domingo, 25 de janeiro de 2009

A paz do “fósforo branco” que desafia Barack Obama

“Semana passada, vi as nuvens de fósforo branco sobre as quais os médicos escreveram e as quais condenaram. De um prédio alto na cidade de Gaza, a vista panorâmica mostrou uma linha de veneno que se espalhava, a leste. O químico queima profundamente, no osso, dizem os especialistas. É considerado um instrumento de guerra ilegal, que não pode ser usado em áreas civis. Ainda assim, os registros de seu uso crescem: uso pesado na região Khosar, leste de Khan Younis, e no noroeste de Gaza, e na parte leste de Jabalyia, Sheik Zayid, Sheik Rajleen, al-Zaitoun, em todos os lugares”. Eva Bartlett, canadense, vinculada à defesa dos direitos humanos. Se já é difícil imaginar o que Barack Hussein Obama poderá fazer para concretizar suas promessas de mudança nos Estados Unidos, mais imprevisível ainda será avaliar sua capacidade de decidir em relação ao Oriente Médio, sob controle de um estado biônico programado para o genocídio a varejo e a expansão a ferro e a fogo. Disposição de fazer algo diferente ele já demonstrou. Logo que assumiu ligou para o primeiro-ministro de Israel e o presidente da Autoridade Nacional Palestina. No mesmo momento, reafirmou a disposição de retirar as tropas norte-americanas do Iraque num “prazo responsável”. Dois dias depois da posse, designou o ex-líder democrata no Senado, George Mitchell, como seu representante pessoal com poderes de negociar um plano de paz para a região. Teve o cuidado também de confiar a Richard Holbrooke, ex-embaixador na ONU, a tarefa de trabalhar na conturbada região do Afeganistão. Era o que lhe cabia fazer na condição de expoente de uma nova política externa nos Estados Unidos da América do Norte, país que acumula uma gigantesca dívida moral com o resto do mundo em face de sua irrefreável sanha de poder e dominação. Os limites visíveis Mas o que advirá desse novo olhar adotado por um governante atípico, que emergiu da noite para o dia como a catártica resposta de um povo manipulado séculos a fio por uma elite ambiciosa e inescrupulosa? Por tudo o que vivemos até estes dias traumáticos, é-me de todo impossível acreditar que se consiga alguma coisa em termos de paz num contexto em que o Estado imposto está armado até os dentes, com a disposição de estabelecer seus tentáculos por todo o território que vai do Mediterrâneo ao Iraque, segundo sua “predestinação bíblica”. Pelas funções de comandante-em-chefe de um potência forjada na dominação de outros países, Barack Obama tem limites muito visíveis no desempenho de seus projetos. Tais limites são guardados por um sistema de força, no qual as grandes empresas são ostensivamente hegemônicas em relação ao poder público. Este é apenas uma ferramenta dos interesses particulares e pode muito pouco, na medida em que até o banco central, regulador da economia, é uma sociedade privada. Uma visualização mais acurada demonstrará a existência de condicionamentos tão sedimentados que não seria exagero apontar Estados Unidos e Israel como duas faces da mesma moeda. Isto porque, como já demonstrei anteriormente, o estado sionista não é uma obra de judeus, mas de ambiciosos homens de negócios, que adotaram o livro de Theodor Herz, o sonhador austríaco, como peça de camuflagem de um projeto iniciado 14 anos antes de sua publicação. Não é por acaso que existem ainda hoje mais judeus nos Estados Unidos do que no Oriente Médio, apesar da proclamação de David Ben-Gurion, o pai do estado sionista, de que esse país criado na terra dos outros só cumprirá sua finalidade histórica no dia que todos os 17 milhões de judeus forem para lá. Dentro do jogo de poder que resultou da herética decisão da ONU de criar um Estado soberano ferindo a soberania dos outros, há conflitos internos insanáveis. Pode até ser que uma meia dúzia de judeus idealistas tenham acreditado num projeto de grande alcance para a humanidade, com a produção de uma verdadeira revolução social na área subjugada pelos senhores feudais e chefes tribais que escravizavam o próprio povo e compunham docilmente com as potências estrangeiras, fossem os muçulmanos turcos ou os cristãos do Ocidente. Estado perverso Mas o Estado de Israel que vingou é um monstro sobre o qual não vai ser um presidente sonhador que terá autoridade. Ao contrário, segundo o projeto multifacético nutrido por interesses econômicos ilimitados e ressentimentos enraizados, não restará a Barack Obama senão a ilusão de tréguas transitórias. Na origem desse estado imposto há um complô denunciado pelo autor judeu Barry Chamish como fruto da determinação das “famílias inglesas judaico-maçônicas como os Rothschilds e Montefiores, que forneceram o capital para construir a infra-estrutura para a onda de imigração antecipada” e contribuíram para criar um clima que levasse os judeus europeus a se mudarem para a região cobiçada. Aí cabe reconhecer que o sentimento de combate já motiva os palestinos, submetidos há 60 anos de esbulhos, privações e todo tipo de sofrimento e humilhação. Não adianta o galileu Mahmoud Zeidan Abbas sentar para conversar com os genocidas que há décadas massacram o povo palestino. Ao seu povo, de índole pacífica, não resta outra alternativa senão correr atrás do prejuízo em ações extremas, que incluem o sacrifício da própria vida no transporte de bombas amarradas ao corpo. Foram tantas e tais as perversidades cometidas pelos falcões israelenses que hoje nem o carismático Yasser Arafat, morto em circunstâncias suspeitas, teria como conter a ira de um povo que, sem exceção, veste luto pela morte de um ente querido, atingido pelos petardos letais da poderosa aviação sionista. Em seu saco de maldades, os celerados de Israel foram muito além dos nazistas, seus algozes, responsáveis pelo sentimento de repasse da crueldade. A violência contra a população árabe não está expressa apenas nas milhares de bombas despejadas indiscriminadamente. Água em conta-gotas O que o governo sionista fez com a água da região é uma demonstração de tortura explícita. Israel simplesmente apropriou-se de todas as reservas hídricas, incluindo as fontes do rio Jordão junto as colinas de Golã, tomadas da Síria em 1967. Na década de 90, o professor Haim Gvirtzman, da Hebrew University, admitiu que dos 600 milhões de metros cúbicos de água retirados anualmente de fontes na Judéia e Samaria, os israelenses ficavam com mais de 500 milhões. Já então, Israel detinha o monopólio dos recursos hídricos de toda a região, retendo 90% e liberando apenas o mínimo necessário para o consumo urbano dos palestinos. Esse monopólio inclui a bacia do rio Jordão (o alto Jordão e seus tributários), o mar da Galiléia, o rio Yarmuk e o baixo Jordão, bem como as águas subterrâneas de 3 grandes sistemas de aqüíferos: o da Montanha (totalmente sob o solo da Cisjordânia, com uma pequena porção sob o Estado de Israel), o de Basin e o Costeiro que se estende por quase toda faixa litorânea israelense até Gaza. Como pode um presidente de um país cujos magnatas são da mesma cepa dos israelenses questionar qualquer uma das violências consumadas para eliminar os legítimos donos da terra que usurparam? Que tipo de paz ele poderá obter enquanto os palestinos, legítimos donos da terra, já não podem nem mais usar a própria água para o seu cultivo? Ou será que essa crise depressiva reduziu o poder de fogo dos donos do mundo, abrindo o flanco do mais irresistível lobismo? coluna@pedroporfirio.com

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Sob o signo da dúvida, sem perder a esperança jamais

