segunda-feira, 27 de julho de 2009

A submissão da UNE à castração do pensamento crítico (II)

Lula transformou o Prouni no caminho sorrateiro de privatização do ensino superior. Só a UNE não viu.
“O Programa Universidade para Todos deve operar, à semelhança do PROER para o sistema bancário, em benefício da recuperação financeira das instituições particulares endividadas e com alto grau de desistência e de inadimplência”. Cristina Helena Almeida de Carvalho, Universidade de Campinas “Como uma operação de salvamento para o setor privado, apesar de mascarado por um discurso demagógico de “democratizar” o acesso ao ensino superior, o governo Lula implementou o ProUni”. Sergio Campos de Almeida, Universidade Federal Fluminense. Grande parte das instituições que participam do ProUni não poderia estar funcionando, caso houvesse controle social sobre as privadas. Ademais, o ProUni permite que, para os pobres, as instituições privadas forneçam cursos seqüenciais de curta duração, conferindo, absurdamente, diplomas. Em terceiro lugar, o ProUni foi transformado na principal estratégia do governo para a educação superior e, por isso, legitima o sucateamento planejado e sistemático das universidades públicas, visto que a renúncia fiscal do programa tem como contrapartida o congelamento das verbas das federais”. Roberto Leher, Universidade Federal do Rio de Janeiro Para ser justo é preciso reconhecer que o atrelamento da UNE, UBES e de algumas entidades estudantis ao governo Lula afigurou-se como questão se sobrevivência e deve ser visto num contexto de açodada mediocridade intelectual e desinformação generaliza que acometem a sociedade brasileira como um todo. A UNE de hoje é antes de tudo um poço de equívocos. Pode até ser que uma meia dúzia de maladrinhos faça da profissionalização do exercício de liderar o atalho mais cômodo para inserir-se num universo em que as possibilidades de trabalho digno são cada vez menores. Visão da saúde ao gosto da Fundação Ford Mas a garotada de hoje está sendo deliberadamente circunscrita à cultura dos clichês e à manipulação dolosa de suas expectativas e seus anseios. Quando os dirigentes da UNE acreditam que prestar serviço à saúde é tão somente formar caravanas pelo país para difundir o sexo seguro e defender o direito ao aborto, percebe-se com são presas fáceis de práticas diversionistas, ao gosto do Banco Mundial, da Fundação Ford e de um sistema que fracassa continuamente no enfrentamento do grande caos que tem sido a alegria da medicina privada. Caravanas dessa natureza nos fazem ter saudade do Projeto Rondon, incrementado no regime militar, que levou estudantes ao contato produtivo com as realidades sociais dos grotões, exercendo um pouco do seu conhecimento aprendido nas universidades urbanas. Lamentavelmente, não ocorre a esses jovens tão fixados na prática do sexo seguro a difusão da melhor receita para a tragédia sanitária - as práticas preventivas sobre todas as ameaças, configuradas na distribuição pelo país do MÉDICO DA FAMÍLIA, programa vitorioso em Cuba e em outros países (veja o exemplo de Niterói) que assimilaram o óbvio: é no relacionamento cotidiano com as pessoas saudáveis que os profissionais da área podem evitar formação de exércitos de enfermos e a sobrecarga dos equipamentos públicos de socorro.
Vocação para o haraquiri Cito esse caso como um exemplo da manipulação dos jovens. Mas, ressalvando que não são os únicos prisioneiros dessa imensa cortina de fumaça que se abate sobre o país pelo culto da ignorância, lamento que o atrofiamento mental da juventude venha assumindo as feições de um verdadeiro haraquiri. É o caso do envolvimento com o programa de salvação das empresas particulares de ensino pela matemática da renúncia fiscal e o direcionamento de milhares de jovens para a ocupação de 49% de suas vagas não preenchidas. É no acumpliciamento com esse projeto de destinação dos recursos públicos para faculdades de baixa credibilidade que a UNE oferece sua graciosa ajuda à estratégia de privatização do ensino universitário, tarefa a que o governo Lula se propôs na estrita observância do relatório assinado por dois figurões do Ministério da Fazenda no governo Fernando Henrique, Marcos Lisboa e Joaquim Vieira Ferreira Levy, este sacado por Sérgio Cabral de uma vice-presidência do BID para assumir Secretaria da Fazenda do Estado do Rio. Essa origem “tucana” do Prouni foi demonstrada com toda clareza pelo professor Roberto Leher, doutor em Educação pela Universidade de São Paulo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em entrevista a Maria Cristina Siqueira, publicada em 11 de janeiro de 2007 pelo jornal FOLHA DIRIGIDA. Esses dois sábios, aliás, foram mantidos pelo governo Lula dentro de seu compromisso de seguir as pegadas de FHC, de inspiração nos acordos com o FMI, na área econômica. “O Programa Universidade para Todos - Prouni — teve origem no conhecido documento Análise dos Gastos Sociais, de 2001-2002, do Ministério da Fazenda, escrito por Marcos Lisboa e Joaquim Levy, então dirigentes desse ministério e (posteriormente) principais operadores da política econômica atribuída a Palocci. No documento, os dirigentes ponderavam que as universidades públicas são muito onerosas e elitistas e que, por isso, melhor seria alocar os recursos públicos para adquirir vagas no mercado, visto que as privadas, na avaliação do citado documento, são notoriamente mais eficientes do que as públicas. Mais tarde, ficou evidente que essa modalidade de parceria público-privada seria encaminhada pelo Prouni”. Após a publicação da Medida Provisória, editada às pressas e sem discussão no Congresso, para atender ao lobby das faculdades privadas, a comunidade acadêmica produziu farto material demonstrando todo o mal que esse programa faria a curto, médio e longo prazo ao nosso ensino. A UNE, no entanto, preferiu eximir-se do debate. Bolsa-Família universitário No caso das bolsas nas escolas privadas, praticamente imunes aos controles impostos na esfera pública, guardadas as proporções e as especificidades, há uma certa semelhança ideológica com o já famoso “Bolsa-Família”. Porque ambos têm caráter compensatório e imobilizam segmentos sociais. Entre os jovens bolsistas, persiste a insegurança em relação à qualidade do ensino ministrado e sua habilitação para o exercício da profissão escolhida, embora em sua grande maioria os cursos abertos pelo programa não se incluam entre os de maior rigor escolar. Em defesa da postura da entidade, Tiago Ventura e Joanna Paroli, dirigentes eleitos no Congresso de Brasília, assinam artigo na revista CARTA CAPITAL, no qual lembram que no evento anterior os estudantes expressaram discordâncias com o governo Lula. “Neste encontro, a entidade levou, em parceria com a Coordenação dos Movimentos Sociais, mais de 8 mil estudantes às ruas exigindo o "Fora Meirelles", demarcando a sua posição de discordância com a política econômica do Governo Federal e a sua autonomia política, que é constantemente reafirmada na política de boicote ao ENADE, nas críticas à política de comunicação e nas exigências de se avançar cada vez mais nos investimentos e democratização da Universidade brasileira, derrubando, por exemplo, os vetos dados pelo Governo FHC ao Plano Nacional de Educação e a manutenção da Desvinculação da Receita da União na área da educação”. Que eu saiba, Meireles está mais dentro, mais prestigiado do que nunca e a UNE calou. Da mesma forma, nada da pauta enunciada foi objeto de mudança pelo governo. E não se falou mais nisso. Pior: com a chantagem de uma falsa dicotomia eleitoral e de um pragmatismo velhaco, os estudantes perderam uma boa oportunidade de pintar os rostos outra vez, tamanha a corrupção personificada por Sarney (o protegido do homem) como uma peste mortífera, cujos efeitos se espalham por todo o tecido social e comprometem a própria razão de ser do regime democrático.
Esse silêncio canhestro encomendado por seus tutores fala mais alto do que os 72 anos de lutas de uma entidade que ostensivamente tirou seu time de campo numa hora em que o país inteiro não esconde sua perplexidade e sua revolta. E mais precisa do grito de indignação dos jovens.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A submissão da UNE à castração do pensamento crítico (I)

