domingo, 31 de maio de 2009

O pior corrupto é o corrupto “de esquerda”

Faz suas trapaças e acusa quem quiser investigá-las de "conspiração de direita

A corrupção dos governantes quase sempre começa com a corrupção dos seus princípios”. Montesquieu, filósofo iluminista francês ( 1689-1755)

 “Nasci para combater o crime, não para governá-lo. Ainda não chegou o tempo em que os homens honestos podem servir impunemente à pátria: os defensores da liberdade serão proscritos enquanto dominar a horda dos bandidos”.
Maximilien François Marie Isidore de Robespierre, líder da Revolução Francesa, ao ser levado para a guilhotina, em 1794, aos 36 anos de idade.

 Sempre soube que o poder, seja ele qual for, tem encantos que o próprio encanto desconhece. Mas também por muitos anos acreditei que ideologia e safadezas eram antônimas. Acertei na primeira e equivoquei-me redondamente na segunda. O poder exerce tal fascínio que engendra seus próprios valores.

Ou simplesmente os dispensa, num passe de mágica. E quanto maior a distância percorrida, mais vulnerável é aquele que se torna senhor dos anéis. O que se vê hoje no Brasil é a ausência de todo e qualquer recato.

A corrupção grassa como elemento difuso de efeitos multiplicadores. O assalto ao alheio não conhece limites, nem se tangencia em determinados espaços e momentos. Não é exclusivo da vida pública, até porque decorre de negociatas com interesses privados. Reina a bel prazer, na imensidão desse país continental, como fatalidade corriqueira.

 Dir-se-ia sem pestanejar que seu caráter amplo, geral e irrestrito a todos seduz. Tal é seu magnetismo que, a rigor, não encontra óbices: não se é contra a corrupção, mas, sim, contra a corrupção dos outros.

Sedução inebriante

Andei concluindo com a maior amargura: entre os tipos de corruptos, há os que desfilam de crachás, os que permanecem nos armários (e ainda não deram bandeira) e os que esperam ansiosamente que a fila ande. As práticas inerentes à corrupção movimentam muito mais dinheiro nos subterrâneos de que toda a atividade econômica visível a olho nu.

Não há elementos de cálculo, mas é possível dimensioná-la como acachapante e avassaladora. Porque ela se origina em toda e qualquer movimentação que envolva dinheiro. Sua manifestação mais exuberante é a propina, irmã siamesa do superfaturamento.

A corrupção é como jogo do bicho: todo mundo sabe que é ilegal, mas todo mundo vê, não diz nada e, se der, ainda faz uma fezinha. Ainda na minha adolescência, quando, meus olhos alcançaram o horizonte perdido, tive a atenção voltada para esse delito, praticado em larga escala na administração pública.

Tinha 11 anos de idade quando Armando Falcão, candidato a governador do Ceará, em 1954, fez do slogan “contra o roubo e a corrupção” a bandeira de sua campanha. Aquela “proposta de governo” chamou minha atenção até porque, ao fim, ele acabou derrotado numa eleição muito apertada.

Desde então vim aprendendo muitas lições. Nessa, a de que nem sempre os que acusam os outros como corruptos têm autoridade moral para tal. E muitas vezes pode ocorrer até de papagaio comer o milho e o periquito levar a fama. Mas em todas as circunstâncias considerava que a ideologia da transformação social incluía entre seus pertences o combate implacável ao vício de meter a mão no dinheiro alheio.

 Revolucionários contra a corrupção

 Quando, aos 17 anos, fui a Cuba pela primeira vez, em 1960, uma das novidades que mais me impressionaram foi a existência do Ministério de Recuperação dos Bens Malversados pela ditadura. Confiado ao comandante Faustino Perez Hernández, um dos 12 primeiros guerrilheiros que subiram a Sierra Maestra, esse inusitado ministério funcionava na esquina das ruas 21 e D, no Vedado, não muito longe do Hotel Havana Livre, onde participei do I Congresso Latino-americano de Juventudes.

Desde sua primeira operação, no primeiro mês do regime revolucionário, quando descobriu 6 milhões de dólares escondidos pelo ditador Fulgêncio Batista num cofre do Bank Trust Company de Cuba, o austero ministério se tornou o terror dos corruptos e seu titular foi apontado por Fidel Castro como o símbolo do revolucionário, por sua exemplar honestidade e transparência.

Naqueles idos, pelo que me constava, ser contra a roubalheira era ingrediente indispensável na ideologia de esquerda. Tinha certeza dessa premissa até pela obsessão de Maximilien Robespierre, o líder da Revolução Francesa, cognominado “o incorruptível”.

Por aqui, a conversa é outra Já quando estive em cargos importantes na Prefeitura do Rio de Janeiro, comecei a perceber que a banda não tocava como eu imaginava, apesar da promessa de Brizola de lavar a sujeira com água e sabão.

Quando, em 1984, como coordenador das regiões administrativas da Zona Norte, prendi em flagrante um fiscal corrupto que extorquia um pequeno empresário na Penha senti os primeiros olhares de censura aos meus “excessos”. Depois, prendi uma equipe da Secretaria de Obras que, mediante propina, desviava asfalto de uma “rua reconhecida” para a favela do Jacarezinho.

Foi um Deus nos acuda. Tive que recuar, porque ia sobrar exclusivamente para os operários. Levado ao primeiro escalão, como secretário de Desenvolvimento Social, apreendi e acautelei numa delegacia manilhas comuns, entregues enganosamente como “armadas”. Declarei a firma fornecedora inidônea e, como ela era apenas uma das várias pertencentes ao mesmo empresário, de nada adiantou.

Determinei sindicância para apurar uma mutreta com 500 metros de areia, que nunca chegaram ao depósito da Secretaria. Mas o engenheiro que assinou o recebimento era bem articulado dentro do PDT: o processo sumiu e isso me causou muita dor de cabeça. O mesmo aconteceu quando demiti o encarregado do depósito de Campo Grande, pilhado em delito semelhante, com carregamento de pedras.

Poderia contar outras dificuldades que enfrentei para reforçar com todas as letras a convicção de que a corrupção, a robalheira e os desvios de conduta moral são tão lesivos ao país e ao povo como as políticas econômicas perversas, o entreguismo e a selvagem exploração do homem pelo homem.

A cara de pau do corrupto de “esquerda”

Poderia, mas hoje só queria dizer uma coisa, doa a quem doer: o pior corrupto é o que se jacta de esquerda. É essa súcia desonesta que morre de medo de uma investigação e, para proteger-se, chega ao cúmulo de convencer os mais ingênuos de que a apuração de maracutaias em empresas públicas, como a Petrobras, é apenas uma manobra privatizante.

O corrupto de “esquerda” é cínico e arrogante. Pela facilidade de meter a mão no dinheiro público sob proteção do manto escarlate e pelo deslumbramento com os podres poderes é capaz de delitos muitos mais danosos porque, ao contrário dos corruptos tradicionais, age em bandos, interagindo em verdadeiras teias em que faz o meio de campo com lideranças corporativas, doma a mídia e banha de um invólucro “social” e até “patriótico” suas pernadas no erário.

Esse corrupto, diferente do tradicional, serve à sua patota, mas cria expectativas para que terceiros se beneficiem no futuro de outros butins. Tem um discurso bem articulado e sabe como imobilizar, pela cooptação, com algumas prebendas e favorecimentos a granel, aqueles que poderiam atrapalhar seus passos. Esse corrupto, por coincidência, é aquele que, estando do outro lado do balcão, amanhecia o dia pensando em quem ia apresentar como ladrão à distinta platéia.

É o corrupto que faz as mesmas armações, crente de que ganhará o a anuência da opinião pública, devidamente convencida de que pior do que sua turma é a “direita privatizante”. Esse corrupto de “esquerda” é um típico cara de pau, que se socorre de parceiros manjados, tipos Collor, Sarney, Romero Jucá e Renan Calheiros, como se a cocaína farta no país tivesse explodido nossa memória.

Tão cara de pau que está entregando o pré-sal a trustes estrangeiros através dos leilões das jazidas, perdoou dívidas de empresas privatizadas, como as da norte-americana AES (da Eletropaulo) está trabalhando a privatização dos aeroportos, numa jogada da pesada, e fala mal da privataria passada, sem nada ter feito para desfazê-la, sabe Deus porque.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

