quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Das flores de Gaza ao triunfo dos belicistas de Israel

A nova estrela do sionismo
Avigdor Liberman, que nasceu na Moldávia, na antiga União Soviética, chegou a Israel em 1978, quando tinha 19 anos. Foi militante e dirigente do partido Likud, que abandonou por entender que Benjamin Netanyahu, líder deste partido e primeiro-ministro de Israel, tinha feito demasiadas concessões à Autoridade Palestina. Em particular Liberman opôs-se a planos que previam a divisão da cidade de Hebrom, na Cisjordânia. Na primeira eleição que disputou em 1999, seu partido conquistou quatro lugares na Knesset (parlamento) de Israel. No decurso da legislatura, o partido juntou-se ao partido Ichud Haleumi (União Nacional). Nas eleições de 2003, concorreu integrado nessa lista.Nas eleições legislativas de 2006, o Yisrael Beitenu conquistou doze lugares na Knesset, sendo o quarto partido mais votado. Agora, com 15 representantes, passou a ser o terceiro, à frente do antigo Partido Trabalhista.
"Javé ferirá todos os povos que combateram contra Jerusalém: ele fará apodrecer sua carne, enquanto estão ainda de pé, os seus olhos apodrecerão em suas órbitas, e a sua língua apodrecerá em sua boca" (Zacarias, 14, 12-15)”.
Ainda sob o impacto da acachapante vitória dos belicistas em Israel, com a formal desmoralização do Partido Trabalhista criado por David Ben-Gurion, o governo de Jerusalém liberou a fronteira de Gaza por algumas horas para que pudessem passar 25 mil cravos cultivados pelos palestinos e exportados para a Holanda, onde serão vendidos pela passagem do “dia dos namorados”, que na Europa se comemora em 14 de fevereiro. Essas flores são uma quantidade irrisória, em relação ao sacrificado cultivo dos agricultores de Gaza, mas é o limite estabelecido pelo governo israelense, atendendo a um pedido especial das autoridades holandesas. O impiedoso bloqueio israelense, estabelecido desde julho de 2007, já levou milhares de agricultores de Gaza à falência e ao desespero. Independente dos bombardeios criminosos, que em 21 dias resultaram na morte de 1300 cidadãos e em outros 5.500 feridos, os sionistas têm exercido o mais perverso programa conjugado de extermínio de uma população condenada à morte. De fato, o sofrimento imposto ao milhão e meio de seres humanos apinhados nos 380 Km2 da Faixa de Gaza vai muito além das vítimas das 2500 bombas – incluindo as de fósforo branco - despejadas quando nós, do Ocidente, festejávamos o nosso natal e o ano novo. Das urnas o grito de guerra O resultado das eleições não deixa dúvidas: das 120 cadeiras, a ultra-direita fez 65 representantes. Somando-se a esses os 28 do Kadima, um partido saído do ventre do Likud por iniciativa do general Ariel Sharon, os 60% de israelenses que votaram (em sua maioria com mais de 30 anos) estão mandando 93 belicistas de carteirinha para o seu parlamento. Os outros 27 representantes se dividem entre os 13 do Partido Trabalhista, que participa do atual governo do Kadima, mais 4 da Frente Democrática de Paz e Igualdade (um partido comunista que reúne judeus e árabes) 3 do Meretz (judeus de esquerda), 4 da Liga Árabe Unida e 3 do Balad – ou Assembléia Nacional Democrática - também árabe, liderado pelo filósofo Azmi Bishara, perseguido sistematicamente, apesar de sua condição de parla mentar. Na direita, ao lado do Likud (fundado pelos terroristas do Irgun e do Stern), a grande novidade é o partido Yisrael Beitenu, chefiado pelo belicista-racista de carteirinha Avigdor Lieberman, que fez 15 representantes com um discurso pelo massacre dos árabes que representam 20% da população israelense, respondendo por 70 municípios da região da Galiléia, um terço das cidades do estado sionista. O Yisrael Beitenu (Israel é nossa casa) tem como principal base os judeus de origem russa, tidos como os mais fanáticos e radicais. Terá muito influência também o partido Shas, formado pelos sefarditas – judeus de origem espanhola e portuguesa – de formação religiosa ortodoxa, que fez 11 representanes e tem sido um aliado do Likud de Binyamin Netanyahu. A este, juntam-se os 4 representantes da União Nacional (Ha-Ihud Ha-Leumi), 5 do “Judaismo Unido do Torá”, que perdeu a eleição para a Prefeitura de Jerusalém, até então em seu poder, bem como os 3 da “Causa Judaica”, o partido menos “ultra” da direita belicista. Visão do povo eleito Sobre o novo quadro de Israel e os desdobramentos desse pleito manchado de sangue terei muito o que aprofundar e escrever. Mas desde já é bom que você saiba: segundo a FOLHA DE SÃO PAULO de 24 de janeiro, com raras exceções - a população