“Os gastos militares dos Estados Unidos - líder do ranking, seguido de Grã-Bretanha, França, China e Japão - chegaram a US$ 528,7 bilhões em 2006, quantia equivalente a 46% do conjunto dos gastos militares no mundo”. Relatório anual do Instituto Internacional para as Pesquisas sobre a Paz de Estocolmo (Sipri) Dê no que der, a ascensão do negro havaiano Barack Hussein Obama à Casa Branca já documentou um câmbio profundo na cabeça do povo dos Estados Unidos da América. O que acontecerá a partir de hoje, após o feriado que reverencia o pastor negro Marthin Luther King, vai depender das circunstâncias que envolvem o mundo capitalista na mais aguda hora da verdade, cuja matriz é o outrora esfuziante e festejado sistema sediado em Wall Street. Ao escolher o carismático senador que emergiu do “baixo clero” há menos de um lustro, o eleitor norte-americano renegou antigas canções, desprezou velhos mitos e ainda desconjurou exemplarmente a paranóica administração de guerra alimentada pela indústria bélica que sempre teve nos Bush bem remunerados e fiéis escudeiros. A gestação política do filho e enteado de muçulmanos se deu no ventre da apologia da guerra como surrada arma de dominação de um mundo que não se resolveu com o fim da bipolarização entre dois modelos de Estado. Como soi acontecer, o desmoronamento do bloco sob hegemonia da extinta União Soviética irradiou-se entre os países ocidentais, prisioneiros de uma economia alicerçada no fabrico de artefatos bélicos. Os oito anos de George Walker Bush elevaram aos píncaros os níveis de adrenalina de um povo que internalizou direcionados sentimentos de confronto. À falta de pátrias a derrotar como ingredientes de vidas mentalmente dosadas, o sistema elevou uma meia dúzia de fanáticos e alguns governos desaforados ao status de ameaças terríveis à segurança nacional dos Estados Unidos da América. Obama surgiu na senda das “recorrentes” ações afirmativas que produzem efeitos indolores nos tecidos sociais. Ele não foi apenas um pretendente audacioso ao comando da ainda maior potência mundial. Antes, até mesmo pelo jogo baixo dos seus adversários, que chegaram a questionar sua certidão de nascimento, seu nome ganhou lastro na catarse que contaminou uma sociedade punida pela conversão da informação em condimento da indústria do entretenimento, da hipocrisia e da idiotice. Uma nova carta de intenções Dê no que der, Barack Hussein Obama é uma nova carta de intenções assinada por milhões de desiludidos, a maioria dos quais optou por ele muito antes da débâcle dos portentosos, que saíram de pires nas mãos pedindo uma ajuda pelo amor de Deus ao erário que sempre desprezaram, não obstante o hipertrofiado déficit de 1 trilhão de dólares que sujeita o tesouro do Tio Sam a perigosos negócios no mercado de títulos públicos. O filho de um neurótico queniano tem nas mãos, a partir desta terça-feira, 20 de janeiro de 2009, mais do que o desafio de uma sociedade em que milhões de cidadãos, pretos e brancos, passaram a conviver com a paranóia da incerteza. O sistema treme nas pernas e ninguém sabe como sair dessa enrascada sem rasgar o véu. Ao contrário de quebradeiras pretéritas, essa de agora fez-se multinacional, causando perdas e danos tão clamorosas que até os catadores de papel no Brasil foram duramente golpeados pela queda dos preços dos recicláveis. Obama assume num dia de festa e dúvidas. Ele ainda encarna os resíduos de esperança que são lenitivos de americanos da beira às profundezas do abismo. Ainda floresce como o irmão-coragem que sustará o abuso da indústria de guerra e sentará à mesa com os mais amaldiçoados dos novos “inimigos perigosos” fichados pelo Pentágono, Cia e similares. Mais é preciso multa calma nessa hora. Numa circunstância como essa, o mundo vira um grande alçapão onde toda lógica é exercitável. O presidente do “câmbio” proclamado tem paradoxalmente poucas e muitas saídas. Às voltas com a maior taxa de desemprego das últimas décadas e com um amargo clima de sonho finado dentro do seu país, herda também a pasmaceira de uma política externa pueril, cujas marcas expostas mais irresponsáveis e desgastantes são o endosso incondicional ao jogo pesado de Israel e a desastrada invasão do Iraque. Quando tudo é possível Tudo de bom e de frustrante pode-se esperar do novo morador da Casa Branca. Em nenhum país do mundo o câmbio real ocorre pela simples percepção de um líder. Numa sociedade corrompida pelas vantagens de superfície que satisfazem seus sonhos de consumo quem decide, mesmo, permanece à sombra com seus olhos azuis e seus dentes afiados. A mudança real só acontecerá se, como parece à distância, o sistema desligar os aparelhos pelos quais respira hoje. Quem quiser dar palpites sobre o governo que se instala ao norte do equador, quando um frio polar se contrapõe às chamas ardentes dos peregrinos da nova esperança, não pode perder de vista que o afro-descendente é, antes de tudo e por tudo, um fervoroso cidadão dos Estados Unidos da América. Pelos cordéis de que disporá como titular de um país ainda poderoso, só nos resta torcer para que o recado das urnas se materialize com a devida brevidade. coluna@pedroporfirio.com

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A paz impossível num país imposto pela fraude e pela força