PT ao vivo e a cores: de como se constrói a hegemonia às avessas

Chico de Oliveira, sociólogo militante, tem demonstrado porque Lula é a regressão.
Juntar-se a Lula é um bom negócio. Mas é também, apenas, um bom negócio.
“Lula está à direita de Fernando Henrique Cardoso ao não recompor as estruturas do Estado e não avançar na ampliação de direitos. O presidente tenta se legitimar promovendo consensos que passam pela cooptação dos mais pobres. O Bolsa Família não é um direito, mas uma dádiva. Neste sentido, vivemos na gestão dele uma regressão política, porque no governo Lula houve uma diminuição do grau de participação popular na esfera pública. E quando se projeta o cenário de 2010 percebe-se como Lula resulta regressivo. Com a força perdida pelo PT e a ausência de alternativas de Lula, uma vez que a doença de sua candidata mostra sinais de gravidade, aparece o terceiro mandato”. Chico Oliveira, sociólogo, 75 anos, fundador e desencantado com o PT, em entrevista ao jornal VALOR ECONÔMICO, de 27.5.2009.*
Nada como um programa de televisão para espelhar a essência de uma opção de governo. A Lei eleitoral oferece essa oportunidade aos cidadãos. A cada semestre, os partidos vão à tv para revelar um pouco de si. Nesta quinta-feira, foi a vez do programa do Partido dos Trabalhadores, aquele que se fez de uma alquimia engendrada tendo como principal matéria prima a insatisfação de uma população desorganizada politicamente e de fácil manipulação, em especial, por símbolos sobrenaturais. O PT foi o novo que se fez na ruptura da história. Não vou falar hoje das tratativas que pavimentaram sua caminhada, passo a passo, até levar à Presidência da República o “curitiano” que chegou ao sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo pelas mãos de Paulo Vidal Neto, o malabarista que, sendo de confiança da ditadura, tinha um bom trânsito no antigo Partido Comunista Brasileiro, onde militava José Francisco da Silva, o irmão de Lula que o indicou para suplente do conselho fiscal da chapa oficial “por não correr risco de perder o emprego”, na Villares. "Em toda minha vida, nunca gostei de ser rotulado de esquerda. E, na primeira vez que me perguntaram se eu era comunista, respondi: 'Sou torneiro mecânico'".
Isso é matéria para livro. Mas ao ver e rever o programa do PT identifiquei nele com uma clareza exuberante o que havia nas entrelinhas da sua trajetória matreira. Quando se fixa em programas assistenciais compensatórios e obras de vitrine, o governo do PT cumpre ao pé da letra a sua tarefa protelatória, consentânea com o projeto pós-ditadura militar elaborado sob inspiração do banqueiro David Rockfeller e seus parceiros da super-ONG “Diálogo Interamericano”. O programa de televisão em nenhum momento tocou em temas represados, como a reforma agrária, o aviltamento salarial, a soberania nacional, especulação financeira, a precariedade da educação pública de base, a inexistência de uma política de saúde conseqüente e o agravamento da insegurança nas cidades. Fala das privatizações de FHC, mas nada diz sobre a omissão do governo Lula, que se nega a auditá-las, apesar do gritante do seu caráter donativo. E omite igualmente a sagrada aliança com o agro-negócio, que já representou uma sequência de perdões e protelações de dívidas, cujos valores são muitas vezes superiores aos destinados aos assentamentos rurais, virtualmente abandonados à própria sorte, e aos pequenos agricultores. Obras de vitrine para seduzir a massa excluída com a notícia de que seua vez chegará um dia
Nos seus carros-chefes, o vício da ocultação da verdade. Esse mirabolante programa de construção de um milhão de casas, com suas planilhas incontroláveis, foi concebido para tirar do sufoco a indústria da construção civil, às voltas com a drástica queda da demanda em seus projetos direcionados à classe média, e não para compensar salários que não permitem moradias decentes. Se vai ou não vai resultar em benefício social, tenho minhas dúvidas. Com dinheiro saindo pelo ladrão, o PAC conseguiu construir até agora menos de 50 apartamentos no Complexo do Alemão, feito considerado tão significativo que levou o próprio presidente da República ao evento de inauguração, nesta sexta-feira. A realização de obras em três grandes favelas do Rio de Janeiro é um oneroso mostruário que está longe de encarar a crônica sub-habitação, filha de rendas insuficientes. Ao um custo de 1 bilhão de reais – maior do que orçamentos anuais de muitas prefeituras, como Natal (R$ 840 milhões) e Niterói (R$ 859 milhões) – sua concepção reflete uma inescrupulosa intenção: seduzir milhões de miseráveis descartados com a notícia de que, pelo menos no Alemão, em Manguinhos e na Rocinha alguma coisa já se fez, principalmente de natureza cosmética. No âmbito da educação, o programa do PT usou o “Prouni” como seu maior emblema. Sob o mesmo impulso do projeto de moradias, esse “achado” não é mais do que um jeito brasileiro de socorrer os mercados de ensino privados, que registraram capacidade ociosa superior a 50%. Em troca das bolsas, cujos critérios sociais têm sido fartamente ludibriados, o governo abre mão de tributos, que deixam de ser recolhidos e faltam ostensivamente nas escolas públicas. Nessa progressão, todo piso salarial será igual ao mínimo. Essa é uma forma perversa de nivelar por baixo O depoimento do presidente da CUT revela o alcance da domesticação do movimento sindical. Ele se gabou dos aumentos do salário mínimo, acima dos concedidos à grande massa de trabalhadores, e da revisão, ano passado, da tabela do imposto de renda. Essa política, integrada com o “bolsa-família”, cumpre um irresponsável desserviço à atividade laboral. Corrige em parte a defasagem histórica de 44 milhões de brasileiros. Correção, aliás, ainda muito distante do necessário, conforme cálculos da Gazeta Mercantil, segundo os quais para cobrir todas as despesas, o mínimo hoje deveria ser de R$ 2.141,08. Mas nivela os salários por baixo, na medida em que os mesmos critérios de reajustes não se aplicam a quem ganham acima do mínimo. Essa tendência demonstra a significativa contração da massa salarial no país: levantamento do Dieese demonstrou que a proporção de categorias de trabalhadores com pisos salariais bem próximos do salário mínimo cresceu entre 2007 e 2008. No ano passado, o percentual de atividades com remuneração básica equivalente a um salário mínimo alcançou 5,7% – ante 3,4% em 2007. O mais grave é que a pesquisa comprovou que o valor médio do piso salarial recuou entre 2005 e 2008 de 1,73 salário mínimo para 1,34. A perda de massa salarial, não é, portanto, fenômeno exclusivo dessa recente crise econômica. Ao adotar critérios diferentes nas correções salariais, o governo do PT expõe o seu caráter oportunista, mas não esconde a traição à massa que o endossou. Adota um critério político de viés eleitoral, pelo qual garante um volumoso capital votante, cimento de uma maioria maliciosamente amestrada. E cristaliza o projeto de governo “consensual”, ao gosto das elites multinacionais e oligopolistas. Esse PT que se mostrou pelas telas de TV e pelas ondas do rádio na passada quinta-feira é a grande panacéia que leva ao delírio o sistema internacional e faz do seu simpático condottiere um indiscreto fã do nosso operário bem sucedido. Juntar-se a ele é um bom negócio. Mas é também, apenas, um bom negócio. coluna@pedroporfirio.com *Para este ano, Chico de Oliveira prepara um livro que irá retratar a construção de uma HEGEMONIA ÀS AVESSAS. Ou seja: como um líder popular carismático trabalharia no sentido contrário aos interesses da base que o elegeu.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Brizola jamais participaria desse governo Lula

Dois momentos com Brizola: em 2003, na Câmara do Rio, durante a entrega da Medalha Pedro Ernesto à deputada Cidinha Campos, E no seu último reveillon, no alvorecer de 2004. Nesse período, conversámos muito e ele abria seu coração amargurado.
''A aliança Lula-Brizola é a única soma que conheço cujo resultado é negativo''. Delfim Neto, um dos atuais inspiradores do governo petista. Já que chegamos ao mais baixo nível da vida pública brasileira, cuja mola propulsora é a facilidade do sistema para transformar a classe política num zoológico de miquinhos amestrados, faz-se necessário o resgate histórico da figura de Leonel Brizola: nas atuais circunstâncias, se vivo fosse, o PDT jamais participaria desse conchavo escabroso reunido em todo do governo Lula. Faço essa afirmação sem pestanejar. E desafio qualquer um dos seus herdeiros, sejam os necessários ou os adotados no crepúsculo das vacas magras, a explicar essa adesão perniciosa, que ainda vai causar um prejuízo falimentar à legenda brizolista, minando os seus fundamentos e afetando os vínculos com os brasileiros que viam no caudilho a resposta nacionalista ao modelo econômico entreguista que ele criticava 24 horas por dia e que, no entanto, é o ABC dos nossos governantes. Não que o Brizola tenha sido coerente na sua relação com o sapo barbudo. Ele tinha perfeita consciência de que Lula foi fabricado, entre outras missões, para barrar-lhe a ascensão à Presidência da República, no que o sistema usou de todos os condimentos disponíveis, desde a punga do velho PTB, por obra e graça do general Golbery, um dos padrinhos do “neo-sindicalista”, até o direcionamento de votos dos grotões para o petista, evitando que Brizola fosse enfrentar Collor no segundo turno, passando por obscenidades mais audaciosas, como a tentativa de fraude nas eleições de 1982, através da Proconsult. Mas Brizola tinha um certo prazer em ver um ex-operário, de origem humilde, como ele, derrotar os candidatos saídos das classes dominantes. “Não seria fascinante fazer agora a elite brasileira engolir o Lula, o sapo barbudo?” – repetiu mais de uma vez. Esse esse sentimento tinha muito a ver com seus conflitos implacáveis com o poder econômico. Encontro infeliz A primeira certeza dessa tarefa confiada ao ex-líder metalúrgico de São Bernardo ele teve pouco depois de voltar do exílio. Alguns deputados da esquerda do MDB articularam uma visita de Brizola a Lula, lá no sindicato, no início dos anos 80. Segundo seu parceiro Cibilis Viana, que participou da visita, Lula deixou Brizola chocado e muito amargurado. Ao recebê-lo em sua sala, o presidente do Sindicato sequer levantou-se da cadeira para abraçá-lo. Aqui já foi uma ducha de água fria. Lula recebeu-o secamente e, para azedar o encontro, passou a desancar o antigo sindicalismo, que, “era controlado por pelegos do PTB”. A coisa ficou feia quando ele, que já devia ter tomado alguma, começou a falar mal do presidente Vargas, ensejando um bate-boca que só não foi mais inflamado devido à providencial intervenção da turma do deixa disso. Mas nessa hora, o líder trabalhista interrompeu a conversa e foi embora sem maiores formalidades. O último réveillon Conversei sobre esse incidente com Brizola no seu último réveillon. Morando na Avenida Atlântica, ele costumava receber os amigos em sua casa, servindo uma ceia farta, para ver a explosão dos fogos na praia. Na véspera do ano novo de 2004, para minha surpresa, só estavam lá a sua afetuosa companheira, Marília Guilhermina Martins Pinheiro, o filho João Otávio, os netos, um bisneto, Lígia Doutel de Andrade, sempre bonita viúva do brilhante deputado Doutel de Andrade, eu e Danilo e Yoone Groff, amigos do “doutor” desde a década de cinquenta. O comandante Maia, que fora piloto o helicóptero do governo do Estado, deu uma passada, mas não demorou muito. Naquele momento, eu era o único titular de um mandato no seu apartamento. Isso tinha uma explicação: apesar de ter batizado meu filho Pedro Ivo, numa festa que terminou na Escola de Samba do Estácio, só no último ano de sua vida, quando andava desiludido com velhos amigos, o caudilho passou a me ouvir, em longas conversas. Até então, sempre teve um pé atrás comigo, porque eu era um dos raros correligionários que divergia dele em plena reunião, desde os primeiros encontros no Hotel Everest, em Ipanema, quando, cheio de ilusões, achava que assumiria a liderança de toda a oposição brasileira – dos ex-exilados até os sobreviventes que faziam jogo duplo por aqui. No réveillon e, em fevereiro de 2004, quando conversarmos sozinhos por quase três horas, tudo o que ele fazia era lamentar o governo Lula, “que vai nos levar a buscar alianças sem perfil ideológico, porque, neste momento, o melhor serviço que posso prestar ao Brasil é somar forças contra esse estelionato político”. Encontro com Bornhausen Na noite do ano novo, mais ao canto, enquanto ele servia vinhos italianos enviados pelo vereador Sami Jorge, sentado à mesa com ele, critiquei um sussurro sobre conversas com o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen. - É verdade. Dia 7, vou recebê-lo aqui em casa para tomar café e vamos aprofundar alianças nas eleições municipais, com vistas a 2006. Dessa vez eu não vou cair na conversa do sapo barbudo, que está sendo manipulado pelo Sarney, o Delfim Neto e o Meireles, do Banco Central. Ele contou que já em 2002 havia conversado com Bornhausen na tentativa de ampliar o apoio para a candidatura de Ciro Gomes. Eu sabia disso: tinha guardado no meu computador, (o Google ainda não estava com essa bola toda), suas declarações feitas em Florianópolis, após conversar com o presidente do PFL e com o governador Espiridião Amim, na presença do presidente do PDT catarinense, Manoel Dias, transmitida pela Agência JB no dia 17 de julho, analisando os presidenciáveis: Ciro Gomes: "Não pertence a algum grupo, anda sozinho, conhece a realidade do país e tem idéias claras e definidas. Fala bem o português, latim e até inglês"; Lula: “É pouco experiente, virou um almofadinha, um galã, ele sempre viveu da glória e é carregado por uma pequena burguesia"; José Serra: "É um burocrata e seu fraco desempenho surpreendeu o Governo Federal". Deslealdades do PT Em dezembro de 2003, o PDT já havia rompido com Lula, de cujo governo, segundo ele, participou por “gravidade”. Insistiu em que não foi sua, nem do partido, a indicação de Miro Teixeira para o Ministério das Comunicações: “isso foi coisa da Rede Globo” – disse, lembrando a amizade do deputado com os filhos de Roberto Marinho. “Se eu tivesse sido ouvido, não aceitaria esse ministério, que não tem nada com o trabalhismo e pensaria em outros nomes para nos representar. Lula me golpeou dentro do partido, criando um desconfortável fato consumado”. Quando reencontrei Brizola em fevereiro, nossa última conversa longa em seu apartamento, ele parecia abatido e tenso. Voltamos a conversar sobre Lula. Ele lembrou a deslealdade na eleição de 1994, quando o programa eleitoral do PT repetia toda hora uma declaração infeliz sobre a CPI, que considerava gerada pela GLOBO, por conta de compromissos não honrados por Collor: “Por mim, essa CPI não sai” – disse e depois dessa frase perdeu quatro eleições seguidas, algumas de forma humilhante. Mas era por conta do rumo adotado por Lula que ele repetia: “Porfírio, você jamais me verá de novo ao lado dele. Ao contrário, farei aliança até com o coisa ruim para derrotá-lo”. E repetiu o que dissera numa matéria publicada no dia 8 de janeiro pela FOLHA DE SÃO PAULO, depois de receber o presidente do PFL: “O PDT não está preocupado em discutir alianças ideológicas para as eleições municipais. Nós estamos analisando situações concretas, assim como o PT está fazendo. O grande guru do governo Lula, por exemplo, é o senador Sarney”. Nessa matéria, Brizola criticou o contrato de renegociação da dívida da empresa americana AES, divulgado no último dia 29, que inclui o perdão pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) de US$ 193,7 milhões (cerca de R$ 554 milhões). "Estou convencido de que esse acordo que a Folha publicou amplamente só pôde ser realizado com a ordem direta do presidente". -Tu vê, comentou comigo, o Lula saiu melhor do que a encomenda. Voltarei a falar, porque, entre outros projetos, estou começando a escrever o segundo volume do meu livro “Confissões de um Inconformista”. coluna@pedroporfirio.com