Ao pintar na grande mídia, em 1978, ainda sem a barba programada, Lula queria ver os estudantes pelas costas.
“Privatizaram o conhecimento que só à humanidade pertence” Bertold Brecht, teatrólogo e pensador alemão (1898 -1956) “Os estudantes são os patrões de amanhã. Pega, por exemplo, a greve da Scania. Os estudantes da FEI não fizeram greve, estão trabalhando lá como estagiários da FEI. Os únicos estudantes honestos que eu vi foram os estudantes da Fundação Getúlio Vargas”. “Quando os estudantes resolveram fazer um ato público para angariar esmolas para a classe trabalhadora, eu fiz uma nota oficial – vão dar esmola para a mãe deles”. Lula, em entrevista a Ruy Mesquita, herdeiro do “Estadão”, em julho de 1978, o que levou o “barão da imprensa paulista” a considerá-lo um líder proletário autêntico, “incontaminado política ou ideologicamente”. “Ou os estudantes se identificam com o destino do seu povo, com ele sofrendo a mesma luta, ou se dissociam do seu povo, e nesse caso, serão aliados daqueles que exploram o povo” Florestan Fernandes, sociólogo e ex-deputado federal pelo PT-SP (1920-1995) “O governo Lula é outra razão da alienação. Os jovens se sentem obrigados a apoiar o governo atual, porque têm origem de esquerda, e porque acreditam que ele age no limite do possível. Ao limitar-se ao que é possível, a juventude envelhece”. Senador Cristóvam Buarque, artigo publicado em 16 de agosto de 2008. “Entendemos que esta entidade não é mais representativa das lutas estudantis e muito menos um instrumento para tais, considerando que se opõe às lutas das próprias entidades gerais (como o DCE UFU), filiadas à ela, ainda hoje, por questões históricas.” DCE da Universidade Federal de Uberlândia, junho de 2008 “Devido ao fato de estar vinculada a um partido da base aliada do Governo Federal, a UNE assumiu uma posição extremamente governista, quando defendeu o Prouni, deixando de lado algumas de suas bandeiras históricas, tal como a luta pela Universidade Pública, Laica, Gratuita e de Qualidade para todos”. Ivandick Rodrigues dos Santos Jr, acadêmico de Direito da Universidade Mackenzie “Vivemos um momento de alienação, não só dos universitários, mas da juventude como um todo: o sistema “massifica” a juventude, tratando a todos como uma coisa só que ainda é muito imatura para tomar decisões e opinar acerca dos caminhos do país”. Fernanda Senna, Universidade Federal de São Paulo. Quando começou a pintar na grande mídia como “o cara” que nada tinha com as lutas do passado e era “apenas um torneiro mecânico” sedutor, Lula tinha pavor dos estudantes. Demonstrou isso em algumas entrevistas. Mas não ficou só no discurso. Numa das greves badaladas, determinou que sua tropa de choque tomasse os jornais que os estudantes do MR-8 e do PC do B distribuíam e pôs o grupo para correr, insuflando os trabalhadores contra os garotos que queriam “politizar o movimento”. De mala e cuia no Congresso da UNE Mas o mundo dá muitas voltas. Nesses dias empanados de uma Brasília de cabeça para baixo, Lula entrou para a história como o primeiro presidente da República a comparecer a um Congresso da UNE, isso no sexto ano de governo e levando a tiracolo a presidenciável que saiu do bolso do seu colete. Quem mudou? Lula? Os estudantes? Ou mudaram os tempos? Por que só agora, quando joga todas as suas fichas numa candidata inventada por ele? Antes outra pergunta: Congresso da UNE? Menos. Cartorialmente, sim. Mas, de fato, um encontro encorpado pelos bolsistas do PROUNI, um programa que socorreu as escolas privadas, ocupando seus espaços ociosos mediante a renúncia dos tributos devidos, segundo a mesma aritmética que terceiriza a assistência médica do SUS, em que não falta a manipulação dos números para escamotear a injeção maciça R$ 3 bilhões de recursos públicos no ensino mercantil. Entidade comprometida até a medula O evento universitário chocou os que imaginam as entidades estudantis como vanguardas incorruptíveis do pólo acelerador da história. Por sua natureza, espera-se que o envolvimento de jovens na vida política se dê pela via da contestação às práticas inescrupulosas e até ao próprio sistema. No entanto, a União Nacional dos Estudantes, que nasceu no combate ao nazi-facismo quando o governo do Estado Novo tinha entre seus próceres influentes simpatizantes, renegou sua história para se transformar num deprimente cabide de interesses, sucumbindo aos encantos do poder, no mesmo ritual dos sindicatos e das organizações não governamentais de alto teor arrivista. Ironicamente, o abandono das bandeiras pelo ensino público de qualidade, com a garantia de acesso a todos, e da defesa da soberania nacional, o questionamento do modelo econômico, acontece pela ostensiva transformação da entidade em “aparelho estudantil” do Partido Comunista do Brasil, uma verdadeira fraude ideológica, que tenta submeter e cooptar a juventude pelas ofertas de programas e sinecuras no Ministério dos Esportes, com o qual foi aquinhoado desde a ascensão de Lula. Com muita sede ao pote Erram os que imaginam que essa rendição decorra tão somente das patacas oferecidas pelo governo e pelas estatais. Nos tempos idos, antes de 1964, o governo federal destinava subvenções a UNE, UBES e entidades estaduais. Até 1963, antes da implantação do Programa Nacional de Alfabetização - PNA – que mobilizou dezenas de jovens do Partido Comunista Brasileiro – o “partidão” - numa tarefa de grande alcance social, as lideranças se protegiam na explicitação de suas próprias propostas de luta pela democratização do ensino, no apoio aos movimentos pelas reformas de base e a denúncia da desnacionalização da economia. Até 1964, quando o número de universitários não chegava a 130 mil, e o de secundaristas beirava o milhão e 400 mil, 80% das escolas superiores eram públicas, número inversamente proporcional ao que acontece hoje. O Colégio Pedro II, o Instituto de Educação, o Colégio Militar e os ginásios estaduais ofereciam o melhor ensino, travando-se já nos primeiros graus a corrida pelo privilégio de frequentar um estabelecimento público de qualidade. Ao longo desses 43 anos, a educação foi-se afastando de seus fundamentos essenciais, num processo que culminou com a castração intelectual dos jovens. A maioria silenciosa fixa-se na caça ao canudo, embora ainda sejam dramáticas as estatísticas de evasão escolar em todos os níveis do ensino. A privatização do pensamento crítico A mudança do perfil universitário, com o crescimento voraz das escolas e das vagas nos estabelecimentos privados alimentou o processo de desfiguração do ensino superior, irradiando-se na consolidação da ESCOLA MEDÍOCRE, afogando nas perdidas ilusões quase dois milhões de universitários, 79% dos quais pagando para habilitar-se ao mercado de trabalho. A UNE de hoje não é mais o espaço da formação de líderes como antes porque sua base social foi igualmente privatizada, com o seu inevitável empobrecimento intelectual. Não se fala mais na educação como um todo, que contemple as camadas de base, desde as primeiras letras. Ao contrário, o sistema circunscreveu os universitários à patética “filosofia” da “farinha pouca, meu pirão primeiro”, oferecendo soluções cosméticas e inúteis, como as políticas de cotas destinadas tão somente a compensar o sucateamento do ensino público de segundo grau. O dedo nas feridas Quando ocupou o Ministério da Educação, do qual foi demitido pelo presidente assumidamente ignorante com os requintes da torpeza, do desrespeito e da humilhação, o senador Cristóvam Buarque ficou falando sozinho numa das mais corajosas propostas educacionais - o resgate do ensino de primeiro e segundo grau. Mas não ficou aí. É dele a mais inteligente reflexão sobre os descaminhos percorridos pela minoria talhada para o aparelhamento da UNE e da UBES, transformadas em monopólios da garantia dos benefícios da carteira de estudante. Em artigo publicado no jornal O GLOBO, em 16 de agosto de 2008, ao proclamar que “nunca foi tão necessária uma juventude revolucionária”, o ex-ministro, ex-governador e ex-reitor da Universidade de Brasília lembrou que “antes, a revolução defendida pela juventude universitária era a favor da nação, do povo, mas também dos jovens”. "Com o apartheid social que caracteriza o Brasil de hoje, a classe média sabe que seu padrão de vida e de consumo sairá perdendo se houver distribuição de renda para os pobres. Os jovens universitários percebem que não há espaço para todos". "Para eles - escreveu Cristovam Buarque - os únicos empecilhos para chegarem ao paraíso são a Aids e as mensalidades da universidade particular. A revolução está no Prouni e no sexo seguro”. Do seu antológico artigo (que pode ser lido na íntegra clicando aqui), extraí verdadeiras lições: “A UNE vai fazer uma caravana nacional para debater educação, saúde e divulgar práticas de sexo seguro. Isso pode significar que o movimento universitário esteja saindo da paralisia e do corporativismo para encontrar uma nova causa. Mas, ao mesmo tempo, passa a idéia de que os universitários continuam desligados da necessidade de o Brasil fazer uma revolução na sua sociedade”. “Mais importante do que esse saudosismo arrogante é entender por que a juventude universitária ficou conservadora, enquanto a realidade social de hoje é ainda mais perversa do que era antigamente: a corrupção domina, a violência controla as ruas, a desigualdade se transformou em apartação, a educação básica é uma calamidade vergonhosa, o planeta se aquece’. “Alguns põem a culpa nos 21 anos da ditadura, esquecendo-se de que já temos 23 anos de democracia. A culpa é mais da democracia do que da ditadura, porque, naquele tempo, havia uma forte militância juvenil pela liberdade. A democracia calou os intelectuais e alienou a juventude”. “A juventude universitária não defende a necessária revolução na educação de base. Intui que, se todos os pobres do Brasil tiverem educação de máxima qualidade, a juventude de classe média e seus filhos sofrerão forte concorrência. A exclusão educacional e a má educação dos que sobrevivem até o fim do ensino básico é uma forma de proteger os que têm acesso a boas escolas”. Voltarei ao assunto. coluna@pedroporfirio.com
A privatização do ensino e suas consequências nefaastas

