domingo, 28 de setembro de 2008

Como se não estivéssemos à beira de uma festa cívica

A democracia é apenas a substituição de alguns corruptos por muitos incompetentes." Bernard Shaw, escritor irlandês (1856 -1950) Esse frio que faz na alvorada de um domingo primaveril sugere um estado de ânimo letárgico diante de um momento que deveria ser apoteótico para esse que dizem ser um regime democrático. É como se a natureza sofresse a influência de uma civilização emasculada, sob o espectro de uma inércia de laboratório. É como se da estação das flores não brotassem mais as rosas, hoje tristonhas pelo pouco caso dos seres humanos, estes mergulhados no próprio tédio, na absoluta ausência da mais simples vontade do exercício crítico, como se todos estivessem acometidos de uma vexatória morte cerebral. Estamos a menos de uma semana do dia em que as cidades conhecerão os titulares dos poderes locais – novos ou não – e não se pode dizer que a cidadania está ocupada na tarefa de estudar criteriosamente os valores que presidirão o seu o seu direito de escolha, prerrogativa tida e havida como a certeza de que desfrutamos da mais frutífera relação entre governantes e governados. A forja da manipulação é quem dá as cartas, determinando o que cada um deverá fazer na hora da verdade nada verdadeira. Por todos os ardis de uma modernidade sem laços com o passado, nem compromissos com o futuro, o ato de votar no próximo dia 5 de outubro parece, para uma grande parcela da população, apenas uma obrigação, uma forma de evitar futuros aborrecimentos em face da legislação que torna obrigatório o comparecimento às urnas. Mirem os aspirantes a timoneiros de nossas urbes e pouco de conteúdo se perceberá em seus discursos. Parece um castigo de Deus: esses pretensos próceres não são líderes, não têm rastros na história e se pintam como os preferidos, o são em função dos truques e de uma terrível ditadura instalada em nosso universo, aquela que foi inoculada em nosso próprio sangue. Voto pelo voto A sociedade brasileira está perdendo a oportunidade de fazer do voto um juízo de valores. Ante a indiferença pálida da cidadania, os canastrões assomem o proscênio e oferecem seus surrados balaios de vento, adereços de uma farsa que nos deixa em dúvida o que vem a ser mesmo um regime democrático. Como se faz um prefeito no Brasil, hoje? Como alguém chega a uma Câmara Municipal? Será que não existem mais olhos para ver o cenário de uma primária conspiração, na qual o povo entra com sua descuidada chancela? A Câmara Municipal de uma cidade é cada dia mais povoada por estranhas figuras, saídas do clientelismo, do uso da máquina pública, da intimidação e de um ambiente absolutamente acrítico. Um vereador no Rio de Janeiro tem o vencimento líquido inferior a R$ 6.000,00. No entanto, dois terços deles mantêm onerosos “serviços sociais”, com ambulâncias, médicos, dentistas, fisioterapeutas, barbeiros e outros profissionais que se prestam a verdadeiros embustes, valendo-se do sucateamento dos órgãos públicos com suas arapucas caça-votos. Um segmento crescente representa as milícias, poderes paralelos que substituem a polícia (de onde saem), cobram taxas por tudo dos moradores e comerciantes e aproveitam para faturar serviços ilegais, como a popular gatonet. Nesse ambiente, também existem os oriundos dos currais religiosos, sejam os evangélicos ou os católicos carismáticos. Algumas igrejas chegam ao desplante de apresentarem seus pastores e bispos como candidatos escolhos por Deus. O voto de opinião, que já teve grande peso em cidades como o Rio de Janeiro, rareia cada dia mais, com sua migração para galpão da indiferença. Nas últimas eleições, mais de 30% dos cariocas simplesmente deixaram de votar para vereador. Com isso, os que não precisam dos favores dos políticos inescrupulosos a estes servem a custo zero, na medida em que deixam de votar nos poucos com bons propósitos, raros, mas que ainda existem. As eleições destes dias empanados pelas farmácias de manipulação política são tão precárias que dispensam comícios, debates e outros elementos que poderiam servir para apresentar os candidatos ao julgamento do eleitor. Cartas marcadas Os candidatos, sejam a prefeito ou a vereador, não têm acesso igualitário aos eleitores. Os partidos “maiores”, que legislaram em causa própria, têm mais tempos de televisão e rádio, com base em critérios absolutamente insustentáveis: aquele que tem a maior bancada federal tem mais tempo na tv. Aplicam-se aí os mesmos valores que influem na pirâmide social, com uma distorção a mais: nem sempre o quadro nacional se reflete numa determinada cidade. Um partido que faz sua bancada de deputados nos currais dos estados mais atrasados têm mais tempo de televisão em cidades onde sequer existem. O