MINHA COLUNA NA TRIBUNA DA IMPRENSA DE 16 DE MARÇO DE 2007
“Eu errei, viu, Miro? - disse Lula। E os olhos dele se encheram de lágrimas ao falar de Brizola”
Diálogo do presidente Lula com Miro Teixeira e Carlos Lupi ao admitir que errara ao fazer de Miro ministro, sem obter antes o aval de Leonel Brizola, segundo Ricardo Noblat। Carlos Lupi foi o pedetista mais próximo de Brixola nos últimos एनोस,
Diálogo do presidente Lula com Miro Teixeira e Carlos Lupi ao admitir que errara ao fazer de Miro ministro, sem obter antes o aval de Leonel Brizola, segundo Ricardo Noblat। Carlos Lupi foi o pedetista mais próximo de Brixola nos últimos एनोस,
Confesso que me surpreendi ao encontrar um PDT robusto e pujante na convenção do dia 9 de março। Desde a morte inesperada de Brizola em 21 de junho de 2004, temi pela sorte da legenda, que se sustentava principalmente do sua incansável dedicação।
Naquele final de outono, o partido já estava demasiado fragilizado pelos torpedos de alguns carreiristas, que se fizeram à sombra de Brizola e depois foram armar suas barracas do outro lado, levando antigos militantes em troca de sinecuras no Poder.
Só o Garotinho quase partiu o PDT ao meio, promovendo um ato de humilhação na UERJ, do qual participaram outrora vestais da ideologia, como Eduardo Chuay e Fernando Lopes.
Pelos Estados, a sanha de poder causou muitas baixas. A bancada de deputados ficou reduzida à metade. Pularam fora igualmente, com seus mandatos, os três federais eleitos pelo Rio de Janeiro – Elaine Costa, João Mendes de Jesus e Miro Teixeira.
Eu sofria porque era brizolista até debaixo dágua. E não entendia a tolerância da direção com essas defecções, enquanto, no desespero para formar as nominatas de 2004, as portas eram abertas para futuros traidores. Não resisti. Dei um tempo.
Brizola vive
Mas como Brizola ainda vive nos corações de milhões de brasileiros, o partido que encarna como nenhum outro as grandes conquistas sociais dos trabalhadores manteve sua melhor militância de pé, arriscando-se na ousada opção dos candidatos próprios que, hoje, como os fatos mostram, foram os melhores caminhos nas eleições de 2006.
Para sobreviver com dignidade o PDT trazia a herança preciosa de Leonel Brizola. Seu nome é e será o elo mais avançado de uma história construída pela sensibilidade social de Getúlio Vargas e João Goulart. Ninguém hoje tem dúvida da falta que o Brzola faz em nossos dias.
Mas a história é rica em ensinamentos. Com a morte do seu grande ícone, era preciso que um punhado de bravos se desse por inteiro à escora da construção, para que não houvesse mais perdas. E até para, se fosse o caso, agregar novos tijolos, com perfil decente, tal como aconteceu nesses dois anos de Congresso Nacional: você não viu um só pedetista envolvido com mensalões, sanguessugas e outros desvios de conduta tão comuns.
Mesmo na oposição, mesmo enfrentando posições dúbias de alguns de seus candidatos, o PDT saiu maior das últimas eleições e venceu a tal cláusula de barreira, ao contrário de outros partidos, que já entraram em campanha com mais de 40 parlamentares.
Ao conquistar essa vitória, atributo de outros 5 partidos, o PDT credenciou-se não apenas do ponto de vista eleitoral. Mais do que isso: demonstrou uma potencialidade política de alcance incomensurável. Tornou-se referência de um pensamento progressista, sobretudo na defesa intransigente dos direitos trabalhistas, da previdência pública e da educação de qualidade para todos.
Foi isso que levou o presidente Lula – mais do que o PT – a proceder a uma revisão de sua compreensão do partido de Brizola, aquele que, em 1998, abriu mão de sua candidatura a presidente para ser o seu vice.
Mas, ao convidar o PDT para a coalizão que está montando, ele acabou descobrindo verdadeiros quadros cuja marca essencial é a convicção, a fidelidade ao legado brizolista, coisa rara em nossa vida pública, manchada por uma gorda pletora de arrivistas.