terça-feira, 21 de julho de 2009

Honduras de Zelaya, o conflito com os espoliadores da América Central

“Quando os militares de Honduras derrubaram o governo eleito de Manuel Zelaya, ouviu-se um suspiro de alívio nas salas da Chiquita Inc., grande corporação da plantação e distribuição de frutas. No início de 2009, a empresa, que tem sede em Cincinnati, fez eco às críticas contra o governo em Tegucigalpa, que aumentara o salário mínimo nacional em 60%. A Chiquita reclamou que as novas leis afetariam seus lucros; que a empresa passaria a gastar em Honduras mais do que na Costa Rica: 20 cents a mais para produzir um engradado de abacaxis e 10 cents a mais, para ser exato, para produzir um engradado de bananas. No total a Chiquita alegou que perderia milhões de dólares por efeito das reformas trabalhistas de Zelaya, dado que a corporação produzia cerca de 8 milhões de engradados de abacaxi e 22 milhões de engradados de bananas por ano”. Nikolas Kozloff, autor de Revolution! South America and the Rise of the New Left
Como, por assim dizer, Honduras está em chamas, retomo o contato com o primeiro grande desafio do governo Obama, dando continuidade ao comentário de 6 de julho, munido de novas informações e convencido do dever de oferecer meu depoimento como contribuição à formação de opinião em nosso país. Desafio porque está difícil acreditar que “el negrito”, como o presidente dos EUA está sendo chamado pelos golpistas, tenha entrado de gaiato no navio. Desafio porque Honduras sempre foi o pivô das piores políticas de intervenção dos Estados Unidos na América Central. A batalha que se trava hoje nesse país de menos de 8 milhões de habitantes, espoliada pela multinacional Chiquita Brands International Inc (ex-United Fruit e maior distribuidora de frutas dos EUA), é a senha para a retomada dos seus vizinhos, que somam mais de 40 milhões, hoje percorrendo um caminho alternativo, completado com a vitória do candidato da Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional, em El Salvador. E mais do que reagir à ruptura da ordem constitucional, eventualmente fora de moda, cabe-nos um posicionamento claro em relação ao poderio das empresas estrangeiras, habituadas a virar a mesa em nosso continente quando seus interesses são contrariados. Como nos velhos tempos Acrescente-se a isso a compreensão de que, como centro de dominação, a potência do norte, mesmo em queda livre, jamais renunciou aos seus dotes imperialistas. Tanto que essa quartelada contra o presidente Zelaya teve a mão grande do embaixador Hugo Llorens, do esquema do cubano-norte-americano Otto Reich, poderoso no governo Bush e sócio de concessionária de telefonia em Honduras. Quando Hillary Rodham Clinton assumiu a Secretaria de Estado ficou sabendo que Bush enviou Llorens para Tegucigalpa em setembro passado com segundas intenções. Soube que, já na primeira semana como embaixador, manteve reunião com o general Romeo Vasquez, amigão dos traficantes de armas Thomas Posey e Dana Parkes, introduzidos em Honduras pelo sinistro John Negroponte, o inglês-norte-americano, que completa 70 anos hoje, como peça-chave da rede sionista (da qual Otto Reich é “valete de ouro”). Para comprometer mais ainda estabelecimento yankee, já se sabe que o general Vasquez e seu colega Luis Javier Prince Suazo, chefe da Força Aérea, ambos com cursos “especializados” na Escola das Américas, tiveram apoio logístico da base militar norte-americana de El Aguacete, implantada pelo então embaixador Negroponte em 1981 como escola de guerra e tortura em Soto Cano (Palmerola), a 97 km de Tegucigalpa. Contígua à base, um conjunto de 44 prédios, funciona a Academia da Força Aérea de Honduras. Washington na fita Washington admitiu recentemente que teve conhecimento prévio do plano golpista em detalhes, pelo menos dez dias antes. Na segunda feira, 29, porta-vozes do Departamento de Estado, em declarações à imprensa, comentaram que seu embaixador e uma equipe de diplomatas norte-americanos “estavam em conversações” com os principais atores do golpe há mais de um mês. Essas conversações intensificaram-se durante a semana aprazada, quando o embaixador norte-americano em Tegucigalpa, Hugo Llorens, se reuniu três vezes com os militares golpistas e os grupos de empresários da COHEP – Confederação Hondurenha de Empresários, inclusive os executivos da Chiquita Brands International Inc e da Covington & Burling, lobista atuante, que pôs recentemente John Negroponte como seu vice-presidente e da qual foi sócio Eric Holder, atual Procurador Geral dos EUA, co-coordenador geral da campanha de Obama. Ofereço essas informações para você entender a abrangência do projeto golpista e entender porque não restou outra alternativa ao presidente Manoel Zelaya, apenas um liberal rico, mas com grande sensibilidade social e corajoso patriotismo, senão assumir a liderança da insurreição popular que ganha as ruas de Honduras na repulsa ao golpe militar. Quando pediu ao presidente Oscar Arias para tentar uma “solução negociada” a sra. Clinton cumpriu o seu papel no script golpista. Na última semana, sob o comando do “paramilitar” Billy Joya Amendola (também conhecido como Dr. Arranzola), ministro conselheiro do impostor Micheletti, grupos de mascarados executavam próceres legalistas, entre os quais Roger Iván González, líder do Partido União Democrática Unionista, morto dia 11 em sua casa de San Pedro Sula, e seu correligionário Ramon Garcia, assassinado no dia seguinte. Dentro do plano golpista, chancelado pelo embaixador Llorens, projeta-se um conflito na América Central, começando por um choque com a Nicarágua, ainda afetada pela guerra civil dos anos 80. Honduras é o país com maior arsenal bélico da região e uma tropa comandada pelos remanescentes do tenebroso Batalhão 316, treinado pela CIA e por especialistas da ditadura argentina, com a tarefa de exterminar elementos hostis em Honduras, El Salvador e Nicarágua. Batalhão 316, a matriz do golpe Para saber mais sobre a matriz da cúpula militar de Honduras, leia o que colhi a seu respeito: A CIA foi uma peça-chave para o treinamento e equipamento do Batalhão 316. Seus membros eram aero-transportados a um lugar secreto dos Estados Unidos para receber treinamento em técnicas de vigilância e interrogatório, e depois a CIA continuava treinando-os em bases hondurenhas. Desde 1981, os Estados Unidos cederam fundos clandestinamente a especialistas argentinos em contra-insurgência para que esses treinassem as forças militares em Honduras. Nessa época, a Argentina era famosa por sua própria “guerra suja”, que custou pelo menos 10.000 mortos ou “desaparecidos” nos anos 70. Instrutores argentinos e da CIA trabalharam ombro a ombro no treinamento dos membros do Batalhão 316 em um acampamento em Lepaterique, um povoado a umas 16 milhar ao oeste de Tegucigalpa. O General Gustavo Álvarez Martínez, quem em sua qualidade de Chefe das forças armadas hondurenhas dirigia pessoalmente o Batalhão 316, recebeu um forte apoio dos Estados Unidos, inclusive após haver dito a um Embaixador estadunidense que pretendia usar o método argentino de eliminação de subversivos. Em 1983, quando os métodos repressivos de Álvarez eram bem conhecidos pela Embaixada dos Estados Unidos, a Administração Reagan lhe condecorou com a Legião do Mérito por “promover o êxito do processo democrático em Honduras”. Sua amizade com Donald Winters, chefe da estação da CIA em Honduras, era tão estreita que quando Winters adotou uma criança pediu a Álvarez que fosse o padrinho. Um oficial da CIA radicado na Embaixada dos Estados Unidos ia com freqüência a uma prisão secreta conhecida como INDUMIL, onde se torturava, e ali visitava a cela de Inés Murilllo, vítima de abdução. Essa prisão e outras instalações do Batalhão 316, estavam fora do alcance dos funcionários hondurenhos, incluindo os juízes que tentavam saber o paradeiro das vítimas de seqüestro. É desconhecido o número exato de pessoas executadas pelo Batalhão 316. Ao longo dos anos foram encontrando corpos não identificados nem reclamados, enterrados em zonas rurais, ao longo de rios e nos bosques. Posteriormente, em 1993, o Governo de Honduras publicou uma lista de 184 pessoas desaparecidas e presumidamente mortas. O descobrimento de um corpo identificável permitiu aos promotores tentar colocar corpos de outras vítimas à disposição da justiça.
Zelaya em Honduras para a luta O site Pátria Latina informou que o presidente Zelaya já se encontra em território hondurenho. Em matéria assinada por Laerte Braga, garante que a insurreição constitucionalista já começou: “Neste momento o presidente entrou em Honduras e vai permanecer.A greve geral está afetando diversos setores da economia do país. São visíveis os sinais de descontrole dos golpistas. A repressão aumenta, mas já não há unanimidade entre os militares que depuseram o presidente há quase vinte dias. Uma grande marcha com voluntários de diversos países principalmente da América Latina começa a dirigir-se a Tegucigalpa. Muitos norte-americanos de organizações pela democracia e direitos humanos estão se associando a marcha. Outros chegam de países da Comunidade Européia. O presidente não pretende mais retirar-se do território de Honduras. Sua mulher e sua filha lideram mobilizações em vários pontos principalmente na capital. As manifestações em toda Honduras estão provocando ondas de grande emoção no país”. Governo brasileiro com presidente legal Neste dia 20, O GLOBO publicou matéria assinada por Eliane Oliveira, na qual garante que a diplomacia brasileira está assumindo uma posição firme, causando o primeiro aranhão nas boas relações entre Brasil e Estados Unidos, desde a posse de Barack Obama, no início deste ano. Os dois países divergem sobre a forma como as negociações envolvendo Honduras estão sendo conduzidas pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias. Enquanto os EUA aplaudem a busca de um governo de coalizão entre o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e os autores do golpe de Estado que colocaram no poder o presidente do Congresso Hhndurenho, Roberto Micheletti, o Brasil defende que nenhum acordo seja feito sem que Zelaya possa voltar ao país e reassumir o cargo. A ser verdadeira essa notícia, observa-se uma mudança na política externa do governo Lula, que procurou seguir a estratégia inspirada desde Afonso Arinos (no governo Jânio Quadros) com o cuidado de não contrariar Washington. Dessa vez, teríamos um Brasil mais próximo dos seus irmãos latino-americanos, em ostensiva divergência com os Estados Unidos. Espero voltar ao assunto com mais informações e opiniões.
coluna@pedroporfirio.com