critério da distribuição de tempo no horário gratuito torna ostensivamente desigual a disputa. Quem tem mais deputados federais, tem mais horário na tv e no rádio. É, portanto, uma grande hipocrisia o discurso de que a repressão à propaganda de rua visa a garantir o acesso equânime de todos os candidatos ao eleitorado. Essa distribuição desigual é tão absurda que um partido com fartura de tempo chega a apresentar o mesmo candidato duas vezes no seu espaço. Mais grave ainda: as direções partidárias têm seus próprios “preferidos”, aos quais favorecem descaradamente. Alguns ganham essa preferência por sobrenome, por parentesco e por proximidade com os que escalam o time. Outros, por sua capacidade de “contribuir” financeiramente para os chefes de algumas legendas. Não há equidade entre os partidos, como não há critérios decentes dentro dos partidos. De onde o horário gratuito acaba virando um rolo compressor em favor de uma meia dúzia de privilegiados. Tudo isso acaba por tornar o acesso dos homens de bem, cada vez mais raros e mais desmotivados. Dentro dessa grande farsa ainda pode acontecer mais indignidades: pode acontecer de um suplente assumir no “tapetão”, graças ao poder discricionário de que dispõe hoje um desembargador, poder nada legítimo que deixa no chinelo os poderes dos generais no regime militar.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Essa abominável guerra surda (e suja) do poder

“Ao classificar de "abominável e irresponsável" a declaração do ministro Carlos Lupi sobre a utilização de recursos do FGTS para capitalizar a Petrobras para o projeto pré-sal, o presidente Lula praticamente demitiu-o”. Hélio Fernandes, TRIBUNA DA IMPRENSA, 25 de setembro de 2008 Esse novo e deplorável episódio sobre recursos do FGTS, que deixou mal na fita o ministro Carlos Lupi, está servindo para uma avaliação crítica das relações do governo do PT com o partido sobre o qual paira a aura legendária de Leonel do Moura Brizola. Colunista de grande responsabilidade e competência, por quem, aliás, o caudilho tinha grande admiração, Carlos Chagas escreveu em sua coluna de ontem, também aqui na TRIBUNA: “O ministro Carlos Lupi não é doido nem rasga dinheiro. Aderiu-se publicamente à utilização do FGTS para a compra de ações da Petrobrás, foi por haver recebido sinais nesse sentido, da equipe econômica ou do Palácio do Planalto. O que dizer da explosão do presidente Lula, logo depois, chamando a idéia de abominável, capaz de desarticular o mercado de ações? É preciso prospectar o episódio mais a fundo. Alguém, no governo, estimulou o ministro do Trabalho a engajar-se na proposta e, depois, exasperou o presidente da República no sentido contrário. O resultado aí está: uma lambança dos diabos. O mínimo a supor é a existência de ministros ou altos funcionários interessados em desestabilizar Lupi, de olho no seu lugar para oferecer a aliados e correligionários”. A olho nu, vê-se que o PDT não tem muito a ganhar, emprestando sua história a um governo de tantos e tão clamorosos compromissos com o sistema financeiro, ao qual se submeteu com tal nível de subserviência que não se contentou em entregar o Banco Central ao ex-presidente do Bank Boston: fez questão de blindá-lo com a armadura e os privilégios de um ministro de Estado. Ao oferecer um naco do poder aos sucessores do brizolismo, o sr. Luiz Inácio quis tão somente inibir o seu florescimento como repositório de um manancial oposicionista no campo progressista. Nunca lhe ocorreu, como nas alianças éticas, uma discussão paritária sobre as políticas de governo. Essa é uma deferência que o ex-metalúrgico reserva aos seus ex-patrões e aos que controlam a economia, de dentro e de fora. Esses, sim, fazem parte do núcleo de decisões. Situação de risco Quando foi para o Ministério do Trabalho, já nos acréscimos de um jogo de caneladas, o ministro Carlos Lupi provavelmente tinha essa percepção. A seu critério e dos mais chegados, ele calculou que poderia inverter o jogo, na medida em que, de um gabinete ministerial, ganhava a visibilidade necessária para incrementar o crescimento do partido. Como aconteceu ao longo da história, o cimento social dessa aproximação não foi o amor, nem a busca da mesma estrela sonhada por Exupéry. Considerando as própria composição do PDT hoje, sem o seu grande líder, não se pode dizer que não valeu a pena arriscar. Mas as atitudes de Lula e do PT parecem destinadas a fulminar a legenda brizolista. Agindo como uma hidra, o torneiro mecânico que encantou os doutores da John Hopkins University e ganhou a confiança de Golbery usa de uma técnica apurada para imobilizar possíveis estorvos em seu caminho. Para conviver com ele sem o risco de passar o mesmo vexame a que foi submetido o então senador petista Cristóvão