domingo, 31 de maio de 2009

O pior corrupto é o corrupto “de esquerda”

Faz suas trapaças e acusa quem quiser investigá-las de "conspiração de direita

A corrupção dos governantes quase sempre começa com a corrupção dos seus princípios”. Montesquieu, filósofo iluminista francês ( 1689-1755)

 “Nasci para combater o crime, não para governá-lo. Ainda não chegou o tempo em que os homens honestos podem servir impunemente à pátria: os defensores da liberdade serão proscritos enquanto dominar a horda dos bandidos”.
Maximilien François Marie Isidore de Robespierre, líder da Revolução Francesa, ao ser levado para a guilhotina, em 1794, aos 36 anos de idade.

 Sempre soube que o poder, seja ele qual for, tem encantos que o próprio encanto desconhece. Mas também por muitos anos acreditei que ideologia e safadezas eram antônimas. Acertei na primeira e equivoquei-me redondamente na segunda. O poder exerce tal fascínio que engendra seus próprios valores.

Ou simplesmente os dispensa, num passe de mágica. E quanto maior a distância percorrida, mais vulnerável é aquele que se torna senhor dos anéis. O que se vê hoje no Brasil é a ausência de todo e qualquer recato.

A corrupção grassa como elemento difuso de efeitos multiplicadores. O assalto ao alheio não conhece limites, nem se tangencia em determinados espaços e momentos. Não é exclusivo da vida pública, até porque decorre de negociatas com interesses privados. Reina a bel prazer, na imensidão desse país continental, como fatalidade corriqueira.

 Dir-se-ia sem pestanejar que seu caráter amplo, geral e irrestrito a todos seduz. Tal é seu magnetismo que, a rigor, não encontra óbices: não se é contra a corrupção, mas, sim, contra a corrupção dos outros.

Sedução inebriante

Andei concluindo com a maior amargura: entre os tipos de corruptos, há os que desfilam de crachás, os que permanecem nos armários (e ainda não deram bandeira) e os que esperam ansiosamente que a fila ande. As práticas inerentes à corrupção movimentam muito mais dinheiro nos subterrâneos de que toda a atividade econômica visível a olho nu.

Não há elementos de cálculo, mas é possível dimensioná-la como acachapante e avassaladora. Porque ela se origina em toda e qualquer movimentação que envolva dinheiro. Sua manifestação mais exuberante é a propina, irmã siamesa do superfaturamento.

A corrupção é como jogo do bicho: todo mundo sabe que é ilegal, mas todo mundo vê, não diz nada e, se der, ainda faz uma fezinha. Ainda na minha adolescência, quando, meus olhos alcançaram o horizonte perdido, tive a atenção voltada para esse delito, praticado em larga escala na administração pública.

Tinha 11 anos de idade quando Armando Falcão, candidato a governador do Ceará, em 1954, fez do slogan “contra o roubo e a corrupção” a bandeira de sua campanha. Aquela “proposta de governo” chamou minha atenção até porque, ao fim, ele acabou derrotado numa eleição muito apertada.

Desde então vim aprendendo muitas lições. Nessa, a de que nem sempre os que acusam os outros como corruptos têm autoridade moral para tal. E muitas vezes pode ocorrer até de papagaio comer o milho e o periquito levar a fama. Mas em todas as circunstâncias considerava que a ideologia da transformação social incluía entre seus pertences o combate implacável ao vício de meter a mão no dinheiro alheio.

 Revolucionários contra a corrupção

 Quando, aos 17 anos, fui a Cuba pela primeira vez, em 1960, uma das novidades que mais me impressionaram foi a existência do Ministério de Recuperação dos Bens Malversados pela ditadura. Confiado ao comandante Faustino Perez Hernández, um dos 12 primeiros guerrilheiros que subiram a Sierra Maestra, esse inusitado ministério funcionava na esquina das ruas 21 e D, no Vedado, não muito longe do Hotel Havana Livre, onde participei do I Congresso Latino-americano de Juventudes.

Desde sua primeira operação, no primeiro mês do regime revolucionário, quando descobriu 6 milhões de dólares escondidos pelo ditador Fulgêncio Batista num cofre do Bank Trust Company de Cuba, o austero ministério se tornou o terror dos corruptos e seu titular foi apontado por Fidel Castro como o símbolo do revolucionário, por sua exemplar honestidade e transparência.

Naqueles idos, pelo que me constava, ser contra a roubalheira era ingrediente indispensável na ideologia de esquerda. Tinha certeza dessa premissa até pela obsessão de Maximilien Robespierre, o líder da Revolução Francesa, cognominado “o incorruptível”.

Por aqui, a conversa é outra Já quando estive em cargos importantes na Prefeitura do Rio de Janeiro, comecei a perceber que a banda não tocava como eu imaginava, apesar da promessa de Brizola de lavar a sujeira com água e sabão.

