terça-feira, 14 de maio de 2013

O fogo amigo que incendeia e desmoraliza


O chefe de Eduardo Cunha é Sérgio Cabral

Autor: 
 
Coluna Econômica
Um dos principais personagens do submundo político são os operadores, as pessoas especializadas em identificar as áreas sensíveis do setor público, os vazamentos de recursos, e montar o meio campo com interesses econômicos escusos, amarrados a interesses pessoais ou partidários.
Em geral os operadores atuam na sombra, assumindo cargos na máquina ou em governos. Poucos se aventuram a se expor em cargos eletivos.
Desde a redemocratização, poucos foram tão atrevidos quanto Eduardo Cunha, deputado eleito, líder do PMDB na Câmara. Foi parceiro de PC Farias, operador do deputado Francisco Dornelles, aliado de parlamentares evangélicos, depois do governador Antônio Garotinho e, agora, do governador Sérgio Cabral Filho -  e sempre acompanhado de lobistas cariocas especializados no submundo da administração pública.
Sua vida pública está coalhada de escândalos. Talvez nenhum homem público do país esteve envolvido em tantos escândalos. Pior: saindo praticamente ileso de todos eles.
Tornou-se o principal lobista a atuar na votação da Lei dos Portos, beneficiando, entre outros, o grupo Libra, com quem está envolvido há pelo anos.
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No governo Collor, envolveu-se em escândalos na antiga Telerj. Tornou-se um dos principais operadores do esquema PC Farias.
Anos depois, por indicação de um deputado evangélico, assumiu a presidência de Cehab (Companhia Estadual de Habitação) no governo Garotinho.
Estourou um escândalo de proporções consideráveis. Seus companheiros de empreitada eram escolhidos a dedo: Jorge La Salvia, argentino, ex-procurador de PC Farias e indiciado em inquéritos juntamente com Cunha; advogado Carlos Kenigsberg, assim como Salvia próximo do araponga Telmo (principal suspeito dos grampos do BNDES, nos anos 90) e do traficante Abadia.
Tanto o deputado Francisco Silva, evangélico, quanto Abadia, foram acusados de esconder de forma fraudulenta imóveis de Cunha, para escapar dos leilões da Justiça.
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Tempos depois, envolveu-se em um esquema pesado de sonegação de impostos sobre a gasolina que resultou em novos inquéritos e uma CPI na Assembleia Legislativa do Rio. Na outra ponta da fraude, o grupo que havia adquirido o controle da refinaria de Manguinhos.
Essas falcatruas geraram vários inquéritos. Um deles foi paralisado no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro graças ao parecer de um procurador estadual. Tempos depois, descobre-se que o parecer era falsificado, o procurador foi condenado a três anos de prisão mas o beneficiário – Cunha – conseguiu se reeleger deputado. Apenas no ano passado o Tribunal de Contas do Estado decidiu reabrir o inquérito.
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Por ocasião de um de seus escândalos – o da Cehab – Cunha justificou seus gastos (incompatíveis com a renda declarada) com base em um suposto empréstimo do Banco Boreal. O banco pertence ao mesmo grupo que controla a Libra – a operadora portuária acusada de estar por trás do lobby de Cunha.
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Cunha já teve inúmeros padrinhos políticos.
O atual chefe do esquema Cunha é o governador fluminense Sérgio Cabral Filho.
Independentemente de erros ou acertos da MP dos Portos, se Cunha sair vitorioso dessa empreitada, o Congresso terá assinado a pá de cal em sua credibilidade.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Maracanã de mão beijada


Consórcio com a participação do amigo Eike deverá ficar com o estádio, que já custou R$ 1 bilhão

Depois de investir R$ 1 bilhão na reforma do Maracanã, o governador Sérgio Cabral vai privatizá-lo novinho em folha. O formato da escolha da empresa beneficiada é da lavra de uma das empresas do seu dileto amigo Eike Batista.  E no próximo dia 9 de maio,  ele próprio, atuando também como pretendente à concessão do estádio pelos próximos 35 anos, deverá ser  declarado vencedor, como integrante de um consórcio encabeçado formalmente pela construtora Odebrecht,  numa licitação em que enfrentou um único concorrente.