“VEJA – O que será preciso para que Israel se integre na comunidade das nações pacíficas do mundo? DAVID BEN-GURION – Primeiro, que todos os judeus do mundo venham para Israel; em segundo lugar, que os desertos que cobrem 80% da área do país sejam fertilizados; e, em terceiro, a paz com os árabes. Somente depois de atendidas essas três condições, Israel terá nascido de verdade”. Entrevista concedida em maio de 1973, sete meses antes da morte de Ben-Gurion, “o patriarca de Israel”, no “retiro” a que se recolheu a partir de 1970. “Foi nessa assembléia, em Genebra, que ele (Arafat) ofereceu um ramo de oliveira aos “primos israelenses”, em nome da paz. Todo mundo aplaudiu, mas, no outro dia, mesmo o Haaretz, o mais liberal jornal de Israel, deu apenas uma nota e em tom irônico, dizendo ser “estranho” que Arafat, de um lado, segurava o ramo de oliveira e, do outro lado, tinha um revólver. Mandei uma carta para o Haaretz, publicada dois dias depois, para observar que, se ele tinha o revólver, nós tínhamos a bomba atômica”. Gershon Knispel, artista plástico judeu, conhecido e consagrado internacionalmente (Entrevista à revista “Caros Amigos” 13/07/2002). Deus queira que eu esteja redondamente enganado, mas pelo que me foi dado a ver e a pressagiar nas profundezas infernais do Oriente perdido, ainda há muito sangue a jorrar naquela que chamam inadvertidamente de “terra santa”. Falar de paz por lá é tentar enxugar gelo, eis que são ínvios os macabros caminhos percorridos e a insensatez sentou praça como ingrediente de um destino apocalíptico que se vislumbra a olho nu de uma corrosiva metástase a prova de qualquer morfina. Perdoe-me as imagens funestas, mas para onde quer que deitemos o olhar só há morticínios à vista. Mais trágico do que contemplar a exibição de mortos em pencas numa das maiores concentrações humanas do planeta é imaginar a inevitável extensão da violência por toda uma região minada pela tétrica mescla de ódios milenares, crenças manipuladas e ambições desmedidas e destituídas de qualquer resquício de escrúpulo elementar. Não há mais trégua que dure para além do por do sol. Digo isso mesmo depois da proposta do Hamas de um cessar-fogo por um ano a partir de agora. O clima de beligerância é a única fórmula de que dispõe o comando de um estado com defeito de nascença, até como recurso para atravessar incólume a maior de todas as crises porque já passou o arruinado sistema capitalista internacional. A guerra ali é o pressuposto da sobrevivência de um modelo dependente dos dízimos recolhidos por todos os recantos do mundo. É também, em compensação, o alimento de uma indústria tão rendosa quanto vulnerável. Sem o sangue dos inocentes, sem a sombra do medo pasteurizado, o estado imposto se desintegra, abrindo um buraco abismal que poderá ser o sepulcro de um país alicerçado na conquista e na dominação. Gaza em chamas é apenas o espelho de um pesadelo sazonal. Quem aperta o gatilho não o faz por impulsos passionais, sede de vingança ou destempero emocional. Antes, cada bomba lançada, inclusive o fósforo branco que desfigura a pele e esteriliza carradas de monstros humanos, é resultado de um milimétrico cálculo processado por mentes frias e racionais, dotadas de informações e propósitos dispostos estrategicamente. Sionismo colonizador Está mais do que provado: a adoção como manual de sobrevivência do minúsculo opúsculo do judeu assimilado que sonhava ser um discreto advogado/jornalista no confuso império austro-húngaro foi apenas o mote da legitimação de uma nova cruzada colonial de cartas marcadas, na qual seus patrocinadores operavam com informações privilegiadas sobre o potencial petrolífero do Oriente Médio. “O Estado Judeu”, o modesto livro de Theodor Hertz foi publicado em 1896. Já em 1882 os Rothschilds e o barão Maurice de Hirsh descarregavam a primeira leva de judeus russos e poloneses que se estabeleceriam na região da Galiléia com tudo pago por uma organização que se tornaria em 1900 a Jewish Colonization Association, uma companhia para o estabelecimento de judeus, criada na Inglaterra, pelo Barão Hirsh, dedicada à infiltração programada, principalmente na baixa Galiléia. Os que bancaram a implantação dessas colônias não o fizeram como JUDEUS, mas como homens de negócios de olho no subsolo das terras de onde um povo nômade seguiu o destino da diáspora há dois mil anos – isto é, mil e quinhentos anos antes da colonização do Brasil e de toda a América. Além dos Rothschild e do barão Hirsh, associaram-se nessa empreitada os banqueiros Goldsmid, Cassel, Macatta, Goldshimidt, Reinach, Cohen e Philipson, todos da Europa Ocidental. O plano de infiltração foi discutido em reuniões secretas em Bruxelas, organizadas por Franz Philipson (1852-1929), banqueiro e rabino, dono de negócios em várias partes do mundo. O banqueiro-rabino concebeu também um “plano B”, com a emigração de judeus russos para a Argentina e Brasil. Aqui, onde Philipson construía uma estrada de ferro no centro do Rio Grande do Sul, o barão Maurice de Hirsh instalou em 1891, nas terras doadas em Santa Maria da Boca do Mato, a primeira colônia judaica, com 60 famílias trazidas da Bessarábia, seguindo-se outro grupo de 100 famílias, vindas da Província russa de Moguilev. Já fazia mais de um século desde quando, em 1728, um grupo de judeus espanhóis e portugueses, expulsos de seus países pela Inquisição, comprou um terreno em Manhattan, Nova Iorque, para erguer a primeira sinagoga da cidade e consolidar a grande migração judaica para as Américas, preferidas pelos “perseguidos” da Europa Ocidental. Longe do “lar nacional” Essas manobras espelham a natureza do povo hebreu, cujo espírito errante persiste até hoje, o que acentua a alegação fraudulenta do Estado de Israel, onde vivem apenas 35% dos judeus do mundo, não obstante a inédita Resolução da ONU, aprovada sem qualquer fundamento jurídico, proclamando “o direito dos judeus” de criarem um país em terras alheias. A sobrevivência da diáspora demonstra que a proposta do resgate “bíblico” não foi levada a sério pela maioria dos judeus, em maior número nos Estados Unidos do que na terra da colina de Sion. O próprio Theodor Herzl, o pai da idéia, preferiu ir ficando pela Europa, apesar do pavor que lhe causou a eleição, em 1895, de Karl Lueger, um antissemita declarado, para o governo de Viena. Trocando em miúdos: decorridos 60 anos da imposição do estado racial aos legítimos donos da terra palestina, não há fundamento moral para a sua defesa em nome de “um refúgio seguro” para um povo “perseguido” reunificar-se. Tratou-se, portanto, de outro objetivo, o da usurpação na qual os judeus entram como testas de ferro dos ferozes interesses imperialistas supra-étnicos. A paz impossível Um país instalado pela força na terra dos outros jamais poderá falar em paz. Disso sabem, em primeiro lugar, os judeus que preferiram ficar espalhados por todas as paragens onde inexiste qualquer constrangimento ao seu convívio. Desconforto há, isso sim, como pensa a maioria dos judeus europeus, em ter de assimilar a política opressora adotada em Israel em nome da “causa”. Assim o demonstrou uma pesquisa do jornal britânico “The Guardian”, publicada em 2002. Ao escrever seu livro e fundar uma organização sionista que se reunia na Basiléia, Suíça, Theodor Hertz temeu não ser levado a sério. Refletindo o ceticismo despertado no primeiro momento de sua proposta, conforme artigo do competente jornalista Zevi Ghivelder na revista “Morasha”, um rico industrial judeu declarou: "é claro que apóio a criação de um estado judeu. contanto que eu seja o embaixador na Áustria". Vale lembrar que Hertz, falecido aos 44 anos, vítima de tuberculose, quase foi linchado no 6º Congresso Sionista, realizado em 1903, um ano antes de sua morte prematura, ao propor a instalação do Estado Judeu em Uganda, numa vasta área oferecida pela Inglaterra. Já com a saúde fragilizada, ele fracassara nas negociações com os turcos para reaver a “terra santa”. Àquela altura, ele já havia perdido o controle do movimento sionista para os banqueiros que foram seduzidos pelos relatos do proeminente judeu lituano Eliezer Ben Yehuda (1858-1922), pai do hebraico moderno, que foi morar em Jerusalém em 1881 com sua esposa Deborah, e fez chegar ao Barão de Rotshschild informações preciosas sobre os vinhedos da Galiléia e sobre uso por lá da mesma substância inflamável descoberta na Pensilvânia em 1859. Um ano antes da sua chegada à região, havia jorrado petróleo em Meca, mas os árabes não sabiam o que fazer e temiam a cobiça estrangeira. Tenho muito mais a falar, até porque mergulhei fundo nesse assunto apaixonante e tratado com incompetência por um mídia que, em sua quase totalidade, está abaixo do nível de pobreza intelectual tolerável. Espero que você entenda o porque da minha dedicação a um assunto tão explosivo e ameaçador para toda a humanidade. coluna@pedroporfirio.com