sábado, 23 de maio de 2009

CPI das chantagens, eivada de leviandades para todos os gostos

No mapa a localização do poço Tupi. No detalhe, uma charge sobre a nova aliança, com o corrupto e entreguista Fernando Collor feito espadachim de Lula
“Aos poucos, e com muito cuidado, nós vamos discutindo políticas com os companheiros e vamos mostrando que não é o Brasil que é da Petrobras, a Petrobras é que é do Brasil". Luiz Inácio, Porto de Pecém, Ceará, 28 de agosto de 2008 “A gente vai fazendo com que a Petrobras perceba que ela é que é do Brasil e não o Brasil que é dela.” Luiz Inácio, Poço de Tupi, 1 de maio de 2009, quando o petróleo do pré-sal começou a jorrar. Pensei, pesei e pesquisei muito antes de escrever as próximas linhas. Claro que, de cara, apoiaria uma devassa na já “privatizada” empresa de capital misto (em que o Estado só detém 38% de suas ações) e por extensão na política petrolífera entreguista iniciada por FHC em 1997 e seguida a risca, ao pé da letra, pelo governo do Sr. Luiz Inácio e seus miquinhos amestrados. A bem da verdade, pelo que vejo neste país em que você começa a ser roubado na administração do seu condomínio, apóio qualquer devassa. E dou razão sem medo de exagerar ao sábio Bezerra da Silva (que Deus o tenha): se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão. Mas nesse caso, gastei boas horas da minha vida para concluir que o Senado não tem autoridade moral para investigar ninguém e essa iniciativa só vai servir para sujeitar o governo ainda mais a canalhas, corruptos e chantagistas, que já puseram as unhas de fora antes mesmo de começar o espetáculo. Na minha avaliação, tocou-me a ausência da assinatura na petição da CPI do senador José Nery, do PSOL, partido que saiu da costela questionadora do PT. Da mesma forma, anotei pronunciamentos de patriotas dogmaticamente íntegras, como a médica Maria Augusta Itibiriçá Miranda, de 98 anos, presidente do MODECON – Movimento de Defesa da Economia Nacional, fundado por Barbosa Lima Sobrinho. Assim também me alimentaram o cérebro a assinatura e as denúncias posteriores de chantagem do senador Pedro Simon e o vai-não-vai do senador Cristóvão Buarque. O senador gaúcho é de uma espécie rara e em extinção na vida pública brasileira, mas resiste lá, firme e forte, dando aulas diárias aos brasileiros ainda não bolados por uns e outros. Já o senador pedetista (demitido do Ministério por Lula pelo DDD, quando petista de carteirinha) podia avaliar se se garante antes de tomar uma atitude. Apelações pueris Nessa nova batalha de Itararé, o feio (com cara de apelação rasteira) foi a munição usada pelos contrários à CPI, inclusive gente que sabe muito bem das práticas deletérias na mega-empresa estatal, algumas revelas por Cláudio Weber Abramo, da Transparência Brasil, e na Agência Nacional do Petróleo, onde, segundo a Associação dos Engenheiros da Petrobras, quem manda hoje em dia é a Halliburton, a petrolífera que encomendou a invasão do Iraque, presidida por muitos anos pelo pelo ex-vice-presidente norte-americano Dick Cheney. Essas práticas incluem doações imorais a ONGs amigas, como está na matéria da competente jornalista Maiá Menezes e seu colega Dimmi Amora, que O GLOBO publica neste domingo: a Petrobras repassou R$ 609 milhões, sem licitação, para financiar 1.100 contratos com ONGs, patrocínios, festas e congressos nos últimos 12 meses. Querer queimar a CPI com o argumento de que ela se destina à consumar a privatização da Petrobras e a entregar o óleo do pré-sal a multinacionais é desprezar a memória dos mais atentos. Desde a Lei 9478/97, o processo de privatização do petróleo foi deflagrado e até hoje o Sr. Luiz Inácio e seus miquinhos amestrados, inclusive dona Dilma Vana Rousseff Linhares, a adotaram com carinho e afeto. Lei entreguista intacta Tanto que permanece impávido, intacto e reluzente o generoso artigo 26 da ditosa Lei, no qual se lê textualmente: “A concessão implica, para o concessionário, a obrigação de explorar, por sua conta e risco e, em caso de êxito, produzir petróleo ou gás natural em determinado bloco, conferindo-lhe a propriedade desses bens, após extraídos, com os encargos relativos ao pagamento dos tributos incidentes e das participações legais ou contratuais correspondentes”. Mais infeliz e indigna ainda foi a desequilibrada verborragia do festejado sociólogo Emir Sader, que no começo da era Lula destilava amarguras em relação a ele, mas, de repente, tornou-se uma flama ardente aos seus pés. Para desqualificar a CPI, o inflamado arauto do palácio listou os epítetos negativos que pesam sobre cada um dos seus signatários: “o senador Artur Virgilio talvez estivesse tentando organizar sua defesa da acusação de envolvimento com prostituição infantil de que foi acusado ou preocupado em libertar o filho, preso por desacato e pornografia” E assim por diante: não poupou nem o senador Pedro Simon (Pobre a sociologia que não ensina quando o ânus não tem nada a ver com as calças). Senado sem moral Neste festival de aleivosias, medíocres e arrivistas estão jogando conversa fora. As excelências do Senado não querem nem por hipótese abrir a caixa preta da empresa, nem prestar serviço ao país com essa espetaculosa CPI de cartas marcadas, que está tirando o sono do sapo barbudo. AfinaI, com 13%, as ações da Petrobras são as mais importantes no peso do índice Bovespa. E qualquer fofoca mais apimentada contra ela vai atirar fezes no ventilador, afugentando esses investidores ainda acometidos do trauma do “subprime”, com as repercussões depressivas na já instável atividade do São Mercado. Mas os tucanos e os lobistas não precisam desse expediente para forçar o que já parece ser uma fatalidade, com a chancela do PT, para o qual a Petrobras é apenas um compensador “cabide”, à semelhança do que acomodou boa parte da oficialidade na época da ditadura: diferença apenas na garganta profunda dos abonados de hoje, especialistas em alquimias sofisticadas e subsídios dadivosos para ajudar correligionários com o uso de viciadas organizações não governamentais. Eu prefiro questionar a falta de autoridade moral do Senado para investigar qualquer coisa, até ladrões de galinhas. Além dos desvios de conduta notórios, que transformam em farra um orçamento de R$ 2,7 bilhões ( o orçamento do Congresso – R$ 6,28 bilhões é maior do que os de 8 Estados), o Senado é obsoleto e oferece o corpo de delito da falsa democracia, com seus suplentes sem votos em exercício, seu corporativismo delinqüente, o mandato de 8 anos. o voto duplo e outros ataques ao regime representativo. Fernando Collor de Melo, defenestrado da Presidência da República e cassado por corrupção com as calças arriadas e a mão no cofre, pode ser levado a sério como investigador da maior empresa da América Latina? Pois o bardo será um dos inquisidores, como peça do governo (meu Deus, onde chegou a decadência do PT) e já deu entrevista falando grosso. Mapa da mina Mal começou o circo, a camarilha sem vergonha do PMDB já pôs as mangas de fora e o governo de mãos ao alto: com o mapa da mina fornecido pelo especialista Severino Cavalcanti, para perfilar-se pianinho, quer de cara aquela diretoria que fura poço e acha petróleo”, ocupada pelo geólogo filo-petista Guilherme Estrela, a quem creditam os maiores méritos na arrojada descoberta de petróleo leve (top de linha) a 300 Km da costa fluminense e 6 Kms de profundidade, abaixo da camada de sal. Talvez sejam essas picaretas em poder dos canalhas paramentados que assustam a corte e afobam as corporações. A CPI numa casa de tolerância não vai chegar a lugar nenhum, mas, em compensação, oferecerá mais combustível para o assalto aos podres poderes, no que os tucanos agem como maliciosos parceiros dedicados à caterva de Sarney. Investigar a Petrobras é providência salutar, até profilática, mas fala sério, você pode confiar nessa turma da pesada? Nesse ponto, concordo com a dona Dilma: os técnicos do Tribunal de Contas e o Ministério Público seriam muito mais indicados para tal faxina. Conflito de mentirinha Temos então um quadro típico de fancaria. Os artífices da CPI sabem que não precisam dela para privatizar o que já foi privatizado com a transferência de boa parte das suas ações a preço de banana para a Bolsa de Nova York. Sabem que o novo modelo de marco regulatório concebido pelos miquinhos amestrados contempla a joint venture entre Petrobras e multinacionais, como acontece na Bolívia e nas operações fora do Brasil, deixando a união como poder concedente. Os generais do “Exército branco” governista, comandados pelo marechal Sarney, cujo recato sumiu no berço, querem mais picanha para seu churrasco. A parte do latifúndio que lhes coube no loteamento da Petrobras e da ANP promovido pelo sr. Luiz Inácio não os sacia diante da miragem argentária brotando do petróleo jorrando por todos os poros e para os bornais dos padrinhos das prebendas da área. Ambos os cordões buscam, em paralelo, incisivos e efusivos, uma oportunidade de tirar o Senado da lama em que se atolou diante do seriado de delitos que os transformou, junto com os demais colegas parlamentares, em ícones mal falados da fogosa e muito rendosa pouca vergonha tupiniquim. Senha dos propósitos Enquanto a farsa ensaia seus primeiros passos, o sr. Luiz Inácio vai costurando o novo modelo do marco regulatório do petróleo, cuja tendência, vale repetir, é terceirizar com maiores facilidades as jazidas profundas descobertas pelos competentes profissionais da Petrobras. Em mais de uma oportunidade, ele já deu a senha dos seus propósitos e só o rebanho estrábico de aspirantes a qualquer coisa nos podres poderes faz de conta que não vê. Ou você não alcança os recados contidos nos seguintes pronunciamentos da boca do sr. Presidente? “A Petrobras, aos poucos, vai se transformando mais do que numa empresa de petróleo. E todo mundo que é muito grande e importante, às vezes, esnoba um pouco". "A Petrobras é tão grande, tem tanto dinheiro, que de vez em quando eu digo ao José Sergio Gabrielli que a gente vai eleger o presidente da Petrobras e ele indica o presidente da República, ao invés de eu indicar o presidente da Petrobras." (20 de agosto de 2008, no porto do Pecém, Ceará). “Eu quero dizer para vocês, companheiros da direção da Petrobras, o meu orgulho de ter vocês como parceiros. Eu poderia falar orgulho de ter vocês como subordinados. Mas (dirigindo-se à platéia), eles não obedecem”. “A gente define as coisas com eles e aí passam três meses e, acontece? Não. A máquina é poderosa, mas aos poucos a gente vai compartilhando o enquadramento e fazendo com que a Petrobras perceba que ela é que é do Brasil, e não o Brasil que é dela. Ela vai percebendo aos poucos que o Brasil é maior do que ela, é mais importante e que ela só existe porque antes dela existia o Brasil”. (1 de maio de 2009, na festa do pré-sal). "Quando falamos em empresa estatal, nós não queremos criar uma outra Petrobras. Na verdade, é outra coisa, parecida com o que acontece na Noruega. É um fundo, uma pequena empresa, que na Noruega deve ter 60 funcionários, que é o Estado cuidando do petróleo" (17 de setembro de 2008, na inauguração do pólo naval do Sul). Conclusões finais Temos então para efeito de raciocínio dos que não têm rabos presos e não são metamorfoses ambulantes as seguintes primeiras anotações: 1. A Petrobras é intocável, suas administrações, não. Sua diretoria, a da ANP e as das subsidiárias não podiam ter sido loteadas. Todas abusaram das compras superfaturadas sem licitação (ver CLÁUDIO WEBER ABRAMO (DINHEIRO SEM LICITAÇÃO E DINHEIRO DEMAIS SEM CONCORRÊNCIA) além de favorecer ONGs amigas, com determinados patrocínios (de "cursos profissionais" do interesses de políticos do PT). 2. A política petrolífera do governo petista é igual, sem tirar, nem por, a dos tucanos. Desafio a que me demonstrem o contrário. A prova maior é a permanência na íntegra da Lei 9478/97, que revogou a sofrida Lei 2004/53, acabou com o monopólio estatal do petróleo e autorizou os leilões de blocos de petróleo descobertos pela Petrobras, procedimento adotado inclusive pela diva Dilma Rousseff, quando à frente do Ministério de Minas e Energia. 3. Portanto é bobagem e má fé primária falar em conspiração tucana para privatizar a Petrobras. O acordo nesse sentido está sendo levado na prática, segundo as possibilidades estratégicas e as suscetibilidades sociais, com o aval dessa elite política que, em matéria de pragmatismo em causa própria, fala a mesma língua. 4. Historicamente, desde a fundação, a palavra NACIONALISMO é um termo "jurássico" que inexiste no dicionário da dupla social-democrática neo-liberal (PSDB e PT) e talvez tenha sido definitivamente sepultado com o enterro de Leonel Brizola que, emblematicamente, morreu no ano 2004, o número da Lei que contribuiu para levar seu líder Getúlio Vargas ao suicídio. 5. É necessária uma auditoria honesta nos gastos da Petrobras, sem o que a própria exploração do pré-sal poderá ser inviabilizada. A extração desse petróleo está saindo US$ 30,00 por barril, contra os US$ 7,50 gastos hoje pela estatal nos poços mais rasos. Ambos podem custar menos, desde que haja mais rigor, mais competência e maiores critérios. 6. Quanto maior a expectativa de reservas, mais importante para a própria segurança nacional a preservação da empresa com no mínimo 51% do capital na mão do Estado brasileiro. Já que estão ouriçadas, as influentes entidades sindicais e profissionais deviam aproveitar o momento para exigir a revisão da Lei do Petróleo, livrando nossa principal fonte de energia da bem-sucedida cobiça externa. 8. Providência importante será livrar-nos dos entreguistas da Agência Nacional do Petróleo, inclusive o “comunista” Haroldo Lima, defensor ardoroso dos leilões de entrega (quem diria?), retirando igualmente o controle que a Halliburton, através da sua subsidiária no Brasil, Landmark Digital and Consulting Solutions, assumiu sem licitação sobre o Banco de Dados de Exploração e Produção (BDEP), da ANP. Além de receber R$ 600.000,00 mensais pelo uso do mapa da mina, a voraz petrolífera norte-americana conta na diretoria da agência reguladora com um ex-empregado, o super Nelson Narciso, que, não faz muito, com o apoio do presidente Haroldo Lima (PC do B) e do colega do PT, o irmão do Franklin Martins trouxe para seu controle a SDB - Superintendência de Definição de Blocos que vão a leilão. 9. Finalmente, é preciso que todos os brasileiros – independente de filiações partidárias – repudiem esses senadores desmoralizados na tentativa de chantagearem o já moralmente enfraquecido governo do Sr. Luiz Inácio. Assim, concluo que essa CPI de chantagens é mais nociva do que benéfica para o Brasil, independente do Sr. Luiz Inácio estar com as barbas de molho e com a adrenalina na estratosfera. coluna@pedroporfirio.com