Buarque, demitido por telefone quando estava em Portugal, o ministro Carlos Lupi deveria contratar um assessor com conhecimento da previsão das marés e do fogo amigo. Como esse assessor não existe, o ministro Lupi vai acabar ficando no prejuízo. Ele será tratado como um subministro, exposto a descomposturas típicas de falsos companheiros, possuídos pela síndrome dos traumas de infância, que gozam ao desmoralizar subalternos na via pública. O episódio em que o poderoso chefe descarregou sua bílis contra o seu ministro, provavelmente depois de ouvir calado poucas e boas dos “donos do mercado”, não é o único traço do desconforto a que ele o submete sistematicamente. Lula estará sempre fazendo o que puder para demonstrar que Lupi é um ministro monitorado. Além de negar-lhe autonomias primárias, como para opinar sobre as campanhas publicitárias de sua área, o presidente faz questão de esvaziar o seu papel como árbitro dos conflitos trabalhistas, no qual João Goulart foi o maior dos mestres. Ante a denúncia de trabalho escravo nos canaviais, feita por organizações ligadas à ONU, Lula designou o ministro Luiz Dulce para intermediar os entendimentos ente a UNICA – central dos donos da cana e a Contag, em nome dos trabalhadores rurais. Essa era uma tarefa elementar do ministro do Trabalho e não do secretário geral da Presidência. Na greve dos correios, que teve tanta repercussão nacional, Lupi ficou inteiramente afastado da sua missão de negociador. Na hora que a negociação chegou a nível ministerial, falou pelo governo o titular das Comunicações, que capitalizou politicamente com o fim da paralisação. Espeto de pau Nos casos em que procurou interferir, como na Varig, na GE e no leilão do prédio da Bloch, ele não encontrou entre seus parceiros mais do que perdidas promessas. Quando o PDT entrou com uma Ação de Inconstitucionalidade contra artigos da “Lei de Recuperação das Empresas”, o núcleo mandante do governo tratou de mexes seus pauzinhos e sua petição entrou para o gaveteiro do STF. Em casa de ferreiro, espeto de pau. Lula, que teve o carinho do ministro Murilo Macedo no tempo do general Geisel, devorando seus “Ballantines” em reuniões madrugada a dentro, (segundo está no livro de Mário Garnero) tirou toda a força política do Ministério do Trabalho, o que não seria preciso, porque as lideranças que apareceram no bojo do seu neo-sindicalismo foram devidamente cooptadas. E o ambiente de insegurança social reduz o potencial de luta dos trabalhadores, isso tudo conforme as apostilas do “Diálogo Interamericano”, a super-ONG de David Rockfeller, que ele enfrentou em companhia do seu mestre FHC. Do ponto de vista político, não há espaço para que o ministro pedetista deixe sua marca à frente do Ministério que projetou Jango. Uma avaliação mais tranqüila demonstrará que as perdas e danos serão muito maiores do que eventuais ganhos pela adesão de boa fé a um projeto de governo que é pura má fé. coluna@pedroporfirio.com

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

E ninguém deu nada. Nem mais, nem menos

O leiloeiro Fernando Braga apregoou em vão. Ninguém deu lance. MINHA COLUNA NA TRIBUNA DA IMPRENSA DE 19 DE STEMBRO DE 2008 “Quanto é que vai ganhar o leiloeiro Que é também brasileiro E em três lotes vendeu o Brasil inteiro? Quem dá mais?” Do samba do genial Noel Rosa (1910-1937) Não durou nem um minuto. Nada mais deprimente. Ainda quis olhar nos olhos d’alguns colegas d’outrora. Preferi baixar a cabeça. Estava com meu filho Pedro Ivo e com a sua Thais, estudante de direito. Era a primeira vez que ele ia a uma evento prenhe de tanta ansiedade. Os dois saíram sem entender nada. Quem entendeu? Onde estamos? Tremendo circo no país onde a injustiça reina e governa. Para que aquele momento tão frustrante? O que é a vida? Fernando Braga, eu vi menino de calças curtas. Filho de uma grande mãe. Sobrinho de uma grande figura humana. Uma história à parte. Que um dia contarei. Ele estava lá, com seu irmão Mário. Como o mundo é pequeno. Ele estava lá, com o garbo do ofício, participando da mesma ansiedade. Fez um trabalho sério, altamente profissional. De tanto carinho que tem pelo drama de mais de duas mil famílias, mais parece parte delas. Antes das duas da tarde, eu estava lá no décimo sexto andar de um edifício moderno da tradicional Avenida Rio Branco. E logo puxei assunto com Fernando Braga. Ele estava preocupado. A crise nos Estados Unidos seria o empecilho. Viu? Quem se interessou, contava com dólares de lá, essa espécie decadente que não perdeu a pose. Havia uma resistência virtual: dinheiro norte-americano, não. Quem tivesse o gosto por viver perigosamente que o aceitasse. A prudência hoje foge desses dólares sinistros como o diabo foge da cruz. Bem feito. Não posso dizer que