Como não existe transporte público eficiente, o
favorecimento aos ônibus tende a instalar o caos na cidade
Nunca na história do Rio de Janeiro os ônibus foram tão "pririzados" por um prefeito O prefeito Eduardo Paes pode ter à mão o poder discricionário que uma Câmara medíocre e dominada de cabo a rabo garante. Pode destruir a cidade e usar da perigosa política de adesão compulsória para encher a bola dos três ou quatro senhores das empresas de ônibus, eliminando as vans e tornando o trânsito insuportável para qualquer outra forma de transporte, mas não conseguirá evitar que aqui e ali uma voz mais lúcida se faça ouvir contra suas trapalhadas irreversíveis.
Mesmo medindo as palavras para não
fugir à polidez, o economista Marcos Poggi, com vasta experiência em questões
urbanas, afirmou a O GLOBO que a opção
da prefeitura pelos ônibus é um erro.
— O sistema viário funciona como um
sistema hidráulico: quanto mais opções de escoamento houver, maior é a fluidez.
A prefeitura do Rio, em lugar de se associar a seus parceiros no governo do
estado e no Planalto para ajudar a fazer mais metrô, que é o que resolve, e
expandir na medida do possível o espaço viário, faz uma opção, errada na maior
parte dos casos, por BRT e fecha ruas, fecha faixas, fecha acessos e retornos,
e ainda derruba viadutos - disse com todas as letras.
Para o economista, especializado em
planejamento de transportes, o engarrafamento visto nesta segunda-feira na
cidade é uma prova do erro da prefeitura em apostar no ônibus como transporte
viário da cidade.
Na avaliação de Poggi, que em 1992 foi
coordenador do Projeto de Revitalização da Gamboa, há uma nítida estratégia da
prefeitura de tentar forçar os cariocas a deixarem o carro em casa. Mas, como a população não conta com
transporte público eficiente, poucos atendem a esse apelo.
— Há uma nítida aderência à visão do
ex-prefeito Cesar Maia, que cunhou a expressão “santo engarrafamento”, uma
variante do “quanto pior, melhor”. Trocando em miúdos, é mais ou menos o
seguinte: “vamos tornar a vida de todos um inferno para forçar os donos de
carros particulares a deixarem seus automóveis na garagem”, como se houvesse
garagem para todos. Um achado em matéria de política pública! Isso em uma
cidade que, ao contrário de outras grandes metrópoles que restringem o uso do
automóvel, não tem alternativas minimamente suficientes e decentes de
transporte público — afirmou Poggi, que foi integrante do Conselho de Logística
e Transporte da Associação Comercial do Rio de Janeiro.
Para o economista, a tendência daqui
para frente é piorar:
— Num contexto em que a frota de
veículos cresce a uma taxa de 7% ao ano, já estamos sem a Perimetral e vamos
ficar sem a Avenida Rio Branco. E o pior: com a previsão de outras mudanças no
sistema viário e da construção de dezenas de torres com 30, 40 e 50 pavimentos na
área do Porto Maravilha. Não é com VLT nem com BRT da Transcarioca e da Avenida
Brasil que vamos resolver os problemas de mobilidade que vêm por aí.