Ele encontrou no brizolismo de hoje os mesmos princípios do velho caudilho, dos quais a coerência é questão pétrea. E se surpreendeu com a firmeza de dirigentes como Carlos Lupi e Manoel Dias, dois dos grandes responsáveis pela continuidade do projeto partidário.
A atuação de Lupi – justiça seja feita – foi fundamental para manter o partido unido, compondo interesses diferentes de norte a sul do país, mas fazendo opções pelo melhor, quando não havia outra alternativa.
Sua postura ante a possibilidade de participar de um novo que se pretende diferente do primeiro, pelo menos em questões sociais, acabou por influenciar o próprio presidente e por fortalecer os segmentos do PT que se encontravam desconfortáveis com certos passos dados no governo.
Uma nova visão da Previdência
Lula mudou o discurso em relação à previdência pública. Por mais de uma vez defendeu sua contabilidade e admitiu que alguns dos seus benefícios fazem parte dos programas de assistência social, portanto dependentes de outras rubricas orçamentárias.
E parece disposto a refazer o percurso de outras receitas, que passam pelo Tesouro e lá ficam, contribuindo para criar uma imagem distorcida das contas da previdência.
Ao convidar o PDT para assumir esse Ministério, ele deve estar sinalizando para um reencontro com seus discursos de campanha. Isso parece mais claro quando demonstra preferência por Lupi, que não é nenhum senador, não exerce hoje mandato parlamentar, mas é, como provou, da espinha dorsal do partido, determinado, um organizador e um homem aberto, capaz de formar uma equipe disposta a demonstrar a viabilidade da Previdência Pública, como já aconteceu quando Waldir Pires foi titular dessa Pasta.
Nesse caso, Lula está sendo lógico. Ninguém melhor do que Carlos Lupi encarna o brizolismo: ele ficou com seu ídolo quando Marcello Alencar deixou o PDT e abriu mão de uma Secretaria de Estado, no governo Garotinho, ao contrário do Luiz Alfredo Salomão, também indicado por Brizola, quando o governador de então saiu fora levando muita “gente boa”.
Se realmente se confirmar a entrega do Ministério da Previdência ao PDT e, se seu titular for o mais fanático dos brizolistas, podemos até repensar muito sobre o Lula de 2007.
Só espero que os pedetistas saibam que eles são as últimas esperanças dos aposentados, pensionistas, dos massacrados dos fundos de pensão, como o Aerus, e de todos os que ainda precisarão de uma aposentadoria decente, quando deixarem de trabalhar.
coluna@pedroporfirio.com
Naquele final de outono, o partido já estava demasiado fragilizado pelos torpedos de alguns carreiristas, que se fizeram à sombra de Brizola e depois foram armar suas barracas do outro lado, levando antigos militantes em troca de sinecuras no Poder.
Só o Garotinho quase partiu o PDT ao meio, promovendo um ato de humilhação na UERJ, do qual participaram outrora vestais da ideologia, como Eduardo Chuay e Fernando Lopes.
Pelos Estados, a sanha de poder causou muitas baixas. A bancada de deputados ficou reduzida à metade. Pularam fora igualmente, com seus mandatos, os três federais eleitos pelo Rio de Janeiro – Elaine Costa, João Mendes de Jesus e Miro Teixeira.
Eu sofria porque era brizolista até debaixo dágua. E não entendia a tolerância da direção com essas defecções, enquanto, no desespero para formar as nominatas de 2004, as portas eram abertas para futuros traidores. Não resisti. Dei um tempo.
Brizola vive
Mas como Brizola ainda vive nos corações de milhões de brasileiros, o partido que encarna como nenhum outro as grandes conquistas sociais dos trabalhadores manteve sua melhor militância de pé, arriscando-se na ousada opção dos candidatos próprios que, hoje, como os fatos mostram, foram os melhores caminhos nas eleições de 2006.
Para sobreviver com dignidade o PDT trazia a herança preciosa de Leonel Brizola. Seu nome é e será o elo mais avançado de uma história construída pela sensibilidade social de Getúlio Vargas e João Goulart. Ninguém hoje tem dúvida da falta que o Brzola faz em nossos dias.