fiquei triste. A tristeza diante de tantas coisas do nosso país de enganados e mal pagos é tão continuada que já criou anticorpos. Mas a revolta não me poupa. A cada dia minha cólera diante de tanta incúria e de tanta hipocrisia é cada vez maior. Crônica bizarra Isso tudo faz parte de uma crônica bizarra com as letras da mentira e da impostura. É produto da mais cínica manipulação. Você está sendo pisoteado e, de tal roupagem a agressão se veste, ainda pede mais. Pise-me que eu gosto - tenho a sensação de mais um triunfo da perversão de Sacher Masoch, o menino guerrilheiro que, adulto, introduziu a cultura masoquista naqueles anos conturbados do Século XIX. Perdoe-me a divagação. Mas são tão pestilentos os ingredientes da eutanásia social que não posso falar daquele sórdido meio minuto sem viajar no tempo e no espaço. Foi o meio minuto do nada, mas também podia ter sido o minuto e meio infame daquela dez da manhã do fatídico 20 de julho de 2006, quando um leiloeiro sebento bateu o martelo do pregão mais aberrante da nossa história: o que entregou de mão beijada a nossa maior empresa aérea aos prepostos de um fundo abutre norte-americano. Neste 17 de setembro de 2008, quando testemunhei o sentimento de frustração de um leiloeiro de bons propósitos e vi quase lágrimas nos olhos de um punhado de profissionais da melhor cepa, li as entrelinhas de uma farsa engendrada alhures. Como estava no tablóide servido à entrada do salão iluminado, ia a leilão parte de nossa história. Eram obras do maior dos mestres da construção, o felizmente centenário Oscar Niemeyer. Eram prédios que sangravam pelo fumê de suas paredes de vidro, 40 anos depois que a revista que se projetou no início dos anos 50 pelo talento e o arrojo de Hélio Fernandes e de tantos magníficos sábios da pena, naqueles idos em que saber escrever contava. Estou falando de uma falência decretada no crepúsculo do século passado. Até aquele 2000, quem passava pela Praia do Flamengo não ouvia o gemido de um desenlace letal. De fora, só se via a beleza dos prédios monumentais, três irmãos modernos que foram nascendo um a um, desde 1968, num confronto com as velhas construções. Houve um dia, porém, em que as máquinas pararam. O império Bloch dava seus últimos suspiros no exercício de uma fatalidade inerente a um regime selvagem do qual poucos escapam. Em se tratando de empresa de comunicação, aí a possibilidade da tragédia é muito maior: tudo conspira contra o sagrado direito à informação. Quem sofre mais De uma hora para outra, dois mil profissionais estavam desempregados. Num universo de poucas ofertas, isso podia significar no mínimo 20% da mão de obra. A cortina baixou sem dó nem piedade. O olho da rua era o caminho sem volta de muitos já cinqüentões, neste país em que viver mais é crime. Começou a novela da massa falida. Um folhetim sem heróis, onde quem pode pega o seu, mesmo que às expensas da fraude e da manipulação. A tragédia se consumou ante a indiferença ampla, geral e irrestrita. Era o auge do complô contra o Estado social. Quem quiser que se vire: isso vale até hoje, neste dias de mentira das grossas capitaneada por uma súcia sem escrúpulos, pintada de rubro só para contrariar. As vítimas entraram para o rol dos assassinatos econômicos. Se alguns ainda conseguiram outros empregos, a grande maioria ficou a pão e água. E a novela se arrastou, entre mortos e desesperados. Tinha-se o leilão do conjunto arquitetônico do Roussel como a fonte do ressarcimento devido e garantido por lei. Não era uma expectativa mansa e pacífica, porque, apesar do previsto no artigo 102 da antiga Lei de Falências, o Ministério da Fazenda do Sr. Lula já havia se interposto no caminho, garantindo o pagamento prioritário da dívida tributária, obtendo o endosso de uma Câmara Cível dessa Justiça que temos. Corremos atrás do governo, pela porta do Ministério do Trabalho, perplexos diante da ousadia da Procuradora da Fazenda. Diz-se que houve boa vontade do ministro Mântega para um acordo que não despojasse os trabalhadores da única fonte de pagamento possível. Eu já não acredito em mais nada desse governo, desculpem-me a franqueza. Sabia-se que a Caixa Econômica Federal estava interessada no prédio, que quase caiu nas mãos, a preço de banana, daquele suplente de senador e dona de faculdades que, sendo do Rio, pegou carona no mineiro Hélio Costa. Ninguém apareceu para fazer qualquer oferta. O leilão gorou como um bólido que não passou da mais fantasiosa imaginação. Voltou tudo a estaca zero. Passada a eleição, o governo se sentirá mais à vontade para passar para trás mais esse contingente de trabalhadores especializados. E contará no seu crime com o espírito de Masoch que, desgraçadamente, paira sobre os brasileiros como um embuste servido a granel no balcão e em domicílio. coluna@pedroporfirio.com

