“Quando os militares de Honduras derrubaram o governo eleito de Manuel Zelaya, ouviu-se um suspiro de alívio nas salas da Chiquita Inc., grande corporação da plantação e distribuição de frutas. No início de 2009, a empresa, que tem sede em Cincinnati, fez eco às críticas contra o governo em Tegucigalpa, que aumentara o salário mínimo nacional em 60%. A Chiquita reclamou que as novas leis afetariam seus lucros; que a empresa passaria a gastar em Honduras mais do que na Costa Rica: 20 cents a mais para produzir um engradado de abacaxis e 10 cents a mais, para ser exato, para produzir um engradado de bananas. No total a Chiquita alegou que perderia milhões de dólares por efeito das reformas trabalhistas de Zelaya, dado que a corporação produzia cerca de 8 milhões de engradados de abacaxi e 22 milhões de engradados de bananas por ano”.
Nikolas Kozloff, autor de Revolution! South America and the Rise of the New Left
Como, por assim dizer, Honduras está em chamas, retomo o contato com o primeiro grande desafio do governo Obama, dando continuidade ao comentário de 6 de julho, munido de novas informações e convencido do dever de oferecer meu depoimento como contribuição à formação de opinião em nosso país.
Desafio porque está difícil acreditar que “el negrito”, como o presidente dos EUA está sendo chamado pelos golpistas, tenha entrado de gaiato no navio. Desafio porque Honduras sempre foi o pivô das piores políticas de intervenção dos Estados Unidos na América Central.
A batalha que se trava hoje nesse país de menos de 8 milhões de habitantes, espoliada pela multinacional Chiquita Brands International Inc (ex-United Fruit e maior distribuidora de frutas dos EUA), é a senha para a retomada dos seus vizinhos, que somam mais de 40 milhões, hoje percorrendo um caminho alternativo, completado com a vitória do candidato da Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional, em El Salvador.
E mais do que reagir à ruptura da ordem constitucional, eventualmente fora de moda, cabe-nos um posicionamento claro em relação ao poderio das empresas estrangeiras, habituadas a virar a mesa em nosso continente quando seus interesses são contrariados.
Como nos velhos tempos
Acrescente-se a isso a compreensão de que, como centro de dominação, a potência do norte, mesmo em queda livre, jamais renunciou aos seus dotes imperialistas. Tanto que essa quartelada contra o presidente Zelaya teve a mão grande do embaixador Hugo Llorens, do esquema do cubano-norte-americano Otto Reich, poderoso no governo Bush e sócio de concessionária de telefonia em Honduras.
Quando Hillary Rodham Clinton assumiu a Secretaria de Estado ficou sabendo que Bush enviou Llorens para Tegucigalpa em setembro passado com segundas intenções. Soube que, já na primeira semana como embaixador, manteve reunião com o general Romeo Vasquez, amigão dos traficantes de armas Thomas Posey e Dana Parkes, introduzidos em Honduras pelo sinistro John Negroponte, o inglês-norte-americano, que completa 70 anos hoje, como peça-chave da rede sionista (da qual Otto Reich é “valete de ouro”).
Para comprometer mais ainda estabelecimento yankee, já se sabe que o general Vasquez e seu colega Luis Javier Prince Suazo, chefe da Força Aérea, ambos com cursos “especializados” na Escola das Américas, tiveram apoio logístico da base militar norte-americana de El Aguacete, implantada pelo então embaixador Negroponte em 1981 como escola de guerra e tortura em Soto Cano (Palmerola), a 97 km de Tegucigalpa. Contígua à base, um conjunto de 44 prédios, funciona a Academia da Força Aérea de Honduras.