O grupo que conta com a empresa de Eike Batista ficou mais perto  de ganhar a concessão do Complexo do Maracanã pelos próximos 35 anos, nesta segunda-feira, dia 29 de abril.  O Governo do Estado concluiu a segunda fase da licitação e deu a maior nota das análises das propostas econômicas e técnicas ao "Consórcio Maracanã", formado por Odebrecht Participações e Investimentos S.A., IMX Venues e Arena S.A (de Eike) e AEG Administração de Estádios do Brasil LTDA: 98,26 pontos.

O outro grupo na disputa é o "Consórcio Complexo Esportivo e Cultural do Rio de Janeiro" - composto por Construtora OAS S.A., Stadion Amsterdam N.V. e Lagardère Unlimited -, que ganhou 94,4624 pontos da Comissão Especial de Licitação. Os resultados serão publicados terça no Diário Oficial do Rio de Janeiro.

No último dia 16 de abril, a comissão apresentou os valores das propostas dos dois consórcios. A oferta que conta com a empresa de Eike foi R$ 26,4 milhões superior à do concorrente (R$ 181,5 milhões contra R$ 155,1 milhões, ambos divididos em 33 parcelas).

No dia 9 de abril, o Ministério Público havia obtido uma liminar contra a licitação, mas  o governo do Estado conseguiu derrubá-la a tempo de abrir os envelopes com as propostas.
Como foi a IMX de Eike que fez o estudo da “viabilidade da concessão”, ela aparece no consórcio com apenas 5% de participação. O construtora Odebrecht, a mesma envolvida no Itaquerão, do Coríntias,  aparece como 90% do controle.

Ministério Público apontou irregularidades

Em sua petição, o Ministério Público alegou que diversas obras previstas no edital - como a demolição do parque aquático Júlio Delamare e do estádio de atletismo Célio de Barros - não são necessárias para a realização da Copa do Mundo, assim como os Jogos Olímpicos de 2016.

O MP/RJ também questionou a legalidade da participação da empresa IMX, de Eike Baptista, no processo de licitação, uma vez que foi ela a responsável pelo estudo de viabilidade da concessão. Segundo o órgão, todo o processo favorece a IMX, já que a empresa teve acesso a informações privilegiadas e exclusivas. A baixa rentabilidade do negócio para o governo do Rio de Janeiro é outro ponto abordado.

A empresa vencedora pagará R$ 7 milhões por ano ao governo do Rio de Janeiro. Os  valores da concessão não irão quitar os gastos com as obras de reforma do estádio, que ficaram em torno de R$ 850 milhões. Durante a Copa das Confederações deste ano, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, o estádio será exclusivo dos organizadores dos eventos (Fifa e COI).

No ano passado, durante o lançamento do edital, as receitas e despesas do Maracanã foram estimadas pelo governo. Pelo estudo, o estádio vai gerar R$ 154 milhões por ano e terá um gasto de R$ 50 milhões. A previsão é de que os recursos investidos pelo concessionário sejam quitados em 12 anos. Com isso, o novo gestor teria lucro durante 23 anos do contrato, gerando R$ 2,5 bilhões.

Ônibus assassinos


Motoristas que também são cobradores se envolvem em acidentes diários e prefeito fecha os olhos

A dupla função não é questionada pelo prefeito Eduardo
Paes, enquanto em SP Alkimim vai ao STF contra Lei
estadual que proíbe esse tipo de trabalho de risco
Com registros de acidentes e atropelamentos provocados por ônibus assustadores, o prefeito Eduardo Paes voltou a mostrar que não tem peito para enfrentar o poderoso esquema das empresas de ônibus do Rio de Janeiro. Diante da comoção provocada pela morte de mais um ciclista, anunciou que baixará decreto dando prazo de 1 ano para a reciclagem dos motoristas.

Em nenhum momento, o prefeito atacou o principal: um único profissional faz tudo nos ônibus da cidade, atuando como motorista e cobrador, o que o obriga a desdobrar-se e torna humanamente impossível trabalhar com tranquilidade numa cidade cujo trânsito é caótico e desprovido de qualquer sistema de engenharia inteligente.

Em 30 dias, os ônibus foram responsáveis por 12 mortes e 53 feridos. Nos 4 primeiros meses deste ano, 53 pessoas foram atropeladas por ônibus, segundo a administradora do seguro obrigatório – Depvat.

Há dois tipos de acidentes com ônibus no Rio de Janeiro: os que provocam mortes e/ou feridos graves e são  noticiados na mídia e os sem vítimas graves, que acontecem quase diariamente.