domingo, 14 de setembro de 2008

Um leilão de muito sangue, suor e lágrimas

MINHA COLUNA NA TRIBUNA DA IMPRENSA DE 15 DE SETEMBRO DE 2008 “Somos obrigados a pedir socorro mais uma vez, pois muitos dos nossos colegas (que, com suas famílias, totalizam cerca de 6 mil pessoas), estão passando fome. Muitos não resistiram aos sofrimentos e morreram”. José Carlos Jesus, presidente da Comissão dos Ex-Empregados da Bloch. Poucos leilões do patrimônio de uma massa falida têm tanta importância para vida de uma cidade como o que acontecerá nesta quarta-feira, dia 17 de setembro de 2008, quando irá à praça uma das mais belas obras de Oscar Niemeyer, o conjunto de prédios da antiga Manchete. Essa importância não é apenas por conta de sua belíssima concepção arquitetônica, que, em 1968, ao abrigar as revistas que foram da Frei Caneca, em pleno ano da ebulição juvenil, quebrou a monotonia conservadora das antigas edificações da Rua do Roussel, na porta da Praia do Flamengo. Mais do que isso - relato com o coração apertado - desse leilão depende a arrecadação de recursos para pagar uma corporação que escreveu mais de meio século da história do Brasil, e que há oito anos experimenta um amargo sofrimento regado a sangue, suor e lágrimas. Algo impensável, considerando o patrimônio humano de uma editora, por onde passaram os nomes mais expressivos do jornalismo brasileiro, inclusive o nosso mestre Hélio Fernandes, que, como editor-chefe, foi responsável por sua definitiva inserção no primeiro time do nosso mundo jornalístico, nos anos 52-53. É depende muito mais do que se pode pensar à primeira vista: os trabalhadores da empresa esperam o respeito aos seus direitos desde 2000, quando o complexo Bloch foi à falência. De costas para o direito Embora o processo falimentar tenha se dado na vigência do Decreto-Lei7661/45, que, no seu artigo 102, assegura prioridade indiscutível aos credores trabalhistas, há uma decisão inusitada da 3ª Câmara Civil do Rio de Janeiro, que acolheu petição da Procuradoria do Ministério da Fazenda, remetendo os empregados para segundo plano e mandando pagar primeiro as dívidas tributárias. Estamos, portanto, diante de mais um momento de tensão e dúvida provocado por uma interpretação judicial injusta. E diante, igualmente, de uma inopinada intervenção da Procuradoria da Fazenda, que forçou a barra para limpar a dívida tributária da massa falida, como se os empregados, muitos até hoje sem oportunidade nova no mercado de trabalho, tivessem de amargar o mesmo inferno reservado ao pessoal da Varig, cujo processo de “recuperação” foi deferido nos termos da nova legislação, aprovada em 2005, que abandona os empregados a pão e água, sem ver um níquel de suas verbas rescisórias. Para agravar, além dessa possibilidade de um deplorável fiasco na apropriação do arrecadado com o leilão, os três prédios geminados da Rua do Roussel vão à praça com um lance mínimo de R$ 40 milhões, inferior ao seu verdadeiro valor. Considerando a qualidade dos seus 30 mil metros quadrados, quem oferecer esse dinheiro estará fazendo um negócio da China. Calcula-se que a dívida trabalhista acumulada seja superior a R$ 50 milhões. Entre os mais de 2 mil ex-empregados, muitos já morreram enquanto o dinheiro do patrimônio não apareceu por conta, sobretudo, da manipulação das massas falidas que, em nosso país, na maioria dos casos, viram indecorosas arapucas. Há articulações no primeiro escalão do governo federal, a partir do Ministério do Trabalho, para que a Fazenda chegue a um acordo com os credores trabalhistas. O próprio desembargador Antônio Duarte, que decidiu pela prioridade do crédito tributário, considera a possibilidade desse acordo, no qual 20% do arrecado iria para o governo federal e o restante para os trabalhadores. Em desvantagem com a realização do leilão a poucas semanas da decisão judicial, estes aceitariam esse acordo, não obstante a determinação indiscutível do artigo 102 da antiga Lei de Falências que estabelece os credores privilegiados: É GARANTIDA "A PREFERÊNCIA DOS CRÉDITOS DOS EMPREGADOS, POR SALÁRIOS E INDENIZAÇÕES TRABALHISTAS, SOBRE CUJA LEGITIMIDADE NÃO HAJA DÚVIDA, OU, QUANDO HOUVER, EM CONFORMIDADE COM A DECISÃO QUE FOR PROFERIDA NA JUSTIÇA DO TRABALHO". Um patrimônio inestimável O que vai à praça nesta quarta-feira é um verdadeiro centro empresarial, que traz consigo momentos inesquecíveis da história brasileira. Localizados em um ponto turístico com vista panorâmica para o Parque do Flamengo, a Baía de Guanabara, a Marina da Glória e o Pão de Açúcar, os prédios do grupo Bloch tiveram sua construção projetada por Oscar Niemeyer. Adolpho Bloch levou um bom tempo dinamitando uma pedreira a fim de abrir espaço para o prédio