domingo, 11 de janeiro de 2009

A atávica divisão dos árabes na esteira do avanço sionista

Esses mapas mostram o avanço de Israel sobre território árabe palestino desde 1946 (clique na figura para ampliá-la)
"Os países árabes poderiam fazer muito contra Israel, mas como são divididos, não conseguirão fazer nada". Mustafá Kamel al-Sayed, professor de ciências políticas na universidade de Cairo. No contexto dos acontecimentos que levaram ao massacre de Gaza não se pode deixar de lamentar as posições ambíguas dos países árabes em relação à Palestina e a instalação do Estado de Israel em condições diametralmente opostas ao discurso do “Lar Nacional Judaico” - e cumprindo um papel de “cabeça de ponte” dos interesses econômicos ocidentais na região onde jorra petróleo por todos os lados. A grosso modo, não seria exagero afirmar que o povo palestino não conta, e quase nunca contou, com uma solidariedade efetiva dos governantes árabes, com raras exceções, assim mesmo pontuais e ocasionais. Pior: divididos há séculos em ramos do islamismo e subjugados pelas potências coloniais – da Turquia aos Estados Unidos, passando pela Grã Bretanha e França - os árabes não se entendem nem nas horas mais difíceis. Como agravante dessas desavenças alimentadas pelo Ocidente, o povo árabe ainda absorve as contradições do mundo muçulmano. O Irã não é árabe, mas interfere sistematicamente nas suas questões internas, como sede da maior concentração xiita do mundo. Nesses acontecimentos de agora, o comportamento do governo do Egito tem funcionado como uma espécie de linha auxiliar de Israel, na medida em que mantém fechadas as suas fronteiras com Gaza, impedindo a fuga e a ajuda a seus habitantes. Arábia Saudita, os ricos emirados árabes e o governo títere do Iraque parecem igualmente indiferentes à sorte dos seus irmãos palestinos, como se partícipes de uma grande orquestração monitorada pelos Estados Unidos. A própria postura da Autoridade Nacional Palestina, controlada pelo Al Fatah, vem sendo vista como suspeita pelos que consideram o enfraquecimento do Hamas, hoje majoritário na região, como do seu interesse. São confusas igualmente as posições da Síria, Líbano e dos países árabes do norte da África, especialmente a Argélia e a Líbia, que em outros momentos ofereceram suporte aos palestinos. Estes, acossados por uma situação de extrema penúria e pelas ações brutais de Israel, também estão divididos. O crescimento do Hamas se deu no bojo de confrontos tão radicalizados que hoje não se pode falar de uma única Palestina. Ironias da história A história mostra que a ocupação dos territórios árabes pelos sionistas não teria ocorrido sem a complacência de algumas lideranças árabes, servis aos Estados Unidos e interessadas tão somente em tirar proveito do ambiente de hostilidades. Todo mundo sabe que as primeiras colônias judaicas financiadas pelo Barão de Rothschild foram implantadas com a compra de terras dos senhores feudais, alguns “chefes tribais”, que viviam do trabalho escravo dos camponeses pobres. Naqueles idos, a teia de interesses heterogêneos ensejava mudanças de atitudes surpreendentes, como num intrincado jogo de múltiplas possibilidades. Enquanto o Barão de Rothschild estava de olho no potencial econômico da região – do petróleo aos vinhedos da Galiléia e das colinas de Golã – os emigrantes de origem russa e polonesa – pioneiros no povoamento de encomenda - sofriam forte influência do movimento sionismo socialista, liderado por David Ben-Gurion, que se instalavam na Palestina em sedutores kibbutzs, propriedades coletivas que serviram de atrativos para os judeus pobres, principalmente os que viviam no início do Século XX na Rússia tzarista. O jogo de alianças Nesse jogo de esperteza, Ben Gurion e os Rothschild tinham um pacto de colaboração mútua, graças ao qual o milionário judeu obteve por carta dirigida a ele a famosa “Declaração Balfour”, com a qual o ministro britânico do Exterior, Arthur James Balfour, afirmava textualmente: “O governo de Sua Majestade encara favoravelmente o estabelecimento, na Palestina, de um Lar Nacional para o Povo Judeu, e empregará todos os seus esforços no sentido de facilitar a realização desse objetivo”, entendendo-se claramente que nada será feito que possa atentar contra os direitos civis e religiosos das coletividades não-judaicas existentes na Palestina, nem contra os direitos e o estatuto político de que gozam os judeus em qualquer outro país”. Essa declaração, ainda em pleno transcurso da Iª Guerra Mundial, quando a Palestina e os árabes estavam sob domínio da Turquia,foi assinada em 2 de novembro de 1917, quando os comunistas haviam acabado de assumir o poder na Rússia. Desde aquele então, os russos viam com bons olhos a infiltração dos judeus na região petrolífera, contando com eles como aliados diante da futura partilha dos países árabes entre a Grã Bretanha e a França. Enquanto os judeus agiam com frieza e destreza, pavimentando seu caminho, os árabes não sabiam o que fazer, até porque as companhias petrolíferas também já haviam realizado sua própria partilha, criando o oligopólio das sete irmãs, de que falei anteriormente. Essas empresas prosperaram graças ao suborno das lideranças árabes, especialmente de sua “nobreza”. Já os judeus pareciam mais ágeis nas relações com os países que tinham interesse na região. Bem Gurion, que encabeçava a milícia Haganá, encorajou os jovens a se alistarem no Exército britânico, integrando uma tropa de elite conhecida como “Palmach”. Ao mesmo tempo, em 1937, nascia outra milícia terrorista judia, a “Irgun Zvai Leumi” (Organização Militar Nacional), fundada pelo sionista e comunista Vladimir “Zeev” Jabotinsky, natural de Odessa, na Rússia, com o objetivo declarado de combater os ingleses. Esse grupo resvalaria para a direita quando Menachim Begin, assumiu o seu comando, com a morte de Jabotinsky. Uma terceira milícia terrorista judia, a “Gang Stern”, fundada em 1940 por Abraham Stern, aproximou-se dos nazistas alemães, através da Itália, conforme reportagem publicada na revista FINAL CONFLICT: “em Setembro de 1940, a Gang Stern entrou em negociações com Mussolini, através de um emissário, e em Janeiro de 1941 Stern enviou, pessoalmente, um agente a Beirute (controlada por Vichy) para entregar uma carta aos representantes do Reich”. Derrota na divisão Embora ao final da II Guerra existissem 1 milhão de árabes para 600 mil judeus na Palestina, prevaleceram as estruturas clandestinas e as ligações com as potências que patrocinaram o Estado de Israel, cada uma com seus propósitos. No primeiro grande confronto, em 1948, enquanto as três milícias judias estavam unidas em torno dos 30 mil “palmachs” treinados pelo capitão inglês Charles Ord Wingate, os árabes, comandados pelo general inglês “Glub Pachá”, não se entendiam. Os governantes árabes sabiam que os grupos terroristas tinham poucas armas. Certos de que venceriam, já brigavam entre si para saber quem ia tomar conta da Palestina depois de “lançarem os judeus ao mar”: Ibn Saud, da Arábia Saudita, os reis irmãos Abdullah, da Transjordânia, e Faisal, do Iraque, Farouk I do Egito e o presidente sírio Shukri al-Quwatli tinham seus próprios projetos de anexação. Eles não contavam com uma carta que Ben-Gurion tinha na manga: na “hora h”, o líder soviético Joseph Stalin, um dos patrocinadores do Estado de Israel, providenciaria um razoável arsenal de armas russas e tchecas, com as quais os sionistas tiveram sua primeira grande vitória e, ato contínuo, trataram de anexar boa parte do Norte de Israel, de maioria árabe. Foi como descreveu Pedro Dória:“enquanto havia razoável união judaica e um objetivo comum, o mesmo não houve entre palestinos. Havia dois árabes para cada judeu na Terra Santa, mas não conseguiram fazer com que a vantagem numérica tivesse resultado prático. Nem todos seguiam o mufti e as aldeias não se relacionavam. Divididos, não tiveram chances”.
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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Os dilemas da diáspora diante da ambiguidade de Israel