Mas a história é rica em ensinamentos. Com a morte do seu grande ícone, era preciso que um punhado de bravos se desse por inteiro à escora da construção, para que não houvesse mais perdas. E até para, se fosse o caso, agregar novos tijolos, com perfil decente, tal como aconteceu nesses dois anos de Congresso Nacional: você não viu um só pedetista envolvido com mensalões, sanguessugas e outros desvios de conduta tão comuns.
Mesmo na oposição, mesmo enfrentando posições dúbias de alguns de seus candidatos, o PDT saiu maior das últimas eleições e venceu a tal cláusula de barreira, ao contrário de outros partidos, que já entraram em campanha com mais de 40 parlamentares.
Ao conquistar essa vitória, atributo de outros 5 partidos, o PDT credenciou-se não apenas do ponto de vista eleitoral. Mais do que isso: demonstrou uma potencialidade política de alcance incomensurável. Tornou-se referência de um pensamento progressista, sobretudo na defesa intransigente dos direitos trabalhistas, da previdência pública e da educação de qualidade para todos.
Foi isso que levou o presidente Lula – mais do que o PT – a proceder a uma revisão de sua compreensão do partido de Brizola, aquele que, em 1998, abriu mão de sua candidatura a presidente para ser o seu vice.
Mas, ao convidar o PDT para a coalizão que está montando, ele acabou descobrindo verdadeiros quadros cuja marca essencial é a convicção, a fidelidade ao legado brizolista, coisa rara em nossa vida pública, manchada por uma gorda pletora de arrivistas.
Ele encontrou no brizolismo de hoje os mesmos princípios do velho caudilho, dos quais a coerência é questão pétrea. E se surpreendeu com a firmeza de dirigentes como Carlos Lupi e Manoel Dias, dois dos grandes responsáveis pela continuidade do projeto partidário.
A atuação de Lupi – justiça seja feita – foi fundamental para manter o partido unido, compondo interesses diferentes de norte a sul do país, mas fazendo opções pelo melhor, quando não havia outra alternativa.
Sua postura ante a possibilidade de participar de um novo que se pretende diferente do primeiro, pelo menos em questões sociais, acabou por influenciar o próprio presidente e por fortalecer os segmentos do PT que se encontravam desconfortáveis com certos passos dados no governo.
Uma nova visão da Previdência
Lula mudou o discurso em relação à previdência pública. Por mais de uma vez defendeu sua contabilidade e admitiu que alguns dos seus benefícios fazem parte dos programas de assistência social, portanto dependentes de outras rubricas orçamentárias.
E parece disposto a refazer o percurso de outras receitas, que passam pelo Tesouro e lá ficam, contribuindo para criar uma imagem distorcida das contas da previdência.
Ao convidar o PDT para assumir esse Ministério, ele deve estar sinalizando para um reencontro com seus discursos de campanha. Isso parece mais claro quando demonstra preferência por Lupi, que não é nenhum senador, não exerce hoje mandato parlamentar, mas é, como provou, da espinha dorsal do partido, determinado, um organizador e um homem aberto, capaz de formar uma equipe disposta a demonstrar a viabilidade da Previdência Pública, como já aconteceu quando Waldir Pires foi titular dessa Pasta.
Nesse caso, Lula está sendo lógico. Ninguém melhor do que Carlos Lupi encarna o brizolismo: ele ficou com seu ídolo quando Marcello Alencar deixou o PDT e abriu mão de uma Secretaria de Estado, no governo Garotinho, ao contrário do Luiz Alfredo Salomão, também indicado por Brizola, quando o governador de então saiu fora levando muita “gente boa”.
Se realmente se confirmar a entrega do Ministério da Previdência ao PDT e, se seu titular for o mais fanático dos brizolistas, podemos até repensar muito sobre o Lula de 2007.
Só espero que os pedetistas saibam que eles são as últimas esperanças dos aposentados, pensionistas, dos massacrados dos fundos de pensão, como o Aerus, e de todos os que ainda precisarão de uma aposentadoria decente, quando deixarem de trabalhar.
coluna@pedroporfirio.com
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