de dez andares, fachada toda de vidro. Em 1980, veio o segundo prédio, no local onde ficava o palacete do jornalista José Soares Maciel Filho, tido como o ghost-writer da carta-testamento de Getúlio Vargas. Era um prolongamento do primeiro prédio, colado a ele, com a mesma fachada do Niemeyer e alguns metros mais extenso. Em 1986, nasceu um terceiro prédio, um novo prolongamento da fachada do Niemeyer, bem menor, no terreno de uma antiga casa. O prédio da Manchete, plantado à beira-mar na Praia do Flamengo, tornou-se uma espécie de farol para gente de todos os cantos do mundo. Em seu primeiro ano, serviu de cenário para uma recepção ao primeiro homem que pisou na Lua, o astronauta Neil Armstrong, poucos meses depois do feito. O ex-presidente JK teve seu escritório lá e, ao morrer, foi velado no saguão do prédio. É profundamente lamentável que os profissionais da antiga editora e da rede de televisão tenham sido levados a uma situação tão humilhante, até porque, como relatou o presidente da Comissão dos Ex-Empregados, José Carlos Jesus, em carta ao ministro do Trabalho, Carlos Lupi, “desde a falência da empresa, no ano 2000, a maioria deles não consegue emprego, devido à idade avançada, pois, infelizmente, há preconceitos contra os idosos no Brasil”. Se o Ministério da Fazenda não chegar a um acordo neste leilão, como entendem agora os próprios desembargadores da 3ª Câmara Cível, o sagrado direito dos empregados previsto em Lei sucumbirá para todo o sempre, já que o prédio leiloado é a única fonte capaz de concretizar a expectativa de 8 anos de um punhado massacrado de profissionais que passaram a maior parte da vida laboral nas empresas do grupo Bloch. coluna@pedroporfirio.com

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A propósito dos maus presságios das urnas neste Rio de Janeiro

“As esquerdas só se unem na cadeia” Jargão que estou cansado de ouvir, mas que é a pura verdade. Bem feito! Como eu havia advertido, por dentro e por fora, aos gritos e aos prantos, os candidatos ditos de esquerda estão prestes a ficar fora do segundo turno nas eleições para a Prefeitura do Rio de Janeiro, tida a havida como a cidade mais politizada do país. Desculpe o amargor do tom, mas tem hora que não dá para segurar a raiva que me invade o coração, a cólera que me aperta o peito desde que constatei a olho nu que o meu sacrifício e de tantos outros brasileiros, muitos com a própria vida, só serviu de trampolim para as ambições pessoais de falsos profetas, carreiristas enrustidos e messias de araque. Não que esteja cobrando. Tudo o que sofri e que sofro até os dias de hoje por conta desse estado de mentira que se instalou com a volta dos militares às suas funções constitucionais faz parte do meu destino. Do qual, reconheço, não tenho muito que reclamar. Podia ser pior: bem que eu poderia ter sido eliminado desde aqueles tempos de execuções políticas. Bem que poderia ter sido silenciado para o resto da vida. Mas a heróica tenacidade de um combatente intimorato, mestre a quem este país deve e jamais terá como pagar, mantém viva esta TRIBUNA DA IMPRENSA, aliás, muito mais USADA pelos que deviam estar correndo atrás do prejuízo causado pelas bombas de março de 81 e pelo constrangimento continuado de que até hoje é vítima, como uma espécie de bloqueio econômico. Essa débâcle anunciada dos candidatos ditos de esquerda à Prefeitura carioca parece uma sina mórbida, uma fatalidade dialética. Desde Brizola, que quase era surrupiado em sua sofrida vitória de 1982, os novos próceres vieram com “defeitos congênitos”, cuja mancha mais saliente é a ambição pessoal. A mesma culpa Por conta da própria idolatria, os que se apropriaram do nosso sacrifício abriram caminho para subprodutos desqualificados desse sistema satânico, que se fizeram líderes por descuidos e já estão gerando novos sucedâneos, todos fabricados por descompromissados alunos do pervertido Joseph Goebbels e empurrados pelo culto da traição. Hoje, às portas da estação das flores, sou forçado a dizer que todos, rigorosamente, têm a mesma culpa no cartório. Porque a nenhum ocorreu o sentimento da oferta. Antes, infelizmente, cada um só viu sua sardinha na hora de puxar a brasa. Não ocorreu a tais artilheiros a idéia de uma busca consensual. Quiseram decidir à moda estelar: QUALQUER UM PODE SER O CANDIDATO, DESDE QUE ESSE QUALQUER UM SEJA EU MESMO. Aqui neste Rio que jamais daria tantos votos a Maluf, Clodovil e Enéas, ficou claro que nunca houve um projeto comum. Primeiro, cada postulante se impôs no seu arraial, muitos a socos e pontapés. Depois, engolido com um Zagalo destemperado, procurou subalternos e não aliados, produzindo a mais rasteira desconfiança de parte a parte. De uma pletora de doze candidatos, a maior do país, metade