Judeus ortodoxos marcharam esa semana em Jerusalém para deplorar a situação em Gaza “Paradoxalmente, são os palestinos, embora sejam tratados como inimigos e cidadãos de segunda classe, que serão os primeiros aliados dos israelenses na construção de um Oriente Médio democrático, uma vez silenciada a voz dos fuzis e canhões”. Henrique Rattner, professor da USP, em seminário organizado pela Sociedade Brasileira dos Amigos da Universidade Hebraica de Jerusalém. Antes da assimilação pelo Barão de Rothschild do projeto sionista concebido pelo jornalista austríaco Theodor Herzl, o quadro na Palestina era de paz entre árabes e judeus. Estes não somavam 30 mil almas no início do Século XX, contra 480 mil árabes. A idéia defensiva do Lar Nacional Judáico foi manipulada pelo Barão de Rotschild, que bancou a infiltração na Palestina de judeus pobres e cheios de sonhos. Antes destes, já estava lá o carismático polonês David Ben-Gurion, que chegou em 1906 com idéias socialistas, e, mais tarde, fundou o Haganá, primeira das milícias terroristas que se dedicaram a ações contra o domínio inglês e de expulsão dos agricultores árabes. (Sobre os grupos terroristas judaicos na Palestina, vale a pena ler a história do terror judacaico na Palestinam publicada pela revista "FINAL CONFLITCT"). Numa equilibrado comentário sobre o nascimento de Israel, Pedro Dória relatou no artigo Assim Nasceu Israel: “Nas contas de um destes historiadores, Benny Morris, 700.000 palestinos cujas famílias viviam há séculos no mesmo local foram lançados ao exílio. Morris mapeou 389 aldeias árabes na região. Segundo sua pesquisa, pode afirmar que em 49 delas a Haganá ou outro grupo judaico expulsou a população; em 62, os árabes fugiram por conta dos boatos de que massacres estavam acontecendo nas vizinhanças; em seis, a fuga foi seguindo ordens diretas da liderança política palestina” . O centro de poder em Israel e o governo dos Estados Unidos têm sistematicamente vendido ao mundo, inclusive aos judeus, a idéia de que as ações militares têm caráter defensivo. No entanto, quando foi criado numa Resolução da ONU, Israel tinha apenas um quarto dos atuais 22.072 km². Nesta área, instalou-se o maior e mais sofisticado aparato bélico, que inclui um arsenal atômico n região de Saknin, conforme denúncia detalhada do cientista nuclear israelense Mordechai Vanunu. Visão da história Em 1999, falando no Simpósio Latino Americano organizado pela “Sociedade Brasileira de Amigos da Universidade Hebraica de Jerusalém”, o professor Henrique Rattner, da USP, fez uma análise sobre os dilemas dos 15 milhões de judeus espalhados pelo mundo e sua relação com o Estado de Israel. Por sua importância e transcendência, sua palestra foi publicada em outubro de 2002 na revista “Espaço Acadêmico” . Entre outras reflexões sobre a ambigüidade nas relações entre Israel e os remanescentes da “diáspora”, Rattner afirmou com toda ênfase: “Se não formos capazes de assimilar essa lição da História, abrindo mão da visão estreita do “povo eleito“ que conduz a atitudes de preconceito e exclusão com relação aos “outros“, particularmente os palestinos e os árabes em geral, não haverá saída a não ser o confronto armado que já se estende por mais de três gerações. Ao semear o ódio pela violência contínua e aumentando o número de vítimas de ambos os lados, perdemos o “olam haze” e “olam haba“, ou seja, desarticularmos a comunidade, a coesão e a solidariedade da sociedade israeli e afastamos a amizade e o apoio da comunidade democrática internacional”. Os judeus como povo sofrido não têm nenhuma culpa nesse genocídio cruel e insano que os títeres da indústria bélica perpetram contra um milhão e meio de seres humanos confinados no mega campo de concentração de Gaza, valendo-se do maior arsenal de guerra por metro quadrado do mundo. Pelo histórico desse povo milenarmente incompreendido, praticar tal monstruosidade seria a última coisa que lhe ocorreria. Não faz muito, o ditador nazista Adolph Hitler cimentou sua ascensão (e granjeou popularidade entre os alemães) com o morticínio de milhões de judeus, aos quais imputava levianamente a culpa pelos males do mundo. Naqueles dias épicos do Gueto de Varsóvia e tantos traumas ferinos, enquanto livrava a cara dos banqueiros, o abominável nazista fazia política com os fornos crematórios destinados à “solução final” contra um povo que passara por odisséias igualmente dolorosas em séculos pretéritos. Pode ser que os judeus de hoje não lembrem o que sofreram seus antepassados, alguns ainda vivos para contar o horror que os marcou para sempre. Mas se a eles ocorrem as lembranças do velho testamento, do “bode expiatório” e tantas provações, de certo nenhum judeu fiel aos ancestrais concordaria, sob nenhuma hipótese, que uma população seja IMPIEDOSAMENTE PRIVADA DE ÁGUA E LUZ EM TODOS OS LARES, hospitais e outras edificações, enquanto uma aviação cega despeja bombas mortíferas sobre bairros inteiros, numa patética repetição, segundo novas tecnologias, da execução sumária de milhares de judeus nos crematórios. Conheço muitos judeus e tenho certeza de que eles estão envergonhados das torpezas das tropas que, no encalço de alguns fanáticos inconformados, punem um povo inteiro, algo que não tem explicação, até porque, como é público e notório, o temível Mossad é considerado um dos mais eficientes serviços secretos do planeta e tem a Faixa de Gaza na palma da mão, sabendo quem é quem, onde cada “inimigo” se esconde. Ameaça a todos Pode ser que esses judeus, meus conhecidos, tenham resvalado da vergonha para o medo e a perplexidade. Pois se para o governo de Israel não há crime em matar centenas de civis, entre eles dezenas de crianças, para qualquer um, sem a responsabilidade de Estado, a exceção do inocente deixa de existir, tal como aconteceu na destruição das torres gemas em setembro de 2001. Numa hora dessas, só os judeus da plumagem dos Rothschild estão seguros em suas fortalezas inexpugnáveis, em seus carrões blindados. Como no tempo de Jesus Cristo, os “sábios do templo” e os coletores de impostos da Judéia colaboraram com a ocupação romana, também na febre nazista quem pagou o pato foi a massa dos guetos: os endinheirados sempre dispunham algum suborno e fechavam acordos por baixo do pano para atravessarem as fronteiras em direção à Suíça, Países Baixos, Inglaterra, Estados Unidos e outros guarda-chuvas. Esse massacre com o qual o Governo de Israel desafia a ONU e o que resta de sentimento humano na face da Terra é mais uma afronta que vai para a robusta coleção de perversidades, iniciada mesmo antes da oficialização do sionismo, quando o Haganá, o Irgun e o Stern, milícias terroristas financiados pelo Barão de Rothschild, espalharam a violência que serviu de espinha dorsal para a estrutura política e militar do novo Estado racial imposto a ferro e as fogo, no bojo de uma Resolução que previa hipocritamente o reconhecimento de um Estado palestino árabe. Os judeus que não vivem do controle das indústrias bélicas, que não espoliam o mundo através do sistema financeiro inventado na segunda metade do Século XVIII por Mayer Amschel Rothschild, o pai dos agiotas, são pessoas como nós, generosas, inquietas, amantes dos seus semelhantes, com os quais convivem fraternalmente, como na nossa emblemática Rua da Alfândega. Dedicam-se como ninguém às artes e às ciências, ao bem e à solidariedade. Se eventualmente se organizam em sociedades fechadas, o fazem em função do culto de suas tradições e premidos pelos anátemas que lhes perseguem por 5.769 anos, os quais, internacionalizados nos recônditos de suas mentes, cegam-lhes os olhos diante das brutalidades praticadas por alguns dos seus, em nome de um projeto segregacionista de viés econômico e imperialista. Brutalidades que impõem até mesmo a rediscussão do Estado de Israel, um complexo militar que transpira beligerância por todos os poros, numa roda viva tão macabra que o asfixiamento e a matança da população de Gaza viram trunfos eleitorais por uma química diabólica que produz a mais incontrolável das síndromes de guerra. Os judeus que ainda reverenciam seus mortos na Alemanha nazista precisam abrir os olhos, antes que seja tarde demais. Esses aloprados que estão semeando mais 50 anos de ódios raciais têm à mão um poderoso arsenal atômico, como denunciou à imprensa britânica já em 1986 o cientista nuclear israelense Mordechai Vanunu, que, por isso, foi sequestrado em Roma pelo Mossad, o serviço secreto do seu país, onde pegou 18 de cadeia e até hoje sofre todo tipo de perseguição por sua posição pacifista. coluna@pedroporfirio.com