domingo, 19 de julho de 2009

Antes que eu me esqueça: aos petistas decentes, com carinho

"Lula deixa uma grande frustração no que se pensava ser uma de suas maiores habilidades: a política partidária. Lula nada fez para evitar a desconstrução e a perda da autoridade moral do Congresso. Os partidos estão mais fracos e deteriorados do que antes da sua posse. E é papel do chefe de Estado fazer com que as instituições como o Parlamento sejam vigorosas".
Senador Tião Viana (PT Acre)
Antes de escrever qualquer outra matéria, gostaria de esclarecer alguns pontos suscitados a partir de comentários de alguns destinatários das minhas colunas. Falo especificamente de três petistas (ou simpatizantes) que criticaram minhas opiniões, escrevendo:
"Cara, você não cansa né?Gostaria de ver você atacando gente do naipe de Paulinho da Força e Geraldo Vinholi, será que estes não são caciques do seu querido PDT, partido que em São Paulo não passa de uma legenda de aluguel".Daniel Souza
"Durante dois anos, diariamente, vcs tentaram acabar com o PT e com o governo do presidente Lula, nada conseguiram. Vocês querem ocupar politicamente o lugar do PT, mas deveriam trabalhar para serem mais um partido de esquerda no Brasil e não têm capacidade para fazê-lo, por isso, se preocupam tanto com o PT. Os inimigos da classe trabalhadora não é o PT e sim o PSDB, DEM, os ruralistas, pecuaristas, latifundiários, banqueiros, etc. Sugestão: enquanto vcs. não se organizam, nem vão para o poder, que tal se preocuparem em bater, politicamente, nos representantes da burguesia"?
Eloísa Helena
"Por mim esta CPI não sai. Frase histórica do caudilho Leonel de Moura Brizola dita no processo histórico da instalação da CPI que viria a cassar o mandato do então presidente e pai dos CIAC,s, sugeridos por Brizola e todo o seu PDT.O mais interessante é que passados quase vinte anos esta frase ainda soa na minha cabeça como uma traição num momento histórico tão importante".
Demaclubdosoul
Preferia que o PT fosse coerente
Pelo respeito que devo a todos os que me escrevem, permito-me dizer:Preferia que Lula e o PT fizessem um governo progressista, focado nas suas antigas bandeiras. Governo que encarasse com coragem a necessidade de uma reforma agrária que fixasse milhões de sem terras no campo, defendesse a soberania nacional, assumisse a educação pública a partir das primeiras letras, como propôs Cristóvam Buarque, adotasse como estratégia o programa médico da família, questionasse as privatizações-doações, preservasse e avançasse nas conquistas sociais dos trabalhadores, optasse, como meio de enfrentar a pobreza, a abertura de alternativas de sobrevivência digna, pela existência de opções de trabalho, e desse combate exemplar à corrupção e ao tráfico de influência.
Preferia que o PT tivesse sido coerente: não pelo Lula, cuja verdadeira biografia ainda será conhecida um dia, quando seu enorme poder de mistificação e coação evaporar-se no tempo e no espaço. Mas pelos milhões de brasileiros que jogaram todas as suas esperanças no governo encabeçado por um ex-operário, ex-pau-de-arara, numa ruptura com toda uma tradição de governantes saídos das elites.
O Partido dos Trabalhadores, por seu histórico e pela votação recebida por Lula, teria condições de empreender uma mudança de grande alcance social, fortalecendo ao mesmo tempo os valores da nacionalidade, tal o potencial do Brasil, muitas vezes maior do que de outros países que registram avanços mais ostensivos.
Não pensava no papel carbono
Não podia imaginar que o governo Lula fosse exatamente igual ao do PSDB, com outro figurino e outros personagens. Desde aquele dia 12 de novembro de 2002, quando Lula foi recebido por Bush ainda como presidente eleito, começou a dar sinais de que iria trabalhar sob a tutela dos donos do mundo, opção que se tornou explícita com a manutenção da política econômica e até dos seus executores, que passaram a seguir a bússola do Sr. Henrique Meireles, ex-presidente mundial do Banco de Boston, que fora eleito deputado federal em campanha milionária no Estado de Goiás, justamente pelo PSDB.
A primeira preocupação de Lula, já presidente, foi patrocinar a segunda "reforma da Previdência" (a primeira foi de FHC), com a amputação de direitos e a minimização da aposentadoria para jogar os trabalhadores, principalmente os servidores públicos, nas malhas da previdência privada, tal como aconteceu com os planos de saúde. Com essa reforma, introduziu um patético estupro do direito: o servidor aposentado continua pagando para a Previdência, mesmo fora da ativa.
No decurso do seu governo, Lula foi se distanciando ostensivamente dos antigos discursos em função dos quais seu partido chegou ao governo da República. E foi assumindo claramente os velhos truques e os viciados expedientes dos governantes que combatia de unhas e dentes. As elites financeiras e o agronegócio nunca foram tão paparicados e protegidos. O patrocínio do ócio remunerado
O receituário adotado como forma de socorrer os enormes bolsões de miséria repetiu as fórmulas assistencialistas mais perniciosas, que vêm desde o "Programa do Leite", ainda na época de Sarney, passando pelas "ajudas" diversificadas no governo FHC, até chegar ao "Bolsa Família", um verdadeiro crime contra seus "beneficiários", cujo escopo essencial é criar um "exército de ociosos dependentes do poder público" convertido em massa de manobra de multiuso.
O governo que tem no PT sua espinha dorsal absorveu as teorias do poder predominantes desde que a República é República. Passou a ser apenas a ponta do iceBerg de um pacto político conservador e continuísta, operando sempre na direção da adequação do país ao sistema internacional, com o sacrifício dos direitos dos trabalhadores, cujas lideranças foram subornadas pela cooptação, e dos interesses nacionais.
Dentro desse acordo, não causa espécie que os principais Estados venham sendo governados por partidos de "centro" (PSDB e PMDB), o mesmo acontecendo com as capitais mais importantes. A preservação desse quadro já está sendo sinalizada com todas as letras, com a decisão de principalizar a candidatura de Dilma Rousseff a qualquer preço. Até mesmo na Bahia, onde o PT tem o governador, admite-se uma composição caudatária com o PMDB.
A desfiguração das práticas partidárias
O processo de escolha da sucessora de Lula afrontou a história de um partido que realizava discussões em várias instâncias antes de bater o martelo. A escolhida não é a candidata mais indicada para o PT, sob todos os aspectos, até pela total falta de experiência como candidata. E ainda poderá levar a uma acachapante derrota, no primeiro turno, em benefício do PSDB, como se ela tivesse sido imposta ao partido para facilitar o lado dos aliados históricos na social-democracia e no neoliberalismo.
Confinado, o PT jamais cogitou de discutir nomes como o senador Paulo Paim, um dos mais coerentes parlamentares da legenda, ou do senador Eduardo Suplicy, detentor de enorme bagagem e um grande crédito político: foi eleito e reeleito para o cargo em pleitos em que só havia uma vaga ao Senado, justamente no maior Estado do país.
Pelo conhecimento que tenho da história e pela própria vivência, ouso afirmar que causa mais danos ao povo brasileiro aquele que saiu de suas entranhas e pratica as piores políticas com o carisma de sua história, do que os neoliberais de carteirinhas. Ambos servem aos mesmos propósitos coloniais, mas o partido "dos trabalhadores" e o ex-operário beneficiam-se com as vantagens da identificação com o grosso da população, dominada pela expectativa inercial emanada do presidente "igual".
O presidente Lula não se conformou em seguir as pegadas de FHC na política econômica e no assistencialismo compensatório. Decidiu bancar as práticas desonestas e nocivas no exercício do poder, aliando-se a conhecidos delinquentes, aos quais tem emprestado o suporte de sua popularidade.
O mal de acolitar corruptos
Na hora em que passa a mão nas cabeças de corruptos pilhados em flagrante, Lula fragiliza o mandato popular e desmoraliza a própria democracia, causando uma enorme frustração nos segmentos informados da sociedade e transformando maus hábitos em fatos consumados para o conjunto do povo, que é estimulado a abrir mão dos valores morais e éticos, em nome de uma governabilidade parida no escuro das piores transas.
Dentro desse contexto, que poderei voltar a dissecar, parece mais salutar e mais consequente priorizar, para efeito de combate, aqueles que acabam prestando mais serviços ao sistema internacional e às classes dominantes justamente pela imagem pretérita e pela fantasia diabólica atribuída a seus adversários.
Esse combate a violências morais tão inimagináveis como o apoio a Sarney, Renan Calheiros e Fernando Collor deveria ser travado dentro do próprio partido que tanto se jactou do apego à ética e aos bons costumes.
Fechar os olhos ou procurar justificativas grotescas para tais desvios de conduta é contribuir para um enorme desserviço ao Brasil, ao seu povo e, em particular, a todo o chamado campo progressista, hoje afogado no mesmo mar de lama em que chafurdam larápios irrecuperáveis. Pense nisso, antes sacar de sua arma.
Vale a pena ver. Clique na foto