domingo, 17 de maio de 2009

A caminho do terceiro mandato, porque ele é o cara

“O grande líder da esquerda brasileira costuma se esquecer, por exemplo, de que esteve recebendo lições de sindicalismo da Johns Hopkins University, nos Estados Unidos, ali por 1972, 1973, como vim a saber lá, um dia. Na universidade americana, até hoje, todos se lembram de um certo Lula com enorme carinho”. Mário Garnero – “Jogo Sujo”, página 130. Quando Leonel Brizola morreu, naquela tarde fria de junho de 2004, o príncipe operário teve uma certa sensação de alívio. O velho caudilho estava no seu pé e podia ser uma a alternativa contra seus planos continuístas. Hoje, na antevéspera da sucessão e na plenitude dos seus 64 anos, Luiz Inácio bem que pode se postar diante do espelho, com a madame ao lado, e perguntar: - Dizei espelho meu, haverá alguém para presidente que não seja eu? Treinando nas melhores escolas políticas do sistema internacional – inclusive na Johns Hopkings University – Lula não tem similares, nem genéricos. No sindicalismo e no seu alcunhado Partido dos Trabalhadores, costurou tudo conforme o figurino para não ter sombra. E não tem mesmo. É ele ou ele. Gaiola de deslumbrados Seu primeiro escalão é formado por uma gaiola de deslumbrados medíocres e desconhecidos, que ou não têm voto, ou não têm preparo, ou não têm caráter,ou não têm as três coisas somadas. Seus parlamentares são tão fracos que são os arrivistas do PMDB – e até o demonizado senador Fernando Collor – quem livra a sua cara naquele valhacouto desmoralizado que o vulgo denomina Congresso. Bucha de canhão Não foi difícil jogar a dona Dilma Vana Rousseff Linhares como balão de ensaio. Nela, como em outros de sua casta, do tipo Carlos Minc Baumfeld, o venezuelano Teodoro Petkoff e o peruano Hugo Blanco, falou mais alto o sangue azul. O estigma de sua ficha juvenil e sua antipatia atávica estão na fórmula de uma alquimia manipulada. A ministra tem até a simpatia do sistema, conquistada desde quando assimilou os tais leilões de nossas jazidas petrolíferas, cristalizados pela intocável Lei 9478/97, com a qual FHC liquidou com os parâmetros de soberania sobre o subsolo, garantida até então pela revogada Lei 2004/53, um dos ingredientes que levaram à nossa pujança energética e ao suicídio do presidente Getúlio Vargas. Brizola para atrás Para as pessoas de memória ela também padece da síndrome da traição. Saiu do anonimato pelas mãos de Brizola e Alceu Collares, quando ainda era casada com Carlos Araújo, parceiro na “luta armada” e ex-deputado estadual pelo PDT. Quando o caudilho cansou das rasteiras do Olívio Durtra e saiu fora do seu governo, no Rio Grande do Sul, ela não quis largar a Secretaria de Minas e Energia, da qual era titular, como foi também no governo de Collares. E entrou no bloco dos traidores de Brizola, juntamente com o próprio filho do homem, o trêfego José Vicente Brizola, o velho trabalhista Sereno Chaise, a bela ex-senadora Emília Fernandes e Milton Zuanazzi, amigão e ex-protegido da ministra. Dilma é, portanto, uma bucha de pelúcia. Enquanto o país inteiro oferece sua ternura na luta contra o câncer linfático, o mesmo que matou o ex-ministro Dilson Funaro, as peças do “terceiro mandato” vão sendo meticulosamente montadas com a ajuda de caras de pau do tipo Fernando Collor de Mello. Sem adversários A seu favor conta ainda o desgaste dos cabeças oposicionistas, que não têm mais gás nem para decolar e, como a raposada do PMDB e a rapaziada da esquerda nanica, vão tentar manter ou ganhar as boas prebendas nos governos estaduais e nisso que chamam de Poder Legislativo. Ou você acha que José Serra teria alguma chance de derrotar o príncipe operário, caso ele arranque uma emenda “salvadora”, sem plebiscito (como o Chávez) e, naturalmente, segundo os mesmos métodos do FHC, quando arrancou sua reeleição na euforia do “Plano Real”. A tropa de choque Para ganhar os três quintos do Congresso na hora em que botar as manguinhas de fora, Lula disporá de uma tropa de choque prá lá de escolada: José Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá, Michel Temer, Henrique Alves, sem esquecer a bancada ruralista, o quindim do agronegócio com tratamento vip do palácio; a evangélica, os nanicos da esquerda e o populoso “baixo clero”. Provavelmente, não terá dificuldade com a grande mídia, que anda mal das pernas, mas se tiver não haverá problema: a massa do bolsa-família, os abnegados pelegos sindicais e os “aparelhos estudantis” ajudarão. Quem não tiver gente para pôr na rua, falará pela mídia ou poderá dedicar-se ao obsequioso silêncio dos cínicos de barriga cheia. Simpatia é quase amor O mais importante, o príncipe operário já conquistou: Barack Obama, o presidente da irmã-tutora, já deu a senha: “Lula é o cara, o político mais popular do mundo”. Por lá, eles sabem que ninguém faz melhor o meio de campo nesse prado “ameaçado” pela praga do Chávez, Evo Morales, Rafael Caldera e Daniel Ortega. Para os patrões do mundo, se Lula desse a terceira, estaria facilitando o lado do aliado de todas as horas, Álvaro Uribe Velez, que já está mexendo seus pauzinhos na Colômbia. A lógica do direito Dito isso, devo lhe confessar que sou inteiramente a favor do fim das restrições à reeleição. Não nas bases em que montaram no Brasil, com o chefe do Executivo disputando no cargo, tendo a seu dispor máquina azeitada e visibilidade privilegiada. Mas, por mais que o estômago grite, não vejo essa questão em função do deserto de homens e idéias reinante, graças ao qual quem tem um olho é rei. Vejo pela lógica do direito: ou não tem reeleição, ou não tem limite. Roosevelt mudou o jogo Lá, nos Estados Unidos, cuja democracia é matriz para o mundo ocidental e cristão, tal como escreveu, em 1835, o visconde Alexis de Tocqueville, a limitação a uma única reeleição só aconteceu depois que Franklin Roosevelt foi eleito quatro vezes e não ficou mais porque morreu no cargo. Na França, cujo presidente já tem um mandato de 7 anos, também não há limites. Na Inglaterra, como nos regimes parlamentares, o premier pode ficar por tempo indeterminado. Como você vê, embora considere esse modelo brasileiro de reeleição um grande eufemismo comprometido ainda mais por essas urnas “secretas” e inauditáveis, não acho que o chefe do Poder Executivo seja diferente do chefe do Poder Judiciário e dos eleitos para o Congresso. Ou é para todos ou para ninguém Do ponto de vista da lógica do direito, repito, não podemos aceeitar três pesos e três medidas: ou ninguém pode ser reeleito (nem os deputados, como no Senado do México, onde um parlamentar não pode ser reeleito no período seguinte), ou os ministros e desembargadores do Poder Judiciário ganham limites em seus seus mandatos eternos( Em 41 Estados norte-americanos e em países como a Suiça os juizes são eleitos por um determinado período), ou então libere-se desses limites o presidente, governadores e prefeitos. O direito à reeleição, em condições decentes não representa necessariamente a reeleição automática. Até pelo que vige hoje tem havido surpresas. O melhor governador do Ceará nos últimos anos, Lúcio Alcântara, levou uma pernada do Tasso Jereissati, oligarca moderno, e não foi além do primeiro mandato, perdendo para alguém que era apenas o irmão do mais famoso da família Gomes. Bem, vou ficando por aqui. A essa altura, vou terminar esse escrito almaldiçoado por gregos e troianos. Mas esta é minah sina, pela coerência jurássica, da qual não abro mão, nem que macacos me mordam. coluna@pedroporfirio.com

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Prédio da Manchete é arrematado, mas o governo fura a fila e passa os trabalhadores para atrás

"Ressalvada, a partir de 2 de janeiro de 1958, a preferência dos créditos dos empregados, por salários e indenizações trabalhistas, sobre cuja legitimidade não haja dúvida, ou quando houver, em conformidade com a decisão que for proferida na Justiça do Trabalho, e, depois deles, a preferência dos credores por encargos ou dívidas da massa (art. 124), a classificação dos créditos, na falência, obedece à seguinte ordem..." Artigo 102 do Decreto-Lei 7661/45 - antiga Lei de Falências. Uma empresa do Espírito Santo arrematou o prédio da antiga Rede Manchete, pertencente à massa falida do grupo Bloch Editores. O imóvel está localizado na Rua do Russel, na Glória, Zona Sul do Rio de Janeiro e inicialmente estava avaliado em R$ 41.746.419,00. Para levar o edifício, a capixaba Victória Vix, Serviços e Transporte bateu o martelo em R$ 65 milhões. Feito o depósito do dinheiro, vai começar um novo capítulo de uma novela que se arrasta por 9 anos: o governo do sr. Luiz Inácio, através da Procuradoria da Fazenda, furou a fila da antiga Lei de Falências e passou os trabalhadores para trás, no que contou com uma ágil decisão da 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. O leilão aconteceu no final da tarde desta terça-feira (12).A quantia foi uma surpresa para os credores, que não esperavam tanto. A empresa, ao fim do pregão, deu um sinal de 20%. Mas para concretizar o negócio, a empresa terá 72 horas para depositar o restante do valor para a venda ser homologada pela juíza Maria da Penha Victorino, da 5ª Vara Empresarial do Rio. Do total que foi arrecadado com o leilão, R$ 25 milhões ficarão reservados para cobrir débitos da Bloch com a Fazenda Nacional, já que a editora não repassou à União os descontos feitos nos contracheques dos empregados. O restante do dinheiro será destinado para pagar dívidas trabalhistas a cerca de três mil pessoas. De acordo com a Comissão dos ex-Empregados da Bloch, seriam necessários hoje R$ 60 milhões para quitar o débito, de acordo com o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. A capixaba não foi a única que participou da disputa pelo prédio. Outras seis empresas se habilitaram para participar do pregão. Além do lance da Victória Vix, o imóvel obteve mais duas ofertas: uma de R$ 64,5 milhões e outra de R$ 61 milhões. Caso a vencedora não deposite o valor dentro do prazo, será chamada a segunda colocada e assim sucessivamente. Terceiro leilão Esta foi a terceira tentativa de se leiloar o conjunto de três prédios, localizado em área valorizada do Rio. No primeiro pregão, em 2007, o valor oferecido pela Universidade Salgado de Oliveira - Universo -, inquilina do imóvel desde 2004, foi considerado baixo. Seus R$ 27 milhões num único lance pareciam parte de um jogo de cartas marcadas. No segundo, em setembro de 2008, ninguém apareceu para fazer lance. A Bloch Editores abriu falência em 2000. Em 2005, a juíza Maria da Penha Victorino, passou a aplicar no processo a nova Lei de Falências, para acelerar o pagamento das dívidas trabalhistas dos antigos funcionários da empresa. Começaram, então, a venda dos bens da massa falida e o pagamento das indenizações. Frase de hoje "Sou obrigado a reconhecer que, com toda a corrupção que teve de um tempo para cá, o que encontramos no governo Collor nós deveríamos ter enviado para o juizado de pequenas causas". Senador Pedro Simon