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O genocídio de Gaza e a natureza expansionista de Israel

A instalação de assentamentos de judeus repete as táticas das "colônias Rosthschild", implantadas pelas mílicias terroristas Haganá, Irgun e Stern, antes da proclamação de Israel como Estado, em 1948.
“Por que os árabes deveriam querer paz? Nós nos apossamos do país deles. Claro, sei que Deus nos prometeu essa terra, mas o que isso tem a ver com eles? O nosso não é o Deus deles. Nós todos viemos originalmente de Israel, também é verdade. Mas isso foi há dois mil anos. O que eles têm a ver com isso?” David Ben Gurion, judeu polonês, primeiro chefe de Estado de Israel (1886-1973), em declaração pouco antes de morrer, aos 87 anos. "Nós não precisamos de um Estado Judeu. Necessita-se de um Estado Palestino. Judeus podem, e têm vivido em qualquer lugar, logo não há necessidade de um Estado Judeu". Mordechai Vanunu, cientista nuclear israelense, que 1986 revelou detalhes do programa nuclear de Israel para a imprensa britânica, em consequência de que foi sequestrado em Roma por agentes do serviço secreto israelense (Mossad). Qualquer análise restrita aos acontecimentos recentes em Israel e vizinhos apontará conclusões superficiais e não chegará ao âmago de um problema que tende a se tornar ainda mais incontrolável. Ao contrário do que aparenta, o domínio das ações ali sempre foi do centro de poder sionista, isto antes mesmo da ONU aprovar a Resolução que criou os Estados de Israel e da Palestina, em 1948. A própria proclamação do Estado judeu se deu em 14 de maio de 1948, antes do fim do mandato britânico, previsto para 1º de agosto. As ações em Gaza não se dão apenas porque o premier Ehud Olmert ficou mal na fita depois das confissões do milionário norte-americano Morris Talansky de que o subornou durante anos, o que forçou a antecipação das eleições para 10 de fevereiro, com a possibilidade de vitória da oposição ultradireitista, encabeçada por Benjamin Netanyahu, do partido Likud. Nesse tormento, estão de acordo todos os cabeças da atual geração governante. Com isso, os 7 milhões e 200 mil israelenses, que são verdadeiras “buchas de canhão”, vão ter que decidir entre “o diabo e o coisa ruim”, embora Israel seja um país habilmente democrático, que assimila a seu modo as minorias e tem em seu parlamento alguns comunistas e representantes dos 70 municípios árabes do seu território. Da mesma forma, a ascensão do Barack Obama Hussein nos Estados Unidos parece virtualmente sob controle do sistema, no qual os judeus norte-americanos têm virtual hegemonia. Pode até ser que, às voltas com um monstruoso déficit público, o primeiro presidente negro queira dar uma enxugada na milionária ajuda a Israel. Cabeça de ponte Mas em julho passado, já sob fogo cruzado, o premier Ehud Olmert obteve de George Walker Bush a assinatura de um acordo para a destinação de 30 bilhões de dólares em ajuda militar a Israel nos próximos dez anos, um aumento de 25% em relação às verbas anteriores. O que levou de fato a uma inconsequente demonstração de força em Gaza foi o projeto expansionista dentro da mesma lógica do “espaço vital” dos idos de Hitler, na Alemanha e a sedução do petróleo, farto a partir de sua descoberta no Irã, em 1908. Há 80 anos, desde a criação das “colônias Rotschild” na Palestina, os judeus se dedicam a um meticuloso processo de usurpação do território árabe, prática iniciada pelas milícias terroristas do Haganá, Irgun e Stern, cada uma mais violenta do que a outra. Independente da busca da terra prometida e da fuga das perseguições antissemitas na Europa, os judeus embarcaram numa espécie de “corrida do ouro”. E não era para menos. O Oriente Médio, logo após a Primeira Guerra Mundial, já era o maior produtor petrolífero do mundo e, por isso, despertava o interesse das grandes potências. Assim, os países europeus, interessados no petróleo e na posição estratégica da região, passaram a dominar a área. Houve, então, uma partilha dos países do Oriente Médio entre França e Inglaterra, que passaram a dominar as empresas de exploração de petróleo. Para citar um exemplo, em 1926, a Irak Petroleum Company foi repartida entre Inglaterra, que detinha 52,5% das ações; França, com 21,25% e EUA, com 21,25%; restando ao Iraque somente 5%. Cerca de 90% da produção mundial passou para o controle de um cartel constituído por uma oligarquia de sete companhias petroleiras internacionais, conhecidas como as "Sete Irmãs", das quais cinco eram norte-americanas. São elas: Standard Oil of New Jersey, agora conhecida por Exxon; Standard Oil of California, agora Chevron; Gulf, agora parte da Chevron; Mobil e Texaco; uma britânica, British Petroleum e uma anglo-holandesa (Royal Dutch-Shell). Após a Primeira Grande Guerra Mundial, as "sete" formaram joint ventures para a exploração de campos petrolíferos estrangeiros. Para abafar escândalos No contexto recente, os governantes isralelenses estão ceifando milhares de vidas humanas apenas para abafar o escândalo de corrupção que envolveu o premier Ehud Olmert, o que forçou o preisdente Shimon Perez a convocar eleições antecipadas para 10 de fevereiro, as quais poderão favorecer o partido Likud, ainda por conta das denúncias formalizadas na Justiça contra o premier que ordenou os bombardeios agora. Olmert foi pilhado com a mão na massa, em abril passado, quando o milionário norte-americano Morris Talansky confessou que deu muito dinheiro a ele em troca de uns lucrativos negócios imobiliários em Jerusalém, quando o atual premier era o presidente da Câmara local. Além disso, ele é alvo de outras três investigações em transacções imobiliárias duvidosas e abuso de poder em nomeações, quando estava à frente do Ministério da Indústria e Comércio. Desmoralizado, Olmert foi desbancado do comando do seu partido, o Kadima, fundado por Ariel Sharon, pela ministra do Exterior Tzipi Livni, que disputa a indicação de premier pela coalizão governista com o general trabalhista Ehud Barak, aquele que se vestiu de mulher para infiltrar-se e matar líderes palestinos acusados de planejarem o assassinato de atletas israelenses nos jogos olímpicos de Munique.
A característica expansionista norteia a vida naquele país. Em 3 de janeiro de 2007, o Knesset ( Parlamento unicameral de 120 deputados) aprovou o orçamento de 295 bilhões de shekels (68 bilhões de dólares) para o ano findo. Desse total, 50 bilhões de shekels (11,3 bilhões de dólares) destinaram-se a gastos militares. Para 2009, o Executivo aprovou em 24 de junho de 2008 uma proposta orçamentária com previsão de 14,7 bilhões de dólares. Isso é mais do dobro do orçamento militar do Irã, tão acossado pelas potências ocidentais, que gastou em 2008 pouco mais de 7 bilhões de dólares, ou seja o equivalente a 108 dólares por habitante. No genocídio de Gaza, os governantes de Israel podem estar socorrendo a indústria de guerra, de que são sócios, mas vão debitar aos cidadãos israelenses e aos judeus de outros países uma conta salgada: os custos da ofensiva militar na Faixa de Gaza vão triplicar o déficit público previsto anteriormente. Analistas acreditam que o país deve gastar pelo menos 2,2 bilhões de shekels (cerca de US$ 560 milhões) por semana com a chamada “Operação Chumbo Grosso”, contribuindo para aumentar o rombo de 1,5% no ano passado para pelo menos 5% do PIB em 2009. Caso a batalha se estenda por mais algumas semanas, os custos podem ainda superar os cerca de US$ 2,8 bilhões gastos por Israel durante a campanha contra o Hezbollah, há dois anos, quando 30 mil soldados da reserva foram acionados e mais de 237 mil bombas lançadas em 34 dias de guerra no sul do Líbano. Os números mostram, ainda, que cada dia de ação militar custa cerca de 100 milhões de shekels (US$ 26 milhões), incluindo a manutenção de caças, helicópteros, tanques e canhões, além da convocação de milhares de reservistas e de indenizações a moradores do sul de Israel que tiveram casas e negócios atingidos pelos foguetes artesanais do Hamas. De acordo com a rádio Galei Tzahal, somente a convocação de reservistas deve custar aos cofres públicos pelo menos 50 milhões de shekels (cerca de US$ 13 milhões), já que o governo é obrigado a pagar aos reservistas convocados um salário calculado com base nos últimos três meses. coluna@pedroporfirio.com
Amanhã: “os dilemas da diáspora diante da ambiguidade de Israel”

