quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O Gabeira que poderá pôr sua eleição a perder

“Todos são unânimes no quesito honestidade / caráter do Gabeira. De começo, já é tudo que a gente precisa”. Felipe Galvão, jovem jornalista. Na minha coluna do último dia 17, escrevi com todas as letras: devo dizer que só uma pessoa pode derrotar Gabeira – ele próprio. Como destinatário do descontentamento popular com os políticos matreiros, só ele poderá jogar fora sua vitória, deixando-se possuir por atitudes que têm a ver com sua personalidade estelar. Odilon Martins, um cidadão muito lúcido, eleitor de Gabeira desde o primeiro turno, comentou, preocupado: “muito oportuno o seu recado ao Gabeira: tomara que o Gabeira o leia e caia na real. O programa dele na TV está muito copacabanaizado. Pedro do Couto, em brilhante artigo na TI, analisou os ventos que sopravam a favor do Gabeira e concluiu que o nosso candidato certamente seria o vitorioso. Até ali eu sentia a mesma coisa... Sei não, Porfírio! Assisto todos os dias na TV o programa do Gabeira: muita música, poesia, poucos negros, e raras propostas de governo, enquanto do outro lado, o Paes, como um camelô, montou uma banca de milagres, oferecendo tudo que o eleitor crédulo da nossa cidade gostaria que fosse verdade”. Ao me passar na quarta-feira a informação da mudança de posição na pesquisa do Datafolha, o mesmo Odilon Martins voltou a manifestar sua preocupação: “Acaba de sair na FOLHA On Line resultado da pesquisa DATAFOLHA feita nos dia 21 e 22: Eduardo Paes subiu de 42 para 44 e Gabeira caiu de 44 para 41. É um mau prenúncio neste final de reta. Na minha modestíssima opinião, os programas do Gabeira nas TVs são fraquíssimos, verdadeiros pastéis de vento. Creio que confiaram demais no carisma do candidato e deixaram a bola rolar com musiquinhas pra lá e musiquinhas pra cá, e permitindo que sub-famosos inseguros e gaguejantes fizessem longos pronunciamentos de apoio, todos absolutamente constrangedores. Pode ser que o Gabeira vire esse jogo no debate na Globo, vamos ver”. Equívocos fatais Hoje, na undécima hora da campanha do segundo turno no Rio de Janeiro, cabe-me lembrar também o que escrevi na coluna do dia 20: Aliás, devo dizer que também não participo da expectativa de que as eleições no Rio de Janeiro já estão decididas. Essas últimas pesquisas casam com a minha percepção natural. Se não fizer uma mudança radical nas próximas horas, se não se preparar com toda atenção para o último debate nesta sexta-feira e se não usar as próximas horas para uma ação mais consistente e agressiva na busca dos votos ainda indecisos, a candidatura de Fernando Nagle Gabeira não passará de um sonho de uma noite de verão. Uma pena. O que parece estar acontecendo é uma situação atípica: Gabeira chegou ao segundo turno em função da perda de fôlego da Jandira Feghali e do “voto útil” para que o e senador Crivella não fosse o adversário de Eduardo Paes. Sua campanha ganhou o vulto de uma grande onda e já nas primeiras pesquisas do segundo turno seu nome aparecia na frente. Mais visível, ficou claro o seu carisma e a sua tranqüilidade nos debates. Mas isso não era tudo. A mim, que conheço a cidade na palma da mão e convivi com seus problemas como cidadão, em vários cargos do Poder Executivo e em 4 legislaturas da Câmara Municipal, ficou claro que, além de conhecer pouco a cidade e seus problemas, o nosso homem de bem está assessorado por pessoas em contraste com ele: parece que velhas raposas estão se aproveitando de seu escasso conhecimento para botar na sua boca falas que, francamente, chegaram a me surpreender. Vou dar dois exemplos: Na questão dos transportes, ele, como Eduardo Paes, considera o bilhete único a saída (há outras,desde que haja coragem). Enquanto o peemedebista malandramente diz que essa medida pode ser feita a custo zero para a Prefeitura (no que concordo) Gabeira acena com subvenções para empresas, a exemplo do que ocorre em São Paulo, onde,antes mesmo do bilhete único, já existiam subsídios. Ao dar ênfase à participação da Prefeitura na segurança, Gabeira se nega a corrigir (pelo menos agora) uma distorção escandalosa, que só acontece no Rio de Janeiro. Como pode alguém falar num melhor papel da Guarda Municipal, com seu efetivo subordinado a uma empresa e sob o regime celetista, que não lhe dá nenhuma garantia para o exercício de uma função que é tipicamente de “Estado”? Gabeira foi enganado por assessores, na mesma linha do prefeito César Maia, para quem a mudança corretamente sustentada por Eduardo Paes – a transformação dos guardas em estatutários – custaria uma baba e não estaria no orçamento do próximo ano. Faltou alguém dizer a ele que o orçamento não foi votado ainda e que, ainda que tivesse sido, há sempre uma rubrica robusta que permite ao prefeito remanejar recursos. Quanto aos custos das transformações, nada mais mirabolante. Cheiro de corruptos Como continuo convencido de que Gabeira é honesto e isso é tudo, como disse Felipe Galvão, não posso deixar de levantar a lebre enquanto é tempo. Há cheiro de corruptos no seu entorno, gente esperta, que sabe ocupar os espaços no poder, em qualquer governo, de qualquer partido, com as mais bem ensaiadas insinuações. Outro erro grave de Gabeira é procurar fazer média com quem historicamente não o perdoa por suas posições. Numa atitude pueril, foi procurar o Clube Militar, mesmo sabendo que o voto militar é quem garante a eleição do ultra direitista Jair Bolsonaro e seus dois filhos. Finalmente, faço minhas as palavras do Odilon Martins: jornalista, Gabeira perdeu uma boa oportunidade de aproveitar o horário do segundo turno para produzir verdadeiros jornais que permitissem repassar uma idéia mais palpável dos projetos de governo de um homem de bem. Ainda sobre os horários de tv: Nada é mais contrário aos valores essenciais da seriedade na vida pública do que usar a figura de artistas para recomendar um nome. Que autoridade política têm essas estrelas para avaliar um candidato? Bem, como tenho esperança de que o Gabeira que conheci em 1959 não morreu, conservo a esperança de que ele acorde a tempo e,se eleito, entenda a essência do voto que está recebendo: o povo quer mudanças, que certamente não são as mudanças pensadas por gente como Armínio Fraga et caterva. coluna@pedroporfirio.com