quinta-feira, 16 de julho de 2009

A morte cerebral do autodenominado partido dos trabalhadores

Da sedução dos podres poderes à coma depressiva com a perda de identidade
"As doses de formol que estão injetando nos trabalhadores só serão visíveis quando o estado do país for irremediavelmente terminal".
Dayse Amorim Mattos, ex-Varig, comentando minha última coluna.
Aos 29 anos, o Partido dos Trabalhadores está tendo uma virtual morte cerebral. É o que informam fontes fidedignas diretamente da UTI do Hospital da Praças dos Três Podres Poderes de Brasília, Distrito Federal.
Especialistas vindos dos principais centros de avaliação do mundo ocidental e cristão divergem sobre o tempo de sobrevivência vegetativa do partido totalmente acorrentado pelo todo poderoso príncipe operário.
Os norte-americanos da Johns Hopkins University, onde Lula fez em 1973 um curso tão misterioso que não consta do seu currículo, acreditam que por sua origem em laboratório, com as bênçãos de Deus nas sacristias receosas do dia seguinte ao regime militar, as recentes alquimias poderão prolongar a existência da legenda, mesmo com o cérebro irremediavelmente putrificado.
Para eles, a transfusão do sangue recebido de José Sarney, Fernando Collor e Renan Calheiros poderá produzir um milagre: o corpo dispensará as funções do cérebro e o partido se nutrirá da química fisiológica prolongadora de alguns órgãos, especialmente do aparelho digestivo.
Como acham que tempo é dinheiro, os norte-americanos avançaram na manipulação da semântica: dinheiro é tempo, dizem convencidos de que o partido acumulou gorduras vitais no exercício físico do mensalão e de outros passos acelerados na busca da glamorosa vida mansa de invejável esplendor.
Assim também pensam os israelenses, para os quais as recentes injeções de recursos públicos no sistema financeiro e na construção civil gerarão algumas células-tronco que salvarão a vida do partido e engordarão seus dirigentes, fecundando uma espécie de clone do moribundo, ao qual caberá representar a marca registrada, que tanto sucesso fez nos primeiros anos do novo século.
Os ingleses parecem mais prudentes. Às voltas com doença semelhante no seu Partido Trabalhista, acham que só um cérebro de platina, extraída das terras aparentemente indígenas, poderá influir no metabolismo de um grêmio que se esqueceu de tudo o que viveu até os 23 anos.
Todos admitem, porém, que o PT dos barbudinhos e cabeludos não tem mais chances de vida. A única saída será contaminar os outros parceiros do agonizante "campo progressista", de forma a impedir que se revitalizem com o inevitável passamento do partido que entrou em coma ao receber ordens expressas para obedecer cegamente ao mais antigo dos proxenetas da República, dotado de poderes como a onisciência e a onipresença, sobre o qual o popularíssimo presidente baixou o sacrário do homem sobrenatural, que paira acima de qualquer questionamento moral.
Segundo as fontes fidedignas que prometemos jamais revelar, numa coisa os especialistas concordam totalmente: as causas da morte cerebral do Partido dos Trabalhadores estão na alta carga de arrivismo produzida por sua metamorfose, em função do consumo exagerado das drogas dos podres poderes.
Antigos neosindicalistas e tremendões neoesquerdistas absorveram por osmose os solventes do neoliberalismo e os ingredientes do neopatrimonialismo, cegando com os encantos e as facilidades do poder, num Estado que se apropria de 38% do produto do trabalho e os faz evaporar na feérica orgia das ONGs amigas e das empreiteiras agradecidas, enquanto livra a cara das montadoras multinacionais onde tudo começou.
No diagnóstico obtido pela ultra-sonografia, os especialistas verificaram que os petistas meteram a mão nas tetas e nas nádegas da viúva, tornando-se dependentes insaciáveis e incuráveis da sodomia política.
Aprendendo mais do que as quatro operações aritméticas, utilizaram-se da equação das porcentagens, mas embolaram os números, quando recorreram à ajuda de matemáticos como Marcos Valério e se deixaram monitorar pelo banqueiro Henrique Meireles, pós-graduado em macroeconomia da dependência.
Imobilizado pelo cavalo-de-pau do governo e com suas antigas canções desafinadas, o Partido dos Trabalhadores perdeu a própria voz, diante do cala-boca implacável que o sapo barbudo impôs, como exercício orgástico típico de quem se imagina um semideus vivo, de posse da máquina mortífera e de todos os engenhos formatadores do comportamento humano. O PT, que se ufanava de um folclórico democratismo, de uma fictícia audição das bases, já não tem mais como enganar.
Pior. Sabe que terá de vender a própria alma para garantir a vitória da ungida pelo homem, falsa turquesa, que nunca soube o que é disputar uma eleição, nem para associação de moradores, e nem nunca suou camisa nas suas bases franciscanas.
Esse constrangimento produziu um tenebroso estado de depressão e uma macabra crise de identidade. O antigo conflito interno das correntes políticas foi substituído pela melancólica disputa de bocas na máquina pública e no dinheiro dos seus ralos, agravada pela sua sujeição aos desnacionalizadores e desmatadores da Amazônia, aos latifundiários do agronegócio com sua poderosa "bancada ruralista", e às velhas raposas que transformaram a vida pública numa obscena bolsa de valores, onde a moral, a dignidade, a decência, a coerência, a ética e os compromissos históricos, sempre em baixa, vão a leilão todo santo dia.
Não surpreende, pois, que a alcatéia dos discursos inflamados contra a corrupção e a espoliação do trabalho tenha estourado os miolos do cérebro na hora em que se viu subordinada àqueles que condenavam ao cadafalso em ruidosos vitupérios.
A demência com a perda de identidade, o descrédito, a dependência de vantagens e a morte anunciada são consequências de uma tragédia existencial que qualquer leitor de orelhas dos livros de Freud vinha diagnosticando sem recorrer ao estetoscópio.
Nos estertores entre quatro paredes, a novidade foi a decisão do partido de vestir-se de uma imobilizadora camisa de força, enquanto passava a falar palavras desconexas, estranhas ao antigo vocabulário, tentando compensações na satisfação dos instintos selvagens.
Para os petistas quiméricos, tudo o que está acontecendo tem o peso do castigo de Deus. Daí os flagrantes de autoflagelação do inconsciente, enquanto o ego deita e rola sem saber onde isso vai dar.
Ter de engolir a mais explícita ilegitimidade no jogo de poder dentro do Senado, ter de participar da blindagem de Sarney e de sacramentar dois suplentes sem votos para a Presidência da CPI da Petrobrás e do Conselho de Ética foi a gota d'água.
Os bigodes do Mercadante e os fios da careca do Suplicy entrelaçaram-se no deprimente espelho do infortúnio, culminando com a morte cerebral, que os ébrios arautos da corte tentam inutilmente esconder, esquecendo que tenho boas fontes, inegavelmente fidedignas.