Para que o leilão pague a quem de direito

Numa das reuniões que participei junto com o pessoal da Bloch
Texto da minha coluna na TRIBUNA DA IMPRENSA de 29 de agosto de 2008
“Com a decisão do Tribunal de Justiça, outros credores federais, como o INSS, certamente exigirão seus créditos. Como a massa falida não tem bens suficientes para cobrir todas as dívidas, existe o risco de tanto os credores federais quanto os ex-empregados não receberem o que lhes é devido”. José Carlos de Jesus, presidente da Comissão de Ex-empregados da Bloch.
Para início de conversa, uma patética constatação: é difícil afirmar se para os cidadãos brasileiros essa Justiça que está aí cumpre seu papel segundo a presunção etimológica do seu garboso enunciado. Justiça, tal como se ouve falar na inocência dos bancos escolares, é uma senhora que se apresenta de olhos vendados sem que ninguém tenha tido o trabalho de ver se não está em farrapos. Antes de ser uma olímpica estrela institucional, uma fortaleza do bem, essa Justiça que temos é, de fato e tão somente, a redoma dos senhores incontestáveis da Lei, que a interpretam e a executam ao seu alvedrio, muitas vezes, na contra-mão de direitos evidentes. Isto pelo chumbo grosso que blinda a toga, incluindo a garantia da eternidade no cargo, concedida a todos os magistrados, inclusive aos que a ele chegam por indicação de terceiros ou nomeação do chefe do Executivo. Não é por acaso que são do Judiciário as grandes obras faraônicas que exibem fachadas suntuosas, enquanto suas prateleiras são abarrotadas por pastas robustas de um papelório estéril, que se traduzem em números melancólicos: 43 milhões de processos emperrados como corpo de delito da arrogância e do grande desprezo pelos cidadãos. Cheiro da frustração Faço essa preliminar para registrar mais uma vez o cheiro mórbido da amarga frustração no processo de falência da Bloch, que se arrasta por sofridos 8 anos, apesar da lisura da juíza Maria da Penha Victorino, da 5ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, e do Ministério Público. Nem mesmo quando um juiz de primeira instância age com seriedade, competência e lucidez a Justiça cumpre sua parte. Por cima e ao lado dela, há outras instâncias onde o mesmo sentimento inexiste. Foi o que aconteceu com a absurda decisão da 3ª Câmara Cível, em face da interpretação de um desembargador que decidiu ao arrepio do Decreto-Lei 7661, publicado em 21 de junho de 1945, no crepúsculo da ditadura do Estado Novo, que prevaleceu por exatos 60 anos como a legislação de falências e concordatas. Nessa peça legal, seu artigo 102 não deixa dúvida nem para os freqüentadores dessas faculdades de araque: É GARANTIDA “A PREFERÊNCIA DOS CRÉDITOS DOS EMPREGADOS, POR SALÁRIOS E INDENIZAÇÕES TRABALHISTAS, SOBRE CUJA LEGITIMIDADE NÃO HAJA DÚVIDA, OU QUANDO HOUVER, EM CONFORMIDADE COM A DECISÃO QUE FOR PROFERIDA NA JUSTIÇA DO TRABALHO”. No entanto, para a surpresa de alguns advogados, a 3ª Câmara sobrepôs aos créditos trabalhistas o interesse do Governo Federal, que não poderia nem ter sido pleiteado, assegurando o pagamento em primeiro lugar do imposto de renda recolhido e não repassado aos cofres públicos. Tal entendimento foi confirmado agora, neste julho cinzento, depois da decisão da juíza Maria da Penha, determinando um novo rateio de R$ 3.000,00 entre a parcela já habilitada dos 2.822 ex-empregados, muitos de cabelos brancos, que hoje vivem a pão e água na mais deprimente das ironias: houvesse o mínimo de sensatez, o patrimônio do Grupo Bloch daria para honrar todo o seu passivo, principalmente os R$ 50 milhões de créditos trabalhistas. Depois dessa, ninguém sabe mais o que pode acontecer, tal a fatalidade do axioma “cada cabeça uma sentença”. Mais uma vez, por instância da OAB do Rio de Janeiro e até com a anuência do relator da 3 ª Câmara Civil, o imbróglio foi levado ao ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que, no exercício de suas responsabilidades, está trabalhando para que a Procuradoria do Ministério da Fazenda refaça sua intervenção, em prejuízo dos elementares direitos previstos em Lei. Isto porque, no limiar da estação das flores, o belíssimo e confortável prédio da Rua do Russel, obra do genial Niemeyer, irá mais uma vez a leilão, com o preço mínimo de R$ 40 milhões. Há uma grande expectativa de que o imóvel seja arrematado até por mais no pregão do próximo dia 17. Mas quem receberá o produto dessa venda, que já acontece com um atraso imperdoável? Se até a terceira quarta-feira de setembro o Ministério da Fazenda não mudar seu entendimento, o leilão se realizará, mas poderá prolongar por outros tantos anos a infindável batalha judicial, enquanto trabalhadores de uma corporação que envelheceu junta vão continuar à margem daquilo que é um direito líquido e certo. Sob esse aspecto, pelo que ouvi dos ex-colegas da Bloch, o próprio desembargador que puxou a decisão reconhece a gravidade do caso e pode reavaliar sua decisão, desde que o Ministério da Fazenda compreenda a urgência do reconhecimento do crédito trabalhista, na forma da Lei e segundo a exegese constitucional mais afinada com a doutrina e a jurisprudência. Um ramo crítico No caso dos ex-empregados da Bloch Editores, há que considerar a própria natureza de uma atividade com um perfil crítico. O mercado gráfico tem sido achatado em função dos custos, principalmente de papel, e do desenvolvimento tecnológico, que eliminou boa parte da mão de obra. No âmbito da comunicação, a mídia eletrônica e a internet têm produzido efeitos tão acachapantes que a sobrevivência de um jornal resulta antes de tudo da obstinação de seus titulares e da sobrevivência de um certo espírito público entre os profissionais. A massa de trabalhadores da Bloch foi alcançada por um turbilhão que deixou a quase totalidade dos seus integrantes sem alternativas no âmbito de sua especialidade. Juntar a essa tragédia a privação das verbas indenizatórias no caso de uma falência irreversível é demonstrar o covarde predomínio da insensatez e da insensibilidade social. Se o governo federal quiser, se o esforço pessoal do Ministro Carlos Lupi produzir frutos, se a Justiça entender o drama com a mesma visão lúcida da juíza Maria da Penha Victorino, ainda será possível minorar o sofrimento de tantas famílias. Do contrário, o caso da Bloch continuará em exibição na tela da desesperança que nos deixa tomados pela mais sôfrega indignação. O Leilão do Prédio do Russel, onde o presidente Juscelino Kubitscheck viveu sua última labuta, será na quarta-feira, 17 de setembro de 2008. Que essa data esteja à altura da história de um país onde um dia a força de trabalho gozava de respeito. coluna@pedroporfirio.com

