domingo, 7 de outubro de 2007

UM RELATO IMPRESSIONANTE SOBRE A CHINA


“Acho curioso como ainda muitos jornalistas insistem em dizer que a China está cheia de mão-de-obra escrava e que os operários trabalham 12 horas por dia. Uma deslavada mentira”.
Norton Cheng, brasileiro com 12 anos de trabalho em Pequim.


No final de setembro, recebi de Claudio Tollendal um relato sobre a China assinado por Norton Seng, um brasileiro que trabalhou com ele em Brasília e passou 12 anos naquele país. De volta a Pequim, este ano, escreveu um texto tão rico em informações que resolvi publicá-lo aqui, com cortes apenas devido ao espaço disponível.
“Voltei à China com o visto de residência (anual) em virtude de ser casado com uma cidadã local. E não importa que os meus filhos tenham nascido aqui, pois o Governo não concede o que conhecemos por “visto permanente” (ainda vou me informar se houve alguma modificação neste ano e meio em que estive ausente do país).
A cidade é cosmopolita não ficando nada a dever às outras grandes capitais do Mundo. Uma cidade com mais de 17 milhões de pessoas (considerando a população flutuante de + ou - 3 milhões de pessoas).
Com imensos e bem cuidados parques, dotados de lagos com pedalinhos e barquinhos para o entretenimento dos visitantes. Suas amplas avenidas cortam a cidade em todas as direções. Um verdadeiro complexo de anéis viários, com serpenteantes elevados que se enovelam, indo em várias direções, o que facilita sobremaneira o intenso tráfego na cidade.
Ostenta prédios modernos, imensos, inteligentes e com tanto luxo, que não temos no Brasil nada que chegue perto da ostentação que aqui vemos.
Os hotéis, em número assustador, são verdadeiros palácios. Os shoppings-centers (maiores do mundo) são verdadeiros templos de consumo. Só para você ter uma idéia, Beijing (Pequim) tem mais de 200 lanchonetes MacDonald's, mais de 80 KFCs (Kentucky Fried Chicken), mais de 30 Starbuck Cafes.
Além da maioria das grifes internacionais, suas ruas estão cheias de carros novos, a maioria deles fabricados na China. As montadoras do mundo estão aqui e que se situam numa faixa de preço que supera os 80 mil reais por unidade. É comuníssimo vermos passando por nós Caiennes, BMWs, Mercedes, Cadillacs, Bentleys, Rav4s, CRVs, Buicks, Hondas Accord, Toyotas Camry. Respira-se no ar a riqueza e temos diante dos olhos uma passarela de exuberância e beleza, que só o desenvolvimento pode mostrar.
Como num passe de mágica (investimento em educação, trabalho, esforço hercúleo e gerenciamento preciso, correto e profissional do governo) hoje vivemos num país onde o cenário monocromático e monótono de antes passou para o brilho incandescente de um fulgurante arco-íris multicolorido. À noite o espetáculo de luzes é feérico. De todas as cores e em tal intensidade que passa a ser desnecessário o ato de se ligar ou não as luzes do carro, pois não se nota nenhuma diferença.
Onde moro atualmente (fora do perímetro urbano) encontram-se algumas fábricas e milhares de lojas e escritórios que cumprem o horário ocidental de trabalho. E nos supermercados e fábricas, que funcionam mais de 8 horas (ou 24 horas ininterruptas, como os hospitais), é adotado o conhecido “turno de trabalho”, onde cada turno não trabalha mais de 8 horas. E, se trabalhar, por vontade própria e interesse do trabalhador, ele percebe horas-extras (procedimento comum até nos nossos bancos).
Enfim, as lendas são muitas sobre este país.
Mas meus mais de 12 anos vivendo aqui me autorizam a dizer o que vi e constatei com os meus próprios olhos e a minha modesta experiência.
Outra brutal distorção é a comparação que fazem os “jornalistas” e “economistas” ao se referirem aos baixos salários chineses. Como? Se os “altos” salários brasileiros são drenados pelo governo e pelas absurdas tarifas que todos pagam, além dos transportes, escolas, material escolar, hospitais, remédios, entre tantos outros itens? Os chineses gastam menos de 1% do que ganham com transporte e remédios.
E além do mais não se pode tomar como base de comparação o salário, pura e simplesmente como esses “doutos” fazem no Brasil e Mundo afora.
Veja um bom exemplo: há poucos dias comprei aqui um filtro (computadorizado) para purificar o ar dentro de casa. No Brasil (em SP) esse mesmo filtro custava 4 mil reais (desisti de comprar). Paguei aqui o equivalente a 800 reais... pode? A bicicleta do meu filho custou o equivalente a 80 reais quando uma similar no Brasil não se compra por menos 700 reais. Pode? E por aí vai... roupas, medicamentos, brinquedos (estes, meu caro, encontram-se por volta de um quinto do que custam no Brasil), entre tantos outros itens.
Por isso, a China cresce astronomicamente. Segredo? Tem governo. Tem gerenciamento. Disciplina. Pena de morte. A prisão é a mesma e todos quebram pedra, fazem sapatos, cintos, plantam e cultivam em presídios agrícolas.
Além disso, o governo adota a política de juros estáveis e baixos (6%) e tarifas que se situam na faixa média de 4%. Por isso, ninguém se sente motivado a sonegar. Sonegar para quê? Além do ridículo do que seria “poupado” o sonegador enfrentaria a Lei (que é severa como devem ser as Leis) e um regime judicial que... funciona. Sim! Que funciona... e funciona rápido. Julgamentos do cidadão-infrator por aqui costumam ser rápidos, quando não sumários.
E assim o país cresce de forma ordeira e continuada. As pessoas andam nas ruas mostrando um semblante de paz com o ambiente, confiança no futuro e muitas estampam um sorriso no rosto.
A China responde com sua moeda estável há mais de 10 anos; com suas reservas (exclusive ouro) de mais de 1 trilhão de dólares (só a reserva chinesa é quase o dobro do PIB brasileiro); crescimento acima de 10% ao ano; e a maior desova anual de cientistas, engenheiros e técnicos do Mundo.
Enfim, os dados são tantos e imensos que eu teria que escrever muito mais (o que estou fazendo em meu livro, que espero concluir dentro de 5 meses). E, finalizando, para os que contradizem, alegando: "mas a China tem 1 bilhão e 380 milhões de pessoas", eu treplico dizendo que há 20 anos a China ocupava a 32ª posição no cenário mundial, e hoje, com seu vertiginoso crescimento e efetiva política governamental, ela, a China, já ocupa a 3ª posição.
O segredo da China, além do investimento em educação e do bom gerenciamento do governo, está em sua extensa, ampla e dominante economia de escala”.
coluna@pedroporfirio.com

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