quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Porque o natal é mais do que ir às compras

“Sempre queremos permanecer em nossa própria circunstância. Assim também não olhamos, aqui, de nenhum modo, para trás. Pelo contrário, engajamo-nos no passado enquanto ele é presente”. Ernst Bloch, filósofo alemão (1885-1967) Desde a adolescência, o natal sempre me causou um certo desconforto. Nasci e vivo no Brasil, o país que tem a maior população católica do mundo. E aprendi ao longo de tantas décadas vividas que religião é algo que não se discute. É sagrada e necessária a cada ser humano para quem nada seria mais trágico do que imaginar que tudo possa acabar no dia que der o último suspiro. O desconforto vem do confronto entre a sede de verdade e a imprudência em buscá-la onde ninguém quer questionar aquilo com que se habituaram a conviver desde os primeiros gemidos. Agrava-se mais ainda na convicção de que é uma terrível covardia calar diante da manipulação da fé, uma das práticas mais abusivas desde que o ser humano existe. E essa manipulação é cada vez mais acentuada, no direcionamento para a transformação da lembrança do nascimento de Jesus Cristo no mais descuidado festival de compras de todo o ano. A mídia sem assunto repete sempre a mesma ladainha, com previsões otimistas de um comércio ávido de bons negócios. A lembrança do nascimento de Cristo é tão explorada que até mesmo o ambiente de crise dá uma trégua. Para isso, inventaram o décimo terceiro salário que, nos cálculos da folha de pagamento, integra o salário anual e não pode ser antecipado em parcelas para garantir a gastança irrefreável. Por conta do natal, há uma indústria de hábitos inconseqüentes. Quem escapa do “amigo oculto”? E o natal do porteiro, do gari, do carteiro, frentista do posto de gasolina, de tantos outros com quem você lida obrigatoriamente durante o ano e a quem você não pode contrariar na hora que ele apresenta o “livro de ouro”? Com essa dimensão comercial, o nascimento de Jesus Cristo deixa de ser uma boa oportunidade para uma reflexão sobre a civilização nascida com a crucificação do filho de Maria de Nazaré naqueles idos, cujos relatos são ainda obras precárias que foram apropriadas por sociedades religiosas de trajetória contraditória e incomensurável apego ao poder terreno. Evangelhos em grego Poucos sabem, mas os evangelhos apareceram em grego, sob a alegação de que foram destruídos os originais em aramaico, a língua falada naquela época na Palestina. Mas quem quiser ir fundo na investigação daqueles dias deve considerar a grande influência helênica sobre os romanos, de onde há que atentar para a parcialidade de uma história sempre escrita pelos vencedores. Como muitos sabem, os judeus foram expulsos da Palestina no ano 70 DC, quando as legiões romanas, sob o comando do general Tito, esfacelaram uma grande revolta popular e provocaram a diáspora. Curiosamente, é dessa época que datam os quatro evangelhos – de Mateus, Marcos, Lucas e João. Raros são os que mergulham nos mistérios que precisam ser melhor esclarecidos a respeito de Jesus Cristo, o judeu que se insurgiu contra a ocupação romana e contra os “sábios do templo”, que eram verdadeiros colaboracionistas em relação ao domínio imposto à Judéia, onde os hebreus se instalaram desde a fuga do Egito. Ali, desde Pompeu, mais de cem anos antes de Cristo, a região passou ao controle do império romano, através da Síria. Por influência dos dominadores, o Cristo rebelde foi totalmente apagado da memória histórica. Em seu lugar, o cristianismo foi cedendo a versões mais apropriadas pelos senhores feudais de então, até que o imperador Constantino aderiu ao cristianismo em 28 de outubro de 312, após vencer a difícil batalha da Ponte Mílvia, com a qual derrotou Magêncio e assumiu o controle de todo o império romano. Daí para frente, quando os cristãos passaram a ter vida legal e