se considerava a alternativa canhota do povo. Qualquer conversa durava o tempo da batalha de Itararé, aquela que nunca houve e que só serviu para cunhar o pseudônimo do genial “barão”. De tal sorte foi a sem-cerimônia dos aprendizes de feiticeiros que, ao fim, ao cabo, cada um entrou em campo com a cara lavada da mais exuberante egolatria. Nessa batucada bufa, que vem de outros carnavais, todos, sem exceção, confirmaram o mesmo enredo: separados e em paralelo, esfacelaram os estoques, com o que a direita sábia e pragmática fez a festa. É mole ou quer mais? Ninguém pensou numa figura que se aproximasse de um Oscar Niemeyer, isto é, em alguém que despertasse a admiração geral e ensejasse o mínimo de rejeição para ser o denominador comum. Pior será depois Porque na verdade, insisto, não eram idéias, nem projetos, nem mesmo partidos que preponderavam nas preliminares: como é de praxe entre os mencheviques tupiniquins, a utopia de entrelaçar o despojamento derreteu na primeira praia de sol a pino. Despojamento mesmo, no sentido mais generoso da etimologia, dissipou-se no sepulcro dos que deram suas vidas pelos sonhos ínvios. Pior é que o vexame a vista servirá tão somente para minar ainda mais as relações de parentesco político. Do “mauricinho” que acreditou no Papai Noel das Laranjeiras à pretensa fada madrinha, sem falar no rebelde que caiu no ninho tucano, todos vão sair dessa ainda mais afetados. Cada um dirá que, pelo menos, encheu a bola da sua turma. E daí? Qual a diferença entre esses políticos “de esquerda” e os outros, que aspiram tão somente chegar ao poder, nele permanecer ou a ele retornar? As nós outros, prenhes de sentimentos ou simplesmente ansiosos por uma mudança que nos livre dessa tecla empedernida, o que restará quando as urnas apontarem os restantes para a escolha final? Ficar com quem? Com o pastor que se fez na orgânica política de sua seara ou com o mutante que se afigura um espécie de cruzamento entre duas matrizes do mesmo criatório? É bonito isso? Até quando vamos ter que administrar tanta desfiguração do caráter, tanta aberração de princípios? É para o gáudio de “lideranças” personalistas que teremos de verter nossos sangue, suor e lágrimas? E a urbe desafiadora, quem dela poderá cuidar? Ou pensam essas peças de barro que da sua imprudência vil não advirão conseqüências quase irreparáveis? Não, não estou imputando responsabilidade nesse ou naquele. Nem no mais, nem no menos cotado. A todos corresponde uma pesada cota nesse prejuízo histórico - diga-se sem tergiversar. Ainda há tempo? Não sei. Lembro que em 1989, do alto do seu despojamento ímpar, Brizola propôs a Lula a renúncia de ambos, no segundo turno, em benefício de Mário Covas, que não tinha nada desse péssimo caráter de hoje encarnado por FHC. Lula teimou, como que vendo longe seu próprio futuro. Tivéssemos nos unidos então, poderíamos não estar vivendo às mil maravilhas, mas, com certeza, o Brasil político teria outros contornos. Seja o que for, pensando hoje, neste Rio de Janeiro de tanta história, é de todo lamentável que os escolhidos das elites se nutram basicamente da teimosia e das ambições dos que contrataram as franquias do chamado campo progressista. coluna@pedroporfirio.com

domingo, 7 de setembro de 2008

Já que não falam dos aposentados e dos idosos

“O processo de envelhecer produz uma mudança fundamental na posição de uma pessoa na sociedade, e, portanto, em todas as relações com os outros” Nobert Elias, sociólogo alemão, que morreu aos 93 anos, em seu livro “A solidão dos moribundos”. Independente do nível medíocre de quase todas as campanhas políticas neste paupérrimo 2008, é de se lamentar que todos os candidatos passem ao largo de um dos maiores desafios de nossos dias – a relação dos poderes públicos com os maiores de 60 anos, sejam aposentados, pensionistas ou teimosos e sortudos integrantes do mercado de trabalho. Primeiro trampolim do atual governador, que ganhou a simpatia dos mais velhos com propostas cosméticas e eventos diversionistas, a chamada ‘terceira idade” é a mostra mais exuberante da ausência de políticas sociais consistentes em nosso país, nos Estados e nas cidades. Não se tem notícia de uma resposta decente para o fenômeno do envelhecimento da população brasileira, cuja expectativa de vida aumentou de 38 anos, em 1940, para 73 anos, em 2007. A falta de uma discussão mais profunda sobre todos os aspectos que envolvem essa população é ainda mais grave no Rio de Janeiro, cidade que registra o maior percentual de idosos no país: quase 13%, totalizando cerca de 800 mil pessoas. Até hoje, é preciso dizer, os idosos são tratados demagogicamente como se fossem uns coitadinhos, esquecendo que 64% deles são responsáveis pelo sustento das famílias. Isto quer