Washington na fita
Washington admitiu recentemente que teve conhecimento prévio do plano golpista em detalhes, pelo menos dez dias antes. Na segunda feira, 29, porta-vozes do Departamento de Estado, em declarações à imprensa, comentaram que seu embaixador e uma equipe de diplomatas norte-americanos “estavam em conversações” com os principais atores do golpe há mais de um mês. Essas conversações intensificaram-se durante a semana aprazada, quando o embaixador norte-americano em Tegucigalpa, Hugo Llorens, se reuniu três vezes com os militares golpistas e os grupos de empresários da COHEP – Confederação Hondurenha de Empresários, inclusive os executivos da Chiquita Brands International Inc e da Covington & Burling, lobista atuante, que pôs recentemente John Negroponte como seu vice-presidente e da qual foi sócio Eric Holder, atual Procurador Geral dos EUA, co-coordenador geral da campanha de Obama.
Ofereço essas informações para você entender a abrangência do projeto golpista e entender porque não restou outra alternativa ao presidente Manoel Zelaya, apenas um liberal rico, mas com grande sensibilidade social e corajoso patriotismo, senão assumir a liderança da insurreição popular que ganha as ruas de Honduras na repulsa ao golpe militar.
Quando pediu ao presidente Oscar Arias para tentar uma “solução negociada” a sra. Clinton cumpriu o seu papel no script golpista. Na última semana, sob o comando do “paramilitar” Billy Joya Amendola (também conhecido como Dr. Arranzola), ministro conselheiro do impostor Micheletti, grupos de mascarados executavam próceres legalistas, entre os quais Roger Iván González, líder do Partido União Democrática Unionista, morto dia 11 em sua casa de San Pedro Sula, e seu correligionário Ramon Garcia, assassinado no dia seguinte.
Dentro do plano golpista, chancelado pelo embaixador Llorens, projeta-se um conflito na América Central, começando por um choque com a Nicarágua, ainda afetada pela guerra civil dos anos 80. Honduras é o país com maior arsenal bélico da região e uma tropa comandada pelos remanescentes do tenebroso Batalhão 316, treinado pela CIA e por especialistas da ditadura argentina, com a tarefa de exterminar elementos hostis em Honduras, El Salvador e Nicarágua.
Batalhão 316, a matriz do golpe
Para saber mais sobre a matriz da cúpula militar de Honduras, leia o que colhi a seu respeito:
A CIA foi uma peça-chave para o treinamento e equipamento do Batalhão 316. Seus membros eram aero-transportados a um lugar secreto dos Estados Unidos para receber treinamento em técnicas de vigilância e interrogatório, e depois a CIA continuava treinando-os em bases hondurenhas.
Desde 1981, os Estados Unidos cederam fundos clandestinamente a especialistas argentinos em contra-insurgência para que esses treinassem as forças militares em Honduras. Nessa época, a Argentina era famosa por sua própria “guerra suja”, que custou pelo menos 10.000 mortos ou “desaparecidos” nos anos 70. Instrutores argentinos e da CIA trabalharam ombro a ombro no treinamento dos membros do Batalhão 316 em um acampamento em Lepaterique, um povoado a umas 16 milhar ao oeste de Tegucigalpa.
O General Gustavo Álvarez Martínez, quem em sua qualidade de Chefe das forças armadas hondurenhas dirigia pessoalmente o Batalhão 316, recebeu um forte apoio dos Estados Unidos, inclusive após haver dito a um Embaixador estadunidense que pretendia usar o método argentino de eliminação de subversivos.
Em 1983, quando os métodos repressivos de Álvarez eram bem conhecidos pela Embaixada dos Estados Unidos, a Administração Reagan lhe condecorou com a Legião do Mérito por “promover o êxito do processo democrático em Honduras”. Sua amizade com Donald Winters, chefe da estação da CIA em Honduras, era tão estreita que quando Winters adotou uma criança pediu a Álvarez que fosse o padrinho.
Um oficial da CIA radicado na Embaixada dos Estados Unidos ia com freqüência a uma prisão secreta conhecida como INDUMIL, onde se torturava, e ali visitava a cela de Inés Murilllo, vítima de abdução. Essa prisão e outras instalações do Batalhão 316, estavam fora do alcance dos funcionários hondurenhos, incluindo os juízes que tentavam saber o paradeiro das vítimas de seqüestro.
