da América Latina. Foi quem, muitos anos antes, em 1980, viajou ao Brasil para levar a "solidariedade" da poderosa AFL-CIO a Lula, em sua prisão-show de 31 dias.
E mais: descendente de poloneses, foi ele quem, em 1981, depois de estender o tapete dos pelegos sindicais norte-americanos, levou Lula a Varsóvia para trocar figurinhas com Lech Walesa, o metalúrgico de Gdansk que recebeu toda ajuda da CIA para minar o governo da Polônia e chegar à presidência.
A missão de Gacek
Como você sabe, ando fuçando tudo para entender a genealogia da traição. Quanto mais bisbilhoto os passos do príncipe, mais sinto necessidade de farejar. O tempo vai passando e a pesquisa vai inchando, atrasando-se por si. Porque certas informações são guardadas a sete chaves, ainda mais em se tratando das peraltices de um homem que tem na mão a chave do cofre e o controle de todos os podres poderes.
Mas certas articulações são públicas e na maior cara-de-pau.
Desde o primeiro encontro com Lula, em novembro passado - na companhia do presidente da central sindical AFL-CIO, John Sweeney -, a cobrança foi na bucha: queria saber quando o novo governo ia mandar para o Congresso o projeto de abertura do mercado aos fundos privados de pensão, um dos cinco melhores negócios do mundo.
Veja o que informou, à época, Paulo Sotero, correspondente do "Estado de S. Paulo": "Os anos de atenção ao Brasil por Stan, como ele é chamado por Lula e pelos amigos, serão simbolicamente recompensados na tarde da próxima terça-feira, quando o presidente eleito chegar à sede da AFL-CIO, a central sindical americana. Diretor internacional adjunto da AFL-CIO para a América Latina, Gacek receberá o amigo ao lado do presidente da entidade, John Sweeney.
"Será uma grande honra para o movimento sindical dos Estados Unidos receber o presidente eleito do Brasil', disse, num português fluente.Em décadas recentes, o único outro presidente eleito que visitou a AFL-CIO foi o polonês Lech Walesa, fundador do movimento Solidariedade".
Stan, como Gacek é tratado pelos íntimos, inclusive Lula, havia trazido ao Brasil, no final da campanha de Lula, nada menos do que o reverendo Jesse Jackson, um ativista de peso de grande força na mídia americana, em companhia de Dennis Rivera, vice-presidente do milionário Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Serviços dos Estados Unidos.
Participou de comícios do PT, enquanto Jesse Jackson dava entrevistas, encantado com a "eletricidade" da campanha petista.Como não podia deixar de ser, veio para a posse do amigo, dividiu um prato de comida com o presidente e Gushiken e voltou em maio, depois do envio do projeto privatizante ao Congresso.
Aí, foi negociar diretamente com Palocci, conforme informou Fabiana Futema, da "Folha de S. Paulo": "O Brasil está na mira dos fundos de pensão norte-americanos, que têm uma capacidade de investimento de US$ 5 trilhões em mercados emergentes.O diretor da AFL-CIO (Federação Americana do Trabalho), Stanley Gacek, se reuniu hoje com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para discutir os critérios utilizados pelos fundos norte-americanos para investir em outros países. A AFL-CIO é a principal central sindical norte-americana, e Gacek é amigo pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Temos falado sobre critérios de investimentos de obrigações fiduciárias. Alguns fundos estão desenvolvendo critérios para investimento em mercados emergentes"', disse Gacek, após o encontro com Palocci. Segundo ele, entre os critérios utilizados pelos fundos de pensão dos EUA está a estabilidade social. "Democracia estável, transparência e economia com crescimento sustentável são considerações importantes para fazer cálculo do retorno máximo com risco mínimo."
Na avaliação de Gacek, o governo Lula atende a vários desses critérios usados na hora de avaliar o potencial que cada país emergente oferece para os investimentos dos fundos norte-americanos. "Achamos que essa gestão do governo brasileiro tem se dedicado a essas questões da estabilidade social no Brasil. Isso poderia ser bem promissor em termos dos critérios de obrigações fiduciárias dos fundos."
Em sua matéria, Fabiana Futema conclui: "Segundo Devanir Silva, superintendente da Associação Brasileira das Entidades de Previdência Complementar, a queda do risco Brasil e a ligação pessoal entre Gacek e Lula ajudariam na atração de investimentos dos fundos norte-americanos no país.
"O governo Lula conseguiu conquistar a credibilidade dos investidores, inclusive os estrangeiros.'" Apesar da proximidade entre os dois países, Gacek afirmou que as conversas com o governo brasileiro ainda não foram concluídas. "Já falamos anteriormente [com Palocci] sobre toda essa questão dos fundos investirem nos mercados internacionais e queremos seguir com essas conversas. Estou pensando na possibilidade de fazer mais visitas ao Brasil", disse Gacek.
Transferência de recursos
Em brilhante exposição, sexta-feira, na audiência que presidi na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, por iniciativa do Fórum de Fluminense de Defesa da Previdência Pública, os professores José Miguel Saldanha e Sara Granemann, da UFRJ, demonstraram que a "reforma da previdência" se destina tão-somente a transferir recursos dos entes públicos para os fundos privados. Com o teto para aposentadoria, aplica-se também o redutor nos descontos. O servidor vai correr para a "previdência complementar" e o próprio erário deverá pagar sua parte para os fundos. Saldanha apontou também a opção do governo por priorizar o pagamento aos banqueiros: no primeiro semestre, o setor público pagou 74 bilhões de reais de juros da dívida, o equivalente a 410 milhões de reais por dia ou 70 reais mensais de cada habitante.
Quando Gacek se refere a investimentos de fundos estrangeiros, está desconversando. O que eles querem é se apoderar de uma boa faixa de poupança e não aportar recursos. Ao se instalar, o fundo passa a captar contribuições. O que ele, de fato, estava interessado em dizer ao amigo Lula era que a condição para a aprovação da "reforma" estava na definição no modelo de remuneração dos fundos. Há vinte anos os norte-americanos só fazem novos contratos pelo sistema da "contribuição definida" - você sabe quanto paga e não quanto vai receber -, descartando o "benefício definido".
Além disso, são muito "pragmáticos" na política de investimentos e adoram uma boa taxa de administração na América Latina - no Chile e Argentina chegaram a 30%, enquanto o custo administrativo do nosso INSS não passa de 6%.Se você prestar mais atenção nos passos de Stanley Gacek, vai entender muito mais. Afinal, ele foi definido aqui mesmo, na TRIBUNA, por Argemiro Ferreira, como "o guru de Lula no sindicalismo dos EUA".
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domingo, 14 de junho de 2009
Como só queria entrar no governo, Lupi dormiu ministro da Previdência e acordou ministro do Trabalho
"Trouxe o Lupi para o Trabalho. A imprensa vazou que seria a Previdência. Por que ele não ficou com a Previdência? Primeiro porque conheço o pensamento do PDT. Porque era muito complicado colocar companheiro para fazer política na Previdência sabendo que para seu partido essa é uma coisa de fé. Ele teria dificuldade em alguns temas que vamos ter que discutir para as futuras gerações."
Lula, ao empossar Lupi no Ministério do Trabalho, depois de convidá-lo para a Previdência (29.3.2007).
Ao empossar cinco ministros no fim da dança das cadeiras, Lula confessou que ainda pretende fazer uma terceira reforma na Previdência. E Lupi atrapalharia.
Antes da adesão, um ato público contra a corrupção e o entreguismo do governo Lula
De como Lula e sua máquina “biafraram” o PDT e similares(II)