israelense apoiou o massacre de Gaza. Mais do que isso, as pesquisas de opinião constataram que o apoio da população foi aumentando na medida em que avançavam os bombardeios - chegando a índices de 90%. E no final, na hora do cessar-fogo, metade era favorável à continuação da ofensiva, até a reocupação de Gaza e a destruição do Hamas. Como você vê, se o atordoado presidente Barack Obama tinha alguma intenção de paz para a região, pode-se dizer que tal idéia tende a evaporar-se, segundo a convicção incrustada nos judeus sobre o seu destino de povo eleito, tal como escreveu com tranqüilidade o professor José Luís Fiori, cientista político, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em artigo no LE MONDE DIPLOMATIQUE de 5 de fevereiro de 2009. “Desde sua criação, em 1948, Israel mantém-se sem uma constituição escrita, mas possui um sistema político com partidos competitivos e eleições periódicas, tem um sistema de governo parlamentarista segundo o modelo britânico, e conserva um poder judiciário autônomo. Mas ao mesmo tempo, paradoxalmente, Israel é um estado religioso, e grande parte de sua população e governantes tem uma visão teológica do seu passado e do seu lugar dentro da história da humanidade. Israel não tem uma religião oficial, mas é o único estado judeu do mundo. Os judeus consideram-se um só povo e uma só religião que nasce da revelação divina direta, e não depende de uma decisão, ou de uma conversão individual. "Se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis uma propriedade peculiar entre todos os povos. Vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa" (Êxodo, 19, 5-6) Além disto, o judaísmo estabelece normas e regras específicas e inquestionáveis que definem a vida cotidiana e comunitária do seu povo, que deve se manter fiel e seguir de forma incondicional as palavras do seu Deus, mantendo-se puros, isolados e distantes com relação aos demais povos e religiões. "Não seguireis os estatutos das nações que eu expulso de diante de vós. Eu Javé, vosso Deus, vos separei desses povos. Fareis distinção entre o animal puro e o impuro. Não vos torneis vós mesmos imundos como animais, aves e tudo o que rasteja sobre a terra" (Levítico, 20, 23-25) Para os judeus, Israel é a continuação direta da história deste "povo escolhido", e por isso, a sua verdadeira legislação ou constituição são os próprios ensinamentos bíblicos. O Torá conta a história do povo judeu e é a lei divina, dessa forma não pode haver lei ou norma humana que seja superior ao que está dito e determinado nos textos bíblicos, onde também estão definidos os princípios que devem reger as relações de Israel com seus vizinhos e/ou com seus adversários. Em Israel não existe casamento civil, só a cerimônia rabínica, e os soldados israelenses prestam juramento com a Bíblia sobre o peito e com a arma na mão. O professor José Luís Fiori observa ainda em seu artigo: Mas o que talvez seja mais importante do ponto de vista imediato do conflito entre judeus e palestinos, e do próprio sistema mundial, é que Israel - ao contrário dos palestinos – junto com sua visão sagrada de si mesmo, dispõe de armas atômicas e de acesso quase ilimitado a recursos financeiros e militares externos. Com essas idéias e condições econômicas e militares, Israel seria considerado – normalmente - um estado perigoso e desestabilizador do sistema internacional, pela régua liberal-democrática dos países anglo-saxônicos. Mas isto não acontece porque no mundo dos mortais, de fato, Israel foi uma criação e segue sendo um protetorado anglo-saxônico, que opera desde 1948, como instrumento ativo de defesa dos interesses estratégicos anglo-americanos no Oriente Médio. Os anglo-americanos operam como a âncora passiva do "autismo internacional" e da "inclemência sagrada de Israel”. coluna@pedroporfirio.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Eh de muito mal gosto a imagem que ilustra este post, típica propaganda anti-semita. Pedro, já que voce entende tanto de geopolitica, eu queria voce me explicasse em que consiste a "defesa dos interesses anglo-americanos no Oriente Médio", pois eu já cansei de ouvir essa frase batida mas ainda nao consigo entender como Israel faz isso. Além disso, através de uma simples consulta a Wikipedia voce pode descobrir que imensa maioria da populaçao do pais é secular e nao pratica ativamente a religiao. Na sua visao brasileira dos acontecimentos voce também parece esquecer que em Israel existe absoluta liberdade religiosa. Vem cá, tem muitas sinagogas na Arabia Saudita? Voce acha que dá pra andar pela rua com um terço pendurado no pescoço na Síria?