É desconhecido o número exato de pessoas executadas pelo Batalhão 316. Ao longo dos anos foram encontrando corpos não identificados nem reclamados, enterrados em zonas rurais, ao longo de rios e nos bosques.
Posteriormente, em 1993, o Governo de Honduras publicou uma lista de 184 pessoas desaparecidas e presumidamente mortas. O descobrimento de um corpo identificável permitiu aos promotores tentar colocar corpos de outras vítimas à disposição da justiça.
Zelaya em Honduras para a luta
O site Pátria Latina informou que o presidente Zelaya já se encontra em território hondurenho. Em matéria assinada por Laerte Braga, garante que a insurreição constitucionalista já começou:
“Neste momento o presidente entrou em Honduras e vai permanecer.A greve geral está afetando diversos setores da economia do país. São visíveis os sinais de descontrole dos golpistas. A repressão aumenta, mas já não há unanimidade entre os militares que depuseram o presidente há quase vinte dias.
Uma grande marcha com voluntários de diversos países principalmente da América Latina começa a dirigir-se a Tegucigalpa. Muitos norte-americanos de organizações pela democracia e direitos humanos estão se associando a marcha. Outros chegam de países da Comunidade Européia.
O presidente não pretende mais retirar-se do território de Honduras. Sua mulher e sua filha lideram mobilizações em vários pontos principalmente na capital. As manifestações em toda Honduras estão provocando ondas de grande emoção no país”.
Governo brasileiro com presidente legal
Neste dia 20, O GLOBO publicou matéria assinada por Eliane Oliveira, na qual garante que a diplomacia brasileira está assumindo uma posição firme, causando o primeiro aranhão nas boas relações entre Brasil e Estados Unidos, desde a posse de Barack Obama, no início deste ano. Os dois países divergem sobre a forma como as negociações envolvendo Honduras estão sendo conduzidas pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias. Enquanto os EUA aplaudem a busca de um governo de coalizão entre o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e os autores do golpe de Estado que colocaram no poder o presidente do Congresso Hhndurenho, Roberto Micheletti, o Brasil defende que nenhum acordo seja feito sem que Zelaya possa voltar ao país e reassumir o cargo.
A ser verdadeira essa notícia, observa-se uma mudança na política externa do governo Lula, que procurou seguir a estratégia inspirada desde Afonso Arinos (no governo Jânio Quadros) com o cuidado de não contrariar Washington. Dessa vez, teríamos um Brasil mais próximo dos seus irmãos latino-americanos, em ostensiva divergência com os Estados Unidos.
Espero voltar ao assunto com mais informações e opiniões.
coluna@pedroporfirio.com
3 comentários:
Olá amigo Pedro Porfirio, seu depoimento é de grande importancia não só para mim mas para todos os brasileiros que acompanham o desenrolar do golpe militar em Honduras. O governo deposto pelo golpe militar não deve negociar com esses golpistas, não cometer o grande erro que joão goulart ao ser impedido de assumir a presidencia da república por ocasião da renúncia de janio quadro, aceitou a mudança do presidencilismo para parlamentarismo e com isso sua força ficou reduzida pois quem mandava era o primeiro ministro tancredo neves, o homem de comfiança dos golpistas daquela epoca. Aceitar negociar com os golpistas de honduras é demonstrar fraqueza e insegurança, o que o presidente deposto deve fazer é apelar para as forças armadas que não obedeça o governo golpista e seus superiores e não atirem contra o povo hondurenho nas suas manifestações públicas. Desconfiava que estava por trás desse golpe os interesses dos trustes da banana e das frutas. No livro "ilusão americana" lançado em 1889 por caio prado mostrava o poder desses trustes e o que eles faziam quando seus interesses econômicos eram contrariados, novamente a história se repete, rasgam a constituição, matam o povo sem dó, mas hoje é diferente, o mundo é outro e segue os acontecimentos de perto, principalmente depois dos seu artigo, para mim é realmente isso, os mesmos golpistas de sempre, continue amigo nos orientando com seus artigos claros e objetivos na informação.Continuo sendo um seguidor dos seus ensinamentos, muito obrigado.
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