sábado, 9 de maio de 2009

Já temos a gripe, mas entre mortos e feridos salvaram-se todos

Temporão abre o jogo: governo tem estoque de Tamiflu, o tal, para atender a 9 milhões de pessoas.
O governo brasileiro está em estado de êxtase. Apareceram os primeiros cinco portadores da gripe suína, todos fora de perigo, graças à “eficiência recordista” do nosso sistema oficial de saúde. O mais famoso é um jovem carioca, com febre baixa, que, meio a contragosto, viu pintar o seu minuto de celebridade. O rapaz não estava nem aí, depois de chegar de Cancun, na manhã de sábado. Tanto que à noite caiu na gandaia com a sua turma, numa boate da Zona Norte. No domingo estava a mil, como bom torcedor, vendo com os amigos a eletrizante vitória com que o Flamengo ganhou a taça do estadual carioca. Na segunda, já havia um tititi sobre os visitantes do México e de alguns Estados norte-americanos. Ele não era o único. No seu grupo, reunido pelo Iate Clube Jardim Guanabara, outros 99 foram participar da Copa do Caribe no badalado balneário mexicano. Segundo o comodoro do clube, José Moraes, os brasileiros nesse evento somaram 800, de várias cidades brasileiras. Mas a síndrome do japonês, que se sentiu culpado pela bomba atômica por ter dado descarga na hora que o oficial norte-americano disparou o petardo, desceu sobre o rapaz. Ele não queria ser responsabilizado pelo rastilho da pólvora suína. E, ao primeiro espirro, foi tratar de pôr os pingos nos is. A paranóia pós-Cancun Primeiro bateu às portas de uma clínica particular. Mas, você sabe, plano de saúde tem horror de internação. Por mais que ele insistisse, o termômetro ofereceu o álibi: sua febre estava na casa dos 37 graus. E aí, paciência, o catálogo da gripe badalada partia de 38. Para os médicos privados, sua gripe não passava nem perto da H1N1. Com o noticiário alarmista da “iminente” pandemia azucrinando meio mundo, ele não conseguia dormir. E não era para menos: numa escola do Rio, os pais fizeram abaixo-assinado, exigindo a suspensão de uma menina que andou por aquelas bandas recentemente, embora ela não estivesse nem espirrando. Diante de tanta pressão psicológica, o jovem carioca decidiu voltar à carga. Alegando sentir-se culpado por relacionar-se depois de ter ido a Cancun, foi outra vez em busca do ser o não ser uma ameaça à comunidade. Dessa vez, recorreu ao Hospital Universitário do Fundão e apelou: pelo amor de Deus, esclareçam isso de uma vez que eu já não suporto tanta cobrança. Com ele, estavam dois amigos, que também ficaram internados, monitorados naquele clima de programa de proteção às testemunhas. Coube ao viajante a primazia do primeiro diagnóstico, no qual se constatou o virus H1N1, embora a sua febre não tenha nem beirado os 38 graus. Com todos os holofotes na porta do hospital da UFRJ, que até há pouco não ia bem das pernas, os médicos trataram de baixar a bola. A infectologista Regina Moreira, que o atendeu, declarou com todas as letras ao RJTV: - O paciente passou a noite muito bem. Ele não está com febre e está melhorando dos sintomas. Na verdade, ele nem teria indicação de ser internado pelo que ele está enfrentando. Ele vai continuar internado para evitar o contágio por outras pessoas. Já o pai do rapaz foi ainda mais claro, em entrevista ao jornal EXTRA: - Está tudo bem. Ele não corre risco nenhum, está sem febre. Ele falou comigo que não teve nenhum problema. A febre dele só chegou a 37, não chegou nem a 38. Ele só está tossindo de vez em quando, só uma febrezinha - disse. Quer Tamiflu, tome! Em São Paulo, os dois paulistas infectados foram mais radicais. Recusaram a internação, assinaram um termo de responsabilidade e se mandaram. Depois, o doutor Luiz Inácio, que estava acompanhado do bispo garanhão, quer dizer, do presidente do Paraguai, informou que eles e o de Minas “já estão curados”. É isso mesmo. O tratamento no Brasil funciona como carga rápida de bateria. A cura é sumária. Tanto que a menina que veio da Flórida e foi internada dia 4 em Florianópolis já recebeu alta e está com suas bonecas e o carinho dos país. Carinho dos pais? Engraçado, como no México, a gripe pode ser suína, mas não tem espírito de porco. Tanto que poupa os familiares. O carioca que teria contaminado aqui agiu como amigo da onça, já que sua mãe e o pessoal de casa, como disse o pai, vão bem, obrigado. Não precisaram nem ser examinados: nestes tempos em que o celular é o presente preferido de cada 9 entre 10 estrelas do lar, os familiares estão sendo monitorados por telefone. Como eu já havia dito antes, arriscando 48 anos de reputação profissional, essa gripe é uma grande farsa para desencalhar o Tamiflu (Leia-se tamosfu, royalties para o meu amigo, professor Jileno). Foi o que confirmou com a discrição proposital o simpático ministro José Gomes Temporão, numa linha perdida da página 24 do GLOBO desta sexta-feira: - O país tem estoque de Tamiflu, o medicamento indicado pela OMS, para atender a 9 milhões de pessoas. Não precisa ser médico ou estatístico para imaginar o volume estocado, desde a importação determinada ao governo do sr. Luiz Inácio pelo então secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, presidente do laboratório Gilead Aciences Inc, que comprou a patente do Tamiflu em 1996 e depois negociou sua produção pelo Roche, que ganhou rios de dinheiros com esse fármaco: só com sua venda, o laboratório aumentou o faturamento de US$ 254 milhões, em 2004, para mais de US $ 1 bilhão, em 2005, ano em que o ministro-empresário bateu o martelo do “ou dá ou desce” para 72 países satélites. Alarmistas falam de vírus cruzados Enquanto isso, cientistas sensacionalistas, desses que são adorados pela indústria farmacêutica, lançam uma nova ameaça no ar para não deixar ninguém dormir. Eles antevêem um cruzamento entre os vírus das gripes suína (a da moda) e aviária (que estava dormindo). É o que poderá ser manchete na mídia deste sábado: “Muitos cientistas temem, no entanto, que os dois vírus se encontrem - possivelmente na Ásia, onde a gripe aviária é endêmica - e se combinem em uma nova variação altamente contagiosa e letal e se espalhe pelo mundo. Apesar de não se saber qual a probabilidade de que isso ocorra, cientistas chamam atenção para o fato de que a nova cepa de gripe suína - uma combinação de vírus humanos, aviários e suínos - já mostrou que pode se apropriar de material genético que favoreça sua evolução”. Para atenuar o trauma que atinge aos 110 milhões de mexicanos e evitar o incremento da migração para os Estados Unidos, Washington divulgou que já ultrapassou seus vizinhos com um escore de 1639 a 1364, informando que já se registram casos em 41 estados. Em número de óbitos, os norte-americanos falaram que uma mulher é a segunda vítima, mas depois disseram que ela já sofria de outras doenças, não se podendo atestar a causa mortis com segurança. Essa gripe ao gosto do freguês ainda vai vitimar muita gente do outro lado da mesa. É que os autores da tramóia não contavam com a astúcia de alguns cidadãos ainda independentes, os quais desvendaram a charada antes da mesa posta. Agente duplo da “pandemia” Um verdadeiro inventário, enviado pela organização PRO MUNDI me deixou perplexo sobre o nível da audácia dos interesses econômicos, em conluio com governos inescrupulosos, que agem como caixeiros viajantes de seus empresários e não fazem nenhuma separação entre o público e o privado. O relato mostra uma relação entre a visita de Zarkozi ao México, no dia 9 de março, o anúncio de um investimento de 100 milhões de euros para a construção de um laboratório especializado na produção de vacina contra “influenza” e os acontecimentos que culminaram com o disseminação da gripe suína, no final de abril. Há um filme, que já postei no meu blog PORFÍRIO LIVRE, no qual o cientista Leonard Horowitz conta toda a trama, envolvendo uma rede norte-americana de engenheiros genéticos, que levou a níveis récordes, a partir das mortes no México, as ações do laboratório Novavax, de Mayland. Em seu relato, que você não pode deixar de ver, ele acusa esse laboratório de produzir o virus da gripe para depois vender a vacina. E o faz com detalhes chocantes. Pelo que entendi, a pressa em desencalhar o Tamiflu está relacionada com a ação de laboratários concorrentes, dos Estados Unidos e da Europa. É uma guerra mais suja do que qualquer outra já travada com o uso de tanques e fuzis. Quando me exponho na convicção de que estamos diante de um grande teatro, sei do risco que corro, mas já vi esse filme antes. Afinal, como relata o Promundi, “sabemos que a influenza mata ao redor de189 pessoas por semana, no Peru. Que a influenza mata, por ano, nos Estados Unidos, pelo menos 30.000 pessoas, o que significa que mata 82 pessoas por dia”. Para finalizar por hoje, chamo sua atenção para o comentário de Bruno Xavier, brasileiro que está concluindo o curso de Phd na área de biotecnologia na Universidade de Ithaca, Nova York. Ele mostra como o megatrilionário norte-americano Warren Buffet, segunda maior fortuna do seu país, pretende ganhar muita grana fazendo seguro da gripe suína. Por hoje é só. Mas acho que ainda voltarei ao assunto. coluna@pedroporfirio.com Você já conhece o Instituto João Goulart? Dê uma passada no seu site http://www.institutojoaogoulart.org.br/index.php