terça-feira, 14 de julho de 2009

A pior ditadura é a ditadura de democracia

Intimidades dos podres poderes
“Tirar Sarney significa abdicarmos da eleição da Dilma”
De um "companheiro" militante da base governista, indignado com a posição dos senadores do PT que ousaram criar embaraços ao presidente do Senado, novo herói do PT.
A pior ditadura é a ditadura da democracia. Escrevi esta frase para aprofundá-la há pouco mais de uma semana. Era madrugada e o seu silêncio me municia nas aventuras do pensamento e da busca de respostas nas profundezas do imponderável. Escrevi em empaquei. Queria dissertar sobre a ambiguidade encontrada em todos os atos, em todas as manifestações, em todas as atitudes que movem a sociedade humana. Mas empaquei. Daí ter passado uma semana sem digitar uma única palavra. Você não deve passar por isso porque, certamente, é um ente sadio. Eu não sou, confesso. Tenho o coração ferido pelas flechas da dúvida reveladora. A minha é uma dúvida motora. Sirvo-me dela como uma bendita vacina, uma paranóia indispensável. E não me culpo. Sei que é por aí que o mundo gira. Sei e provo. Tenho o cérebro em chamas como um vulcão em ebulição. Pode ser um caso médico, pode sim. Democracia é isso que está aí? Cheguei a desconcertantes conclusões que, por si, geraram outras tantas, em desacordo e em confronto. Assim, fiz-me um homem livre. À distância você pode me idealizar de todas as formas, belas e feias. Mas permita-me que, por algumas linhas, me tenha como referência dessa conversa de hoje. Não quero ser paradigma, mas essa montoeira de informações endoidece qualquer um. E o que é a doideira senão a chave da história? Não foi essa percepção que fez de Erasmo de Rotterdan, autor de “O Elogio da Loucura” em pleno alvorecer do Século XVI, o “príncipe dos humanistas”? Mergulho nessa cantata ao sabor da mais despojada imprudência. Não este é o som de um cotidiano açoitado pelos assaltos impunes que se perpetram à luz do dia aos cofres públicos e às consciências vulneráveis. As páginas e as telas se ocupam de uma novela tragicômica que fala de um país onde a perda do pudor compensa na alça do poder. Não há mais nada que me faça acreditar na regeneração dos próceres, dos que se deixaram seduzir pela luxúria e perderam todo recato, convencendo-me – e a muitos ainda pensantes – da inutilidade de um regime que se proclama expressão da mais saudável forma de poder. Esse é o problema. Por obra e graça do meu incorrigível distanciamento critico, começo a me perguntar se, de fato, no fundo, no fundo, não estamos todos sujeitos e expostos a uma grande fraude que o vulgo chamou de democracia. Sim porque, paciência, detenha-se em olhares mais amiúdes, sem essa de sujeição ao disponibilizado sob encomenda, e você terá a sensação de um grande logro. Onde quer que você alveje verá no mesmo espaço a superposição dos contrários ao que aparenta. Democracia, isso que está aí, esse embuste arrivista? Ou então a democracia não é bem o que se infere de sua etimologia. O que se contempla antes é a porca manipulação das normas e das instituições, feitas promíscuos valhacoutos onde o vale tudo a tudo submete. A fórmula da “ditadura democrática” Neste momento, essa democracia se presta a um exercício sofisticado da mais cínica ditadura. E uma fórmula tida como infalível pelos cérebros do sistema, devidamente remunerados pelos banqueiros da super-ong “Diálogo Interamericano”. Através da distribuição de migalhas que saciam milhões de famílias pobres, dispensadas do suor do rosto para obter o pão de cada dia, cria-se um grande curral, algo que representa o peso maior e mais homogêneo do eleitorado. É um capital eleitoral decisivo na escolha dos governantes, na medida em que a massa que labuta tem comportamento diversificado diante das urnas. Uma segunda camada, igualmente numerosa, é abocanhada pela adoção de políticas salariais focadas no crescimento de quem ganha menos. Desde 2003, o mínimo foi tendo reajustes superiores aos dos demais trabalhadores, como se estes fossem marajás e não precisassem recuperar o poder aquisitivo aviltado há décadas. Nivela-se por baixo, operando o entorpecimento dos aparentemente favorecidos por reajustes que os equiparam aos que tinham remuneração pouco superior. Temos aí outro celeiro de votos. Concentra-se uma parte dos investimentos públicos em obras de vitrine, que enchem os olhos, sobretudo, dos que não vão delas se beneficiar, mas são facilmente laçáveis pela perspectiva de um dia serem contemplados. No complexo do Alemão, estão gastando os tubos para fazer um teleférico com seis estações, de reduzido custo-benefício social. No entanto, a sua exibição ao vivo e a cores, quando estiver pronto, produzirá o deslumbramento necessário para a engenharia dos sonhos. Os ricos e a classe média, sempre assustados com a violência, verão que o governo olhou para os pobres e deles poderá cobrar a aceitação de sua sujeição social nos estratos subalternos, com a facilitação do expurgo dos transgressores que fazem casamatas em seus morros. Mais ingrediente para a sopa de votos. A corrupção como peça do poder Coopta-se a inteligência e amestram-se os núcleos do pensamento crítico. Aí as picaretas mais adequadas são as organizações não governamentais que profissionalizaram a solidariedade e assumiram funções governamentais sem os rigores da contabilidade pública. Em 2003, sabia-se de 25 mil ONGs. Hoje, pela última contagem, já passavam de 350 mil, todas de olho nos favores dos entes oficiais e das restantes empresas estatais. Com tantas ferramentas à mão, o chefe do governo pode muito bem dispensar o velho discurso basista do seu desfigurado partido e tirar do bolso do colete direto para a sua cadeira – ele já não sabe o que é um macacão – uma auxiliar que nunca disputou uma única eleição, que entrou em suas fileiras pela janela da traição aos 15 anos em que se beneficiou do brizolismo, quando este ainda tinha leite nas tetas. Quem tem esses instrumentos “democráticos” à mão não precisa recorrer a qualquer regime de força. E ainda pode pintar e bordar, na formação de alianças com o que há de pior em maus costumes, mas que pode fazer exatamente o trabalho sujo de que um governante precisa para garantir seu futuro e dos filhos, netos, bisnetos e gerações seguintes. Falei hoje apenas a fórmula da invencibilidade no Poder Executivo. Mas poderia tratar dos outros podres poderes, onde também o regime de direito é uma balela. E termino por hoje com a exposição do efeito mais trágico de tudo isso: pessoas que tiveram boas intenções na juventude fazem hoje o culto da convivência com a corrupção como se essa fosse condição para completar a alquimia do poder eterno. É pelo menos o que se infere de uma correspondência pública de um militante lulista, na qual ele diz sem a menor cerimônia a uma companheira: “CORRUPÇÃO É PROBLEMA DA POLÍCIA. NÃO É PROBLEMA POLÍTICO. Quem transforma corrupção em problema político é a MÍDIA GOLPISTA. Esse jogo NÃO NOS INTERESSA. TEMOS QUE REAGIR. Digo mais: DEVEMOS SIM, DEFENDER O SARNEY e IMPEDIR que ele se afaste ou renuncie COMO QUER A oposição e a CANALHA PETISTA DO SENADO QUE SE CAGA DE MEDO DA MÍDIA GOLPISTA”. coluna@pedroporfirio.com

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Tudo que sei sobre o assalto ao poder em Honduras

