domingo, 17 de agosto de 2008

O jogo sujo contra um combustível limpo

MINHA COLUNA NA TRIBUNA DA IMPRENSA DE 18 DE AGOSTO DE 2008
“A oferta de gás natural nos próximos anos deve ser mais do que suficiente para atender à crescente demanda local” Davidson de Magalhães Santos, presidente da Bahiagás, durante o 11º Congresso Mundial de GNV, realizado em junho, no Rio.
Comecemos por essa notícia, publicada no jornal TEMPO, de Minas Gerais: o Gás Natural Veicular (GNV) deixou de ser o combustível preferido dos taxistas. De acordo com o Sindicato Intermunicipal dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários, Taxistas e Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens (Sincavir-MG), há dez anos, 70% da frota de táxi era movida pelo GNV. Hoje, dos 6.000 táxis em circulação no Estado, apenas 1.300 usam gás natural - 21% da frota. A venda de gás natural veicular em Minas não se compara às do Estado do Rio, onde se concentram quase 50% dos consumidores desse combustível limpo. Os últimos números indicam que cerca de 655 mil automóveis fizeram conversão para o GNV no Estado. Só na capital, são quase 460 mil veículos. Uma conversão para o gás não sai por menos de R$ 3 mil reais. Praticamente, toda a frota de táxis e kombis é movida a gás. Para um total de 2 milhões e 150 mil veículos registrados na cidade do Rio de Janeiro, previa-se que os usuários de GNV chegariam a 500 mil até o fim do ano, se não fosse a traiçoeira mudança na política do governo, que só falta agora criminalizar quem fez essa opção, benéfica para o motorista e, sobretudo, para o meio ambiente. Os números que falam Segundo gráficos da Agência Nacional do Petróleo, em julho de 2007, funcionavam no Estado do Rio 407 de um total de 1290 postos equipados com compressor de gás no país. São Paulo, que detém metade do PIB nacional, tinha 315. Minas Gerais vinha em terceiro lugar, com 91. A partir de outubro de 2007, o governo mudou de idéia sobre o GNV. Num primeiro tranco, a Petrobras deixou de fornecer parte do gás à CEG, ensejando um clima de nervosismo que culminou com a mais grave crise entre as oficinas de conversão: quase 200 delas fecharam suas portas, em conseqüência de uma brusca retração, gerando uma considerável perda de emprego. O carioca viu-se diante do fantasma do desabastecimento de gás e, num segundo momento, de pagar mais pelo gás do que pelos outros combustíveis, particularmente o álcool, a menina dos olhos do sr. Luiz Inácio, que faz a festa dos grandes usineiros. O desabastecimento foi descartado com o uso de um expediente mais típico do governo atual – a inibição do consumo pela alta dos preços no posto. Nos primeiros sete meses de 2008, a CEG elevou em 25% os preços do GNV, em dois aumentos sucessivos, enquanto o álcool observava uma ligeira queda. Nas bombas, o GNV, que custava R$ 1,317 no início do ano, passou para R$ 1,647 o metro³. Embora seja possível comprar por até R$ 1,39 em alguns postos, há outros vendendo a mais de R$ 1,70. Se não fosse pela minha Lei 3631/03, a situação seria pior. Esta lei fez o número de revendas saltar de 97 postos na cidade do Rio de Janeiro em 2003 para 320 em 2007. A Lei deu prazo de cinco anos para que todos os revendedores de combustíveis se equipassem para a venda de GNV. Os novos alvarás só seriam concedidos com a previsão de imediata disponibilização do gás. Gás lucrativo Mesmo assim, o Rio de Janeiro pratica uma das maiores margens no país entre os preços da distribuidora e o consumidor. Esse mesmo GNV que pode custar mais de R$ 1,70, sai da CEG por R$ 0,96 centavos. E já sai caro, porque o gás natural consumido no Estado do Rio é da Bacia de Campos. Isso significa que os postos fluminenses ganham mais de 60% na comercialização do GNV, em contraste com os outros combustíveis: 8,0% para a gasolina; 9,0% para o álcool e 4,0% para o diesel. No entanto, o mesmo gás importado da Bolívia sai da Comgás por R$ 0,91, o que se reflete nos preços de varejo. Levantamento feito pelo deputado estadual Wanderlê Correia, de Sergipe, divulgado no último dia 15 de agosto, revelou que há muita incongruência nas planilhas dos preços entre distribuidoras e postos. Pela sua pesquisa, o preço do metro³ do GNV nas distribuidoras em Sergipe é de R$ 0,83. Na bomba, o preço pula para R$ 1,84. Na Paraíba, o preço na distribuidora é de R$ 0,89, e nas bombas é de R$ 1,62. Em São Paulo, o GNV na distribuidora é R$ 0,91 e nas bombas R$ 1,16 (números do deputado). Ainda por suas estimativas, a margem de diferença nos preços, em Sergipe, é de 106%, em São Paulo é de 63%. No Amazonas, os postos praticam uma margem de apenas 56%. O lucro bruto, em Sergipe, é de 113%, o terceiro maior do país, atrás apenas de Alagoas e Santa Catarina. No Amazonas, a margem de lucro é de 12%. Em São Paulo, os postos lucram 27%. O GNV ficou 20% mais caro este ano no país, e, na última semana, era vendido em média a R$ 1,615 nos postos do Rio de Janeiro. Foi a maior alta entre todos os combustíveis. O álcool teve queda de 1,47% no país em 2008, para R$ 1,467. A gasolina caiu 0,1% (para R$ 2,496) e o diesel acumulou alta de 14,33% (para R$ 2,10). O aumento do preço do GNV começa a provocar recuo nas vendas do combustível. Segundo o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), que representa parte da rede de postos, a queda foi de 5,5% no município do Rio no primeiro semestre, frente a igual período de 2007. Essa mudança no governo é mais uma rasteira nos brasileiros de boa fé e ainda entra em choque com as previsões do setor. No 11º Congresso Mundial do GNV, realizado no início de junho, aqui mesmo no Rio de Janeiro, o inglês John Lyon, presidente da Associação Internacional de Veículos a Gás Natural, garantiu que até 2020, portanto dentro de 12 anos, 80% da frota mundial de automóveis – o equivalente a 65 milhões de veículos – serão movidos a gás natural veicular. Já o presidente da Bahiagás, Davidson de Magalhães Santos, calculou que o aumento da oferta de gás natural no Brasil duplicará nos próximos 4 anos, passando dos atuais 60 milhões de metros cúbicos/dia para 131 milhões, em 2012. Como você vê, há uma mescla de incompetência e má fé na condução da política energética, particularmente em relação ao GNV, protagonista de uma das histórias mais sujas dos nossos dias. coluna@pedroporfirio.com

2 comentários:

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