domingo, 4 de janeiro de 2009

Um massacre sob encomenda da indústria bélica

A indústria bélica faz a festa no massacre de Gaza
“É assim que estão as coisas em Israel. Opor-se à paz é sempre atitude legítima e patriótica; opor-se à guerra é traição, atitude antipatriótica e deve ser combatida. Podem debater o custo da paz eternamente; ninguém ouvirá uma palavra sobre o custo da guerra. Movimentos pacifistas são censurados. Movimentos pró-violência são estimulados”. Gideon Levy, jornalista israelense do Haaretz, em 2/1/2009. http://www.haaretz.com Por favor, preste bem atenção nas próximas linhas. Seja quem for você, leia-me até o ponto final. Depois, tire suas conclusões. Mas o faça como um magistrado, alguém convencido de que o mal não tem defesa, mesmo quando praticado por nossos irmãos. Pois se admitirmos, ainda que por reles miopia, que os NOSSOS tudo podem e os outros, meros inimigos, nunca têm razão então estaremos contribuindo para a mais rápida destruição da humanidade – ou para o apocalipse já, como pressagiam as escrituras bíblicas. Você já deve imaginar a que me refiro: ninguém de bom senso, seja quem for, pode aceitar em silêncio o novo holocausto, desta vez da lavra de quem ainda tem as cicatrizes escarlates de perversidades que julgávamos extirpadas da face da Terra. Os bombardeios letais que ameaçam e atingem por igual a um milhão e meio de seres humanos na Faixa de Gaza, convertida num deplorável campo de concentração, são executados por militares israelenses, mas têm o patrocínio torpe da indústria bélica e se dá num contexto conspurcado por ingredientes da pior espécie. Mais ódio e sofrimento Ao apontar os grandes bruxos dessa nova tragédia, vale a advertência: o governo do desmoralizado premier Ehud Olmert, que está chegando ao fim, escolheu o pior caminho para pôr Barack Obama numa saia justa e comprometer seu governo com o que há de pior na guerra suja que faz da antiga “terra santa” um verdadeiro inferno. Errou também o ministro da Defesa, Ehud Barak, que transformou a matança dos palestinos de Gaza no trunfo de sua pretensão de assumir a chefia do governo de Israel com as eleições de fevereiro. Pelo que eu mesmo vi quando estive no Oriente Médio, em 2002, os israelenses e os árabes estão cansados de seis décadas de um conflito que nunca terá um vencedor. Naquele ano, o movimento “Paz Agora”, com sede em Jerusalém e a participação de judeus e árabes, empolgava, sobretudo aos jovens israelenses, muitos dos quais recusavam-se ao serviço militar obrigatório de três anos. Defensor de uma solução com base na devolução aos árabes dos territórios invadidos a partir de 1967, o movimento chegou a reunir 500 mil pessoas numa das maiores manifestações já realizadas no Oriente Médio. Segundo Moises Storch, da coordenação do “Paz Agora”, Israel gasta 30% do seu PIB com a segurança nacional. "E o medo do terrorismo só tem aumentado". Para Storch, que participou no Rio de uma manifestação contra a ocupação da Palestina, a tutela do povo palestino só trouxe prejuízos à sociedade israelense: "Somente em estradas construídas nas últimas quatro décadas nos territórios ocupados, Israel já gastou US$ 50 bilhões. Enquanto isso, as condições sociais foram se deteriorando a ponto de, hoje, um terço das crianças de Israel viverem abaixo da linha da pobreza". Sobre os bombardeios, o pacifista israelense lembrou:"Gaza tem a maior densidade demográfica do mundo e nenhuma área agricultável. Para essa região, a paz é a única alternativa viável". De fato, a população que vive nos 360 km2 desse território imprensado entre Israel e Egito reúne 4.200 pessoas por km2. Quem ganha com a guerra Mais do que qualquer outra motivação, a ofensiva israelense atende aos interesses da indústria bélica norte-americana, cujas ações caíram com a crise e podem desmoronar se Obama começar a trabalhar a retirada do Iraque, como prometeu em sua campanha. Israel é o maior comprador de armas nos Estados Unidos, mesmo sendo esse pequeno país também um grande fabricante, com um arsenal atômico próprio, instalado na região de Sakhnin (onde também estive), cuja população é de maioria árabe, como são, aliás, os moradores de 70 dos 210 municípios israelenses, inclusive Nazaré. A operação militar em Gaza tem revestimento político, mas é parte de uma situação desconfortável, que inclui os 7 milhões e 200 mil israelenses entre os que registram os maiores gastos militares per capita: 1.737 dólares anuais, 59 dólares a menos do que os norte-americanos, cujos orçamentos de guerra atingiram em 2007 o nível mais alto em termos absolutos desde a Segunda Guerra Mundial: desde a posse de Bush, em 2001, os EUA aumentaram seus gastos militares em 59%, atingindo quase 600 bilhões de dólares em 2007, isto é, 46% de todo orçamento bélico mundial. Israel e Estados Unidos agem em sincronia. Na madrugada de ontem, o representante norte-americano vetou a aprovação de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, conclamando um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza e no Sul de Israel. No mesmo instante, o presidente de Israel, Shimon Perez, rejeitava os apelos da Europa por uma trégua, enquanto seus soldados invadiam por terra e dividiam a Faixa de Gaza ao meio, recorrendo a uma outra perversidade típico das práticas nazistas de que os judeus foram vítimas: além da morte de mais de 500 palestinos desde os bombardeios iniciados no último dia 27, a população palestina está há vários dias sem luz e sem água, padecendo forte inverno sem aquecimento, o que provocará uma tragédia ainda maior. Alguns analistas garantem que o governo encabeçado por um premier trabalhista teria optado pelo massacre devido às pesquisas eleitorais que favoreciam o partido Likud, mais à direita. Pode até ser. Da minha parte, prefiro acreditar que os israelenses como nação não chegaram ao absurdo de preferir aquele que matar mais palestinos, independentes de serem civis ou crianças inocentes. Outros dizem que o Fatah, à frente da chamada Autoridade Nacional Palestina, em conflito com o Hamas, majoritário em Gaza, e o presidente do Egito, Osmy Mubarack, que fechou a passagem para seu território, estariam facilitando os bombardeios de olho no enfraquecimento do grupo radical. Também acho que isso seria uma grande demonstração de miopia. O massacre do povo de Gaza pelos israelenses poderá levar à ampliação dos conflitos, particularmente no Líbano, onde os xiitas do Hezbollah aumentaram seu poderio bélico depois da aventura de Israel, em 2006. Como você viu, independente das agressões dos militantes do Hamas com foguetes de fabricação artesanal, o massacre em curso não é nada agradável para o povo israelense. Quando estive lá, percorrendo de Telaviv a Nazaré, o mar da Galiléia, indo a Jerusalém para alcançar Jericó, na Cisjordânia, dava pena ver aquele ambiente nervoso num dos pontos de maior potencial turístico do mundo. A guerra passou a ser o melhor negócio para políticos e empresários ambiciosos do sonhado “Lar Nacional Judeu”. Mas, seguramente, o melhor para o povo seria o cumprimento da primeira decisão da ONU, que criou os dois Estados para dois povos, respeitando pelo menos as fronteiras anteriores à guerra dos seis dias, em 1967. Apesar de tudo, a PAZ é possível, até porque árabes e judeus se entendiam na luta contra o domínio estrangeiro, e só começaram a ter conflitos depois que o Barão de Rothschild passou a bancar a infiltração de colônias judaicas, nas primeiras décadas do Século XX, com claros propósitos de criar uma cabeça de ponte para interesses econômicos na região, onde o petróleo começava a jorrar. coluna@pedroporfirio.com