sábado, 9 de maio de 2009

Já temos a gripe, mas entre mortos e feridos salvaram-se todos

Temporão abre o jogo: governo tem estoque de Tamiflu, o tal, para atender a 9 milhões de pessoas.
O governo brasileiro está em estado de êxtase. Apareceram os primeiros cinco portadores da gripe suína, todos fora de perigo, graças à “eficiência recordista” do nosso sistema oficial de saúde. O mais famoso é um jovem carioca, com febre baixa, que, meio a contragosto, viu pintar o seu minuto de celebridade. O rapaz não estava nem aí, depois de chegar de Cancun, na manhã de sábado. Tanto que à noite caiu na gandaia com a sua turma, numa boate da Zona Norte. No domingo estava a mil, como bom torcedor, vendo com os amigos a eletrizante vitória com que o Flamengo ganhou a taça do estadual carioca. Na segunda, já havia um tititi sobre os visitantes do México e de alguns Estados norte-americanos. Ele não era o único. No seu grupo, reunido pelo Iate Clube Jardim Guanabara, outros 99 foram participar da Copa do Caribe no badalado balneário mexicano. Segundo o comodoro do clube, José Moraes, os brasileiros nesse evento somaram 800, de várias cidades brasileiras. Mas a síndrome do japonês, que se sentiu culpado pela bomba atômica por ter dado descarga na hora que o oficial norte-americano disparou o petardo, desceu sobre o rapaz. Ele não queria ser responsabilizado pelo rastilho da pólvora suína. E, ao primeiro espirro, foi tratar de pôr os pingos nos is. A paranóia pós-Cancun Primeiro bateu às portas de uma clínica particular. Mas, você sabe, plano de saúde tem horror de internação. Por mais que ele insistisse, o termômetro ofereceu o álibi: sua febre estava na casa dos 37 graus. E aí, paciência, o catálogo da gripe badalada partia de 38. Para os médicos privados, sua gripe não passava nem perto da H1N1. Com o noticiário alarmista da “iminente” pandemia azucrinando meio mundo, ele não conseguia dormir. E não era para menos: numa escola do Rio, os pais fizeram abaixo-assinado, exigindo a suspensão de uma menina que andou por aquelas bandas recentemente, embora ela não estivesse nem espirrando. Diante de tanta pressão psicológica, o jovem carioca decidiu voltar à carga. Alegando sentir-se culpado por relacionar-se depois de ter ido a Cancun, foi outra vez em busca do ser o não ser uma ameaça à comunidade. Dessa vez, recorreu ao Hospital Universitário do Fundão e apelou: pelo amor de Deus, esclareçam isso de uma vez que eu já não suporto tanta cobrança. Com ele, estavam dois amigos, que também ficaram internados, monitorados naquele clima de programa de proteção às testemunhas. Coube ao viajante a primazia do primeiro diagnóstico, no qual se constatou o virus H1N1, embora a sua febre não tenha nem beirado os 38 graus. Com todos os holofotes na porta do hospital da UFRJ, que até há pouco não ia bem das pernas, os médicos trataram de baixar a bola. A infectologista Regina Moreira, que o atendeu, declarou com todas as letras ao RJTV: - O paciente passou a noite muito bem. Ele não está com febre e está melhorando dos sintomas. Na verdade, ele nem teria indicação de ser internado pelo que ele está enfrentando. Ele vai continuar internado para evitar o contágio por outras pessoas. Já o pai do rapaz foi ainda mais claro, em entrevista ao jornal EXTRA: - Está tudo bem. Ele não corre risco nenhum, está sem febre. Ele falou comigo que não teve nenhum problema. A febre dele só chegou a 37, não chegou nem a 38. Ele só está tossindo de vez em quando, só uma febrezinha - disse. Quer Tamiflu, tome! Em São Paulo, os dois paulistas infectados foram mais radicais. Recusaram a internação, assinaram um termo de responsabilidade e se mandaram. Depois, o doutor Luiz Inácio, que estava acompanhado do bispo garanhão, quer dizer, do presidente do Paraguai, informou que eles e o de Minas “já estão curados”. É isso mesmo. O tratamento no Brasil funciona como carga rápida de bateria. A cura é sumária. Tanto que a menina que veio da Flórida e foi internada dia 4 em Florianópolis já recebeu alta e está com suas bonecas e o carinho dos país. Carinho dos pais? Engraçado, como no México, a gripe pode ser suína, mas não tem espírito de porco. Tanto que poupa os familiares. O carioca que teria contaminado aqui agiu como amigo da onça, já que sua mãe e o pessoal de casa, como disse o pai, vão bem, obrigado. Não precisaram nem ser examinados: nestes tempos em que o celular é o presente preferido de cada 9 entre 10 estrelas do lar, os familiares estão sendo monitorados por telefone. Como eu já havia dito antes, arriscando 48 anos de reputação profissional, essa gripe é uma grande farsa para desencalhar o Tamiflu (Leia-se tamosfu, royalties para o meu amigo, professor Jileno). Foi o que confirmou com a discrição proposital o simpático ministro José Gomes Temporão, numa linha perdida da página 24 do GLOBO desta sexta-feira: - O país tem estoque de Tamiflu, o medicamento indicado pela OMS, para atender a 9 milhões de pessoas. Não precisa ser médico ou estatístico para imaginar o volume estocado, desde a importação determinada ao governo do sr. Luiz Inácio pelo então secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, presidente do laboratório Gilead Aciences Inc, que comprou a patente do Tamiflu em 1996 e depois negociou sua produção pelo Roche, que ganhou rios de dinheiros com esse fármaco: só com sua venda, o laboratório aumentou o faturamento de US$ 254 milhões, em 2004, para mais de US $ 1 bilhão, em 2005, ano em que o ministro-empresário bateu o martelo do “ou dá ou desce” para 72 países satélites. Alarmistas falam de vírus cruzados Enquanto isso, cientistas sensacionalistas, desses que são adorados pela indústria farmacêutica, lançam uma nova ameaça no ar para não deixar ninguém dormir. Eles antevêem um cruzamento entre os vírus das gripes suína (a da moda) e aviária (que estava dormindo). É o que poderá ser manchete na mídia deste sábado: “Muitos cientistas temem, no entanto, que os dois vírus se encontrem - possivelmente na Ásia, onde a gripe aviária é endêmica - e se combinem em uma nova variação altamente contagiosa e letal e se espalhe pelo mundo. Apesar de não se saber qual a probabilidade de que isso ocorra, cientistas chamam atenção para o fato de que a nova cepa de gripe suína - uma combinação de vírus humanos, aviários e suínos - já mostrou que pode se apropriar de material genético que favoreça sua evolução”. Para atenuar o trauma que atinge aos 110 milhões de mexicanos e evitar o incremento da migração para os Estados Unidos, Washington divulgou que já ultrapassou seus vizinhos com um escore de 1639 a 1364, informando que já se registram casos em 41 estados. Em número de óbitos, os norte-americanos falaram que uma mulher é a segunda vítima, mas depois disseram que ela já sofria de outras doenças, não se podendo atestar a causa mortis com segurança. Essa gripe ao gosto do freguês ainda vai vitimar muita gente do outro lado da mesa. É que os autores da tramóia não contavam com a astúcia de alguns cidadãos ainda independentes, os quais desvendaram a charada antes da mesa posta. Agente duplo da “pandemia” Um verdadeiro inventário, enviado pela organização PRO MUNDI me deixou perplexo sobre o nível da audácia dos interesses econômicos, em conluio com governos inescrupulosos, que agem como caixeiros viajantes de seus empresários e não fazem nenhuma separação entre o público e o privado. O relato mostra uma relação entre a visita de Zarkozi ao México, no dia 9 de março, o anúncio de um investimento de 100 milhões de euros para a construção de um laboratório especializado na produção de vacina contra “influenza” e os acontecimentos que culminaram com o disseminação da gripe suína, no final de abril. Há um filme, que já postei no meu blog PORFÍRIO LIVRE, no qual o cientista Leonard Horowitz conta toda a trama, envolvendo uma rede norte-americana de engenheiros genéticos, que levou a níveis récordes, a partir das mortes no México, as ações do laboratório Novavax, de Mayland. Em seu relato, que você não pode deixar de ver, ele acusa esse laboratório de produzir o virus da gripe para depois vender a vacina. E o faz com detalhes chocantes. Pelo que entendi, a pressa em desencalhar o Tamiflu está relacionada com a ação de laboratários concorrentes, dos Estados Unidos e da Europa. É uma guerra mais suja do que qualquer outra já travada com o uso de tanques e fuzis. Quando me exponho na convicção de que estamos diante de um grande teatro, sei do risco que corro, mas já vi esse filme antes. Afinal, como relata o Promundi, “sabemos que a influenza mata ao redor de189 pessoas por semana, no Peru. Que a influenza mata, por ano, nos Estados Unidos, pelo menos 30.000 pessoas, o que significa que mata 82 pessoas por dia”. Para finalizar por hoje, chamo sua atenção para o comentário de Bruno Xavier, brasileiro que está concluindo o curso de Phd na área de biotecnologia na Universidade de Ithaca, Nova York. Ele mostra como o megatrilionário norte-americano Warren Buffet, segunda maior fortuna do seu país, pretende ganhar muita grana fazendo seguro da gripe suína. Por hoje é só. Mas acho que ainda voltarei ao assunto. coluna@pedroporfirio.com Você já conhece o Instituto João Goulart? Dê uma passada no seu site http://www.institutojoaogoulart.org.br/index.php