Quando, em 1984, como coordenador das regiões administrativas da Zona Norte, prendi em flagrante um fiscal corrupto que extorquia um pequeno empresário na Penha senti os primeiros olhares de censura aos meus “excessos”. Depois, prendi uma equipe da Secretaria de Obras que, mediante propina, desviava asfalto de uma “rua reconhecida” para a favela do Jacarezinho.

Foi um Deus nos acuda. Tive que recuar, porque ia sobrar exclusivamente para os operários. Levado ao primeiro escalão, como secretário de Desenvolvimento Social, apreendi e acautelei numa delegacia manilhas comuns, entregues enganosamente como “armadas”. Declarei a firma fornecedora inidônea e, como ela era apenas uma das várias pertencentes ao mesmo empresário, de nada adiantou.

Determinei sindicância para apurar uma mutreta com 500 metros de areia, que nunca chegaram ao depósito da Secretaria. Mas o engenheiro que assinou o recebimento era bem articulado dentro do PDT: o processo sumiu e isso me causou muita dor de cabeça. O mesmo aconteceu quando demiti o encarregado do depósito de Campo Grande, pilhado em delito semelhante, com carregamento de pedras.

Poderia contar outras dificuldades que enfrentei para reforçar com todas as letras a convicção de que a corrupção, a robalheira e os desvios de conduta moral são tão lesivos ao país e ao povo como as políticas econômicas perversas, o entreguismo e a selvagem exploração do homem pelo homem.

A cara de pau do corrupto de “esquerda”

Poderia, mas hoje só queria dizer uma coisa, doa a quem doer: o pior corrupto é o que se jacta de esquerda. É essa súcia desonesta que morre de medo de uma investigação e, para proteger-se, chega ao cúmulo de convencer os mais ingênuos de que a apuração de maracutaias em empresas públicas, como a Petrobras, é apenas uma manobra privatizante.

O corrupto de “esquerda” é cínico e arrogante. Pela facilidade de meter a mão no dinheiro público sob proteção do manto escarlate e pelo deslumbramento com os podres poderes é capaz de delitos muitos mais danosos porque, ao contrário dos corruptos tradicionais, age em bandos, interagindo em verdadeiras teias em que faz o meio de campo com lideranças corporativas, doma a mídia e banha de um invólucro “social” e até “patriótico” suas pernadas no erário.

Esse corrupto, diferente do tradicional, serve à sua patota, mas cria expectativas para que terceiros se beneficiem no futuro de outros butins. Tem um discurso bem articulado e sabe como imobilizar, pela cooptação, com algumas prebendas e favorecimentos a granel, aqueles que poderiam atrapalhar seus passos. Esse corrupto, por coincidência, é aquele que, estando do outro lado do balcão, amanhecia o dia pensando em quem ia apresentar como ladrão à distinta platéia.

É o corrupto que faz as mesmas armações, crente de que ganhará o a anuência da opinião pública, devidamente convencida de que pior do que sua turma é a “direita privatizante”. Esse corrupto de “esquerda” é um típico cara de pau, que se socorre de parceiros manjados, tipos Collor, Sarney, Romero Jucá e Renan Calheiros, como se a cocaína farta no país tivesse explodido nossa memória.

Tão cara de pau que está entregando o pré-sal a trustes estrangeiros através dos leilões das jazidas, perdoou dívidas de empresas privatizadas, como as da norte-americana AES (da Eletropaulo) está trabalhando a privatização dos aeroportos, numa jogada da pesada, e fala mal da privataria passada, sem nada ter feito para desfazê-la, sabe Deus porque.

9 comentários:

Laguardia disse...

Apesar de não concordar 100% e3m tudo o que diz, meus parabéns pelo excelente post.

Em primeiro lugar não concordo que o pior corrupto é o corrupto de esquerda. O pior corrupto é o corrupto, independente de sua coloração política.

Em segundo lugar Fidel criou o tal ministério para investigar a corrupção de Fulgencio Batista. A corrupção dos comunistas ninguém sabe, pois não existe em Cuba uma imprensa livre e democrática que investigue e denuncie a maversação de bens feita por integrantes do partido, nem oposição para fazer as denuncias.

A luta contra a corrupção no Brasil deve ser intensificada e passa pela saida do governo de Lula e de seus associados do PT e da base aliada.

O problema é que a ideologia de Lula é Lula. Na cabeça dele o que é bom para ele é bom para o Brasil e o povo que sifu.

Portanto Fora Lula e Fora PT.

Carlos Almeida Przybylski disse...

Caro Porfírio....quando você tinha 11 anos eu tinha 5 e conheci o primeiro politico da minmha vida: Vargas passou na porta da minha casa em Rio Grande RS pouco antes de se suicidar. Era amado pelo povo e para este fez quase tudo Quanto a corrúptos, não tem lado e nenhum governo está livre deles pois é uma " qualidade humana" Coitado do Brasil se voltar a mãos tucanas..Éramos um país quebraso e voltaremos a sê-lo...Vote em Dilma em 2010!!!!!!!

PlinioMarcosMR disse...