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Com a janela aberta para o ano novo de cada um

Na passagem do ano, eu estava vendo um belo filme sobre a vida de Ghandi
“Jamais haverá ano novo, se continuar a copiar os erros dos anos velhos” Luís Vaz de Camões (1524 - 1580), poeta português, considerado o maior poeta de língua portuguesa. Autor de “Os Lusíadas”, maior obra literária portuguesa 2009 chegou? Que diferença faz? Toda essa mística pela passagem do ano internaliza em cada um de nós uma sensação de mudança. E, no entanto, nada aconteceu de novo em nenhum dos lados do equador. Nem mesmo esse bombardeio insano de Gaza é novidade. Para início de conversa, a mudança de ano em 1º de janeiro é festejada nos países ocidentais, que têm como referência o nascimento de Jesus Cristo e é obra do Papa Gregório XIII que, em 24 de fevereiro de 1582 – instituiu o calendário gregoriano, substituindo o calendário juliano, implantado pelo imperador Júlio César quatro décadas antes de Cristo e modificado pelo imperador Augusto, 800 anos depois. O calendário gregoriano é hoje referência em outros países em face da força econômica das potências ocidentais. Mesmo assim, os cristãos ortodoxos continuam obedecendo ao antigo calendário juliano: se você for a um país sob influência da igreja ortodoxa, hoje é dia 20 de dezembro de 2008. Fora do mundo cristão, as diferenças são ainda maiores. Os judeus comemoraram o seu ano 5.769 em 29 de setembro passado. A contagem dos anos no judaísmo é feita pelo calendário lunar, daí a discrepância com o calendário gregoriano. O ano lunar tem 354 dias, portanto faltam 11 para os 365 contados normalmente. Para ajustar, se convencionou que alguns anos têm um mês a mais no calendário judaico. Além disso, os judeus não reconhecem Jesus Cristo como o Messias. Ao contrário do calendário gregoriano, que é solar, outras religiões e civilizações adotam o sistema lunar. O nosso calcula que a Terra leva 365 dias, 5 horas, 49 minutos e 12 segundos, o equivalente a 365,2424999 dias solares para dar a volta em torno do Sol. Curiosamente, o calendário islâmico tem os mesmos parâmetros do judaico, embora as referências sejam outras. No dia 29 de dezembro, os mais de 1 bilhão de muçulmanos lembrarfam o transcurso do seu ano 1430. A data lembra a “hégira”, momento em que o profeta Maomé foi obrigado a sair de Meca e emigrar para Medina. O calendário islâmico é baseado nas fases da lua, composto por 12 meses, sendo que cada mês tem 29 ou 30 dias. A mudança dos meses se dá quando é observada pela primeira vez a lua crescente após o pôr-do-sol. A cada ano o calendário islâmico retrocede alguns dias em relação ao calendário gregoriano. Isso ocorre devido o calendário lunar ter aproximadamente 11 dias a menos no ano que o calendário solar. Na China, os animais Já os chineses festejaram o seu ano 4705 – ano do rato – no dia 7 de fevereiro passado. Ano-novo chinês é uma referência à data de comemoração adotadas por diversas nações do Oriente que seguem um calendário tradicional distinto do ocidental, o calendário chinês. As diferenças entre os dois calendários fazem que a data de início de cada ano-novo chinês caia a cada ano em uma data diferente do calendário ocidental. No Brasil, a colônia festeja sempre em fevereiro. Os chineses relacionam cada novo ano a um dos doze animais que teriam atendido ao chamado de Buda para uma reunião. Apenas doze se apresentaram: Buda em agradecimento os transformou nos signos da astrologia chinesa. Os doze animais do horóscopo chinês a que correspondem os anos chineses são, de acordo com a ordem que teriam se apresentado a Buda na lenda acima citada: rato, búfalo, tigre, coelho, dragão, cobra, cavalo, cabra, macaco, galo, cão e o javali. Desta forma, se no nosso 2008 festejam o ano do rato, 2009 será o do Búfalo. Na Índia a confusão sobre ano novo é tamanha que em 1957 o governo decidiu intervir para enfrentar a existência de 30 calendários entre seus 1,1 bilhão de habitantes. O calendário atual da Índia teve início em 1957, por decisão do Comitê de Reforma, que formalizou um calendário lunisolar, no qual o ano bissexto coincide com aquele do calendário gregoriano e os meses são denominados por nomes tradicionais indianos. Esta reforma no calendário indiano começou na Era Saka, Chaitra, 1, 1879, que corresponde ao dia 22 de março de 1957 do Calendário Gregoriano. No calendário civil indiano, a época inicial foi Saka, uma era tradicional da cronologia indiana, que se diz ter começado com o Rei Salivahana, quando ascendeu ao trono, e também se refere aos trabalhos de astronomia da literatura Sânscrita, escritos depois do ano 500. No calendário Saka, o ano de 2002 corresponde a 1925 do CG. Outra época popular é a Era Vrikrama, que se crê ter iniciado com a coroação do Rei Vikramaditya: por ele, o ano de 2009 corresponde ao ano de 2067 neste sistema. A verdade de cada um Enunciei esses exemplos para fazer você olhar o mundo além da sua janela. A verdade que nos liberta pode ser encontrada onde menos imaginamos e a esperança, que é da essência compensatória da natureza humana, pode e deve ser alimentada todos os dias, a cada nascer do sol. Se você se interessa em saber, eu não estive nem aí para o repeteco do espetáculo turístico montado nas praias cariocas. Nem de perto, nem pela televisão. Por coincidência, quando os fogos começaram a cruzar os céus, aqui mesmo no sopé da serra dos Três Rios, estava grudado no filme sobre a vida de Mahatma Ghandi, uma produção hindu-britânica de três horas, dirigida em 1982 por Richard Attenborough, que nos brindou com outras obras importantes, como “Um Grito de Liberdade”, de 1987, baseada na vida e luta do ativista sul-africano Steve Biko, assassinado em 1977, aos 31 anos, pelo regime racista da África do Sul, crime que ficou impune, mesmo depois da ascensão do líder negro Nelson Rolihlahla Mandela. Antes, às oito da noite, havia visto mais uma vez o “Fahrenheit 11 de Setembro” um filme da maior atualidade para entender não apenas o declínio do sistema norte-americano, mas também para explicar essa nova escalada de Israel sobre a Faixa de Gaza, uma violência indefensável, que só serve para socorrer a indústria bélica e dar um aviso a Barack Obama, que vai assumir dia 20 “devidamente imprensado pelos sionistas”, que já estão ocupando postos chaves em sua curriola. Bom, para um começo de ano, era o que tinha a dizer. coluna@pedroporfirio.com