“Jamais haverá ano novo, se continuar a copiar os erros dos anos velhos”
Luís Vaz de Camões (1524 - 1580), poeta português, considerado o maior poeta de língua portuguesa. Autor de “Os Lusíadas”, maior obra literária portuguesa
2009 chegou? Que diferença faz? Toda essa mística pela passagem do ano internaliza em cada um de nós uma sensação de mudança. E, no entanto, nada aconteceu de novo em nenhum dos lados do equador. Nem mesmo esse bombardeio insano de Gaza é novidade.
Para início de conversa, a mudança de ano em 1º de janeiro é festejada nos países ocidentais, que têm como referência o nascimento de Jesus Cristo e é obra do Papa Gregório XIII que, em 24 de fevereiro de 1582 – instituiu o calendário gregoriano, substituindo o calendário juliano, implantado pelo imperador Júlio César quatro décadas antes de Cristo e modificado pelo imperador Augusto, 800 anos depois.
O calendário gregoriano é hoje referência em outros países em face da força econômica das potências ocidentais. Mesmo assim, os cristãos ortodoxos continuam obedecendo ao antigo calendário juliano: se você for a um país sob influência da igreja ortodoxa, hoje é dia 20 de dezembro de 2008.
Fora do mundo cristão, as diferenças são ainda maiores. Os judeus comemoraram o seu ano 5.769 em 29 de setembro passado. A contagem dos anos no judaísmo é feita pelo calendário lunar, daí a discrepância com o calendário gregoriano. O ano lunar tem 354 dias, portanto faltam 11 para os 365 contados normalmente. Para ajustar, se convencionou que alguns anos têm um mês a mais no calendário judaico. Além disso, os judeus não reconhecem Jesus Cristo como o Messias.
Ao contrário do calendário gregoriano, que é solar, outras religiões e civilizações adotam o sistema lunar. O nosso calcula que a Terra leva 365 dias, 5 horas, 49 minutos e 12 segundos, o equivalente a 365,2424999 dias solares para dar a volta em torno do Sol.
Curiosamente, o calendário islâmico tem os mesmos parâmetros do judaico, embora as referências sejam outras. No dia 29 de dezembro, os mais de 1 bilhão de muçulmanos lembrarfam o transcurso do seu ano 1430. A data lembra a “hégira”, momento em que o profeta Maomé foi obrigado a sair de Meca e emigrar para Medina.
O calendário islâmico é baseado nas fases da lua, composto por 12 meses, sendo que cada mês tem 29 ou 30 dias. A mudança dos meses se dá quando é observada pela primeira vez a lua crescente após o pôr-do-sol. A cada ano o calendário islâmico retrocede alguns dias em relação ao calendário gregoriano. Isso ocorre devido o calendário lunar ter aproximadamente 11 dias a menos no ano que o calendário solar.
Na China, os animais
Já os chineses festejaram o seu ano 4705 – ano do rato – no dia 7 de fevereiro passado. Ano-novo chinês é uma referência à data de comemoração adotadas por diversas nações do Oriente que seguem um calendário tradicional distinto do ocidental, o calendário chinês.
As diferenças entre os dois calendários fazem que a data de início de cada ano-novo chinês caia a cada ano em uma data diferente do calendário ocidental. No Brasil, a colônia festeja sempre em fevereiro.
Os chineses relacionam cada novo ano a um dos doze animais que teriam atendido ao chamado de Buda para uma reunião. Apenas doze se apresentaram: Buda em agradecimento os transformou nos signos da astrologia chinesa.
Os doze animais do horóscopo chinês a que correspondem os anos chineses são, de acordo com a ordem que teriam se apresentado a Buda na lenda acima citada: rato, búfalo, tigre, coelho, dragão, cobra, cavalo, cabra, macaco, galo, cão e o javali. Desta forma, se no nosso 2008 festejam o ano do rato, 2009 será o do Búfalo.
Na Índia a confusão sobre ano novo é tamanha que em 1957 o governo decidiu intervir para enfrentar a existência de 30 calendários entre seus 1,1 bilhão de habitantes. O calendário atual da Índia teve início em 1957, por decisão do Comitê de Reforma, que formalizou um calendário lunisolar, no qual o ano bissexto coincide com aquele do calendário gregoriano e os meses são denominados por nomes tradicionais indianos. Esta reforma no calendário indiano começou na Era Saka, Chaitra, 1, 1879, que corresponde ao dia 22 de março de 1957 do Calendário Gregoriano.
No calendário civil indiano, a época inicial foi Saka, uma era tradicional da cronologia indiana, que se diz ter começado com o Rei Salivahana, quando ascendeu ao trono, e também se refere aos trabalhos de astronomia da literatura Sânscrita, escritos depois do ano 500. No calendário Saka, o ano de 2002 corresponde a 1925 do CG.
Outra época popular é a Era Vrikrama, que se crê ter iniciado com a coroação do Rei Vikramaditya: por ele, o ano de 2009 corresponde ao ano de 2067 neste sistema.
A verdade de cada um
Enunciei esses exemplos para fazer você olhar o mundo além da sua janela. A verdade que nos liberta pode ser encontrada onde menos imaginamos e a esperança, que é da essência compensatória da natureza humana, pode e deve ser alimentada todos os dias, a cada nascer do sol.
Se você se interessa em saber, eu não estive nem aí para o repeteco do espetáculo turístico montado nas praias cariocas. Nem de perto, nem pela televisão. Por coincidência, quando os fogos começaram a cruzar os céus, aqui mesmo no sopé da serra dos Três Rios, estava grudado no filme sobre a vida de Mahatma Ghandi, uma produção hindu-britânica de três horas, dirigida em 1982 por Richard Attenborough, que nos brindou com outras obras importantes, como “Um Grito de Liberdade”, de 1987, baseada na vida e luta do ativista sul-africano Steve Biko, assassinado em 1977, aos 31 anos, pelo regime racista da África do Sul, crime que ficou impune, mesmo depois da ascensão do líder negro Nelson Rolihlahla Mandela.
Antes, às oito da noite, havia visto mais uma vez o “Fahrenheit 11 de Setembro” um filme da maior atualidade para entender não apenas o declínio do sistema norte-americano, mas também para explicar essa nova escalada de Israel sobre a Faixa de Gaza, uma violência indefensável, que só serve para socorrer a indústria bélica e dar um aviso a Barack Obama, que vai assumir dia 20 “devidamente imprensado pelos sionistas”, que já estão ocupando postos chaves em sua curriola.
Bom, para um começo de ano, era o que tinha a dizer.
coluna@pedroporfirio.com
Um comentário:
Ora direis ouvir estrelas, esplêndido colunista....
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