Chico de Oliveira, sociólogo militante, tem demonstrado porque Lula é a regressão.
Juntar-se a Lula é um bom negócio. Mas é também, apenas, um bom negócio.
“Lula está à direita de Fernando Henrique Cardoso ao não recompor as estruturas do Estado e não avançar na ampliação de direitos. O presidente tenta se legitimar promovendo consensos que passam pela cooptação dos mais pobres. O Bolsa Família não é um direito, mas uma dádiva. Neste sentido, vivemos na gestão dele uma regressão política, porque no governo Lula houve uma diminuição do grau de participação popular na esfera pública. E quando se projeta o cenário de 2010 percebe-se como Lula resulta regressivo. Com a força perdida pelo PT e a ausência de alternativas de Lula, uma vez que a doença de sua candidata mostra sinais de gravidade, aparece o terceiro mandato”.
Chico Oliveira, sociólogo, 75 anos, fundador e desencantado com o PT, em entrevista ao jornal VALOR ECONÔMICO, de 27.5.2009.*
Nada como um programa de televisão para espelhar a essência de uma opção de governo. A Lei eleitoral oferece essa oportunidade aos cidadãos. A cada semestre, os partidos vão à tv para revelar um pouco de si.
Nesta quinta-feira, foi a vez do programa do Partido dos Trabalhadores, aquele que se fez de uma alquimia engendrada tendo como principal matéria prima a insatisfação de uma população desorganizada politicamente e de fácil manipulação, em especial, por símbolos sobrenaturais.
O PT foi o novo que se fez na ruptura da história. Não vou falar hoje das tratativas que pavimentaram sua caminhada, passo a passo, até levar à Presidência da República o “curitiano” que chegou ao sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo pelas mãos de Paulo Vidal Neto, o malabarista que, sendo de confiança da ditadura, tinha um bom trânsito no antigo Partido Comunista Brasileiro, onde militava José Francisco da Silva, o irmão de Lula que o indicou para suplente do conselho fiscal da chapa oficial “por não correr risco de perder o emprego”, na Villares.
"Em toda minha vida, nunca gostei de ser rotulado de esquerda. E, na primeira vez que me perguntaram se eu era comunista, respondi: 'Sou torneiro mecânico'".
Isso é matéria para livro. Mas ao ver e rever o programa do PT identifiquei nele com uma clareza exuberante o que havia nas entrelinhas da sua trajetória matreira.
Quando se fixa em programas assistenciais compensatórios e obras de vitrine, o governo do PT cumpre ao pé da letra a sua tarefa protelatória, consentânea com o projeto pós-ditadura militar elaborado sob inspiração do banqueiro David Rockfeller e seus parceiros da super-ONG “Diálogo Interamericano”.
O programa de televisão em nenhum momento tocou em temas represados, como a reforma agrária, o aviltamento salarial, a soberania nacional, especulação financeira, a precariedade da educação pública de base, a inexistência de uma política de saúde conseqüente e o agravamento da insegurança nas cidades.
Fala das privatizações de FHC, mas nada diz sobre a omissão do governo Lula, que se nega a auditá-las, apesar do gritante do seu caráter donativo. E omite igualmente a sagrada aliança com o agro-negócio, que já representou uma sequência de perdões e protelações de dívidas, cujos valores são muitas vezes superiores aos destinados aos assentamentos rurais, virtualmente abandonados à própria sorte, e aos pequenos agricultores.
Obras de vitrine para seduzir a massa excluída com a notícia de que seua vez chegará um dia
Nos seus carros-chefes, o vício da ocultação da verdade. Esse mirabolante programa de construção de um milhão de casas, com suas planilhas incontroláveis, foi concebido para tirar do sufoco a indústria da construção civil, às voltas com a drástica queda da demanda em seus projetos direcionados à classe média, e não para compensar salários que não permitem moradias decentes.
Se vai ou não vai resultar em benefício social, tenho minhas dúvidas. Com dinheiro saindo pelo ladrão, o PAC conseguiu construir até agora menos de 50 apartamentos no Complexo do Alemão, feito considerado tão significativo que levou o próprio presidente da República ao evento de inauguração, nesta sexta-feira.
A realização de obras em três grandes favelas do Rio de Janeiro é um oneroso mostruário que está longe de encarar a crônica sub-habitação, filha de rendas insuficientes. Ao um custo de 1 bilhão de reais – maior do que orçamentos anuais de muitas prefeituras, como Natal (R$ 840 milhões) e Niterói (R$ 859 milhões) – sua concepção reflete uma inescrupulosa intenção: seduzir milhões de miseráveis descartados com a notícia de que, pelo menos no Alemão, em Manguinhos e na Rocinha alguma coisa já se fez, principalmente de natureza cosmética.