quinta-feira, 7 de maio de 2009

O mal que nos fez a quinta coluna sionista

O Irã tem uma representação de católicos e judeus em seu parlamento maior que a proporção desses grupos na população. Isso os sionistas escondem.
“O Irã é um grande país, que indiscutivelmente tem papel no Oriente Médio e é um parceiro. E, se com cada país com que discordamos de alguma coisa, não pudermos aceitar visitante aqui, vai ficar muito difícil, não vamos receber ninguém". Celso Amorim, chanceler brasileiro.
"O Irã tem o maior mercado consumidor do Oriente Médio, cerca de 70 milhões contra aproximadamente 30 milhões que correspondem aos vizinhos juntos. Trabalhamos, atualmente, para que ele aumente os investimentos no Brasil (em 2007, por exemplo, o Irã teria investido US$ 6 bilhões na Venezuela, um país com mais riscos e oportunidades menores que o Brasil) para que os brasileiros possam agir com reciprocidade, voltando mais suas atenções às relações econômicas bilaterais”. Farrokh Faradji Chadan, vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil – Irã "O Irã é um país de grande relevância na região, com crescimento constante de 5,5% em média nos últimos 20 anos, que vem fazendo grande esforço de industrialização”. Roberto Jaguaribe, subsecretário-geral de Política do Ministério das Relações Exteriores.
Desde quando, quase menino, abri os olhos para o mundo, no meu pré-carcere - o ginásio salesiano de Baturité, certos fatos da história me pareciam mal contados. Um deles foi a perseguição do regime nazista aos judeus, os campos de concentração que, apesar da brutalidade conhecida, não eram questionados pelo povo alemão. Antes, parecia-me, tal repressão contra aquele povo, que passou por outros sofrimentos na Europa, em épocas diferentes, parecia ser um trunfo político do ditador. A imposição do Estado de Israel e o tratamento cruel infringido aos donos da terra ocupada serviram para me dissipar algumas dúvidas. De imediato, concluí que o confronto Hitler X Judeus era “briga de cachorro grande”. E não há nada que a história escrita pelos vencedores tenha atribuído ao chefe nazista que hoje não estejamos vendo ao vivo e a cores, em tempo real, no território em que os judeus montaram o seu estado racial. Dessa vez, os algozes são descendentes e patrícios das vítimas d’antão. Mas ao abrir minha grande angular alcanço um conjunto de imagens que projetam as práticas desses algozes d’agora em posturas tão intransigentes e tão intolerantes que parecem explicar séculos de rejeição e confrontos pelo mundo. Israel acima de tudo O que aconteceu nessa pressão orquestrada contra a visita ao Brasil do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, foi uma demonstração de que certos líderes da colônia judaica não relutam em se posicionar como verdadeiros “quintas colunas” a serviço de Israel, sua verdadeira pátria, embora recebam de todos os brasileiros o mais fraternal dos tratamentos. Embora muito bem posicionados na atividade empresarial brasileira, embora ninguém tenha questionado o envio para Israel de milhões de pepitas amealhadas em seus prósperos negócios entre nós, esses grupos influentes na colônia não abrem mão de importar para o nosso país o contencioso de ódio e intolerância brotados pelo Estado sionista, que perdeu a autoridade de falar em holocausto a partir do momento em que submete a extermínios programados – como o de Gaza – milhares de cidadãos castigados por serem palestinos e desejarem o respeito a seus direitos milenares. Ao jogarem todas as suas cartas para impedir a presença de um chefe de Estado com o qual o Brasil mantém relações diplomáticas regulares, cujo país oferece boas alternativas para o incremento dos nossos interesses no Oriente Médio, os judeus sionistas extrapolaram e deixaram o próprio presidente Luiz Inácio numa desconfortável saia justa. Seguindo a mesma estratégia dos tempos de Delfim Neto – exportar é o que importa – o presidente brasileiro tem baixado em países de todos os continentes, independente de suas situações internas, num pragmatismo hoje muito usual em todos o mundo. É, portanto, natural que ele também receba aqui os representantes dos governos estrangeiros, mesmo que não motivado por expectativas de novos negócios. Nenhum outro país tem direito de meter o bedelho nas relações do Brasil com o mundo, a menos que o governo tenha rabo preso e aceite reprimendas e boicotes em flagrante violação do direito internacional e da soberania nacional. Uma proveitosa parceria A prática de Israel se imiscuir nos nossos assuntos em relação ao Irã não começou com essa articulação que tornou desconfortável a visita do presidente do MAIOR PARCEIRO COMERCIAL DO BRASIL NO ORIENTE MÉDIO. Em outubro do ano passado, quando o chanceler Celso Amorim fazia as malas para ir ao Irã, a embaixadora de Israel em Brasília, Tzipora Rimon, foi ao seu encontro para transmitir o repúdio do seu governo a essa visita. Desde então, como ficou acertada a vinda do presidente iraniano agora em maio, a central sionista armou uma teia internacional para impedir a visita, capitaneada pelos judeus dos Estados Unidos. Em Washington, o lobby sionista teve seu maior expoente no deputado Eliot Engel, do Partido Democrata, presidente do subcomitê de Hemisfério Ocidental no Congresso americano, que qualificou “vergonhosa” a disposição do governo brasileiro de receber o presidente Mahmoud Ahmadinejad. Agindo assim, os judeus sionistas fizeram um grande mal ao nosso país, numa hora em que o nosso maior problema é a queda das exportações. A bem da verdade, e isso a nossa imprensa não diz, é exatamente com o Irã que o Brasil tem as mais vantajosas relações comerciais no Oriente Médio – e não é de hoje. Ademais das remessas dos dízimos pelos judeus da diáspora, temos um comércio extremamente desfavorável com os israelenses: Em 2008, as exportações do Brasil para Israel totalizaram US$ 398 milhões e as importações, US$ 1,221 bilhões. O saldo do intercâmbio comercial entre os dois países nesse ano foi de US$ 822 milhões em favor de Israel. Já em relação ao Irã, a situação se inverte radicalmente: . Em 2007, o Irã absorveu 28,7% das exportações do país à região, o que equivaleu a US$ 2 bilhões, proporcionando-nos um superávit comercial de US$ 1, 1 bilhão. Em 2007, foi o maior importador de milho brasileiro, o segundo de açúcares e produtos de confeitaria, o terceiro de óleo de soja, o quarto de carne e miúdos e o sexto de soja. Além disso, o Irã foi o principal mercado para o Brasil no Oriente Médio nos anos de 2006 e 2007, e o maior superávit comercial. No entanto, as vendas brasileiras para o Irã caíram em 2008, em parte pela valorização do real frente ao dólar, mas principalmente pela resistência dos bancos brasileiros a aceitarem cartas de crédito dos bancos iranianos. Para torpedear esse proveitoso intercâmbio comercial, os judeus sionistas brandiram contra as declarações hostis a Israel de Ahmadinejad e recorreram até aos discursos dos direitos humanos, o que, aliás, também deveriam passar à distância. Tais argumentos levaram à indignação o mineiro Idelber Avelar, titular de literatura latino-americana da Tulane Universy, com um cabedal de títulos em PHd em universidades dos EUA. Em artigo publicado em vários sites brasileiros, ele escreveu: “A julgar pelos gritinhos da República Morumbi-Leblon, pareceria que o Brasil nunca recebeu a visita do chefe de um estado autoritário. A julgar pelos videozinhos, você imaginaria que somente líderes de democracias tolerantes e liberais têm permissão de visitar o Brasil. É curioso que pessoas que não deram um pio acerca do inominável massacre israelense em Gaza venham agora posar de defensores dos direitos das mulheres iranianas. Não me consta, aliás, que alguém nessa turma tenha dito nada quando o Brasil recebeu a visita de Bush, responsável por uma guerra baseada em mentiras, pela adoção da tortura como política de estado, pelo campo de concentração de Guantánamo, pela morte de centenas de milhares de iraquianos”. O que se configurou, portanto, nesse melancólico episódio foi um arrogante e imprudente comportamento de alguns líderes da diáspora em nosso país, preocupados em demonstrar que para ser cidadão israelense não precisa estar lá, como propugnava David Bem Gurion, o fundador do estado sionista. Com essa articulação irracional, além de causar danos aos interesses do país que os acolhe, e em que a maioria deles nasceu, os sionistas empedernidos puseram mais lenha na fogueira dos que ainda hoje encaram os judeus com um atávico sentimento de desconfiança. coluna@pedroporfirio.com

