sábado, 12 de maio de 2007
O PAPA DA INTOLERÂNCIA
Cada um tem o direito de ter sua religião
Minha coluna no POVO do Rio de Janeiro de 12 de maio de 2007
Houve um tempo, no período do Império, em que a Igreja católica fazia parte do poder e dava as cartas. Nada podia ser feito sem o consentimento dos representantes do Vaticano. Com isso, quem não rezasse pela cartilha dos padres não podia aspirar uma posição na sociedade.
Então, praticamente, não havia culto evangélico. Assim mesmo, os poucos que ousassem demonstrar simpatia pela reforma de Lutero eram discriminados.
As religiões afros restringiam-se à senzalas. E também sofriam forte repressão, como se fossem coisas do demônio, magia negra.
A grande adversária era a maçonaria, que tivera papel preponderante na independência e tinha à frente do ministério, em 1872, o visconde do Rio Branco, maçom importante. Na época, muitos padres também freqüentavam a maçonaria e isso ia dar num tremendo qüiproquó, quando o Papa Pio IX, valendo-se do bispo de Olinda, Dom Vital, de apenas 27 anos, mandou bater de frente com essa irmandade.
Com a República, Aconteceu o que todos desejavam: governo para um lado, Igreja para outro, cada um cuidando do que lhe dizia respeito. Iniciamos então o “Estado laico” com liberdade de culto e tudo o que a democracia exigia, embora persistisse a influência do clero em tudo.
Em outras palavras: a igreja católica não assimilou os novos tempos. Decidia quem podia e quem não podia ser votado e como até 1950 em sua esmagadora maioria o povo se considerava católico, continuava mandando e desmandando.
Quando os meios de informação se ampliaram, a coisa foi mudando. O ensino religioso passou a ser obrigatório apenas nos colégios católicos. Os evangélicos, que tiveram como pioneiros no ensino os batistas, passaram a oferecer aos alunos sua própria leitura da Bíblia.
O Brasil passou a ser então um dos paraísos da liberdade religiosa. Até mesmo as perseguições policiais aos terreiros de macumba foram desaparecendo e hoje um dos acontecimentos mais bonitos é a festa de Iemanjá, na véspera do ano novo.
Como isso é algo que vai bem por aqui, como cada um pode ter sua religião ou até não ter nenhuma, vem agora o Papa Bento XVI e propõe uma volta no tempo. Quer que o Brasil seja novamente atrelado à sua Igreja. Pode? É sobre isso que falarei amanhã.
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