Em todas as situações, há uma coincidência de entendimentos entre as autoridades de trânsito e policiais: em todos os casos, a responsabilidade seria de motoristas despreparados ou irresponsáveis.  Em nenhum caso, a dupla função do motorista é questionada.

Essa situação é mais um capricho das empresas, que operam o melhor negócio da cidade e têm costas largas no Executivo e uma bancada de vereadores a serviço dos seus interesses. Esses somam mais da metade da Câmara Municipal, impedindo qualquer votação que afete os altos lucros das empresas.

Acidentes envolvendo coletivos marcaram o mês

Num levantamento sumário, o jornal O GLOBO relacionou os casos mais graves com ônibus no mês de abril.

O mês de abril foi marcado por uma série de acidentes envolvendo ônibus no Rio e Região Metropolitana. O primeiro e mais grave aconteceu logo no dia 2 de abril, quando um ônibus da linha 328 (Castelo-Bananal) caiu do Viaduto Brigadeiro Tromposwski, na Avenida Brasil. Oito pessoas morreram. O acidente foi provocado pela briga entre o motorista do coletivo e um passageiro, acusado de agredir o condutor. No dia 10, o delegado José Pedro Costa da Silva, da 21ª DP (Bonsucesso), pediu ao Ministério Público a prisão preventiva do motorista André Luís Souza Oliveira, de 33 anos, e o estudante de engenharia da UFRJ Rodrigo dos Santos Freire, de 25, por homicídio doloso. Eles foram indiciados por homicídio doloso e responsabilizados pela queda do ônibus. O motorista, que estava internado no Hospital estadual Getúlio Vargas, na Penha, recebeu alta no dia 9.

No dia 10, um ônibus da viação Rubanil invadiu um posto de gasolina, em Quintino, e atingiu quatro pessoas. Tatiana Ferreira Lúcio estava com os dois filhos, um de três meses e outro de três anos, quando foi atropelada. Ela teve as pernas amputadas e chegou a ficar internada, mas acabou morrendo. O delegado adjunto da 28ª DP (Campinho), Geovan Omena, informou que o motorista do ônibus, Hilderaldo Nascimento, vai responder por homicídio doloso (quando há a intenção de matar).

No dia 14, um acidente entre um ônibus e um carro de passeio deixou 29 feridos no Trevo das Margaridas, em Parada de Lucas, na Zona Norte do Rio. Segundo o Corpo de Bombeiros, o coletivo tombou após colidir com o carro. O acidente aconteceu na pista lateral da Avenida Brasil, sentido Centro. Todos os feridos sofreram ferimentos leves. O acidente chegou a interditar o acesso à pista lateral da Avenida Brasil, sentido Centro. No mesmo dia, um engavetamento feriu, pelo menos, três pessoas na Rua Francisco Cruz Nunes, Itaipu, em Niterói. O acidente foi entre um ônibus da Viação Pendotiba, que seguia para Piratininga, e outros três carros.

Dois dias depois, 22 pessoas ficaram feridas em um acidente envolvendo um ônibus na Rodovia Amaral Peixoto (RJ-104), na altura do Colubandê. O veículo da Linha 43 (Fórum-Arsenal), da Viação Rosana, tombou na pista sentido Alcântara. As vítimas foram levadas para os hospitais da região, nenhuma em estado grave, segundo bombeiros. Devido ao acidente, as pistas chegaram a ficar fechadas.

No dia seguinte, um coletivo da Linha 435 (Grajaú-Gávea), da Viação Estrela Azul, foi atingido por um carro, perdeu o controle, subiu a calçada, arrastou uma banca de jornal e entrou na portaria do prédio Aymara, na Rua Visconde de Pirajá, em Ipanema. O coletivo e um carro de passeio colidiram na altura da Garcia D'Ávila, por volta das 7h. Durante parte da manhã, moradores dos 70 apartamentos do prédio só podiam sair por dentro do coletivo, já que ele bloqueava a passagem da portaria. Quatro pessoas ficaram feridas.

Em pouco mais de 24 horas, um ônibus do consórcio Transcarioca, da empresa Estrela, e um carro de passeio colidiram em Vila Valqueire, Zona Oeste do Rio. O acidente foi no cruzamento das ruas das Rosas e Luiz Beltrão. De acordo com os bombeiros, duas pessoas ficaram feridas.