dizer, frise-se, que a responsabilidade econômica dos mais velhos sobre os núcleos familiares aumenta a cada ano: em 1986, 32% das famílias tinham filhos que moravam com pais acima de 60 anos. Em 1998, a proporção subiu para 36%. Já neste 2008, a presença dos idosos na composição do orçamento familiar, com uma significativa mudança no seu perfil. Má vontade oficial De 18 milhões de brasileiros com mais de 60 anos, quase 7 milhões trabalham, muitos fazendo algumas tarefas depois de aposentados. Isto porque a aposentadoria é cada vez menor e tende a diminuir em relação ao que ganhava na ativa, na proporção inversa do aumento das despesas, principalmente com saúde. Alia-se a essa contingência a crise no mercado de trabalho como um todo, principalmente com a redução de oportunidades para os mais jovens. Embora o nível de escolaridade da população tenha aumentado e o número de portadores de diplomas seja três vezes maior do que há vinte anos, não há vagas nas especialidades ou então as ofertas de emprego são aviltantes: um médico concursado no Estado do Rio de Janeiro ganha menos de R$ 1000,00 por mês. A falta de políticas públicas sérias para os idosos reflete um sentimento de pânico entre as autoridades: ao invés de festejar o aumento da expectativa de vida, muitos governantes assumem uma hostilidade virtual, cuja maior marca é a ausência de programas de saúde e o sucateamento dos hospitais e postos de atendimento primário. No âmbito da seguridade social, essa má vontade já é oficial. No perverso fator previdenciário introduzido pelo governo FHC e mantido até hoje, a maior expectativa de vida serve para reduzir a remuneração devida, apesar dos anos de contribuição. Com a emenda constitucional 40, patrocinada pelo governo Lula, a previdência pública introduziu um elemento inteiramente absurdo, que reduz ainda mais o retorno devido: o desconto de 11% na aposentadoria e nas pensões, contrariando a própria lógica. Esse desconto não se reverte para o descontado. Antes, é indevidamente apropriado pelo sistema. É sandice dizer que a questão das aposentadorias não é assunto municipal. Na medida em que elas são importantes em milhões de orçamentos familiares, repercutem diretamente na vida das cidades. Com o pagamento de metade do 13º salário dos aposentados agora, em setembro, o INSS pôs R$ 7 bilhões nas mãos de eventuais consumidores. Em muitas cidades, é a renda dos aposentados e pensionistas que sustenta sua atividade econômica. De crise em crise Dentro dessa trágica gestão das aposentadorias, começa a ganhar vulto a crise da chamada previdência complementar. O que aconteceu com os contribuintes do Fundo Aerus é apenas uma referência patética da vulnerabilidade desse sistema, que pode dar calote em seus contribuintes, sem que exista qualquer garantia do poder público que oficialmente exerce a sua fiscalização. Recentemente, os segurados do Petros, o segundo maior fundo de pensão do país, mergulhou numa crise e partiu para a ignorância, impondo a mudança nas regras de remuneração: agora, ao invés do benefício conhecido, a maioria dos seus beneficiários só vai ficar sabendo de quanto tem de contribuir. O desprezo oficial em relação aos mais velhos é muito mais grave nos cuidados de saúde. Outro dia mesmo, a mídia divulgou que as pessoas estão gastando mais diretamente com a saúde do que os poderes públicos. São milhões de reais gastos com itens obrigatórios, como atenção médica e medicamentos, estes cada vez mais caros e inacessíveis. Com o fracasso no sistema público, em todos os níveis, 42 milhões de brasileiros passaram a ter uma despesa desconhecida até a década de 70: o plano de saúde. No caso dos mais velhos, no entanto, está acontecendo uma redução dos seus segurados, que não podem pagar quase três salários mínimos para ter direito a um atendimento na chamada medicina de grupo. A inexistência de intenções honestas em relação aos idosos vai acarretar crises ainda maiores no futuro: de acordo com dados do IBGE, estima-se que em 2050 o número de idosos no Brasil será igual ao número de jovens: as pessoas com mais de 60 anos, que hoje representam cerca de 10,5% da população, serão 18%, mesma porcentagem dos que terão entre zero e 14 anos. Em pouco mais de quatro décadas, o número de pessoas com 80 anos ou mais chegará a aproximadamente 13,7 milhões. Ao lado desses fatores objetivos, é preciso lembrar que o Estado e a sociedade não estão nem aí para a questão existencial e o relacionamento do idoso com as gerações mais novas, que assumem seu espaço nos governos e nas empresas. Essa é uma outra constatação, que merece uma reflexão profunda, tendo em vista pressões psicológicas próprias de uma sociedade que vem se petrificando ao impulso do individualismo mais perverso. coluna@pedroporfirio.com