Zelaya pode ter sido golpeado por John Negroponte, ex-subsecretário de Estado de Bush e ex-embaixador em Honduras
“Este é um duro golpe da direita contra pessoas inocentes. Os pobres simplesmente exigem mudanças, e por pedirem mudanças sofreram um golpe de Estado”. Manoel Zelaya Antes que você me cobre, falemos de Honduras, cenário de um insólito assalto ao poder que tem tudo para dar com os burros n’água em questão de dias. Antes dessa molecagem financiada pelos poderosos empresários Carlos Flores e Ricardo Maduro, que já estão arrependidos, quase nada se falava dessa república centro-americana de 7 milhões e 700 mil habitantes, até há pouco sob controle total de um consórcio envolvendo as multinacionais da banana, do café e do camarão,os velhos políticos corruptos, a igreja católica, encabeçada pelo cardeal Oscar Andrés Rodrigues, e os militares liderados pelos generais Douglas Fraser e Romeo Vásquez, em cujos prontuários aparecem acusações sobre envolvimento com grupos paramilitares e com o tráfico internacional de armas e drogas. A decisão dos golpistas de bloquear a pista do aeroporto de Tegucigalpa para impedir o retorno do presidente Zelaya deixa clara a fragilidade do grupo. Antes, o arrogante “chanceler provisório” Enrique Ortez Colindres havia dito que se Zelaya pisasse em território hondurenho seria preso. A postura assumida pelos golpistas nesse domingo entra para o folclore das quarteladas. Em geral, o deposto vai para o exílio. Nesse caso, com a comoção provocada no país, Zelaya decidiu expor-se à prisão e às violências, que estão sendo praticadas por um grupo de encapuzados. Mas estes não se sentem em condições de prendê-lo, o que poderia provocar algo semelhante ao que aconteceu na tentativa de golpe na Venezuela, em 2002. Daí não ter dificuldade em prever a volta do presidente constitucional, ainda mais fortalecido para seu projeto de mudanças. Um homem surpreendente O presidente José Manoel Zelaya Rosales, deputado por três legislaturas e eleito em novembro de 2005 pelo conservador Partido Liberal, derrotando outro conservador, Porfírio Pepe Lobo, do Partido Nacional, é uma figura surpreendente. Rico fazendeiro e madeireiro, percebeu que a velha política de total submissão aos interesses da oligarquia tinha se esgotado. No segundo ano do seu governo tratou de se aproximar do presidente Hugo Chávez e de redesenhar as relações do governo com as camadas pobres do país, que estão entre as mais miseráveis de toda a América Latina. Antes de ser presidente, foi ministro do Fundo de Investimento Social, quando implantou o programa de Condados Abertos, visando descentralizar as decisões e dar mais poder às comunidades. Essa experiência foi, de fato, o primeiro contato com os agrupamentos que se organizavam em torno de propostas criativas para vencer a miséria. Crise do salário mínimo Mas foi sua decisão de aumentar o salário mínimo em 60% que produziu o combustível do conflito atual. Com esse reajuste, o mínimo em Honduras é de 5.500 lempiras ( R$ 611,00) nas zonas urbanas e de 4055 (R$ 450,00) na rural. Com isso, tornou-se ídolo dos trabalhadores, ganhou o apoio do partido Unficação Democrática, de tendência socialista, e das organizações sociais, como a Via Campesina. Em compensação, despertou a ira dos seus antigos parceiros da classe rica, que ainda pensa Honduras como um feudo dividido entre um restrito grupo de endinheirados. Com suas primeiras medidas de cunho social, Honduras registrou um crescimento anual de 7% e reduziu de 70 para 60% o número de hondurenhos na faixa de pobreza absoluta. Sua decisão de integrar a Alternativa Bolivariana para a América azedou as relações com os Estados Unidos, no governo Bush. Isto porque foi graças a essa nova aliança que Honduras passou a se beneficiar de uma ajuda efetiva, com registrou o jornalista F.C Leite Filho, em substancioso artigo difundido pela REDE PDT: “a capitalização do Banco Nacional de Desenvolvimento Agrícola (Banadesa), com 100 milhões de dólares para financiamentos a camponeses, artesãos e pequenos comerciantes, que não têm acesso aos bancos privados, a doação de 100 tratores para apoiar a produção campesina e aumentar a produtividade no campo; a ampliação das brigadas médicas cubanas e educativas para declarar, nos próximos 14 meses, que Honduras é livre de analfabetismo. Finalmente, o país se beneficiaria dos programas de independência energética e de programas de comunicação com potencialização do canal de televisão nacional hondurenho (canal 8) com programas educativos e culturais”. Honduras paralisada Dolores Jarquin, da Via Campesina, e Beatriz Gomez, da Confederação Unitária dos Trabalhadores de Honduras, que não haviam votado em Zenaya, estão entre os milhares de líderes que comandam uma greve que dura desde o assalto de 28 de junho. Beatriz declarou que Zelaya teve uma atitude inédita diante das greves e manifestações. “Ele não dava ordem aos militares para conter os protestos, tentava o diálogo, e isso não era costume no país”. Durante o governo de Zelaya, as greves não foram frequentes, mas manifestações como interrupção do trânsito de veículos na capital e paralisação de atividades aconteceram algumas vezes. O governo não teve o hábito de ordenar a mobilização de policiais ou do exército para conter as manifestações. Além do aumento do salário mínimo, Beatriz e Dolores apontam outras medidas que agradaram aos trabalhadores, como a reforma do sistema público de saúde e os programas de educação. “Ele criou os hospitais, programas preventivos, como o Saúde da Família, que não existia. Na educação, criou programas de alfabetização e programas de acesso à universidade”. Aumentou o número de unidades móveis de saúde e de programas preventivos em regiões afastadas. Isso permitiu controlar a malária e melhorar o saneamento público. Na educação, implantou o método de alfabetização cubano chamado “Yo sí puedo”, desenvolvido para 5 mil jovens e adultos, com o qual espera eliminar o analfabetismo até o próximo ano. “Ele criou um estatuto para os docentes. Isso era reivindicado há aproximadamente 12 anos pelos professores. Foi uma das primeiras ações dele”, disse Beatriz. Quem deu o golpe Um personagem muito conhecido dos hondurenhos e do mundo estar por trás do golpe, que tem a chancela da maioria da Suprema Corte, que, lá, é integrada por juízes eleitos pelo Congresso unicameral com mandato de sete anos. Não me surpreenderá se tudo não saiu da cabeça doentia de John Negroponte, embaixador dos EUA em Honduras de 1981 a 1985, responsável pelo recrutamento dos contras da Nicarágua na década de oitenta, que chegou a subsecretário de Estado no governo Bush, isso depois de ter tipo papel chave na invasão do Iraque como chefe de uma central de espionagem criada para unificar todos os serviços secretos dos EUA. Com a posse de Obama, ele caiu no ostracismo e, aos 70 anos, foi ser bolsista e docente do Whitney e Betty MacMillan Center for International Studies e Espaço da Universidade de Yale. Quando esteve em Honduras, implantou na base militar dos EUA de El Aguacete, na cidade de Palmarolas, o centro centro de detenção e torturas, com a cooperação da CIA e de militares argentinos. Negroponte foi quem aproximou os traficantes de armas Thomas Posey e Dana Parkes com os militares hondurenhos e conseguiu que a ajuda militar estadunidense passasse de quatro para setenta e sete milhões de dólares anuais. De fato, o governo Obama foi surpreendido pela trama. Segundo o jornalista venezuelano José Vicente Rangel, o Departamento de Estado se posicionou contra o golpe quando seus funcionários Tom Shannon e James Steimberg ligaram para o embaixador Hugo Llorens, recomendando que não desse nenhum apoio aos golpistas. Há que observar ainda que Israel foi o primeiro país a reconhecer o governo saído do golpe e são muito estreitas as relações de Negroponte com os grupos sionistas. O outro país que formalizou o reconhecimento foi Taiwan, que vive no isolamento imposto pela China Popular. coluna@pedroporfirio.com

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Quando o preço da governabilidade é a garantia da impunidade

O beijo da senadora Iledi Salvatti, lider do governo, simboliza a profunda intimidade entre o PT de Lula e Sarney, antigamente visto como Ladrão pelo chefe do governo. "A aliança com o PMDB é fundamental para o país. Não me peçam um ato oportunista de acabar com a governabilidade." Aloizio Mercadante, líder do PT no Senado. José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, codinome Sarney, é tudo de ruim que o diabo pôs na Terra para provar que Deus não criou o homem à sua imagem e semelhança, como proclamam em loas antigas canções litúrgicas. Não é o único senador da pá virada, antes, pelo contrário. Entre eleitos e suplentes biônicos, cabeludos, bigodudos, carecas e gorduchos, poucos podem atirar a última pedra. Mas o “tzar do Maranhão” que fraudou seu domicílio eleitoral para ganhar mandato pelo Amapá indefeso é o capo. Sem tirar nem pôr, é o poderoso chefão, tendo o alagoano José Renan Vasconcelos Calheiros como seu pustulento principal escudeiro. Por ser o que é, Lula e seus miquinhos amestrados o consideram o fiador da GOVERNABILIDADE. Se ele rodar, o governo vai junto, pensa o presidente. Essa é a razão do humilhante enquadramento imposto aos senadores petistas que, paradoxalmente, bateram chapa com Sarney na eleição para a presidência do Senado. E agora se agacham, pusilânimes, à ordem do chefe Luiz Inácio. Mas também, por ser o que é, José Ribamar será o coveiro do príncipe operário, que já o chamou de LADRÃO quando ele presidia a República, cargo a que chegou às custas do cadáver de Tancredo Neves, de quem se fez vice ao trair vinte anos de participação na ditadura, boa parte como presidente do partido oficial. Coveiro, sim, como foi do regime militar, a quem serviu de olhos fechados, e de quem se serviu sem cerimônias ou constrangimento, quando os poderosos generais usavam antolhos programados para só enxergarem “a ameaça comunista”. José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, codinome Sarney, ganhou uma bóia palaciana com a estrela vermelha. Pior. Quando afundar na lama do Planalto terá ilustres companhias, raposas e canastrões, metidos a besta e impostores ideológicos, porque pelo andar da carruagem os podres poderes estão em adiantado estado de decomposição. Ou você acha que se sustenta por muito tempo um governante que precisa de um notório corrupoto para garantir sua governabilidade? É meio brabo, mas o todo poderoso campeão de audiência abriu seu coração e mostrou as entranhas. Tem medo de perder maioria parlamentar se não arranjar uma muleta de titânio para o velhaco que mescla a alma de rato com o cérebro de camaleão. Se não é por medo é pior. Desde que atravessou a soleira do palácio, para o orgasmo múltiplo da dama deslumbrada que é a patética personificação da mulher que não trabalha, mas deita e rola, Luiz Inácio sucumbiu às tentações do demônio e deixou correr solto. Filhos, irmãos e apaniguados meteram a mão na carne seca e mandaram ver. Rapidinho, estavam todos mamando nas tetas da nação, seja pelas prebendas afrodisíacas, pelos peitos fartos das estatais, pela orgia das ONGs ou pela libidinosa distribuição de favores e facilidades a banqueiros e fazendeiros, junto com os níqueis para a massa famélica, seduzida no bordel da migalha do menor esforço, pelo exercício prostituto do “dá um pão, toma retribuição”. O PT, quem diria, aquele mesmo que não poupou nem Brizola (valendo-se da frase infeliz de apoio a Collor) no ofício de desacreditar (e desmoralizar) adversários, na produção de piches contra quem lhe interpusesse o campinho, converteu-se de repente no mais insaciável chupa-cabra. Pelo verbo dos vigários que lhes serviram água benta, as outrora vestais despiram-se do manto púrpuro e caíram na gandaia na busca do melhor da vinha, em cânticos lascivos do “faça o que eu digo e não o que eu faço” ou da gula do “farinha muita, meu pirão primeiro”. Nada seria mais inevitável do que essa safra de políticos transgênicos, saídos da alquimia entre os híbridos representantes do semifeudalismo recalcitrante (como o The Economist de Londres definiu Sarney) e os caras de pau do “novo sindicalismo”, da “nova esquerda” e da “nova sacristia”. É de se concluir que nessa trama, cujo ápice é a salvação de Sarney, incólume hoje, como incólume ontem foi Renan Calheiros, resulta da fome com a vontade de comer. A turma que depende dos ingredientes dos podres poderes para continuar com a mão na massa já recebeu o mote: salvar o pai (e avô) generoso é garantir a governabilidade. Daí juntarem-se as peças da trama que culminou com a cassação do governador Jackson Lago, brizolista histórico, para reentronizar a filha de Sarney no governo do Maranhão, Estado que virou seu feudo desde 1965. Nessa articulação, em que a verdade jurídica foi para a lixeira, deve ter sido em nome da governabilidade que o presidente da República e seus miquinhos amestrados mexeram seus pauzinhos e lograram por via judicial o restabelecimento da capitania hereditária, fórmula, aliás, que deve ter inspirado os golpistas de Honduras. As vozes do petismo lambuzado não falam do “socialismo do Século XXI”, como Hugo Chávez. Antes, optaram pelo “patrimonialismo do Século XXI”, com a harmônica apropriação do público pelo privado ao som do Bolero de Ravel. (Lembra daquele povo de branco reunido por Duda Mendonça na campanha de 2002?). A partir de agora, José Ribamar, que recentes revelações fizeram-no um homem morto, está ressuscitando pelas mãos milagrosas do sapo barbudo e dos seus prendados miquinhos amestrados. A menos que descubram outros furos, dos muitos que ainda permanecem ocultos, o questionamento de Sarney vai desaparecer da mídia, pouco a pouco, para não pegar mal. É o que determina o homem mais popular do Brasil. E como disse um dia Carlos Lupi, o ministro do PDT, “o presidente fala, a gente obedece”. Estamos entrando no recesso parlamentar – as generosas férias do meio do ano pagas pelo omisso cidadão-contribuinte-eleitor – e as festas juninas, que são mais animadas em julho, consagrarão outras quadrilhas, essas apenas ingênuas encenações na dança inocente de inspiração caipira, dando motivação para uma pausa que refresca na praça de guerra da política. Mas a metrópole satânica do Planalto não bobeará, para não dançar. Por todos os dias e por todas as noites, continuará produzindo suas vacinas contra o pensamento crítico e espargindo o veneno necessário à perpetuação desse estelionato histórico sem se dar conta de que está brincando com fogo: quem tem um sagrado aliado como José Ribamar não precisa ter inimigo. De onde a fatalidade do destino: quando menos a corte esperar, a casa vai cair como um castelo de cartas. E aí serão como em todas as débâcles: cada um que trate de safar-se da ira dos enganados. coluna@pedroporfirio.com