No âmbito da educação, o programa do PT usou o “Prouni” como seu maior emblema. Sob o mesmo impulso do projeto de moradias, esse “achado” não é mais do que um jeito brasileiro de socorrer os mercados de ensino privados, que registraram capacidade ociosa superior a 50%. Em troca das bolsas, cujos critérios sociais têm sido fartamente ludibriados, o governo abre mão de tributos, que deixam de ser recolhidos e faltam ostensivamente nas escolas públicas.
Nessa progressão, todo piso salarial será igual ao mínimo. Essa é uma forma perversa de nivelar por baixo
O depoimento do presidente da CUT revela o alcance da domesticação do movimento sindical. Ele se gabou dos aumentos do salário mínimo, acima dos concedidos à grande massa de trabalhadores, e da revisão, ano passado, da tabela do imposto de renda.
Essa política, integrada com o “bolsa-família”, cumpre um irresponsável desserviço à atividade laboral. Corrige em parte a defasagem histórica de 44 milhões de brasileiros. Correção, aliás, ainda muito distante do necessário, conforme cálculos da Gazeta Mercantil, segundo os quais para cobrir todas as despesas, o mínimo hoje deveria ser de R$ 2.141,08.
Mas nivela os salários por baixo, na medida em que os mesmos critérios de reajustes não se aplicam a quem ganham acima do mínimo. Essa tendência demonstra a significativa contração da massa salarial no país: levantamento do Dieese demonstrou que a proporção de categorias de trabalhadores com pisos salariais bem próximos do salário mínimo cresceu entre 2007 e 2008. No ano passado, o percentual de atividades com remuneração básica equivalente a um salário mínimo alcançou 5,7% – ante 3,4% em 2007. O mais grave é que a pesquisa comprovou que o valor médio do piso salarial recuou entre 2005 e 2008 de 1,73 salário mínimo para 1,34. A perda de massa salarial, não é, portanto, fenômeno exclusivo dessa recente crise econômica.
Ao adotar critérios diferentes nas correções salariais, o governo do PT expõe o seu caráter oportunista, mas não esconde a traição à massa que o endossou. Adota um critério político de viés eleitoral, pelo qual garante um volumoso capital votante, cimento de uma maioria maliciosamente amestrada. E cristaliza o projeto de governo “consensual”, ao gosto das elites multinacionais e oligopolistas.
Esse PT que se mostrou pelas telas de TV e pelas ondas do rádio na passada quinta-feira é a grande panacéia que leva ao delírio o sistema internacional e faz do seu simpático condottiere um indiscreto fã do nosso operário bem sucedido.
Juntar-se a ele é um bom negócio. Mas é também, apenas, um bom negócio.
coluna@pedroporfirio.com
*Para este ano, Chico de Oliveira prepara um livro que irá retratar a construção de uma HEGEMONIA ÀS AVESSAS. Ou seja: como um líder popular carismático trabalharia no sentido contrário aos interesses da base que o elegeu.
4 comentários:
Caro Porfírio....Sou leitor assíduo mas não concordino....Sobre este post do Chico...doença grave de Dilma...claro que é grave , mas curável, hoje em sua grande maioria..Dilma é uma ótima candidata e ganhará com facilidade...o tempo dirá...quanto a estar à direita de FHC isto é uma idiotice, é impossível estar a direita dele !!!..Brizolla..foi o último bom governador que o RS teve, eu estava lá e ví !!!
POLITICA DE COTAS NAS UNIVERSIDADES.
Sou contra a politica de cotas, no entanto é preciso fazer-mos uma reflexão,em mais de quinhentos anos de existência do Estado Brasileiro,foi no governo Lula que efetivamente tivemos uma mobilidade na pirâmide social,Nos governos anteriores,praticava-se a "politica do pão e circo",a fim de manter o cabresto eleitoral,reconheço que dar conhecimento ao povo para classe dominante,lesa pátria entreguista que segue a orientação da CIA através da Fundação Ford,é um perigo. Com o povo esclarecido esta oligarquia que domina o congresso,fala em nome do povo e efetivamente trabalha para as elites,"sofreria um baque"é o caso do Dep estadual Bolssonaro.O que êle propôe em troca,nada ,desta forma as universidades públicas que deveriam priorisar alunos das escolas públicas,ficam a mercê dos alunos dos super e caríssimos colégios particulares.O Brasil precisa urgente de um PAC do ensino,urge estabelecer um ensino integral em todos os níveis,gratuito,não podemos esperar pelo Pré Sal,temos em nosso pais uma jogatina clandestina que só serve para 'alimentar "a corrupção,creio que deveríamos tornar o jogo legal,taxa-lo e empregar toda a arrecadação no ensino integral.O colonialismo cultural alienante é praticado sútilmente a serviço do império(EUA),nossas elites são apátridas.Para entendermos o seu aliciamento recomendo os livros'QUEM PAGOU A CONTA?" E O LIVRO " A REVOLUÇÃO CIVIL E MILITAR 40 ANOS DEPOIS".Você ficará estarrecido.Luiz Martins da Rocha(lmartinsrocha@hotmail.com)
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