a Igreja Romana foi assumindo o controle do Estado, a história de Jesus foi ganhando contornos adequados às ambições da sociedade religiosa que se expandiu pelo mundo ocidental no bojo das conquistas coloniais, a que serviu como elemento de dominação e escravidão. Ainda há muito o que saber sobre aqueles dias numa Palestina disputada por sua posição estratégica no Oriente Médio. A única certeza indiscutível é que os cristãos fundaram uma nova civilização, que ainda hoje tem grande influência no mundo. Civilização na qual vivemos e sob cuja ótica olhamos os outros povos, que conservaram suas religiões e sua abordagem da vida após a morte. Mas em termos científicos, há muito o que se descobrir, sem prejuízo de uma fé inquebrantável que faz muito bem aos mortais. Uma prova material Sobre as controvérsias a respeito, chamou-me a atenção uma matéria assinada por Ana Cristina Rosa no número 232 da revista “Época”, datada de 28 de outubro de 2008.
"Uma urna funerária de 50 centímetros de comprimento, esculpida há cerca de 2 mil anos, pode vir a ser a mais antiga prova arqueológica da existência de Jesus Cristo. Feita de pedra calcária, a caixa apresenta uma inscrição em aramaico, uma das línguas faladas pelos judeus naquele período, traduzida como “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”. A peça foi encontrada numa caverna de Jerusalém e pertence a um colecionador cuja identidade está sendo mantida em sigilo. Comprovada sua autenticidade, o ossuário se tornará uma preciosa evidência do Jesus histórico. A descoberta foi anunciada segunda-feira em Washington, nos Estados Unidos, e seus detalhes serão publicados na próxima edição da Biblical Archaeology Review. O texto é assinado pelo francês André Lemaire, professor da Sorbonne e especialista em inscrições antigas, que conheceu o proprietário da urna há cerca de seis meses em Jerusalém. Na ocasião, Lemaire foi convidado a examinar algumas peças do acervo do colecionador e deparou com o ossuário. Impressionado com o objeto, sobretudo em virtude da inscrição em aramaico, Lemaire sugeriu um estudo detalhado. A caixa foi analisada por especialistas e cientistas do Departamento Geológico de Israel. De acordo com os exames realizados até o momento, a peça não apresenta sinais de pigmentos ou instrumentos modernos. O calcário do qual é feita foi identificado como originário da região de Jerusalém e sua moldagem foi datada como sendo do século I. Os exames também indicaram que a pátina (a fina cobertura que se forma sobre a pedra e outros materiais com o passar do tempo) tem aspecto compatível com o de objetos guardados em cavernas por períodos prolongados. Além disso, as letras entalhadas apresentam um formato de escrita que só foi utilizado entre os anos 10 d.C. e 70 d.C., período que antecedeu a destruição da cidade de Jerusalém pelo Império Romano. Segundo historiadores, Tiago, um dos fundadores da Igreja de Jerusalém, foi morto pelos romanos em 62 d.C. Mas, como o ossuário estava vazio, não havia restos mortais a analisar, o que poderia ser outro elemento para comprovar a idade da urna. Os pesquisadores explicam que, naquele tempo, era costume entre os judeus o uso de caixas mortuárias, os chamados ossuários, para guardar restos mortais dos entes queridos. O corpo era sepultado em cavernas, onde permanecia durante um ano. Passado esse período, os ossos eram recolhidos em pequenas caixas. “Parece muito provável que esse seja o ossuário de Tiago do Novo Testamento”, escreve Lemaire em seu artigo. “Podemos estar diante da primeira menção epigráfica (inscrição em material resistente) de Jesus de Nazaré.” Até o presente momento, não havia nenhuma evidência material da existência de Cristo. A mais remota referência a ele constava em um pedaço de papiro com um fragmento do Evangelho de São João, escrito em grego por volta do ano 125 d.C". coluna@pedroporfirio.com