quinta-feira, 2 de julho de 2009

O que fazer: as respostas que compõem uma grande lição

A minha coluna “O que fazer”, enviada na madrugada de sexta-feira, dia 26 de junho, motivou reflexões tão importantes para todos nós que resolvi publicar em PDF os e-mails recebidos e respondidos . É possível que, como tomei essa decisão com certo atraso, tenha omitido alguma opinião. Se for o caso, peço que você me comunique. Como respondi a todos, estamos abrindo um debate sobre O QUE FAZER neste país de perigosos estelionatos políticos, em que os maus hábitos na vida pública parecem consolidados e blindados pela armadura da impunidade. Nesta correspondência, divulgo frases extraídas das respostas. Mas a íntegra das mesmas pode ser lidada em PDF, clicando aqui. Espero que você leia cada uma das opiniões e alimente esse debate tão importante para o país. Na maioria dos casos, omiti o nome completo do autor do comentário, imaginando que ele escreveu a mim e não me delegou autorização para tornar públicas as suas opiniões. Pedro Porfírio “Antes os mercenários eram contratados para matar, hoje são contratados para mentir”. Américo A. “Há que se esperar o parto de um LÍDER macho e com disposição para uma luta sem trégua e desesperada” Cmte Luiz Pereira "O erro vem de muito longe e exige uma mudança radical dos costumes” Anna Greta, da Suécia. “Não vejo nenhum homem capaz de mostrar o caminho para a saída desse país”. Gonzaga Lopes “Desde as Capitanias hereditárias ao tucanato e principalmente durante o "governo" militar, as oligarquias quiseram que o rumo fosse o atrelamento às potências”. Marcelo A., do México “Costumo dizer que o regime implantado no País depois dos governos militares é uma DEMOCRACIA DE FACHADA". Solimar G. Leitão “Não desanime. A luta se dá em todas as frentes” Jorge Cárpio “A indignação toma conta de todos nós que esperamos um mínimo de respeito por parte dos servidores públicos com cargos efetivos ou temporários”. Maristela M. “Num regime democrático há um momento em que nos manifestamos, acreditando!!! Entretanto nossos poderes estão podres”. Pedro Paulo “Aos 73 anos compreendo, agora, a ilusão de pensar que no curto período de uma existência, há possibilidade de grandes e rápidas mudanças” Sérgio M. “Precisamos romper com ESTECÍRCULO VICIOSO que já vem desde priscas eras” Leon “A sociedade que faz revoluções é a classe média e esta está minguando, desaparecendo e se transformando em servos de senhores feudais”. Bengochea “Uma coisa depois da outra, se a internet esclarece, a atitude constrói o avanço”. J. Netto “Você contribui muito para manter acesa nossa capacidade crítica, nossa vontade de mudar, apesar deste lodaçal em que nos encontramos”. H. Leal “Meu modesto entendimento resume-se no sentido de reunirmos pessoas indignadas e revolucionárias em suas atividades e atitudes, pois só assim poderemos tentar mudar o curso da história deste país”. Oswaldo Duarte “Sempre tomo o cuidado de tentar ver a quem interessam certas notícias. Até que ponto o que informam é relevante? Porque não gosto de me sentir massa de manobra” Maria Helena “A solução para o Brasil e voltar-se para o único regime realmente legítimo que o pais já teve a MONARQUIA”. Luiz Oliveira “Estamos reféns da imoralidade, indiscutivelmente estamos anestesiados, principalmente a juventude que patética deve ouvir e ver tantos escândalos que nem se interessa mais” Mário Telmo “Vivemos num país onde o presidente confunde o povo com suas palavras estapafúrdias, mas lhe provê de migalhas que (só) lhe atrofia a dignidade”. Gervásio G.B. “A guerra é espiritual, Pedro, e só Ele reúne as condições para o momento que só Ele sabe” José Guilherme “A esquerda esclarecida prefere Lula (mesmo com Sarney) para evitar o retorno dos DEMos e dos tucanos. No entanto, são todos iguais, dependendo sempre de uma parcela podre do PMDB”. Saulo, da Austrália “Sou dos que costumam repassar seus textos inclusive para os nossos "parlamentares". Maronildo “Você, amigo, vem combatendo o bom combate e pode estar certo de que os resultados estão em gestação, não na velocidade que todos gostaríamos, mas num ritmo que foge à compreensão humana”. R. Moreira “Você não está só. A esperança de um mundo melhor vencerá, mesmo nos momentos de dificuldades, quando não vemos luz” Jorge Rubem “Desde a independência do Brasil o "coronelismo" tomou conta de nosso País, só que se sofisticou, profissionalizou-se” Nelson M. “Muito do que penso hoje é reflexo direto da leitura de seus textos, o que torna compreensível que atualmente vislumbre como principais vícios da sociedade brasileira (quiçá, em variada proporção, mundial) seja a insensibilidade com seu próprio destino e a completa ausência de juízo crítico, uma absurda preguiça de pensar”. Renato Moreno dos Santos “Mas você, Pedro, também me iludiu com suas palavras equivocadas”. N.O. Bastos “A maior contribuição da ditadura ao Brasil foi, exatamente, matar o pensamento brasileiro”. W. Lacerda “O Brasil caminha para o caos! Próximas gerações estarão perdidas! Nossa jovens cabeças pensantes estão caindo fora desse país de banana” William “O que fazer? Simples. EXERCER A DESOBEDIÊNCIA CIVIL DE FORMAIMPACTANTE”. Leila Brito “O país é que está sob o comando de loucos, imorais e boçais de todos os tipos e espécies”. Norton “Graças a Deus que agora podemos pensar e escrever como donos da verdade, porque antes da internet só podíamos nos contentar em ler toda a mídia”. Lourival “Bela reflexão amigo Porfírio”. Álvaro Bastos