Prezados,
Apresento a Voces, permitam-me assikm chamá-los, o documento Corrupção – vírus sem resistência num hospedeiro fortalecido pelo controle, http://www.via6.com/topico.php?tid=114426 , por mim escrito a partir de uma avaliação do filme "TROPA DE ELITE".
Abraços,
Plinio Marcos

Anônimo disse...

Projeto de Lei:

1- Fica proibido roubar mais do que 10 % das verbas públicas;

2- Fica proibido entregar a estrangeiros, mais do que 10 % das riquezas do Brasil.

Penalidade aos infratores:

1- Execução em praça pública, por empalamento.

2- Alternativamente: viver com 1 (hum) salário mínimo.

José Netto disse...

Quando não se consegue mais perceber a obediência a princípios coletivos elevados, fica claro que a corrupção é o próprio sistema, o próprio motor dos acontecimentos, mas ainda que aparente ter uma infinidade de braços, ESTE SISTEMA TEM UMA CABEÇA: AQUELA QUE ABASTECE A ECONOMIA DE DINHEIRO, E DETERMINA O VALOR FINANCEIRO DE TUDO, INCLUSIVE DA ALMA HUMANA.

"Deixe-me emitir e controlar o dinheiro de uma nação e não me importarei com quem redige as leis". Mayer Amschel (Bauer) Rothschild

Welinton Naveira e Silva disse...

A Origem do Roubo

Em tudo que podemos ver, fazer uso e tocar, desde os mais simples, roupas, sapatos, móveis, apartamentos, casas, prédios, lojas, ruas, calçadas, carros, caminhões, aviões, instalações de esgotos, instalações hidráulicas, instalações elétricas, aparelhos elétricos, aparelhos eletrônicos, e incontáveis outras riquezas, é produto do trabalho do homem. Seria de pressupor, que todos os que construíram essas inúmeras e variadas riquezas - os trabalhadores - necessárias ao homem estariam muito bem de vida, quem sabe, até mesmo ricos, lógico. Moralmente é lógico, mas na prática capitalista, não é isso que acontece. Os trabalhadores continuam pobres e onde sempre estiveram. Pois que todas as riquezas produzidas pelos trabalhadores são direcionadas e acumuladas em mãos dos donos dos meios de produção e do capital. No capitalismo moderno, uma parte dessa riqueza fica com os trabalhadores da classe média, é verdade, mas só uma parte. Enquanto que a grande maioria dos trabalhadores que participaram na elaboração das riquezas, continuam sendo relegados a cidadão de terceira classe, morando em lugares modestos e carentes de tudo, muitos, morando até em favelas. Enquanto que os donos dos meios de produção e do capital ficam com a quase totalidade das riquezas produzidas pela classe trabalhadora, e por isso mesmo, tornaram-se ricos e poderosos. E a cada dia, mais riquezas são acumulam em suas mãos, riquezas essas, subtraídas de quem as produziu. Resumindo, não existe outra maneira de acumular riquezas sem roubar de quem as produziu. Vai daí, a grande complicação na exigência da honestidade no sistema capitalista. Se a corrupção e a roubalheira não aparecem de modo mais escandaloso ainda, é por conta da habilidade dos grandes corruptos e ladrões, que dentre outras práticas, sempre fazem a devida partilha com outros poderosos larápios, além do devido controle financeiro sobre a grande “imprensa livre”. Sem isso, é perigoso. Também, roubar pouco é perigoso (ladrão de galinhas). Resumindo, exigir honestidade num sistema que se fundamenta na concentração de riquezas, fica muito complicado, quase impossível. Eis a grande fragilidade do sistema capitalista.

Camilo Viana disse...

Brasil, um país de parvos.
Palocci, o do extrato de tomates com ervilhas, do caso Leão Leão, do Burati, o mentiroso do Francenildo - que vai receber indenização paga pela caixa - agora o dos dez milhões em um ano, pago para dizer que não apliquem em dólar os ativos, nos dá com o Gurgel um exemplo de silogismo:
O procurador não encontra base para processar o ministro forte; Haverá eleições para procurador em julho.

Anônimo disse...

O pior corrupto é o corrupto com "cara de honesto".

Para sairmos desta RODA REPETITIVA será necessária uma revolução dos valores internos de cada um de nós, isto é, aprendermos a controlar nossas emoções, que são sinapses (programas) cerebrais gravadas nos nossos cérebros desde o nascimento.

Uma vez aprendido este controle, teremos que optar pelas sinapses cerebrais positivas, construtivas, isto é, pelo lado BOM da FORÇA, que corresponde a apenas 30% destas sinapses.

Os outros 70%, que correspondem ao lado MAU da FORÇA, destrutivo, negativo, deverão ser deletados, apagados.

Fácil, né ???

Vânia Doeler disse...

Também não concordo que o pior corrupto é o corrupto de esquerda. Corrupção não tem lado, esquerdo ou direito. Sempre é ruim.
O texto é muito bom...bem escrito e elucidativo. Gostei muito.