8 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Porfírio

Das pessoas boas há que esperar coisas boas, das más esperamos coisas más.
Mas para que as pessoas boas façam coisas ruins, é indispensável a religiao.

Grande abraço e Feliz ano novo
M.A.

Anônimo disse...

Prezado Porfírio,

Qdo, a humamidade não dispunha de conhecimentos para explicar os fenômenos, era natural buscar explicações na religião.
Hoje, a ciência é responsável pelo nosso melhor entendimento. Ela nos faz pessoas livres.
Ciência e religião se discutem, sim ! É preciso questionar muitos eventos e adotar como regra aqueles que são relevantes.
Eu acredito que a vida termine no último suspiro para nós. Isso não me abala; é objeto de reflexão .
Um exemplo : A força centrifuga não existe, mas podemos comprovar seus efeitos. A meu ver, Deus também não existe, mas podemos comprovar os efeitos da Fé.
Sendo assim, já que estamos aqui, devemos prosperar. É nossa obrigação tornar a vida melhor para todos.

Feliz 2009!!!Muita Fé na vida e nos semelhantes !!!

Anônimo disse...

Bom dia, Pedro Porfírio

Mesmo que os dia 25/12 em que a humanidade [ não sei na sua totalidade ] convencionou sendo o dia do nascimento de Jesus e, assim, realizar as festividade de confraternização, beijos e abraços e distribuição de presente entre os seus familiares e amigos.
Assim, mesmo este dias sendo para poucos os banquetes e as festas, creio poder desejar ao forte lutador e incansável jornalista um dia 26/12 e os demais dias um natal de conhecimento, pois o conhecimento nos libertará das manobras, farsas e etc e tal dos poderosos de ontem, de hoje e de sempre.
Marco Curado

Anônimo disse...

Caro Porfírio, discordo do seu aprendizado que o leva a defender a posição de que "religião é algo que não se discute". Aceito e defendo a idéia, apenas, de que religião não pode , em hipótese alguma, SER PROIBIDA, pois isso significaria o cerceamento indevido daquele estado mental, comum a maior parte dos seres humanos, que não se conforma com as limitações do racionalismo filosófico que impede ou rejeita a compreensão do ABSOLUTO, e impulsiona, - benéficamente, a meu ver, - o conceito da RELATIVIDADE E DA INFINITA E ETERNA PESQUISA A RESPEITO DA NOSSA EXISTÊNCIA E DO UNIVERSO QUE NOS CERCA.
As religiões, portanto, devem ser, sim, debatidas, discutidas, analisadas, questionadas e até compreendidas, principalmente quando se expressam através das belezas artísticas que construiram através do tempo, como uma catarse de um estado mental inconsciente, limitado e reprimido, incapaz de, emocionalmente, aceitar as limitações da mente humana.
Somente com liberdade, discussão e transparência é possível a evolução.
Abraços,
Sérgio

Anônimo disse...

Caríssimo Pedro Porfírio. E boas festas.
Não porque é, Natal, e o ano novo se aproxima.
Sou um religioso, praticante bem diferente.
O homem genial, com suas idéias, como diz o Grande Drummond de Adrade, fatiou o tempo. E, nas fatias se fizeram as festas. Tempo de descanso e reflexões.
Mais é, Natal, festa Cristã. Mas é só uma fatia do tempo, um dos 12 (doze) mezes do ano, como Diz Carlos Drummond de Andrade.
Mais o resto das fatias, não deveria ser festa?
Entre festa e religião, fico com a fé principalmente, fundamendata na forma superiora, dinâmica e geradora de tudo no universo, que já foi criado perfeito para os seus resultados "causas e efeitos" - (ser natureza x ser humano).
Assisto a alguns religiosos orarem para que Deus mude o mundo, os homens e suas misérias.
Somos parte de Deus, e todos juntos somos o todo, o Deus quase completo. Que pode tudo mudar.
Você, caríssimo, com suas mensagens de conteúdo amplo, e coração convicto, com desejo de mudar, faz parte da dinâmica da mudança. "Nos alerta".
O mundo foi alertado, com o sistema financeiro mundial. A forma como é usufruto do egóismo e dominado por poucos. Em detrimento da miséria da maioria da humanidade.
E, Deus quer que os homens faça por ele essas mudança.
Isso, acontecendo será melhores festas, independente de Cristianismo, Judaismo,Budismo,hinduismo,hituismo, shituismo etc.

Finalizando, meu caríssimo, em minha simples avaliação, é, lhe agradecer, pelas suas mensagens constantes, as quais após leitura reflito, e, para eu, já me mudam alguma coisa.
Faço aqui, um agradecimento sincero, desejando saúde e longa vida, para através de seu conhecimento e conteúdo, estarmos semdo suprido com tal matéria.
Felicidade, inclusives aos seus entes .
Com um abraço do Paraibano Paulista
Francisco Solano de Carvalho

Anônimo disse...

Concordo com a sua crítica às caronas no Natal. O Natal é a comemoração da data do nascimento de uma pessoa. Esta pessoa fundou uma instituição, que está ai até hoje, com os que o seguiam. Esta instituição chama-se Igreja Católica. Os seguidores desta pessoa acreditam que ela seja o Christo prometido nos livros judaicos. Portanto creem que ela seja Deus. Trata-se de uma comemoração exclusiva deste grupo de pessoas, Igreja Católica. Todas as demais demonstrações, comerciais ou mesmo de respeitosa fé são apenas uma carona indevida. Aparentemente o senhor não é católico, mas de todos os modos Feliz Natal e um Feliz Ano Novo, uma vez que o dito ano é contado a partir do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Abraços respeitosos do amigo.
PS - Sempre gosto muito dos seus artigos.

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