domingo, 3 de maio de 2009

Uma gripe "suína" com a cara da "aviária" para desentocar Tamiflu

Quem éstá gostando é a indústria de máscaras hospitalares
“Estou convencido de que este escândalo é mais uma montagem para favorecer a indústria farmacêutica. Matéria do GLOBO de domingo fala que a OMS está enviando 2,4 milhões de doses de Tamiflu para 72 países. Esse medicamento foi vendido para os governos de todo o mundo, inclusive o Brasil, por pressão dos EUA, para a falaciosa GRIPE AVIÁRIA. Ofereço-me, apesar de repórter aposentado, para ir ao México ou qualquer outro país para fazer matéria sem essas máscaras ridículas. Quem se interessa?” E-mail que enviei neste domingo, dia 3 de maio aos jornais O GLOBO e FOLHA DE SÃO PAULO.
Tomei a iniciativa de me oferecer para ir ao México (sem máscara de espécie alguma) como uma forma incisiva de manifestar minha desconfiança diante de mais essa manipulação de encomeda, cuja gravidade joga para debaixo do tapete todas as outras preocupações, principalmente com essa crise parida na decadente nação imperial, onde as vestais do capitalismo põem o rabo entre as pernas e correm para as tetas do poder público, mesmo que isso implique numa “jurássica” estatização dos seus negócios. E o fiz sabendo que posso ser visto, no mínimo, como um imprudente. Afinal, se há um tema delicado, que mete medo, esse é o que mexe com a nossa saúde. Tanto que a nossa mídia, quando começa a perder audiência ou leitores, apela para uma matéria sobre doenças, se possível, com o fantasma da pandemia. Precipitei-me no assunto por conta de um e-mail repassado em espanhol, por um leitor sério, sobre uma estranha movimentação internacional, que começa com a reunião do G-7, o grupo dos donos do mundo, no dia 2 de abril, passa por uma declaração do FMI de ajuda a países emergentes e culmina com uma reunião privada entre o exausto presidente Barack Obamma e seu colega mexicano, Philip Calderon, nos dias 16 e 17 de abril. Uma semana depois, no dia 23, o presidente do México convocou uma reunião de emergência e, à noite, seu ministro da Saúde, José Angel Córdova Villalobos anunciou cadeia nacional ocorrência do vírus da gripe, e medidas excepcionais, como a imediata suspensão das aulas em todos os níveis da Cidade e Estado do México e a paralisação de sua vida econômica. Na segunda-feira, de 27 de abril, a empresa farmacêutica Sanofi Aventis anunciou um investimento de 100 milhões de euros em nova fábrica de vacinas, bem como o envio de 236.000 doses de fármacos doados para o México para apoiar o controle da até então chamada gripe suína. O autor do e-mail observou ainda: 1. Por mais de dois anos, a indústria farmacêutica mundial vem tendo problemas financeiros devido ao declínio nas vendas. 2. O México é uma perfeita plataforma para o lançamento da doença. Daqui sairão turistas que vêm de diferentes partes do mundo. Surpreendentemente, os países que apresentam prováveis vitimas de pacientes que estavam no México, indicando que vão reforçar seus controles sanitários, são os países que compõem o G7. 3. O que aconteceu esta semana. Muito provavelmente a suspensão do atividades em todas as empresas na Cidade e Estado do México, e As aulas foram suspensas até 6 de maio de onde o governo faráuma análise e verá se a farsa que deverá continuar, ou fará declaração de que "graças às medidas tomadas em tempo e apoio da opinião pública foram capazes de controlar a doença ". O tiro pela culatra De fato, neste domingo, o governo mexicano já se deu conta da trapalhada em que se meteu. Ontem mesmo, os ministros da Agricultura do México, Estados Unidos e Canadá divulgaram patética declaração conjunta em que pedem pelo amor de Deus que a comunidade internacional não use “o surto de influenza A H1N1 como motivo para criar restrições comerciais desnecessárias e que as decisões que se tomem estejam baseadas em evidências científicas sólidas". O ministro da Saúde, José Angel Córdova Villalobos, refez sua fala alarmista, garantindo que a epidemia de gripe suína já entrou em fase de declínio. Já a bela chanceler Patricia Espinosa criticou as medidas "discriminatórias e carentes de fundamento" adotadas por alguns países contra cidadãos mexicanos por medo de contágio da gripe suína. A chanceler se mostrou "especialmente" preocupada pelo caso da China - que doou sábado ao México material e equipamento médico avaliado em US$ 4 milhões - por “isolar, sob condições inaceitáveis, uma família de cinco mexicanos que foram levados à força para um hospital” e, depois, impedidos de deixá-lo até que a embaixada do México na China interveio, permitindo que eles fossem transferidos para um hotel. "Não há justificativa nenhuma para violentar os direitos de cidadão algum, nem para adotar medidas que não têm base científica nem de saúde pública", advertiu a ministra. Ela também criticou a decisão da Colômbia de se negar a sediar em Bogotá os jogos dos times mexicanos de futebol Chivas e San Luís pelas oitavas-de-final da Copa Libertadores da América. Já nos Estados Unidos, em meio a um certo pânico em 21 estados, o diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, Richard Besser, também baixou a bola, ao afirmar que o vírus, que criou temores de uma pandemia global, pode acabar “tão perigoso” quanto uma gripe sazonal que circula todo o ano no mundo. "Com a gripe sazonal, algo que nos atinge todos os anos, temos 36 mil mortes. Aqui, nós estamos vendo sinais encorajadores de que o vírus não parece mais severo do que um tipo que veríamos durante a gripe sazonal", disse Besser ao programa Fox News Sunday. Os mexicanos mais informados estão indignados com a paralisação das atividades na cidade do México. Lamentam a ridícula corrida às farmácias para a compra de “cubrebocas”, cujos preços subiram de 2 para 7 pesos (20 reais), isso sem falar nas máscaras desenhadas, conforme o gosto do freguês. Para desencalhar o Tamiflu Mas com certeza, o móvel principal dessa montagem alarmista é desencalhar o Tamiflu, aquele medicamento que todos os países foram obrigados a comprar entre 2004 e 2007, por pressão do então secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, presidente do laboratório Gilead Aciences Inc, que comprou a patente do Tamiflu em 1996. À base de anis estrelado, uma planta encontrada sobretudo na China, o medicamento passou a ser produzido pela Roche, num acordo com o laboratório de Rumsfeld. Sob a alegação de que a gripe aviária ia se espalhar pelo mundo com graves ameaças, os governos passaram a estocar o Tamiflu. Como escrevi em 2007, As vendas do Tamiflu passaram de US$ 254 milhões, em 2004, para mais de US $ l bilhão, em 2005 e só não foram maiores porque o laboratório Roche não teve condições de produzir mais. Só o governo brasileiro destinou R$ 200 milhões para a compra do medicamento, que não teve a menor necessidade de usar. O produto pode ser encontrado em algumas farmácias a R$ 350,00 uma caixa com dez comprimidos. Neste momento, a Organização Mundial da Saúde, a serviço dos piores interesses, decidiu recorrer ao fármaco encalhado para fazer frente à “epidemia” que deverá ter o mesmo destino e as mesmas consequências da Gripe Aviária, que, em 13 anos de existência não fez mais de 150 vítimas: esses números insignificantes não têm nada a ver com a fortuna gasta para favorecer laboratórios inescrupulosos. Nesse marketing do medo estão envolvidos mais uma vez os mesmos interesses e os mesmos personagens da mentirosa pandemia aviária. E mais uma vez a população emocionalmente fragilizada servirá de bucha de canhão para um escândalo que, neste caso, além do favorecimento dos laboratórios, tem ainda como influente determinante a necessidade de abafar o noticiário sobre a crise que assola o mundo capitalista, ocidental e cristão. coluna@pedroporfirio.com